Monday, August 31, 2009

SANTOS 2 X 0 FLUMINENSE (30/08/2009)

O fim ainda não chegou (31/08/2009)

Para deleite de boa parte da imprensa esportiva carioca, o Fluminense perdeu ontem mais uma partida, em momento crucial para manter as chances de sobrevivência na primeira divisão do campeonato brasileiro. Hoje, não faltaram galhofas e piadinhas de péssimo gosto sobre o fim das Laranjeiras. E mais: o Brasil se tornou, em um mês, o paraíso dos especialistas em estatística no planeta Terra! Não falta um estatístico sem diploma nas esquinas para dizer: “O Fluminense está rebaixado! Não há mais chance”, como se o campeonato tivesse acabado ontem. Não custa pensar no que Nelson Rodrigues escreveria a respeito, se vivo de corpo estivesse; provavelmente, alguma provocação contra os idiotas da objetividade.

Pois bem, o Fluminense perdeu. Houve três momentos cruciais na partida, e todos passam pelo zagueiro Luiz Alberto. O primeiro, quando ele, livre, esteve à frente do gol santista logo no começo do jogo, mas errou a finalização, por não ser do ramo. No segundo, quando estava na marcação de área quando a bola foi cruzada para o gol do Santos, no último minuto da primeira etapa, numa jogada claramente irregular, tendo em vista as faltas sofridas por Ruy e o estreante Gum no mesmo lance. O jovem André, atacante que substituía Kleber Pereira, cabeceou à direita do nosso goleiro Rafael, de cima para baixo, numa bola que um ou outro consideraria defensável. Não concordo: foi um lance difícil e cabe ressaltar que o Santos conseguiu boas finalizações no primeiro tempo, todas bem defendidas por Rafael. Não tenho dúvidas: temos um goleiro em campo melhor do que o das últimas jornadas. O terceiro lance de Luiz Alberto aconteceu no segundo gol santista, em cabeçada de cocuruto do jovem Paulo Henrique, o “Ganso”, tocando a bola no canto esquerdo de Rafael já a quinze minutos do fim do jogo. Não é o caso de crucificação, longe disso, mas o fato é que há várias partidas o zagueiro não tem rendido o que se esperaria – inclusive, isso sobrecarregou o time e causou a barração de Edcarlos, que pode ter alguma razão, mas não leva em conta o que se convenciona chamar de conjunto da obra. O segundo gol matou nossas esperanças, num segundo tempo em que dominávamos amplamente a partida, mas nos faltava talento para fazer o gol. Fizemos forte pressão, ainda que inócua pela falta de finalizações, por quase meia hora, dentro da Vila Belmiro que, um dia, abrigou Pelé. Se estivéssemos no meio da tabela, talvez a manchete de nossa derrota fosse: “Flu luta muito, mas perde”.

A primeira etapa foi dos santistas. Não que tivessem jogado uma partida primorosa, mas porque estávamos excessivamente recuados e sem a menor força de ligação defesa-ataque. Para piorar, nosso craque Conca errava passes demais e, extremamente marcado, nada conseguiu fazer de relevante. Mesmo assim, o gol saiu quase por acidente e quando já não se esperava; descer para o vestiário com o empate parcial certamente seria um alívio psicológico para um time marcado pela má campanha, pelas confusões da gestão e, principalmente, pelo sensacionalismo da imprensa. Na segunda etapa, mesmo com os problemas de sempre e más substituições, dominamos o jogo; quando tomamos um segundo gol bobo como foi, o time jogou a toalha. Mas o fim ainda não chegou.

Ora, se o Vasco, o grande Vasco da Gama, ano passado caiu de divisão ainda na última rodada – e desperdiçou vários jogos que poderiam tê-lo salvo -, porque nós seremos rebaixados por decreto jornalístico com dezesseis jogos? Em anos anteriores, vários times conseguiram uma reação, como o Goiás e a Gávea. Agora mesmo, na segunda divisão, davam o Ceará como rebaixado há coisa de dois meses; hoje, estão no grupo dos quatro candidatos a subir para a série A, assim como o São Caetano, já tido na série C e agora brigando pelo topo da tabela. Na elite, o São Paulo não teria chances este ano e o Goiás seriam galinha morta. Estão entre os quatro primeiros. O Avaí foi o primeiro rebaixado da competição; onde está na tabela? Nos país dos estatísticos, prognósticos certos não têm sido o forte. Sem contar que apontam a Gávea como futura postulante ao grupo dos classificados à Libertadores, o chamado G4. Ora, a distância que eles têm daquele grupo é a mesma que temos dos times que estão fora da zona de rebaixamento do campeonato. Se acabamos de eliminá-los da Copa Sulamericana, somos tão piores do que eles assim? Creio que não.

É um momento muito difícil e a matemática não nos favorece, na verdade. Mas nada é impossível ainda, o fim ainda não chegou. Sei das limitações que temos, mas não somos piores do que times que têm nove ou dez pontos a mais do que nós, neste momento. Podemos reagir.

