Friday, February 26, 2010

CONFIANÇA 1 X 1 FLUMINENSE (24/02/2010)



Desconfiança (25/02/2010)

Meus amigos, o título desta crônica, por mais que pareça, não sugere um trocadilho infame contra a respeitável equipe sergipana do Confiança, que nos enfrentou ontem em nossa estréia na Copa do Brasil, competição que nos traz maravilhosa lembrança e a esperança de melhorarmos nossa performance neste ano, depois das dificuldades que temos sofrido desde 2008. A desconfiança, sim, é por tentar entender o que realmente tem acontecido nas Laranjeiras – e na Ilha do Governador – para que o Fluminense, depois de um início de ano tão promissor, esteja desempenhando um papel tão pífio nas partidas disputadas após o Fla-Flu. Sim, perdemos a vaga para a Guanabara jogando melhor do que o Vasco, mas em muitos momentos tivemos lances abaixo da crítica naquele jogo – e não falo somente das finalizações de nosso artilheiro Fred. O fato é que o time parece ter sofrido uma pane de energia desde a bola na trave e os dois gols, num intervalo de três minutos, que empataram o Fla-Flu e permitiram, a seguir, a apoteose da Gávea. Em suma, ontem conquistamos um empate a duras penas e, por isso, haverá o jogo de volta no Maracanã, no começo de março.

Mesmo que seja uma equipe modesta, não é o caso de desrespeitar o time do Confiança. Primeiro, todo time de futebol merece respeito; por isso, é o esporte com mais fãs em todo o mundo: um time desconhecido pode bater uma máquina de jogar bola numa partida. Segundo, para muitas equipes, a Copa do Brasil é a única oportunidade de visibilidade deles no cenário nacional, e isso quer dizer de estádios com bom público, pressão dos times locais e a luta para equilibrar eventuais confrontos de volta, caso o time visitante não vença por dois gols de diferença. Mais do que isso, o time sergipano é dedicado, aplicado, com bom preparo físico e muito longe de ser um mero cachorro-morto. Não à toa, o Flamengo do Piauí conseguiu empatar com o forte Palmeiras em casa, de modo que o enfrentará amanhã no Parque Antarctica; do mesmo modo, o Sousa jogará contra o também forte Vasco da Gama em São Januário. Todavia, a torcida do Fluminense esperava muito mais do que um empate com atuação medíocre, com o agravante de nosso time ter disposto de tempo para se preparar para esta partida: onze dias. Perdemos gols, sem dúvida; poderíamos ter vencido, mas mesmo que isso acontecesse e o jogo de volta fosse eliminado, ainda assim nossa preocupação estaria na má atuação. A rigor, de positivo apenas as voltas do ótimo zagueiro Digão ao time, ainda que por um tempo, e a excelente estréia do jovem atacante Wellington Silva, que mostrou muita qualidade, mas que terá pouco tempo entre os profissionais, dado que já está negociado com o futebol da Inglaterra. Também vale a pena registrar o belo gol de Gum, após rápido roçar de cabeça de Fred quando do cruzamento de Darío Conca. Um chute de primeira no canto esquerdo do excelente goleiro Pantera, que teve participação fundamental no mau resultado Tricolor, fazendo ótimas defesas e, fundamentalmente, mostrando grande calma no lance que poderia ter sido decisivo no jogo.

Num gramado longe do ideal, era até de se entender que o Fluminense não conseguisse desenvolver um bom toque de bola - e o resultado disso foi do enorme número de passes errados no começo do jogo. Porém, o mau gramado não atrapalhou muito o Confiança, que veio para a frente e teve pelo menos duas boas chances de gol nos primeiros vinte minutos – uma, muito bem interceptada por Gum; a outra, passando perto de nosso gol num chute de Michel.
Num intervalo de menos de dez minutos, tivemos então nossa melhor performance em campo, que começou num perigoso chute de Fred, rente à trave direita. Nos minutos seguintes, a ocupação da intermediária adversária até o gol de Gum. Pouco tempo depois, quase um gol contra do zagueiro Bira, muito bem-salvo por Pantera. E uma falta maravilhosamente cobrada por Conca, com outra grande defesa de Pantera. E só. A seguir, o Confiança empatou o jogo com um belíssimo gol aos trinta e sete minutos: cruzamento na direita de nossa área, Diogo não conseguiu cortar de cabeça, foi driblado pelo lateral Serginho e este fuzilou Rafael.

