Thursday, September 30, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 AVAÍ (29/09/2010)



Nove degraus à frente (30/09/2010)

Depois de trinta e dois anos freqüentando nossas arquibancadas, talvez eu pudesse ser até enfadonho ao falar de grandes emoções a respeito de uma partida que não significou ainda a conquista de uma taça. Posso me desmentir. Não é verdade. Há partidas em que um lance, um drible ou uma defesa passam a ser momentos inesquecíveis para crianças, jovens, adultos ou veteranos. Ontem, exatamente ontem, experimentei um momento ímpar de minha vida de torcedor ao testemunhar a colossal vitória do Fluminense sobre o Avaí, no Estádio da Cidadania em Volta Redonda, meio do caminho entre Rio e São Paulo. Ontem, vivi um daqueles jogos em que não se pode faltar – e saboreei os favos do triunfo. O Fluminense venceu, o Fluminense está vivo e, hoje, é o mais expressivo dos candidatos ao título brasileiro de 2010. E, se confirmarmos o tão sonhado título, podem crer: ele terá o cheiro da partida contra o time catarinense.

Aqueles que conhecem o futebol profundamente poderiam me perguntar “como você pode dizer isso de um time que teve dificuldades e penou para vencer outro às vésperas do rebaixamento?”. Meus amigos, quem disse que um grande campeão joga bem todos os jogos de um certame? Quem disse que ser campeão é apenas dar shows de bola, aplicando incontáveis surras nos oponentes? Eu relembro: escrevi noutro dia que, se o segundo tempo do Fla-Flu fosse revivido a cada jogo, seríamos carne-de-pescoço para qualquer adversário. Foi o que aconteceu: de lá para cá, o Fluminense retomou a ponta e ganhou três jogos. Ontem, num dado momento, parecia que tudo seria perdido: o time não conseguia agredir, sofria perigosos contra-ataques, não era fácil vazar a zaga do Avaí. Num rompante, tal como um sujeito irritado e esbaforido que, ao se sentar à mesa, nela aplica um contundente soco, o Fluminense se encheu de brios e conseguiu uma de suas vitórias mais emocionantes nos últimos tempos. O futebol que pareceu escasso foi cristalizado e se fez minério de garra, de luta e dedicação, de modo que o gol salvador de Darío Conca a poucos minutos do fim do jogo não me parece um golpe de sorte. Na verdade, é um aviso. O Fluminense veio para ficar. O Fluminense jogou com a postura que só os campeões têm.

Minha partida começou horas antes em Copacabana, meu reduto da infância e adolescência. A rua Anita Garibaldi, a Galeria Menescal. O nosso carro de excursão – eu e os amigos, ignorando o tráfego intenso e os cento e cinqüenta quilômetros. Um Tricolor pode se esbaldar em casa nos jogos comuns, mas, numa batalha como a de ontem, era preciso ocupar cada centímetro de Volta Redonda – não somente o estádio, mas as ruas, o centro e a cidade inteira. Foi que os nossos fizeram: lotaram as arquibancadas a ponto de fazerem rir qualquer pessoa que tenha lido os numerários do jogo no placar eletrônico. Enfim, sair de Copacabana para ver um jogo foi um dos melhores presságios da juventude – foi o que fiz muitas vezes quando ia ao Maracanã me encontrar com os passes de Delei e a vibração de Benedito de Assis.

Chegamos em cima da hora ao campo lotado. O Cidadania, ou Raulino de Oliveira, tem um quê de São Januário – sem as maravilhosas iguarias para temperar um bom jogo de futebol. E foi um jogo difícil para nós. Definitivamente, o Fluminense não esteve bem em termos de técnica: os passes eram neutralizados, Conca estava estranhamente isolado como um ponta-direita, Deco perdia as divididas, Bob parecia atônico e Washington era por demais Washington. Euzébio se confundia em tempos de bola. Rafael fez boas defesas – reitere-se: com a mão; numa delas, nos salvou em chute baixo. Atacamos pouco e quase não fomos ameaçadores, exceto numa cabeçada de Gum. Eu olhava para o lado e não via o Presidente, nem a Matriarca. Olhava para o campo e procurava por Fred, Diguinho, Emerson, Carlinhos. Nenhuma visada. Não posso esquecer, contudo, da aplicação infinita de Diogo e Mariano, jovens leões das Laranjeiras. Um zero a zero e o intervalo com a impressão que precisaríamos de muito mais em campo para o triunfo. Nas arquibancadas, estava tudo resolvido: a beleza da nossa torcida é unanimidade sem qualquer sinal de burrice.

Resolvemos mudar de lugar: deixamos a arquibancada atrás do gol defendido por Rafael e fomos para o escanteio da nossa direita de ataque, esperando grandes jogadas e a salvação. Mal sentamos, houve a notícia do gol corinthiano e os sussurros indigestos. Ficou claro que o velho lema do Presidente Horta estaria em campo: vencer ou vencer.