Nelson Rodrigues, nosso troféu maior, dizia: “Se quiseres saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”. E, mais do que nunca, me apego à tradição de nossa centenária camisa no futebol. Quando Delei cobrou a falta apressadamente na lateral direita, toda a massa flamenga comemorava a ida à final e nossa eliminação. Benedito de Assis recebeu o passe, fez o gol sagrado e escreveu a história de um grande título. Em 1991, para chegarmos às semifinais, precisávamos de cinco vitórias seguidas. Nos jornais, o Fluminense já era. Vencemos e conseguimos a classificação. Não preciso lembrar 1995: com exceção de Washington Rodrigues, nenhum dos comentaristas e cronistas cariocas ousou apontar o Fluminense como candidato ao título. Boa era a Gávea, a campeã de terra, mar e ar. A seis rodadas do fim, tinham nove pontos de vantagem contra nós. Chegaram à final com a vantagem do empate, resultado que tinham à mão até quatro minutos antes do fim do jogo, além de um jogador a mais em campo. Contra tudo e todos, vencemos um dos grandes campeonatos de nossa história.

Que não me venham à frente os lacaios do sensacionalismo, para falar de rebaixamentos no passado. Não estamos tratando de uma conta corrente que, descoberta, causa perda de crédito em outros itens financeiros. Estamos tratando de um time centenário e vencedor, dos maiores do mundo, que passa por uma péssima fase, mas ainda pode superar o grande revés. Tivemos bons momentos ontem. Teremos uma semana de treinamentos. Patrício Urrutia e Fábio Santos, além de Equi González, darão outra alma ao time em campo. O matador Fred poderá voltar. Não faltam três ou quatro partidas, mas dezesseis. Noutra situação, dezesseis jogos poderiam valer um grande título em nossa história. Dessa vez, valem nossa luta contra toda uma nação. Precisamos do grito da nossa torcida, do brilho das nossas cores, da beleza das nossas torcedoras. O lugar do torcedor do Fluminense não é entocado como um rato indefeso, mas sim com os pulmões inflados e o berro à vista no Maracanã. Podemos reverter esse quadro. Para isso, não devemos nos omitir.

Logo à frente, já no domingo, o velho Náutico, de quem todos nos recordamos naquele dia de tempestade no Maracanã há dez anos, tão bem contado pelo genial texto de Marcos Caetano. Lá, diziam por escrito que o Fluminense estava no fim, que o Fluminense deveria se fundir com o Bangu e o Botafogo para aceitar passivamente a predominância de Flamengo e Vasco. Raras vezes li algo tão estapafúrdio. Sobrevivemos. E vencemos.

Calejado por tantas façanhas do passado, enquanto a exatidão da matemática me permitir, não caio de joelhos. O dia em que eu acreditar que o Fluminense não é capaz de uma revolução em dezesseis jogos, entenderei que não se tratará apenas de não ir ao Maracanã ou de abandonar o time, mas sim de nunca mais acompanhar futebol pelo resto de minha vida. E, olhando para o passado como ensinou o Mestre Nelson, creio que este dia jamais chegará.



Paulo-Roberto Andel, 31/08/2009

Thursday, August 27, 2009

FLAMENGO 1 X 1 FLUMINENSE

Entre o sonho e a ressurreição (26/08/2009)

Meus amigos, mais uma vez a tradição quase centenária pesou. O Fluminense era o ferido de morte. O Fluminense era o time sem qualificação; portanto, longe de ser o favorito da imprensa. Não davam um níquel pelos jogadores de Laranjeiras. Escreveram que o time era galinha-morta. Mais uma vez, o erro foi oceânico e o Tricolor fez a Gávea agonizar ontem.

Para muitos, era um jogo sem importância, sem maior valor. Uma sonora mentira. Só os boçais entenderiam o Fla-Flu como um jogo carente de impacto. Mesmo que as duas equipes atravessem um momento crítico – na visão dos jornalistas, o Flamengo pode ser campeão e nós já estamos rebaixados – não se pode ofertar ao Fla-Flu um valor apenas simbólico. Só os idiotas veem no Fla-Flu um jogo comum. Pela primeira vez, os dois clubes se enfrentavam por uma competição oficial de caráter eliminatório. Tanto havia importância que, ao contrário do propagado na imprensa, os times mandados a campo foram os titulares. Adriano faltou ao Flamengo, mas isso não chega a causar estranheza. O resto era o time de sempre. Sem desculpas.

Todo jogo entre os irmãos Karamazov do futebol brasileiro deveria ser disputado com, no mínimo, cem mil torcedores. Não foi o caso de ontem. A campanha dos dois times no campeonato brasileiro, mais o péssimo horário de dez da noite imposto pela televisão, mais o frio, mais o caro ingresso, tudo fez parte de um pacote de afugentou as massas do estádio. E é justamente aí que vemos a grandeza épica do Fla-Flu: quando há uma enorme crise, o público abnegado é de dez mil pessoas. Logo se vê que não é um jogo à toa, vulgar. Foi o Fla-Flu que semeou as grandes massas de torcedores nos times de todo o Brasil.