No segundo tempo, Cuca se precaveu contra as constantes investidas do Confiança, reabilitando o sistema de três zagueiros e colocando Digão no lugar do apagadíssimo Williams, que ainda não conseguiu de fato estrear com nossa camisa. A seguir, a estréia do menino Wellington que, com sua impetuosidade, colocou o Fluminense mais à frente no ataque; entretanto, as finalizações não corroboraram a melhora.

E então veio o lance capital: um pênalti até bobo em cima de Marquinho, ainda cedo, em torno dos vinte minutos. Naquela altura, o segundo gol poderia nos dar tranqüilidade para o jogo em casa, ou até mesmo conseguir a classificação em Sergipe, mas Fred não conseguiu chutar bem e perdeu o pênalti: foi dificultado pelo tranqüilo Pantera, que não se mexeu na cobrança. Mais uma vez, o velho receituário: Fred é nossa maior estrela, é o finalizador e, quando ele não está bem, o resto do time sente. Pouco tempo depois, Cássio, no ataque, deu um chute perigoso à direita do gol sergipano. Foi a última grande chance de vencermos, pois o Confiança sentia-se satisfeito com o empate e recuou bastante; sem força e abalados psicologicamente, não conseguíamos agredir, e o resultado se consolidou.

Mais uma vez, embora seja fundamental a marca do artilheiro – e, no caso, ela foi desperdiçada -, o fato é que o Fluminense não deixou de ganhar somente pelo pênalti de Fred, assim como não venceu o Vasco somente pela cobrança na trave de Alan. A performance do time caiu drasticamente desde o grande jogo e, de lá para cá, parecemos um pouco perdidos. É natural que nossa torcida tenha desconfiança; mais do que isso, preocupação: onde está o Fluminense guerreiro do fim de 2009?

VASCO 0 X 0 (6 X 5) FLUMINENSE - 13/02/2010



O fim antes da hora (14/02/2010)

Depois de uma seqüência de tiros livres da marca penal empatada em cinco, visando decidir quem seria o grande finalista da Guanabara, depois do zero a zero no tempo normal de jogo, coube ao menino Alan fazer nossa sexta cobrança. O pênalti é um sopro, uma risca, um segundo. Alan cobrou bem, tão bem como todos os nossos outros cobradores e tirou complemente o goleiro vascaíno Fernando Prass da linha da bola; porém, ela bateu no travessão e, com isso, o Fluminense mais uma vez deixou escapar uma taça que cobiça há dezessete anos. Mais uma vez nosso ímpeto bateu na trava, mas é preciso deixar claro que esse fracasso pouco ou nada tem a ver com a cobrança de Alan, embora ela possa ter sido uma pá-de-cal em nossas pretensões. As Laranjeiras devem ter sobriedade e maturidade para o enxergar de que perdemos a vaga para a final no decorrer da partida, não propriamente nos penais. Não cabe sacrificar o menino, que é bom chutador, nosso melhor de fora da área; muitos jogadores do passado que alcançaram o status de craques já passaram por isso – e, dentre eles, alguns os mais incensados pela imprensa do futebol. Aliás, a meu ver, o único erro na partida que envolveu Alan revelou-se em sua aparição tardia no gramado, uma vez que entrou no segundo tempo em lugar do também jovem Bruno Veiga: a meu ver, Alan deveria ter começado como titular, por ter mais experiência e maior entrosamento com Fred.