Voltamos ao jogo com todos os reveses já relatados, além do exótico árbitro Luis Flavio, permitindo toda a “cera” do mundo aos catarinenses, satisfeitos com o empate. Seria a nossa degola. Lembro que a massa explodiu quando se anunciou El Loco havia empatado o jogo do Pacaembu, deixando o bando de loucos em silêncio sepulcral. Já em Volta Redonda, havia vida, muita vida. O Fluminense não conseguia fazer as jogadas, não conseguia chutar, não conseguia inverter o jogo, mas aquele gol lhe deu a força de um Popeye faminto diante de uma lata de espinafre. E o Tricolor voltou, sem talento de sobra, mas com muita raça. Valencia, que substituíra Bob, não deixava pedra sobre pedra. Marquinho, também em campo no lugar do craque Deco, estava predestinado e nem sabia. Conca tentava, tentava e passava (mesmo sem o melhor de sua forma esplêndida), mas Washington insistia numa inexplicável auto-marcação: desarmava a si mesmo. Em algum lugar que não sei dizer ao certo, estava escrito: todo aquele sofrimento seria recompensado. O imponderável.

O tempo corria e parecia que iríamos amargar um mau resultado na partida. Ledo engano que um Tricolor às vezes comete. Nós somos o time das goleadas por um a zero. Nós somos o time do último minuto. Ninguém nos vence por decreto ou falácia pré-datada. Assim tem sido há cento e oito anos. Enquanto isso, Euzébio perdia dois gols de cabeça. O Fluminense virou um aríete de garra, disposto a derrubar qualquer muro de pedra. Mariano, o Incansável, quase fez um lindo gol após a deixa de Conca: a bola passou a milímetros da trave direita.

Marquinho ajeitou a bola num escanteio maroto que ele mesmo cavou. Leo, sempre bem-humorado, fez gracejo: quis saber quando ele acertaria um bom cruzamento para a área. Sem pestanejar, mas sem total confiança, afirmei que desta vez ele iria cruzar certo. Era só uma piada, talvez pelo nervosismo: era o fim do jogo. A natureza fingiu que era apenas uma cobrança comum, na primeira trave, mas não era; a bola chegou na cabeça de Gum, que tocou forte e parecia que a bola não tinha direção, mas tinha. Conca fingiu que não tinha jogado uma partida brilhante, mas guardou a jogada de mestre para aquele momento. A bola procurou o craque. O argentino, livre na pequena área, ainda ajeitou e fuzilou o goleiro Zé Carlos, que ainda roçou a canela no verdadeiro foguete, mas nada pôde fazer: ela ganhou o alto da rede e Volta Redonda explodiu como nunca. Um grito dos milhares de torcedores do Fluminense que mais parecia um tiro de canhão, uma vibração de quem tem o grito de campeão prestes a explodir. A partir de então, a “cera” do Avaí se converteu em impressionante velocidade, mas inócua. O candidato ao título estava em campo e neutralizou todas as ameaças.

O fim do jogo nos reservou um maravilhoso item: o encontro de time e torcida, numa comemoração que servia de grande abraço. Muricy gritava como nunca: sabia a importância da vitória ali conquistada. Vivi um grande e inesquecível momento, que pode não se confirmar no futuro, mas especial para todos nós que amamos estas três cores: vi de perto a obsessão Tricolor pelo título brasileiro, tatuada nos rostos dos guerreiros, do mesmo jeito que vi muitas vezes no Maracanã a semanas – ou mesmo dias – de um grande troféu feito aqueles que empilham a nossa sala nas Laranjeiras.

Repito, meus amigos, não se trata de comemorar nada antes da hora e muito menos parecer com os mais-queridos que, normalmente, vibram antes para se esconderem depois de um vice-campeonato. O que vos digo é do momento que vivemos hoje, vejam: estamos sem quatro titulares indiscutíveis, tivemos momento muito ruins debaixo de nossas traves, a entidade máxima do futebol brasileiro está comprometida com outra equipe. Nosso atual atacante luta, mas mal consegue dominar a bola. Não temos efetivo mando de campo. E ainda assim somos os primeiros do campeonato. O que se pode imaginar quando os contundidos voltarem? Melhora. Força. Qualidade. O Fluminense ainda vai melhorar e muito.

Um grande campeão se faz com passes e dribles, mas também com divididas e trancos. A técnica deve ser o Olimpo de qualquer jogo de futebol; entretanto, quando as coisas estão difíceis, é a garra que impera. Ontem, o Fluminense teve garra de sobra, em hectares. Ontem, o Fluminense não fez uma partida bonita, mas fez uma partida com a vontade de vencer. Colocou o coração na ponta das chuteiras, seguiu impávido em frente e fez a sua tarefa. Cada novo jogo é uma decisão e não se pode falhar. Temos apenas quatro pontos à frente do Cruzeiro, o favorito de Kfouri. Apenas três do Corinthians, o preferido de muitos. Talvez seja pouco hoje, mas uma coisa é certa: faltam nove jogos, nove degraus rumo à glória. Se mantivermos a liderança na trigésima-quinta rodada, não terei mais dúvidas em afirmar que o Fluminense será, naquele momento, o campeão brasileiro deste ano. Um título há muito sonhado, há muito merecido e que bateu na trave várias vezes, como nos anos de 1995, 2000, 2001, 2005 e 2007.

Quem espera, sempre alcança.

A noite de ontem ainda não acabou. A imagem da vibração de Muricy com a torcida após o jogo não acabará nunca mais. Vencemos com um futebol humilde numa partida muito complicada. E, como nunca, jogamos como campeões. Atitude de campeões.

O tempo dirá.