O regulamento da competição nos favorecia em caso da marcação de um gol, dado que tínhamos empatado o primeiro jogo, na condição de mandantes; assim como na Copa Libertadores, a Sulamericana prevê que, em caso de empate, tenha vantagem o time que marcou gols fora de casa, o que parece estranho a todos nós porque o Maracanã é a nossa casa. Então, era preciso marcar gols. E nos coube a iniciativa imediata quando o jogo começou, apitado pelo árbitro chileno de uniforme berrante. Na primeira finalização, Luiz Alberto deu boa cabeçada à esquerda do goleiro Bruno, para o primeiro suspiro de aperto dos flamengos, muito mais numerosos no estádio, na proporção de cinco para um – o que é natural, dado o enorme crédito que a imprensa esportiva regularmente concede à Gávea, mesmo que dentro do campo as coisas não coadunem com o que é escrito e falado. Bruno defendeu e os flamengos talvez tivessem entendido que, contra o Fluminense, as coisas não são tão fáceis quanto se poderia supor. Não somos galinha-morta.

O jogo foi corrido em sua primeira meia-hora, apesar de não apresentar grandes perigos para os goleiros. A rigor, nossa principal ameaça foi um chute de Kieza, por cima do travessão. O Flamengo parecia ter mais velocidade nas arrancadas, mas perto da nossa área não havia maiores ameaças. Houve um chute também por cima do travessão, desferido por Denis Marques, atacante da Gávea que, de longe, lembra o nosso velho Magno Alves em mais aspectos do que os somente agradáveis. E só. Era um jogo equilibrado, onde podíamos vencer também. No final do primeiro tempo, a jogada que se tornou polêmica mas apenas para os desinformados: o pênalti sofrido por Kieza, no bico da área direita da defesa flamenga, cometido por Angelim. Fez-se uma confusão enorme por pouco: Kieza recebeu o choque final exatamente em cima da linha da área; a linha faz parte da área e, portanto, com justiça se assinalou a falta penal. Roni fez uma excelente cobrança, forte, no canto direito, mais ao alto, sem a menor possibilidade de defesa para Bruno. Era um gol salvador! Descer para o intervalo com a vantagem foi um alívio para nós. Os flamengos vociferavam em vão. Nosso time não foi brilhante, mas mostrou muita garra e disposição, daqueles que agradam a Abel Braga e a Renato Portaluppi também.

No segundo tempo, pressionado pelo resultado e pela ilusão de ter um time muito superior, o Flamengo tentou colocar velocidade no jogo, mas sem muita força. Eles perderam alguns gols, mas em jogadas que não eram tão evidentes para se marcar. A rigor, uma falta bem-cobrada pelo excelente Petkovic, com ótima defesa de Rafael no canto direito. E a nossa torcida, que parecia minúscula nas arquibancadas verde e amarela, no grito tragava a pequena massa rubro-negra.

Numa jogada em que parecia previsível o desarme, Denis Marques foi de um lado a outro na frente da área e chutou. A bola ainda bateu em dois jogadores antes de ganhar o ângulo direito de Rafael. Eles empataram e sua massa enfurecida gritava como se vomitasse os cantos de guerra; contudo, ressalte-se que o gol foi muito mais fruto de uma jogada isolada do que de uma “pressão insustentável”. Ainda faltava mais meia hora para o término do jogo, mas é possível afirmar que não sofremos mais nenhuma situação apavorante contra nosso gol. E mais: quase viramos em seguida, com a boa cabeçada de Kieza, marcando o gol que foi invalidado por suposta situação de impedimento. Uma outra excelente chance também foi desperdiçada por Luiz Alberto, em ótima cabeçada, raspando a trave – o zagueiro parecia com uma gana especial em enfrentar o ex-time. O time todo com uma postura muito diferente do melancólico empate contra o Barueri, em casa, domingo passado, afora as derrotas acachapantes para São Paulo e Coritiba.

Embora cinco vezes maior, em muitos momentos a massa flamenga foi engolida pelo nosso grito em muitos momentos, como já é de praxe. E quando Renato mexeu no time, colocando Alan e Marquinho, nossa velocidade aumentou, ainda que tivéssemos perdido a força e a categoria do argentino Conca. O fato é que o Fluminense começou a explorar contra-ataques velozes e, por conta disso, ainda houve tempo de se expulsar dois jogadores da Gávea: David e, quase no fim do jogo, Fierro. Se contarmos os quinze minutos finais, quem mereceu vencer foi o Fluminense; porém, o empate era mais do que suficiente para a classificação e foi o que aconteceu no fim da partida.

Desesperados, os torcedores da Gávea gritavam “Segunda divisão!” para nós, quase um brado humorístico; afinal, eles estão na parte baixíssima da tabela. Nós os lembrávamos da condição de eliminados. Encarar o Fluminense num jogo decisivo jamais será algo fácil. O placar nos favoreceu e eliminamos nosso adversário de sempre. Eles chegaram ao ponto de delirar com sua enorme faixa de pano, onde se lê o Flamengo como “maior do que tudo e que todos”. Só não é maior do que a camisa Tricolor; por isso, nós somos os classificados da Copa Sulamericana.