Falarei do nosso artilheiro maior. Se o ano passado não serviu para alcançarmos os títulos que tanto esperávamos, ao menos nos deu a salvação contra um descenso já decretado em todo o Brasil, visto com quase unanimidade: até os nossos deram o último adeus ao Fluminense que, felizmente, não se consolidou. Lutamos contra tudo e todos; a cada dia, o fascismo jornalístico que impera contra o Tricolor foi definhando, murchando, até que feneceu. A maior salvação que se tem notícia em gramados daqui. E Fred, com seus gols abençoados, foi um dos grandes responsáveis pela façanha. Então, 2009 acabou e nossas esperanças eram todas de um 2010 promissor. Começamos bem a Guanabara; entretanto, nosso time desabou no segundo tempo do Fla-Flu monumental e, até agora, não recuperou o rumo certo. E Fred se machucou. A partir de então, vencemos sem convencer, nos classificamos, mas sem um futebol brilhante. Ontem, também não fomos bem; todavia, num jogo que teve momentos opacos e alguns de brilho, é preciso considerar que, na balança, o Fluminense foi melhor, mas não soube decidir. Perdemos cinco ou seis chances claras de gol e, em todas elas, o gosto amargo de terem sido desperdiçadas por nosso jogador mais caro, valorizado e capaz de figurar numa seleção brasileira. Embora ainda jovem, Fred já disputou uma Copa do Mundo, tem grande experiência no futebol internacional e títulos. Ontem, falhou. Acontece. Vinha de recuperação física e isso também pesou. Estamos acostumados a vê-lo marcar e marcar gols, sem piedade; na decisão contra o Vasco, não deu certo. Em vários momentos, a enorme torcida de São Januário se calou diante da iminência do gol: era Fred, livre, em algum lugar da área, fuzilando Fernando Prass, sem que nenhuma bola realmente ameaçasse o gol. Na mais visível delas, o artilheiro driblou o goleiro, perdeu o tempo de bola, se jogou e acabou recebendo o cartão amarelo. Impensável em termos de Fred, mas os heróis também falham – o que não os torna menos heróis. Conca estava marcadíssimo, não tinha sua melhor performance e vinha da perda do pênalti na semana passada; Bruno Veiga tentou algumas jogadas e mostrou futuro, mas foi pouco para decidir. A verdade é que o peso da camisa de Fred é mais perigoso para os adversários, e ele não conseguiu exercitar seu melhor ofício, que é a arte do gol. Chutou de fora e de dentro da área, cobrou falta, cabeceou e nada. O dia não era dele.

Os mais sóbrios reconheceram nossa melhor performance no empate, principalmente no segundo tempo, já que o jogo na primeira etapa foi marcado por cautelas e baixo desempenho técnico; isso não quer dizer que os vascaínos também não tiveram suas chances. Na mais perigosa delas, na fase final, Elder Granja perdeu um gol feito em cabeçada defendida por Rafael. E tentávamos, tentávamos; era preciso resolver o jogo antes dos penais, onde tudo se iguala e eventuais derrotados podem se salvar. A partir de dado momento no segundo tempo, o Vasco tratou de cadenciar o jogo; parecia querer vingar os penais do outro ano, quando nós conseguimos passar, ou talvez a Guanabara de 1980. Pareciam confiantes. Eu temia que nosso talentoso Conca pudesse fracassar, por conta da outra semana. Então, os minutos finais se aproximaram e nos faltou força no ataque para tentar resolver o jogo e a vaga para a final.