A noite de ontem ainda não acabou.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, September 29, 2010

VITÓRIA 1 X 2 FLUMINENSE (26/09/2010)


O novo velho topo (27/09/2010)

Magos e adivinhos de antigamente, nunca mais. Falharam os admiradores das bolas de cristal, das cartas e dos presságios, assim como os cientistas-doutores de jornais e revistas. Junte-se a competência, a ascensão, o bom resultado e um punhado de sorte, pronto: lá está novamente o Fluminense de volta ao mesmo lugar por onde esteve na maior parte deste campeonato brasileiro: o topo da tabela. Curiosamente, os três novos campeoníssimos por decreto da imprensa esportiva falharam nesta rodada: o Botafogo obteve um empate sofrível contra o Atlético Paranaense; o Cruzeiro foi goleado pelos Santos e o poderoso Corinthians perdeu o jogo nos últimos minutos para o Internacional. Fizemos a nossa parte, vencemos o Vitória dentro do Barradão por dois a um e voltamos ao nosso topo do pódio. Não foi uma partida fácil, nunca é. Tivemos nossas falhas, mas o saldo foi positivo e, pelas circunstâncias da partida, ficou claro que o Fluminense voltou à ascensão. E não custa lembrar de que o Vitória é um dos adversários mais difíceis de serem batidos em casa – esteve invicto no Barradão durante boa parte deste ano. Para nossa felicidade, o nosso time é o que mais vence fora de casa neste campeonato.

O jogo teve panoramas bem distintos nos dois tempos. No primeiro, a partida teve bastante equilíbrio entre os times, com algumas conclusões em gol e alternância de ataques, mas não se pode dizer que nenhuma das defesas foi sufocada. O Fluminense começou melhor os primeiros minutos, mas logo o rubro-negro equilibrou as ações e fez jogo duro. Um chute perdido de Rodriguinho em cima de Viáfara, outro de Washington – esse, logo no começo após excelente cruzamento de Diogo, o pivô e o chute no canto esquerdo de Viáfara. Para nossa sorte, eles deixaram de marcar o que seria um dos gols mais bonitos de toda a competição, quando Elkeson acertou uma linda bicicleta que se avizinhou do ângulo direito de Rafael, felizmente sem a precisão exata. Um empate justo nos primeiros quarenta e cinco minutos, pouco para quer ser campeão, mas correto sobre a história da partida. Além das instruções de Muricy, era evidente que os outros resultados interessavam muito, principalmente o do Beira-Rio. Um lote de competência nossa e um pouquinho de sorte, tudo estaria a nosso favor. A criticar, apenas a desatenção de Leandro Euzébio num lance em que o veterano Schwenck cabeceou livre, encobriu Rafael, mas a bola saiu à esquerda do gol – que viria a se repetir no segundo tempo em mais de uma vez. Com Mariano em campo, raça não falta. Conca, o de sempre: sofrendo muitas faltas, sendo muito marcado, tentando várias boas jogadas. Já Carlinhos parecia um pouco dispersivo, mais para a atuação de quinta passada contra o Atlético antes de fazer o gol – depois, como bem sabemos, mostrou um show de categoria. Em alguns momentos, o jogo chegou a ser até lento; não é o que esperamos do perigioso Vitória e nem de um Fluminense candidato ao título. Como diria Cartola, numa outra inflexão, o sol nasceria.

Quando os times voltaram para o segundo tempo, não ficou pedra sobre pedra: virou um outro jogo. Os aceleradores foram pisados, as jogadas se sucederam, os goleiros trabalharam bem e mal, os gols aconteceram e foram até poucos diante do que se viu. E os craques, outrora um tanto escondidos, deram o ar da sua graça. Conca, para muitos o melhor em campo com toda justiça – literalmente comeu a bola e levou o Vitória à loucura. Eu escolheria outro jogador, e depois vou explicar a razão.

Com força total, o Fluminense abriu o marcador logo após o Vitória ter perdido um gol feito: Rodriguinho foi derrubado na área quando cortava pela direta e estava até marcado. Os rubro-negros se precipitaram. Tiro penal indicado, ninguém precisou se preocupar com a exacerbação de Washington na cobrança; quem bateu foi Conca, com força e categoria indefensáveis no canto esquerdo baixo do goleiro Lee, que havia substiuído Viáfara. Aliás, uma coisa curiosa é que Lee é fisionomicamente muito parecido com o Perseguido – e a semelhança para por aí.

Nada para o Fluminense é fácil e, depois da suada abertura do marcador, mal deu tempo de sentir alívio. Uma falta na intermediária, de frente para o gol, e a cobrança do bom volante Bida, que quse vestiu nossa camisa ano passado. Ele acertou uma bomba no canto esquerdo e Rafael teria defendido bem se tivesse utilizado as duas mãos ou talvez somente a direita, que tinha a direção do lance. Falhou, tocou somente com a esquerda, ela tomou a direção do canto contrário, o direito, pererecou, tocou na trave direita e Euzébio demorou a isolá-la. Resultado: dividiu a bola com Henrique, perdeu e o gol do Vitória aconteceu. No mesmo instante, vários repórteres de rádio e televisão utilizaram o lance para fazer galhofa de Rafael, juntando-se assim às viúvas do Perseguido; me parece um movimento de expressão muito eloqüente e, se não fosse algo bizarro, eu diria que até parece orquestrado. Não quero minimizar a falha de Rafael e nem teria sentido fazer isso: ele teve responsabilidade no gol. Mas, se pudermos considerar que é um lance de crucificação do goleiro, eu vos pergunto sinceramente: o que deveríamos ter feito no passado próximo, médio e distante com o Perseguido no gol e suas falhas monumentais? Uma coisa é certa: se tivesse sido titular ontem em vez de Rafael, o chute de Bida teria entrado direto, como de costume. O atual goleiro Tricolor tem crédito: salvou o time ano passado num dos piores momentos de sua história e perdeu a titularidade por contusão. Tem tomado gols seguidamente e precisa de muito trabalho para voltar à boa forma de 2009. Mas, assim como um diabético não corta seu refrigerante para comer um quindim, não sou eu quem vai sugerir a solução da meta Tricolor com o Perseguido. Rafael tem deixado a desejar, é fato; a diferença é que ainda se pode ter esperança de que ele se recupere, já que treina as mãos em vez dos pés.