Ainda é cedo para comemorarmos, mas estamos entre o sonho e a ressurreição. Evitar a queda passou a ser algo real, e ganhamos fôlego com a atuação de ontem.

Mais do que isso, este empate com sabor de vitória será um tempero para nossa recuperação no campeonato brasileiro, é o que todos esperamos. O Tricolor não morre, nem morrerá. Estamos vivíssimos e deixamos ao largo o maior rival.

Paulo-Roberto Andel

http://cronicasdoflu.blogspot.com

Wednesday, August 26, 2009

MEMORABÍLIA DE UM FLA-FLU

Quando nasci, já era Tricolor. Não tenho lembrança de simpatizar com nenhum outro time que não fosse o Fluminense. Sempre foi o meu primeiro e eterno amor no futebol.

As imagens que tenho em vaga lembrança da mais tenra infância Tricolor remetem a meu pai me puxando pela mão num jogo de dois zeros – um empate. Gostava das cores das camisas das pessoas, todas iguais. Era o Fluminense em minha retina. Noutra partida, como já contei um dia, meu troféu era o cachorro-quente da Geneal, mas a massa enlouquecida insistia em me jogar para cima o tempo todo. Eu devia ter meus sete anos, seis, e já era testemunha de uma goleada – foi quando atropelamos o Vasco e vencemos a taça de 1975. Até então, não sabia o que era o Flamengo.

Descobri com dez anos.

Houve um Fla-Flu que não valia taça, mas era importante como sempre, pois o Fla-Flu já é por si um troféu. E tomamos uma sonora goleada, acachapante, em anoitecer de grande chuva no Maracanã. Nosso goleiro era Wendel, uma muralha digna da seleção brasileira; mesmo assim, os flamengos fizeram gol após gol e saíram com uma vitória magnânima. Sei que chorei. Lembro de meu pai não falar absolutamente nada durante a volta para Copacabana. Lembro também que ele não quis jantar. Perder o Fla-Flu pode levar um homem a quebrar as rotinas familiares, destratar a mulher amada, não atender o amigo. É um choque. E, tomado por um sentimento infantil que desapareceu por completo, com meu sanduíche de presunto na sala do pequeno apartamento, pensei em vingança. Sim, a vingança daquela derrota vil e insana. Quando seria? Quem seria meu herói? Haveria um herói? Ah, se meus botões se materializassem no gramado do Mário Filho, o time seria um verdadeiro aríete, para derrubar qualquer muralha: Robertinho, Cristóvão, Edinho, Pintinho.

Para um garoto, uma semana leva um ano. Um ano leva um século. O espinho atravessava minha garganta feito uma adaga. Nos rachas do recreio, nas peladas à tarde na vila, nos jogos da praia na Figueiredo, tudo parecia uma grande faixa a zombar do Fluminense: “O Tricolor não é de nada; é somente um humilhado, um goleado”. Passavam os dias, os meses e nada.

Então, subitamente, veio mais um domingo à tarde. Era novamente um Fla-Flu. Tínhamos o pó de arroz em festa nas arquibancadas; do outro lado, os flamengos urravam como nunca: eram os campeões; tinham a festa, a massa e a imprensa a seu lado. Uma gritaria incessante. Por alguns momentos, tive medo quando nos atacaram, e também tinha medo quando algum jogador parecia solto num dos lados de nossa defesa. Em certo momento, meu pai alertou: “Fique tranqüilo, o Rubens está na cobertura”. Era Rubens Galaxe, velho herói de grandes conquistas, que jogou em todas as posições exceto no gol. Rubens deu um chute bonito, e a bola talvez entra entrado no canto direito de Cantarele. Nós gritamos; fizemos um a zero. Os flamengos eram uma arquibancada enorme, dantesca, e fizeram o silêncio; durante muito e muitos anos, sempre percebi que, quando comemoramos um gol, eles ficam mais calados do que contra todos os outros adversários. Somos os irmãos Karamazov.

Pouco tempo depois, houve uma bola alçada da direita; Pintinho, nosso craque, subiu e tocou de cabeça, no alto à direita do goleiro. Era dois a zero. Lembro de meu pai rir. O Maracanã era um silêncio sepulcral à direita da tribuna de honra. E terminou o primeiro tempo. Era minha estréia em entender a importância do Fla-Flu. Vencíamos e bem. Faltava alguma coisa, no entanto. Não sei se a goleada, uma grande jogada ou algo que namorasse a minha memória para sempre.

Talvez o Fluminense tenha assentado o jogo no segundo tempo. O que me vem à tona é que houve um pênalti. Eles urravam novamente, como se estivessem feridos de morte e ressuscitassem. Era uma explosão. Quem pegou a bola nos braços, senhor de si, era Zico, o jogador que tinha todos os jornais a lhe saudar, conforme eu já acompanhava levemente nos cadernos esportivos. E gritavam: “Zi-co! Zi-co!”. Temi pelo pior. E o que faltava para a eternidade de minha memória finalmente nasceu. O chute foi forte, no canto esquerdo. Não tínhamos mais Wendel, nem Renato. O goleiro era o jovem Paulo Goulart, que voou e defendeu a bola, mandando para escanteio. Pela primeira vez, vi a torcida do Fluminense gritar como se fosse um gol nosso, sem ter havido gol algum. Bateram o escanteio, a defesa rechaçou e tudo estava a sorrir por conta daquela defesa. Meu coração de criança apontava que merecíamos golear, mas estava somente dois a zero.