Vencer o Vasco é sempre difícil para nós nos últimos tempos. Um grande time, como outros, mas que tem sido a pedra irremovível em nosso caminho; basta verificar as estatísticas. Como jogar melhor não é suficiente para vencer um jogo, o Fluminense, que não soube marcar, terminou com o empate e, então, a teórica superioridade no gramado foi zerada: decisão nos penais não tem favoritos, absolutamente nada. Claro que treinar é importante, mas, muitas vezes, um excelente cobrador nos treinos desperdiça uma vaga ou um título no chute da marca decisiva, e isso está muito longe de tirar o mérito de quem se classifica e vence. Foi o caso de são Januário: os penais foram muito bem cobrados, como os nossos e, por conta do regulamento, mereceram a vaga para a final. Na hora H, perdemos por um sopro, uma lufadinha, um rabisco, é o que contará a história. Na verdade, perdemos para nós mesmos: uma ou duas das oportunidades perdidas em campo definiriam o jogo a nosso favor. E também é preciso ligar os sinais de alerta: desde o primeiro tempo do Fla-Flu, não temos vindo bem em campo. De toda forma, um pouco mais de aplicação e sorte poderia ter nos dado a chance de decidir a taça, que teve alguns de seus melhores jogos feitos com nosso time em campo.

Numa rara vez, não foi o dia de Fred. E quando Fred não vai bem, o Fluminense sente. Perdemos uma batalha, mas não a guerra. Nosso artilheiro tem todo o crédito e prestígio possíveis, de modo que vai se recuperar da noite infeliz de ontem. Poderia ter sido agora a nossa hora da grande final, mas não aconteceu. O Fluminense está fora da Guanabara. É hora de trabalhar, porque o segundo turno não espera e a Copa do Brasil está na alça de mira. Esqueçamos definitivamente de procurar culpados: nem Alan, nem Fred. Somos um coletivo. Um time de guerreiros. O revés não nos abaterá. Hora de seguir em frente.


Paulo-Roberto Andel

Thursday, February 11, 2010

FLUMINENSE 3 X 0 BOAVISTA; OLARIA 0 X 0 FLUMINENSE



A dois passos da Guanabara (08/02/2010)

Caros amigos, entre reveses e sucessos, o Fluminense está nas semifinais da Guanabara. Não tivemos a melhor das campanhas e, mesmo antes do desastre no Fla-Flu, nosso time oscilou bons e maus momentos, mesmo sem perder e sequer tomar gols. O clássico maior pode ter nos imposto dúvidas sobre o futuro deste time que, desde o ano passado, especializou-se em desafiar paradigmas. O próprio Fluminense de hoje talvez seja uma incógnita. Acima de tudo, estamos classificados e teremos uma semana de muito trabalho para o jogo decisivo contra o Vasco da Gama.

Qual seria a nossa dúvida? Talvez fossem muitas; fato, posto, é que o Fluminense terminou ano passado como unanimidade: o time de guerreiros, que colocou analistas, jornalistas e paramatemáticos na lona, depois do brilhante final de ano que espantou o descenso. Nosso time manteve a base, trouxe jogadores jovens que podem ter muito futuro e parecia o mais entrosado. O começo de campeonato foi empolgante. Quatro jogos com vitórias seguidas e defesa invicta. Veio então o Fla-Flu. Nunca um jogo tão ganho em nosso primeiro tempo foi tão perdido no segundo. O que poderia ter sido um de nossos massacres mais retumbantes se transformou numa goleada impiedosa contra nossa história. E as flores deram lugar ao nublado. Vieram mais dois jogos, conseguimos a classificação, mas as partidas não tiveram o brilho de outrora. Não fomos bem contra Boavista e Olaria, embora tenham sido partidas bem distintas, até porque na segunda – já classificados – éramos um “misto-quente” em campo. Contudo, o importante é estar credenciado para as batalhas finais, onde não se pode falhar. Conseguimos o primeiro passo. E agora? O Fluminense é o time de guerreiros mesmo ou o time da última semana? Meu coração insiste na primeira hipótese.