Quando o time está em ascensão, nem um gol de falha é capaz de abalar. Demos a saída, Conca voltou a gastar seu maravilhoso futebol: um passe milimétrico na diagonal para Rodriguinho livre, dentro da área pela direita do ataque. Ele parecia um veterano: também finalizou em diagonal, mas no contrapé de Lee, com a bola morrendo mansa no canto direito. Rodriguinho manteve a sina: com a camisa Tricolor, só marcou gols contra times rubro-negros. Um gol muito comemorado tendo em vista o enorme valou que teve e poderá ter ao término deste ano. Para culminar, ai sim brilho a estrela de um craque, mesmo sem aparecer muito para a torcida: Deco. O luso-brasileiro tomou conta da partida nos vinte minutos finais, valorizando a posse de bola, puxando faltas e enervando o time do Vitória, administrando o jogo tal como outro craque muito fazia nas batalhas finais do ano passado – Fred. Conca foi o gigante do jogo, mas quem deu o suporte final para o resultado foi Deco.

Ao fim da partida, os Tricolores souberam que no Beira-Rio aconteceu um placar que é nossa marca emblemática desde 1912: 3 x 2. O Inter venceu, o Corinthians ficou para trás, a imprensa esportiva chora mais um luto. Os mais cautelosos, como o Presidente Sussekind, ainda aguardam novos resultados. Os falantes feito eu não têm outra idéia: o Tricolor voltou. De vez, assim esperamos todos nós.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 24, 2010

FLUMINENSE 5 X 1 ATLÉTICO MG


O demolidor de centenários (24/09/2010)

“Há um longo caminho à frente, mas, se prevalecer no resto de nossa campanha a garra do segundo tempo de ontem, não temo afirmar: o Fluminense passará como um trem-bala por cima de quem lhe enfrente. Não é um devaneio de um mitômano, mas sim a desconfiança de quem já viu e viveu uma longa história de superações.”

Meus caros amigos, com as linhas acima encerrei a crônica do Fla-Flu de domingo passado. Elas podiam parecer puro otimismo barato num momento em que a má fase já batia à porta de Álvaro Chaves, reforçada pelas manchetes sensacionalistas e falácias flácidas, sem trocadilho. “O Fluminense não é candidato ao título”, “O Fluminense perdeu a força”; amigos, quanta bobagem! O campeonato não se decide agora. De toda forma, no jogo de ontem, mesmo ainda com problemas em nosso time, vencemos com absoluta autoridade o Atlético Mineiro numa goleada de cinco a um que foi até pequena, a julgarmos os fatos, tanto os evidentes quanto os curiosos.

Goleamos e mostramos grande força, principalmente na segunda etapa, que era o momento onde o time vinha caindo de produção nas últimas partidas, com exceção do Fla-Flu. Fizemos cinco gols, um grande resultado, mas nenhum atacante marcou. O time cresceu de produção, mas inegavelmente o destaque ficou nas laterais, com o merecidamente selecionado Mariano e Carlinhos – este teve uma atuação fantástica, mas somente a partir de um ponto crucial na partida: o seu primeiro gol. Antes disso, era um dos jogadores mais apagados em campo. Rafael pulou atrasado em mais uma falta, levamos mais um gol; no mais, não comprometeu. Alguns dos nossos se irritam com a “cera” que ele faz ao repor qualquer bola; eu também. Acho graça quando alguém o chama de “frangueiro” e grita pelo Perseguido: não queriam um goleiro? Washington foi mais Washington do que nunca. Conca foi Conca, mas visivelmente sentindo agruras da contusão. Os zagueiros foram bem, principalmente Gum, que vinha de dias muito irregulares. E tive preocupação quando não vi atacantes para o banco de reservas: pelo visto, Muricy confiava muito no poder ofensivo de nossos beques.

Falemos do que realmente importa: o jogo em si. Foi uma partida que começou fácil para nós, sem desrespeito ao Atlético que, por sinal, no papel tem um time digno de lutar pelo título. Às vezes, no futebol uma equipe não dá liga, mesmo com jogadores de reconhecido talento. É o caso do time mineiro. E então o jogo foi do ataque do Fluminense, não tão fulminante como de habitual, mas marcando presença. E então a quinta-feira regrediu ao domingo: Conca na cobrança de escanteio, Leandro Euzébio fuzilando Fábio Costa na cabeçada e abrindo o marcador. A partir de então, o natural recuo do time esperando que o Atlético oferecesse espaços de contra-ataque ao ter que sair desesperadamente atrás no placar. E mais uma vez um velho problema se repetiu: quando menos se esperava, uma falta na frente da área cometida por Bob e o ótimo Daniel Carvalho no lance, exímio cobrador. Não era tão perto e o chute não foi forte, embora bem colocado; Rafael pulou atrasado e o empate foi decretado, o que poderia ser uma ducha de água fria em nossos planos. Sim, Rafael falhou? Não temos dúvida. Uma pergunta é inevitável: o Perseguido saltaria em uma falta cobrada em seu canto direito? Cartas para esta redação.