Quando faltava pouco tempo para o fim do jogo, nossa torcida cantava que já estava na hora de ir embora. Chegou a cereja do bolo: o menino Cristóvão, não tão menino quanto eu, mas muito menino para encantar um Maracanã lotado, acertou um drible fantástico no zagueiro Manguito, que caiu estatelado, e fuzilou o gol flamengo, fazendo três a zero. Milhares e milhares de flamengos vazavam pelos então pequeninos corredores de acesso das arquibancadas do Maracanã. Foi uma grande noite. Foi a primeira noite em que, com meus dez anos, eu me considerava um grande vencedor no futebol. A partir de então, veio um jogo e mais um jogo, e mais outro jogo. Centenas de jogos. Risos, lágrimas, dor, paixão.

Para muitos, hoje é um Fla-Flu apenas esvaziado, debilitado pela má fase das duas equipes. Um Fla-Flu precário. Para mim é diferente: O meu Fla-Flu, na verdade, começou há quase trinta anos atrás. E nunca mais acabou. É o jogo que nunca termina e jamais terminará. Hoje, sim, é um capitulo: mais um de uma história condenada à eternidade.

Torço por um Paulo Goulart em campo. Um Rubens, um Pintinho. Quem sabe, um Cristóvão. Assim como sorri com Benedito de Assis e Renato Portaluppi.


Paulo-Roberto Andel, 26/08/2009

Thursday, August 20, 2009

FLUMINENSE 0 X 0 FLAMENGO

Não importa a circunstância (13/08/2009)

Depois de noventa e sete anos, o maior clássico do futebol brasileiro finalmente foi disputado numa competição internacional. Poderia ter sido assim no ano passado, se os flamengos não tivessem sucumbido diante do mexicano América. E veio o Fla-Flu, nesta vez por conta da Copa Sulamericana.

Não importa o horário tardio, o esvaziamento do jogo, os times muito desfalcados de titulares: é um Fla-Flu. Assim tem sido desde 1912, assim será até o fim dos tempos. Os irmãos Karamazov do futebol brasileiro se digladiando incessantemente. Sou capaz de lembrar do Fla-Flu em que tomamos um gol de Titã no último minuto, há trinta anos, assim como lembro do sensacional drible de Cristóvão, deixando Manguito sentado e fuzilando Cantarele, também há trinta anos. E Paulo Goulart, que viria a ser o campeão de 1980, defendendo o pênalti de ninguém menos do que Zico? E Benedito de Assis? E Renato Portaluppi? O Fla-Flu nasceu com a vocação da história rica, sempre. E ontem, mais um capítulo dessa história foi escrito. O Fla-Flu sempre foi do mundo, mas agora ele é ratificado pelo regulamento de uma competição.

O primeiro tempo da partida foi marcado por grande movimentação e o predomínio dos flamengos, com duas bolas na trave, ainda que não provenientes de jogadas muito elaboradas. E o que não foi na trave, foi bem defendido por nosso goleiro Rafael, estreando no Maracanã. Na verdade, o Flamengo tinha meio time titular em jogo; nós, somente reservas, por decisão de Portaluppi. E o meio time do Flamengo, com bastante conjunto, fez a balança pesar a seu favor, mas não o suficiente para abrir a vantagem. Por nosso lado, o equívoco de se jogar com muitos homens no meio de campo acabou fazendo com que o ataque fosse limitado a Alan; não havendo a liga, o time não produzia na frente. Então, acabou sendo um jogo de defesa contra ataque; a defesa, nem tão pressionada assim. E o empate em zero acabou sendo relativamente justo. O destaque foi nosso goleiro, bem em todos os lances. Houve também a estreia do volante Fábio Santos, marcada por enorme disposição física e lances até ríspidos, embora sem deslealdade. Importante ressaltar que, sendo a Copa Sulamericana, vale a regra do gol fora de casa contar como dobrado em caso de desempate; por sermos os mandantes, o fundamental era mesmo não tomar gol. E conseguimos atravessar a primeira etapa em branco nas redes.

No segundo tempo, houve uma queda de rendimento dos flamengos, enquanto nós não éramos dos mais inspirados para criar. O que não mudou na fase final foi a voracidade de Fábio Santos, em várias disputas polêmicas de bola com o sérvio Petkovic. Eles ainda estavam melhores no jogo, mas aos poucos começamos a timidamente chegar no ataque. Nossa fase não é boa, o time pode ser reserva, mas é um Fla-Flu, não importa a circunstância.