Há um problema de longa data que assola o Tricolor das Laranjeiras, estranhíssimo e que parece de difícil solução: a enorme dificuldade que apresentamos em qualquer jogo contra um adversário que, por alguma razão, tenha desvantagem numérica de jogadores. Não quero aqui parafrasear os alvinegros, eternamente embalsamados nas peripécias da sorte contra o azar, mas algo é muito estranho. Acompanhem nossas partidas mais difíceis nos últimos anos; na grande maioria, perdemos, deixamos de ganhar jogos ou até ganhamos (mas jogando mal) quando o adversário tinha um jogador a menos, ou até dois. Esta curiosidade exótica aconteceu exatamente nas três últimas partidas: contra a Gávea, Boavista e Olaria, todos os times tiveram ao menos um jogador expulso – o time litorâneo chegou a ter dois. Dos três jogos, perdemos um, mas os outros dois deixaram o gosto amargo da apreensão. O Boavista, com seu modesto time, tinha oito na linha com menos de meia hora de primeiro tempo e não soubemos expressar esta superioridade numérica em gols. Particularmente, o time, que ainda vinha da ressaca do Fla-Flu, caiu ainda mais de produção depois que nosso heróico Conca bateu o segundo pênalti e perdeu (ele tinha convertido o primeiro). Não foi o caso do Boavista nos ameaçar, mas pareceu que tínhamos perdido o gás a partir dali: se o argentino, símbolo da garra, podia falhar (e, ressalte-se: pode e muito, pois tem enorme crédito), o resto acabaria abatido da mesma forma. O próprio placar final mascara o que foi a partida em termos da nossa deficiência técnica: vencemos por três a zero basicamente pela dedicação de Thiaguinho, que entrara em campo no final do jogo, muito bem por sinal, e se encarregara de dois gols à base de muita raça. Vencemos, nos classificamos e é justa a comemoração, mas não convencemos. E, justamente por conta da garantia de presença nas semifinais, entrou o time misto em campo em nova rodada dupla, tendo o Botafogo na preliminar, para enfrentar o perigoso Olaria, tido como o melhor dos times de menor investimento na primeira fase da competição. Se houve algo de bom nesta partida, foi rever jogadores como Digão (que, quando saiu do time titulas por contusão, estava entre os melhores), Dieguinho, Fábio Neves e os muito jovens Ryan, Dori e Bruno Veiga. É natural que se entenda a partida contra o Olaria praticamente como um amistoso. O que talvez ainda não se entenda é a incrível dificuldade de finalização de Kieza – há meses, a jovem promessa oriunda do Americano não consegue concluir com eficiência. Por outro lado, Rafael manteve a regularidade e inclusive nos salvou de uma derrota, com ótimas defesas. Aproveito um paralelo para falar de um detalhe extra-campo: o festival de confusões imposto pela Federação com o devido endosso da televisão pôs Botafogo e Fluminense à míngua nestas duas partidas de rodada dupla – somados, os públicos dos dois jogos não chegaram a quinze mil pessoas, número ridículo em se tratando de duas equipes centenárias no futebol brasileiro, detentoras de algumas das nossas maiores glórias. É hora de rever conceitos antes de desrespeitar o torcedor com ingressos caros, dificuldade para compra e ausência de metrô na saída do jogo, como foi o caso de quinta passada.

Uma semana é o prazo para o Fluminense dizer a que veio: ou o time raçudo e persistente, que se nega a perder – como foi no fim do ano passado e começo deste 2010 – ou o time esmaecido que perdeu o rumo depois do Fla-Flu. Minha aposta é na recuperação.

Fred voltará e, com ele, o time ganha muito. Primeiro, é uma referência do ataque; segundo, sabe valorizar a posse de bole como ninguém – com o artilheiro em campo, jamais teríamos sequer sofrido o empate no Fla-Flu, pois não levaríamos uma bola na trave e dois gols em três minutos. Temos um bom conjunto. E chegou a hora da decisão. O Fluminense fez história no futebol brasileiro por ser o time que não pode ser posto em dúvida, nem em ridículo, antes do apito derradeiro do árbitro. Vejam quantos títulos já conquistamos quando não empenhavam um tostão furado em nossa campanha. Vejam o ano passado: tudo estava turvo e perdido; então, fizemos o dito impossível. Eu me recuso a acreditar que toda a magia apoteótica do fim de ano passado, com direito a sofrimento, dificuldades e perda de título, mais a maravilhosa recuperação atestada em dezembro, tenha sido em vão. O que fizemos não é coisa de time comum – é o aroma leve e impactante daqueles que amadurecem para celebrar grandes conquistas. À frente, um eterno adversário, difícil de ser batido e tido por muitos como nossa principal pedreira: São Januário. São favoritos e têm um histórico considerável contra nós. Mas, depois de tudo o que o Fluminense fez nos últimos tempos, minha confiança não será abalada por duas ou três más atuações recentes – vale o conjunto da obra. Temos Fred, Conca, os garotos do ataque, a segurança da defesa, um goleiro que respeita as tradições do clube. Temos a nossa camisa centenária e a nossa apaixonada torcida. Ingênuo daquele que não creia nas chances do Tricolor disputar – e vencer – a Guanabara. Melhor vingança não há e, para quem sabe ler, um pingo é letra.