Mais quize minutos de nervosismo e recomeçar do zero. De repente, Carlinhos, que era uma figura nula em campo até ali, arriscou um chute na diagonal esquerda do ataque. A bola morreu no canto direito de Fábio Costa e, embora não soubéssemos, o jogo se decidiu ali. Um novo Carlinhos surgiu, como um dos melhores em campo, atacando com técnica e maestria, defendendo com eficiência. E o Fluminense se acertou em campo, com exceção de Washington, que parecia tratar a bola num ringue; no resto, Deco não embolava com Conca, tal como nos últimos jogos (e ambos tocavam a bola com precisão); Mariano voava. Enfim, a descida tranqüila para o vestiário e a esperança de uma boa vitória na etapa final.

No segundo tempo, o confuso Atlético promoveu a entrada de Diego Souza, nosso ex-jogador que beijou o escudo da Gávea. Nada poderia ser pior para os mineiros: lento, sem inspiração, parecendo pesado, não acertou um lance. Voltamos com a força física intacta: apenas Bob foi substituído por Valencia no terço inicial, por conta do cartão amarelo. E logo depois, para espantar a zica e fazer jus ao apelido de guerreiro, Gum marcou de cabeça no canto esquerdo de Costa, após cruzamento do incansável Mariano. Fim das contas. O Astlético beijava a lona e o Fluminense voltava a ser a sombra no retrovisor corinthiano. Poucos perceberam um detalhe expresso por meu grande amigo Raul Carvalho, rubro-negro que tem a fidalguia das Laranjeiras: depois do terceiro gol, o Fluminense reduziu o ritmo discretamente por respeito à camisa alvinegra, pois se mantivesse toda a força poderia ter chegado a uma goleada inigualável no campeonato. Ainda assim, houve tempo para um gol de placa de Carlinhos, driblando feito craque e fuzilando Costa, além do gol derradeiro, já nos descontos, com Marquinho livre encobrindo levemente o arqueiro. Antes disso tudo, Mariano foi exaltado pelos fanáticos das arquibancadas ao ser substituído por Thiaguinho, que incrivelmente fez um bom papel em campo. O fim do jogo marcou a despedida de Wanderlei Luxemburgo do Atlético, o que me fez inevitavelmente pensar em 1995.

Não jogamos no esplendor da nossa forma e ainda temos o time bastante desfalcado. Porém, uma expressiva vitória contra uma grande equipe, independentemente de ela estar em má situação na tabela, é uma vigorosa dose de ânimo. O Fluminense dos últimos cinco dias não é o dos quinze dias anteriores ao período: é um time com força, com disposição e que mostrou no momento certo poder de recuperação. Não me venham dizer que o Galo teve dois expulsos: os cartões vermelhos foram merecidos e até demorados. Nós já vencemos o maior campeonato de todos os tempos com oito em campo. Gum vinha mal, fez um gol que lhe oferece boa recuperação. Carlinhos estava vacilante, fez um belo gol e jogou o resto da partida como um craque soberano. Deco ainda não nos mostrou o que esperamos, mas é lindo ver seus passes, sua precisão, seu toque de bola que remete aos carpetes da sinuca, onde a bola desliza mansa e precisa.

Temos defeitos. Mas o caminho para corrigi-los começa a ser rascunhado.

Hoje é dia de luto na imprensa esportiva: o Tricolor venceu, goleou, tem o ataque mais positivo do campeonato e mostrou ao líder Corinthians que o campeonato não está tão fácil quanto parecia ser. A grande batalha de domingo no baiano Barradão nos permitirá vislumbrar onde está o Fluminense de hoje. Uma coisa é certa: o fim do certame ainda está longe e, debochadamente, quem duvida do poder de recuperação do Tricolor tende a engolir varejeiras.

Quem espera sempre alcança.


Paulo-Roberto Andel

Thursday, September 23, 2010

FLAMENGO 3 X 3 FLUMINENSE - 19/09/2010


Emoções, fantasias e realidades (20/09/2010)