Petkovic, em duas excelentes finalizações, quase marcou para a Gávea, mas Rafael fez honra à camisa que, um dia, foi de Carlos Castilho e Paulo Victor. Defendeu bem e manteve o zero no marcador. Pesados os erros e acertos, o jogo acabou sendo equilibrado; se os flamengos foram melhores, não finalizaram de modo a justificar a vitória. E o resultado, para nós, foi bom: qualquer empate com gols nos classifica à próxima fase na partida de volta. Claro que todos os olhos estão voltados para a luta contra o rebaixamento, que é a prioridade máxima de atenção. Mas não custa sonhar com degraus pequenos numa competição internacional. E o primeiro passo já foi dado.

O jogo de ontem não ficará escrito por grandes jogadas, por grandes craques ou um público avassalador. O Fla-Flu já é gigante por sua própria essência. A marca a ser deixada é a descoberta da América para o clássico que é sinônimo de Brasil.


Paulo-Roberto Andel 13/08/09

FLUMINENSE 5 X 1 SPORT - 06/07/2009

Entre gols e incertezas (07/08/2009)

Meus amigos, depois de longo e tenebroso jejum, eis que o Fluminense voltou a vencer. Passamos por um momento terrível e ainda estamos na amaldiçoada zona de rebaixamento; contudo, a goleada de cinco a um imposta ontem ao Sport, no Maracanã, parece nos levar a outros rumos, muito mais dignos.

Mesmo diante do caos que nos ronda e apavora, doze mil abnegados do Fluminense estiveram no Maracanã. Não tenho dúvidas: o time mostrou até um bom futebol, facilitado pela fraqueza do time pernambucano, mas quem decidiu a partida foi a torcida. O primeiro gol teve o último toque na bola por Kieza, após uma furada inacreditável de Roni, que jogou bem boa parte da partida, mas errou muito no começo – entretanto, quem emurrou a bola para as redes foi a torcida, com seu grito sofrido e carinhoso. Todos estávamos ali com a sede da vitória e o urro da dor, por conta da má colocação. Antes do gol, tivemos chances, mas o nervosismo imperava por conta da má situação.

Com a porteira aberta, em meia hora chegamos ao segundo gol, numa bela jogada de velocidade e, agora sim, um passe preciso de Roni para mais um gol de Kieza. O atacante não finalizou com maestria, não deu um toque com força e a bola passou muito perto o goleiro Magrão, quase no meio do gol. Mas a torcida urrou de novo e empurrou a pelota com toda a fúria para as redes. E, logo a seguir, mais uma boa jogada de Roni, que foi derrubado na direita da grande área, e o pênalti foi assinalado. Muitos urros e choros nas arquibancadas do Mário Filho. A cobrança do veterano artilheiro foi perfeita, no canto direito de Magrão. Três a zero no primeiro tempo e, pela primeira vez em muitos meses, nós, os da arquibancada, tínhamos um intervalo tranqüilo, sem temores ou desesperos. O Fluminense vencia, e vencia bem. A velocidade do ataque permitiu a boa atuação da primeira etapa. Atrás, o jovem Dalton parecia muito seguro. Destoando em campo, Wellington Monteiro, que abusava de erros nos passes, afora a já costumeira limitação física.

No segundo tempo, o jogo parecia sob controle do Tricolor, que explorava os contra-ataques para tentar aumentar a vantagem. Em alguns momentos, o Sport ameaçava chegar perto do gol. E conseguiu marcar aos dezesseis minutos, numa cobrança de pênalti de Vandinho, de forma inesperada. A penalidade foi provocada de forma infantil por Wellington Monteiro, que pôs o braço na bola dentro da área ao errar uma matada de peito, após cobrança de escanteio dos pernambucanos. Um clima de apreensão tomou o Maracanã. Estaria por acontecer uma nova tragédia, num jogo que parecia tão fácil para nós? Tensão à vista. Mas por pouco tempo. Cinco minutos para ser mais preciso.

Aconteceu a segunda jogada mais bonita de toda a partida. O jovem Carlos Eduardo, que tinha entrado em campo no lugar do também jovem lateral Dieguinho, fez um lindo giro à direita da área do Sport e chutou sem deixar a bola cair, fuzilando o canto esquerdo de Marcão e fazendo um golaço. Não havia mais espaço para sermos sufocados. Quatro a um. Estava encerrada a reação do Sport. Dali em diante, o que se viu foi um Fluminense que nem parecia estar entre os últimos colocados: calmo, tranqüilo e impetuoso, procurando o melhor momento de trucidar o adversário.
A entrada dos jovens Alan e Maicon deu nova velocidade ao time, que continuou à frente. Havia espaço para mais um gol e ele veio. Não foi um gol qualquer, um gol corriqueiro; foi a complementação de uma jogada de placa, feita pelo argentino Conca: pela esquerda, ele limpou meio time do Sport e, na saída do goleiro, deu com o lado de fora do pé para Maicon, livre, tocar de calcanhar para o fundo do gol vazio.