Paulo-Roberto Andel, 09/02/2010

Thursday, February 04, 2010

FLUMINENSE 3 X 5 FLAMENGO (31/01/2010)




Uma noite para se esquecer (01/02/2010)

Para os nossos torcedores que estiveram ontem no Maracanã e puderam comparar o primeiro e o segundo tempos de nossa atuação no Fla-Flu, computar o resultado final chega a ser inacreditável, tendo nossa até então invicta defesa tomado cinco gols. Uma verdadeira aberração. Como pôde o time que promoveu um maravilhoso espetáculo na primeira etapa ser derrotado de forma tão acachapante no segundo? As razões podem ser muitas, mas a maior delas é definitiva: o Fla-Flu não permite vacilo. O Fla-Flu não permite cochilo ou descanso – é o jogo que nunca termina. O time que estiver com vantagem e não souber consolidá-la está perdido. Foi o que aconteceu. O Tricolor foi senhor absoluto do primeiro tempo e, a rigor, cometeu apenas um erro, no pênalti infantil de Diguinho em cima de Juan que resultou no primeiro gol da Gávea; contudo, logo a seguir Cássio marcou nosso terceiro tento em quarenta e cinco minutos, o que fez os flamengos temerem pelo pior. Talvez tenham até cogitado remover algumas faixas enlameadas de prepotência, penduradas nas grades das arquibancadas: afinal, falar de hegemonia com aquele baile do primeiro tempo pareceria ridículo, quase tão ridículo quanto um tricampeonato conquistado em dois anos. Também não quero entrar no mérito da Libertadores: chegamos a uma grande final e a perdemos no detalhe, com uma campanha digna de qualquer campeão da grande competição, sem contar com a benesse da ausência de times argentinos e uruguaios. Voltaremos à América.

Muitas vezes, um time vence o outro num Fla-Flu com sobras no marcador, mas isso não quer dizer necessariamente um predomínio do vencedor sobre o derrotado. Trata-se das chances aproveitadas, de não vacilar em lances capitais. Ontem, no primeiro tempo, nós mesmos ficamos assustados. Nossa atuação na fase inicial superou todas as expectativas, ainda mais porque nossa referência no ataque, Fred, ficou de fora da partida por contusão. E o fato é que o Fluminense fez três gols e foi pouco, muito pouco, diante das chances de gol perdidas. Com nosso craque em campo, no ataque, seis a um no primeiro tempo teria sido o justo e razoável, mesmo que Alan tenha feito um belo gol no começo. Os gols feitos por Conca, em bela cobrança de tiro penal, e Cássio em rebatida na área, de certa forma, demonstram que o nosso ataque ficou devendo. A enorme massa flamenga sentiu isso: estava amuada, contida, quase uma multidão silenciosa nas arquibancadas do Mário Filho. O fato é que fizemos uma excelente partida no primeiro tempo, com muita aplicação e força física diante do calor arábico, mas dois gols de vantagem num Fla-Flu constituem apenas uma vantagem ínfima. E, somando as duas etapas, o tempo em que estivemos com sobra de gols na frente foi ínfimo. O Flamengo não chutou contra nosso gol, exceto no pênalti; não ameaçou, não agrediu. Fomos soberanos, mas cometemos um erro capital – o de dar uma segunda chance ao maior adversário. O primeiro gol deles já tinha lhes servido de alento e, se não tivéssemos feito logo em seguida o terceiro gol, talvez o resultado final não tivesse sido tão acachapante como aconteceu: seria um segundo tempo iniciado com o Fluminense de faróis de milha acesos. Não foi o que aconteceu. Jogamos um grande primeiro tempo, mas o futebol não é de quarenta e cinco minutos somente.