Qualquer cronista escreverá cento e cinqüenta mil vezes que o Fla-Flu é eterno; foi assim que o gênio de Nelson Rodrigues nos ensinou. Ainda que raramente, quando é mal-jogado, o Fla-Flu tem duas camisas centenárias em campo e são elas que verdadeiramente jogam: o perna-de-pau vira craque, o craque bem-marcado pouco produz ou destrói o jogo, o frangueiro defende bem, o artilheiro perde pênalti. De tudo o que vi, ouvi e vivi ontem, poucos foram tão precisos na análise do jogo como Muricy Ramalho: “O jogo foi ótimo, o resultado é que foi péssimo”. Sem dúvida. Perdemos a liderança para o Parque São Jorge e não conseguimos vencer de novo, o que foi a parte ruim. A boa? Mostramos um espírito de luta no segundo tempo digno dos melhores momentos do fim do ano passado, quando nossa campanha de G4 nos salvou de um descenso já protocolado pelos jornais – e empatamos um jogo perdido duas vezes. O Fluminense não se abateu, o Fluminense não se entregou e a expectativa que deixou aos seus milhões de apaixonados torcedores é que, mais dia, menos dia, poderá estar de volta ao primeiro lugar do campeonato - preferencialmente, na hora em que realmente valer a disputa do título. Talvez o empate de ontem tenha sido mais gratificante do que outras vitórias que tivemos durante a competição, e serviu de alento para os próximos – e difíceis – jogos, onde aí temos que vencer de toda maneira. Ao contrário dos que debochavam, o torcedor lúcido sabe que o Fluminense não está morto. E nunca é demais lembrar: ainda falta a volta de Fred, Emerson, a melhor forma de Deco, Diguinho... ainda temos muita lenha para queimar. No cerrar das contas, o Fla-Flu foi digno, emocionante, bem-disputado e até surpreendente tendo em vista as escalações dos dois times. Um jogo brilhante – apesar de falhas dos dois lados - para inaugurar a era do centenário clássico no Engenhão para menos de vinte mil torcedores, o que se espera melhorar futuramente.

Os primeiros minutos foram animadores. O Fluminense parecia mostrar o futebol vigoroso de antes da má-fase, com absoluta pressão no campo rubro-negro e muita velocidade. O marcador logo foi aberto, após a cabeçada de Leandro Euzébio na jogada ensaiada oriunda da cobrança de escanteio de Conca. Foram dez minutos de grande força, capazes de mostrar que nossa briga pelo título não é uma falácia. Mas o gol nos levou ao erro, paradoxalmente: a partir de então, mesmo tendo dominado o jogo até ali, o Fluminense resolveu recuar para tentar contra-ataques. E, seja com qual time for, seja em que fase for, dar espaço para a Gávea é sucumbir. Mais outros dez minutos com predominância deles e nós é que sofremos o gol de empate. Houve a infelicidade completa de Gum, perdendo uma bola absolutamente sua na linha de fundo e permitindo a Kleberson o cruzamento; Deivid, livre, agradeceu o presente e fuzilou Rafael sem perdão no canto direito, fazendo seu primeiro gol com a camisa deles e nos oferecendo um mal-estar escabroso. O que poderia ser o início de uma vitória alvissareira tomou o gosto do mau presságio. Antes do fim do primeiro tempo, a virada da Gávea, num escanteio de Renato que David, o zagueiro, tocou para o gol vazio depois que a bola passou por Rafael. Aliás, não me furtaria ao tema sobre o novo goleiro Tricolor: alguns da imprensa alegaram “frango” nesta jogada; sinceramente, nada me tira da cabeça que há algum favorecimento explícito do ex-titular da posição aos que vivem do futebol comentado e escrito. Se tomar “frangos” fosse impedimento para se jogar no gol do Fluminense, o Perseguido já teria sido banido há cem séculos. Bendita seja a fratura no dedo.

O intervalo veio e, com ele, a desconfiança. Sabedores da vitória corinthiana na véspera, contra o Prudente, só o triunfo do Fluminense poderia reequilibrar a dianteira da tabela. André Luiz saiu para a entrada de Marquinho, que assim reeditava a boa parceria de revezamento com Carlinhos na ala esquerda. O fato é que o Fluminense foi um time que começou bem o primeiro tempo, fez seu gol e depois caiu de produção a ponto de levar a virada ainda mesmo nos quarenta e cinco minutos; na volta para o segundo tempo, renasceu o time de guerreiros, com uma garra implacável que pode ser bem representada nos semblantes de Mariano, o incansável, e Diogo, que divide qualquer bola em qualquer espaço de tempo. Não são os dois jogadores mais técnicos do time? Evidentemente, não. Mas quem disse que um time campeão só é construído com técnica? A garra estampada dos dois fez renascer o Fluminense de luta, que não se entrega até o último minuto, e esta foi a tônica deste Fla-Flu. Relembrem o golaço de Rodriguinho: o corte seco pela direta, a finalização empolgante no ângulo esquerdo de Lomba, a vibração. Dessa vez, era o nosso dia de ai-jesus, que tão bem adorna o hino deles. Mal nos refizemos da comemoração e do certo alívio, a Gávea marcou outra vez numa bomba de Renato em cobrança de falta no ângulo direito de Rafael. Três a dois, o placar emblemático de nossa história, desta vez contra nós, mas por pouco tempo. Parecia que estava escrito; não seria desta vez que iríamos sucumbir.

Diferente do habitual, Marquinho se posicionou para cobrar um escanteio pela esquerda do ataque. A Gávea vibrava com suas bandeiras e gritos atrás do gol. A cobrança não foi das mais sofisticadas, houve um bate-rebate que, claro, passou pela canela de Washington; contudo, eram cartas marcadas e Rodriguinho fuzilou Lomba outra vez, decretando o que seria o definitivo empate em três tentos e conseguindo um recorde pessoal curioso: desde que chegou ao Fluminense, ele fez também três gols – todos contra o Flamengo. Alguns devem ter lembrado de nossos gols do passado, todos no último grão de areia da ampulheta. Ninguém derrota o Tricolor antes da hora. Tudo bem que houve oportunidades. Eles perderam uma grande chance quando Rafael, que joga regularmente com as mãos, fez uma defesa com o pé e impediu novo tento de Deivid. Mas a derradeira chance de gol foi nossa: o último grão raspou a trave, num chute de Marquinho.