Foi uma grande noite, menos pela excelência do futebol. Não podemos nos iludir; sabemos que o Fluminense precisa melhorar muito para escapar da degola. Todavia, foi possível ver que o Fluminense não está ferido de morte, o Fluminense não é um mero rebaixado como quer parte da imprensa esportiva. Ainda rolam os dados; o tempo não para. Podemos reverter essa péssima situação. A vitória de ontem traz algum alento, sem dúvida. E a próxima batalha será uma pedreira: encarar o Vitória da Bahia no Barradão. Mas o campeonato não permite escolher situação; só nos resta vencer. Não sabemos o que nos resta pela frente; somos cercados pelas incertezas. A hora é de reagir.


Paulo-Roberto Andel, 07/08/2009

Tuesday, August 18, 2009

SOBRE FLÁVIO PRADO


PANACAS DO FUTEBOL BRASILEIRO - PARTE XIV


Flávio Prado, eventual jornalista esportivo paulistano, há muito afastado da grande mídia televisiva, diz que não gosta do Fluminense em seu programa de rádio (que, naturalmente, não é o líder de audiência da casa). Mais: diz que o lugar do Fluminense é na segunda divisão.

A democracia aí está. Até os panacas podem tirar proveito dela. Eu, que não pertenço a este enorme grupo formado no Brasil, com vasta influência de jornalistas e parajornalistas, também a aproveitarei.

Não gosto de Flávio Prado desde a primeira vez que me deparei com sua figura cabotina e prepotente no programa “Cartão Verde”, da TV Cultura, dotado daquele ar professoral injustificável – nem tinha idade para isso, para passar por um homem sabido e maduro do futebol. Nunca gostei. Suas opiniões sempre expressaram um fascismo enorme ao se comparar o “poderio” dos times de São Paulo sobre os do Rio, quando isso NÃO acontecia, ao contrário de hoje. Outra coisa que considero abominável no jornalismo esportivo é quando um profissional que vive do futebol diz não torcer para time nenhum – e isso, o FP sempre fez, beirando ao ridículo. Tempos depois, aumentando a carga de ridículo contida em sua torcida enrustida, passou a dizer que tinha se tornado torcedor do Milan: pelo visto, ainda por cima é pé-frio, pois o rubro-negro italiano despencou das conquistas a seguir.

Até aí, a coisa ia. FP era apenas mais um desses bobocas que ganham bem para falar do que não sabem, ou que nunca cobraram direito um escanteio. Em se tratando de Fluminense, aí é que não entende nada. O Tricolor das Laranjeiras fundou o futebol brasileiro, permitindo que gerações e gerações tirassem seu sustento do esporte – e, nessa, até o “Forza Milan” saiu ganhando, pois tem uma excelente salário para ejacular tolices. Ao dizer que o Fluminense deveria estar na segunda divisão, FP exacerba e mostra toda a sua ignorância oceânica sobre o futebol carioca, brasileiro e mundial. Sim, o Fluminense foi o primeiro time brasileiro campeão mundial de clubes. Ele, FP, é que se posiciona bem como um jornalista de segunda divisão. Terceira, talvez. E não poderia ter escolhido sua opção de “torcida” de maneira mais coerente: o Milan, em mais de uma vez, foi rebaixado por conta de falcatruas que gerenciou nos campeonatos italianos, algo bem parecido com o que vimos pelo cenário brasileiro em anos como os de 1996, 1997 e 2005. Será que Flávio Prado também não gosta de Mário Celso Petraglia e Alberto Dualibi? Ou também se esqueceu?

Eu gosto de Sandro Moreyra, João Saldanha, Aquilles Chirol, Jorge Nunes, Marcos Caetano, Paulo Vinicius Coelho, Rafael Marques, Nelson Rodrigues, Luiz Mendes, Doalcei Bueno de Carvalho, Juca Kfouri. É por isso que aprendi a não gostar de Flávio Prado.

Não entendam minhas linhas como raiva. Como Tricolor, tenho o direito de me manifestar. Apenas observações. Ia me esquecendo, é preciso citar o principal motivo que me faz crer que pessoas como Flávio Prado mereçam uma passagem de ida sem volta para o Afeganistão. Certa vez, em minha árdua busca como colecionador de CDs de música, deparei-me num supermercado com um grande balcão de promoções a R$ 1,99. Entre forrós, axés, pagódis e outras bizarrices, eis o que aparece: “Hits – As melhores do Flávio Prado”.

Ser apedeuta em futebol, ainda vá. Mas querer indicar música para os outros já é demais.

Comprei um disco do Ronaldo e os Impedidos.

Flávio Prado não merecia dois reais. Nem merece.


Paulo-Roberto Andel, 18/08/2009

Thursday, August 06, 2009

ATLÉTICO-PR 1 X 0 FLUMINENSE

Debaixo da noite turva (04/08/2009)

Há uma noite que tem cercado o céu do Fluminense. É uma noite longa e turva.

Mais uma vez, fomos derrotados na rodada de domingo passado; desta vez, de forma inconteste e, sem dúvida, em nossa pior apresentação no ano – como se já não bastasse um rol de outras péssimas performances.

