Friday, July 21, 2006

Vice de novo!?

Amigos, existem derrotas fragorosas, eternas, tristes e silenciosas como a bola de Ghiggia batendo no fundo da rede de Barbosa.

Existem, porém, aquelas efêmeras, enganadoras, aquelas que provocam o torpor da auto-suficiência, a certeza de que se chegou ao Olimpo antes do tempo. Quantas vezes já vimos os rojões das comemorações antecipadas virarem os traques da derrota? E da derrota mais amarga, porque inesperada.

Era 1983. Meus 12 anos de idade. Um Fla-Flu na casa de uma tia horrorosamente flamenguista. Rádio de pilha. Tensão. Zero a zero. Chegaram os 44 do segundo tempo. “Vem, Zé, vem ver meu Mengo ser campeão!”. Ela não poderia imaginar o que vinha ali. Tradição. A TV liberava a transmissão aberta dos últimos minutinhos do jogo. Invariavelmente, havia umas listras horizontais que corriam pela tela da TV. Nunca entendi o porquê. Chego resignado à frente da TV. Um tricolor desmunhecado bate uma falta para afrente, por cima, ponta direita, terreno que conheceríamos tempos depois como “Avenida Júnior”. A bola aterrissa nos pés do Assis. Ele entra, entra, ninguém chega... Aí, na cara de um Raul estupefato, dá um peteleco, do lado de seu pé direito. Gol.

Confesso que fiquei uns dois segundos pasmo olhando para a tela. Sonho? Parecia sonho. Não era! GOL! Porra! Gol!!

A história está repleta de campeões antecipados, campeões de véspera, campeões morais – termo ridículo, aliás, cunhado por certo técnico flamenguista - cujo sonho se transformou em pesadelo em 90 minutos. Às vezes em 45. Às vezes em cinco. Três. Um minutinho.

A gasolina do Nigel Mansell acabou. O Assis fez o gol no final. O Brasil empatou, mas o Paulo Rossi fez outro. E faria outro ainda se empatássemos de novo. O Flamengo comemorava o título de campeão carioca de 81 numa noite chuvosa quando o Dinamite marcou, obrigando a aparição do ladrilheiro para resolver um problema que o super time não conseguia resolver sozinho. Ganhar do Vasco do Ticão...

Flamenguistas, parabéns pelo seu título antecipado, conquistado ontem. Foi muito merecido. Não entendi, aliás, por que não entregaram a taça. Por que não houve volta olímpica. Uma vitória tão fragorosa, por tal diferença irrecuperável de gols. Com uma exibição primorosa de todos os setores de seu time, esmagando e humilhando o adversário que, com certeza, já desistiu de tentar. Vocês são melhores! Os dignos campeões que cumprirão a feliz tarefa de apenas humilhar ainda mais os adversários no jogo de entrega das faixas, semana que vem, no Maracanã. Aliás, faixas costumam ser entregues antes das partidas. Portanto, coloquem a faixa de pano no peito. Porque a outra, a do título, vocês já ganharam. Como colocaram a da mesma Copa do Brasil de 2004, cuja final pró-forma vocês haviam ganho por antecipação do Santo André.

Vascaínos, acreditem. Nossos adversários já ganharam o título. Já estamos derrotados. Muito mais derrotados do que no intervalo daquele jogo no Parque Antártica, em 2000. Não há esperança. Conseguimos fazer quatro gols em 45 minutos, na casa do adversário, na final do campeonato, com um homem a menos. Mas essa, essa a gente perdeu. É impossível. Estaremos diante de um esquadrão poderoso, imbatível, dono de um futebol soberbo (isso é verdade!) e cuja vitória já está escrita na nossa sina de perder. Não teremos chance. Pensem bem: como poderá nosso timinho de 11 homens vencer os 11 super-homens de lá, vestindo o manto, empurrados pela nação e ainda fazer dois gols em 90 minutos? Somos uns sonhadores. Acho que devemos desistir. Inscrever na rampa da Uerj “Vós que aqui entrais, perdei toda a esperança”. Pois essa já foi perdida. Somos perdedores.

Derrotados.

Fregueses.

Mas, e se o inesperado acontecer? E se a lógica matemática futebolística furar? E se o campeão vacilar? E se Nossa Senhora das Vitórias nos conceder um de seus milagres?

Não... Impossível.

Parabéns ao campeão Flamengo.

Valei-nos Santo André.
Zeca Tal - 20/07/2006

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