Sem dúvida, o resultado não foi bom porque afastou o Fluminense da liderança. Porém, o mais importante que tínhamos a resgatar foi visto no segundo tempo de ontem: o time de guerreiros com raça, com ímpeto, que não desiste. Há tempos, mesmo boas vitórias que tivemos, contra o Ceará, não contaram com a raça do Tricolor em campo. O Fla-Flu de ontem mostrou essa característica vital e sempre presente em nossos triunfos. Estamos mais distantes do Corinthians, eu sei, mas não tenho como esquecer e sempre repetirei: em 1995, tiramos oito dos nove pontos de diferença que o grande campeão da imprensa tinha sobre nós. Tudo ficou para o ultimo momento. E no último grão da ampulheta o Fluminense ganhou o maior campeonato de todos os tempos. Há um longo caminho à frente, mas, se prevalecer no resto de nossa campanha a garra do segundo tempo de ontem, não temo afirmar: o Fluminense passará como um trem-bala por cima de quem lhe enfrente. Não é um devaneio de um mitômano, mas sim a desconfiança de quem já viu e viveu uma longa história de superações.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 17, 2010

FLUMINENSE 1 X 2 CORINTHIANS (16/09/2010)

Lições de uma derrota (16/09/2010)

A derrota dói. A dor dói, feito “Ferida” de Augusto de Campos. Tanto faz se é injusta ou merecida, se as condições forem duvidosas ou não. A derrota é feita de dor. Assim foi o jogo de ontem, meus amigos. Não que matematicamente o nosso Fluminense tenha sido mortalmente alvejado, longe disso – aos trancos e barrancos, por um mísero gol, ainda somos os líderes do campeonato. Mas perder para o Corinthians doeu bem mais do que três pontos: primeiro, porque em momento algum merecemos vencer o jogo; segundo, porque o fator de nossa maior preocupação é que a derrota nos força a uma rápida recuperação, num campeonato onde todas as partidas são complicadas, sem que possamos ver soluções imediatas à vista. Jogamos mal. Não foi a primeira vez nesta competição; porém, desta vez foi das piores, dos piores momentos. E perdemos para uma equipe de ponta na tabela, mas que esteve longe de fazer uma grande exibição: tratou apenas de marcar com maestria nossas trôpegas jogadas e, no momento certo, matar a partida com gols nas ocasiões em que estávamos completamente vulneráveis. Perder foi o de menos; grave foi como perdemos. De toda forma, o verdadeiro Tricolor não desiste: ele é do último minuto, do último suspiro. E não há tempo para lamentar: há um Fla-Flu na próxima esquina; o tempo não para.

Vinte mil bravos Tricolores enfrentaram o engarrafamento, o horário tardio, o caos do acesso ao Engenhão e o nosso mau momento, ávidos por uma vitória moralizadora. Não foi o que aconteceu. Podemos dizer que o primeiro tempo foi de enorme equilíbrio, porque os alvinegros marcavam com eficiência, mas não demonstravam o menor brilho nas ações ofensivas – nem precisamos ter a tradicional preocupação com os chutes contra o Perseguido. Alguns pequenos brilhos surgiam nas jogadas mais técnicas da nossa equipe, mas foi pouco: Darío Conca estava marcadíssimo, Deco fazia uma partida de muitos erros, Washington mostrava muita luta, mas parecia em total divergência com a bola. Num jogo truncado, amarrado, fechado, a fúria ofensiva de Mariano foi completamente abafada. Valencia tinha raça, mas abusava dos erros no tempo de bola e nas entradas: só não foi expulso junto com Jucilei porque o árbitro era Simon, e vocês sabem muito bem o que isso quer dizer. Na arquibancada leste superior, eu acompanhava tudo do último degrau, tal como era nos meus tempos de adolescente, onde Assis, Deley, Romerito e Paulo Victor ditavam os títulos. Ainda pude ver de longe meu amigo William torcendo fanaticamente desde cedo, além do presidente Sussekind, discretamente sentado na parte baixa do setor. Também pude ver de longe o caos a minutos do início da partida, quando centenas de pessoas adentraram o João Havelange sem que ingressos passassem na catraca ou passaportes na leitora. É necessário que as autoridades tomem providências, ou o primeiro jogo que vier a ser realizado lá com grande público poderá ter resultados catastróficos.

Volto à partida. Era um jogo equilibrado, tenso, onde não se podia perder, mas o empate era ruim para os dois times. O Corinthians era defesa; nós não sabíamos ser ataque. Ainda assim, poderíamo ter descido tranqüilamente com o empate no intervalo de jogo, não fosse o erro crasso da linha de impedimento num sistema defensivo com três zagueiros: a chance de um erro de sincronia é imensa e tudo podia ser posto a perder. Julio César, cujo forte não é a velocidade, deu condição. Jucilei, que não tem nada com isso, dominou a bola livríssimo e tocou no canto direito do Perseguido, que nada podia fazer e, mesmo que pudesse, não faria. O Corinthians aproveitou um erro coletivo e deu a primeira estocada. Terminou o primeiro tempo, de forma absolutamente desagradável para nós.