Desta vez, um golpe terrível. A lona. O fundo do poço. A humilhação da última colocação no campeonato. Chegamos ao limite do que há de pior. E nada pode ser salvo do jogo contra o Atlético do Paraná: foi uma partida péssima, sem caber a desculpa do também péssimo gramado e da chuva. Praticamente não chutamos a gol, e nossas maiores oportunidades aconteceram a cinco minutos do fim da partida, sob total desespero, o que resume a situação. Se ainda é possível tirar algo de bom deste jogo no Paraná, disputado no Estádio do Café por conta da perda do mando de campo pelos atleticanos, pode-se dizer da boa entrada do jovem goleiro Rafael, que se mostrou seguro nas poucas intervenções que fez em campo. Não evitou o gol, em razoável cobrança de falta executada pelo veterano Paulo Baier, porque ainda não havia entrado em jogo: o titular, impedido de movimentos capoeiristas numa bola mais ao alto, mais uma vez tomou um gol de falta em seu lado direito. Longe de culpá-lo pelo gol ou pela derrota; a culpa que lhe cabe é da situação como um todo. E de quem o escala, naturalmente. Sem contar o fato de ainda ficar quase dez minutos em campo sem condições, por sua teimosia que irrita o torcedor mais tranqüilo. Trata-se de um outro mundo, irreal; ficar em campo sem condição de estar em pé, priorizar defesas no gol com os pés. E este não é o mundo do Fluminense – ao menos, não deveria ser.

O fato é que em raras vezes eu assisti um jogo tão ruim do nosso Tricolor. Em outras épocas, nada boas, mas predecessoras de glórias, vi uma derrota para o CSA, de Alagoas, no Maracanã, com dois gols de Marciano. Outra, uma goleada de quatro a zero para o Campo Grande. Outra, a virada da Portuguesa da Ilha no Maracanã, com dois gols de Rico. O terrível primeiro tempo de 1998, contra o ABC. Desta vez, a coisa chegou ao mais extremo possível do que se pode tolerar. Não havia a menor possibilidade de se ganhar o jogo enquanto havia empate; com o gol de Baier, a virada tornou-se impossível. Um verdadeiro bando, atarantado em campo, sem as menores noções de posicionamento, deslocamento, marcação e, para piorar, com a insistência de se tocar – mal – a bola em um gramado esburacado e enlameado. E, claro, de nada adianta mandar a campo uma jovem promessa como Alan se o time está completamente desestruturado. Imagino qual deve ter sido o rol de instruções no intervalo, para que o time voltasse tão mal ou até pior do que na segunda etapa. Desnecessário dizer dos oito minutos finais, quando tínhamos mais um em campo; na atual situação, isso não diz qualquer diferença ou vantagem. Mais uma vez, fica claro que o problema não estava sendo criado por Parreira.

O que se tirar de uma derrota que nos coloca na última posição do campeonato brasileiro?

Lembrar Francisco Horta: “Vencer ou vencer”.

Não nos resta outra alternativa.
Hoje, a três rodadas do fim do primeiro turno, o Fluminense tem uma pontuação equivalente a de times que foram rebaixados, em anos anteriores, muito antes do final da competição.

É preciso colocar o coração na ponta das chuteiras. Temos dois jogos em casa ainda nessa primeira fase. E simplesmente não se pode perder pontos.

No passado, os Tricolores se sentiram tão indignados que, por conta de jornadas horrorosas, até se afastaram do Maracanã. Era compreensível, mas não é a solução. Um time sem torcida é um corpo sem coração. Não se pode deixar que o time morra à míngua, mesmo com sua fraqueza atual. E é bem difícil acreditar que, com o atual stablhishment das Laranjeiras, espetaculares mudanças trarão de volta o Fluminense vencedor de anos passados. Hoje, neste momento, o Tricolor tem um único amigo, coletivo, que lhe pode ajudar a reviver: sua enorme, apaixonada e coerente torcida.

Quantas vezes a nossa voz das arquibancadas não gritou por um gol de uma virada impossível, ou de um título quase perdido que retomamos com braço forte?

Empresários gananciosos, dirigentes ineptos e jogadores de enorme carência técnica passarão. Mas a torcida, meus amigos, ela é eterna: vai até a morte e, de acordo com meus amigos, depois dela!

Teremos na quinta-feira um jogo que pode decidir nossa vida, contra o Sport, adversário direto na luta contra o rebaixamento, no Maracanã. Todo Tricolor de bem que tenha possibilidades deve comparecer ao estádio. Quem não puder, que faça sua corrente positiva na televisão ou no rádio. Mas é preciso que toda a nossa torcida volte seu pensamento para o Maracanã. Precisamos vencer de qualquer forma. Não podemos ser derrotados pela mediocridade e pela incompetência dos que levaram o Fluminense ao caos onde se encontra.

No passado, tivemos ótimos times que a imprensa, tendenciosa, tratava por “timinhos”. Também tivemos times geniais que poucos reconheceram. Hoje, nosso time é um carro antigo, defeituoso, errático. Emperrado.

Cabe a nós empurrá-lo.

Para a frente.

Para trás, já temos milhões de agourentos a trabalhar.

Temos um time destroçado. Mas nossa torcida é genial. Ela pode ainda modificar este gravíssimo quadro.



Paulo-Roberto Andel, 04/08/2009