Quando veio a etapa final, era evidente que os flamengos viriam para o tudo ou nada: era um Fla-Flu, já estava três a um para nós e, em caso de mais um gol Tricolor, a goleada se tornaria um fato inevitável. Era preciso ter toda a atenção do mundo nos primeiros minutos, quando eles atacariam a favor de sua torcida e buscariam toda a pressão possível. Além do mais, era quase impossível que um grande time jogasse tão mal dois tempos seguidos. Não tivemos o cuidado necessário e o jogo virou.

O Fla-Flu não permite vacilo. Em questão de três minutos, levamos uma bola na trave e dois gols. Mais do que o jogo estar empatado tão rapidamente, é claro que a questão psicológica pesou muito: quando você está em boa vantagem e a cede, a tendência é de uma virada e não de uma reação tua. A massa flamenga explodiu com o empate e, para os atentos, ficou claro que a virada era questão de tempo. Nosso time, em poucos minutos, já estava completamente extenuado pela vibração do primeiro tempo, e não seria capaz de conter a velocidade dos flamengos, liderados por seu ataque e pela emoção de sua torcida. Os gols que decidiram nossa derrota foram marcados a dez minutos do fim, mas muito antes disso era visível a diminuição do Fluminense numa partida que tinha sido tão sua, tão dominada, mas foi jogada fora por detalhe. A rigor, a expulsão do zagueiro Álvaro não fez a menor diferença: parecia que a Gávea tinha quinze em campo contra oito nossos. No Fla-Flu é assim: não se mede a supremacia apenas por estatísticas pontuais ou números somente. Veja o nosso caso passado: ganhamos o centenário com oito em campo, contra dez. Voltando ao placar, o gol derradeiro de Adriano ilustra bem a situação: arrancou livre, de antes do meio de campo, e ficou sozinho contra Rafael sem que ninguém o ameaçasse: nosso time, desesperado e sem a menor condição de reação física, pediu um impedimento sem o menor cabimento. E o que parecia ser nosso fugiu por entra as nuvens. Tivemos tudo para impor uma severa goleada no primeiro tempo e não conseguimos; no segundo tempo, veio o segundo ato e a reação heróica dos flamengos saraivou nossas redes sem o menor sinal de piedade.

Menos mal que tenha sido agora. Há tempo para juntar os cacos, repensar e forjar os devidos cuidados para a fase final da Guanabara. Temos dois jogos para decidirmos nossa classificação e, feito isso, lutar nas semifinais. A Gávea se tornou a grande favorita, o que não é novidade em sessenta anos de mídia impressa nacional. As faixas da arrogância continuarão estendidas nas arquibancadas deles. Acho que ainda é cedo para se festejar: não podemos perder o foco da competição, precisamos realinhar as coisas e, mais do que isso, nosso grande Fred estará de volta em pouco tempo. Se tivermos a chance de encontrar os flamengos na final da Guanabara, não precisamos de goleadas estrambóticas como a que levamos hoje, ou a que deixamos de dar hoje; não precisamos de impérios e outras megalomanias. Basta o um a zero, e tudo o que foi sofrido ontem terá sido vingado com a doçura rascante de um vinho.

Enganam-se os fanfarrões. Quem espera sempre alcança.

Recordar é viver. Nada está perdido e nenhum campeão foi decretado. Pode ser 1959 ou 1964, ainda não sabemos. Aguardemos os próximos actos.


Paulo-Roberto Andel