Um Tricolor sempre tem a esperança da virada, e este era o sentimento comum entre a grande torcida presente – senhores, vinte mil pessoas às dez da noite no Engenhão é um público bastante respeitável. Era o que precisávamos, mas não aconteceu. Rodriguinho entrou e melhorou um pouco a apatia e a lentidão do ataque, mas tropeçou em suas próprias deficiências. Deco, que tem enorme categoria e mostra um brilhante toque de bola, era desarmado de forma até infantil. Um tanto desordenados, buscamos o ataque nos minutos iniciais, mas não soubemos criar ameaças efetivas de gol. Aos poucos, o Corinthians deixou de ser um time acanhado na defesa para buscar contra ataques mortífeiros. Realizou um, dois, três. No quarto, o amaldiçoado Alessandro invadiu livre a direita de ataque, serviu o veterano Iarley também livre e, com raça e astúcia, tocou de carrinho para o gol e fez o segundo, não dando números finais à partida, mas decidindo a vitória. Estavam melhores, senhores do jogo, mesmo sem o domínio completo. Cinco minutos depois, o nosso gol, fruto da raça de Conca, do ímpeto de Rodriguinho e até mesmo de sua má conclusão, que fez de seu chute forte um cruzamento para que Washington tocasse para o gol vazio no canto direito. Foi a nossa única jogada de alta veocidade na partida inteira e isso quer dizer alguma coisa. Ganhamos vários jogos no primeiro turno usando e abusando da raça de Mariano, voando pela direita, assim como Carlinhos na esquerda. Emerson é um gigante no ataque. E Diguinho? E a raça de Diogo? E o talento de Fred? Todos estes faltam ao time de hoje: Mariano joga, mas a entrada de Deco como titular fez com que ele se tornasse menos ofensivo, dado que o lado direito já está congestionado de gente. Ah, e Washington? Fez o gol, é o artilheiro da competição, mas definitivamente não contem com ele para ser o 1 do esquema 3-6-1: não há como. Jogamos mal, muito mal. O Corinthians não foi brilhante, mas mereceu nos vencer com sobras: soube administrar e liquidar o jogo. O Corinthians é um grande time, mas o Fluminense perdeu para o próprio Fluminense: precisamos recobrar nossa velocidade, nem que seja sacando algum dos titulares absolutos para a entrada de jogadores mais jovens e rápidos. É preciso acertar as faixas de jogo de Deco e Conca, pois várias vezes quase se dão encontrões em campo. É preciso resgatar o time de guerreiros, com sua pontuação de campeão no segundo turno do ano passado e no primeiro do atual. São muitas tarefas para se acertar até domingo e não se pode esperar: um Fla-Flu está à espreita.

Temos problemas e problemas. Nosso padrão de jogo caiu. Substituições se fazem necessárias imediatamente. Mas isso pode ser muito bem-resolvido: não somos paracampeões por decreto e não estamos lutando contra a zona de rebaixamento. Este é um campeonato difícil onde os times alternam bons e maus momentos: que o diga o incensado Botafogo - dotado de alma vencedora, segundo Kfouri - derrotado de quatro pelo lanterna Goiás.

Muita coisa precisa ser feita e já. Temos um grande treinador para isso e confiamos nele. Uma coisa é certa: não se iludam aqueles que já tiraram o Fluminense do páreo a dois meses e meio do fim do campeonato, com suas bravatas nos jornais e botequins. Eu pensei que a lição do ano passado tivesse sido suficiente absorvida por aqueles que zombavam de nós. Pelo visto, não.

Estamos mal, mas já tiramos títulos certos e pré-comemorados de times com nove pontos à nossa frente. É apenas uma pequena lembrança, nada além disso.

Ainda é cedo, meus amigos. Bem cedo.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, September 15, 2010

SOBRE HOJE À NOITE (15/09/2010)



O futebol não permite descanso, ainda mais para um líder de campeonato brasileiro que, definitivamente, tem jogado com irregularidade nas últimas partidas, embora tenha perdido jogos recentes muito mais por falhas individuais do que coletivas. No entanto, nunca é demais lembrar que um time não se torna líder de qualquer campeonato por acaso, exceto nas primeiras rodadas – e hoje, o campeonato alcança a vigésima-segunda rodada. Nunca é demais lembrar que este líder é o Fluminense, talvez o time mais acostumado a vencer jogos e conquistar campeonatos sob a descrença dos amantes do futebol brasileiro – com exceção dos milhões de apaixonados torcedores das Laranjeiras, dentre os quais me encontro. E também a descrença dos homens de imprensa: alguns, por conta dos compromissos profissionais; outros, porque misturam a mesma imprensa com a paixão clubística – e aí é um problema, principalmente no Rio de Janeiro. Afinal, todos os grandes times da cidade já perderam títulos históricos para o Tricolor, ainda mais nos últimos minutos das decisões, quando já alisavam os troféus – principalmente o “time oficial da imprensa”.

Para os leigos, os que vivenciam o futebol apenas pelos jornais de cinqüenta centavos ou os que somente lêem os textos dos cronistas fraudulentos, o Fluminense é um não-favorito, um figurante, o time que joga injustamente a primeira divisão, um rebaixado – isso, como se regulamentos mirabolantes não tivessem beneficiado em algum momento todos os grandes clubes brasileiros em horas de martírio. Mas isso é somente para os leigos e os mal-intencionados: quem conhece de futebol brasileiro sabe muito bem o que ele se tornou por causa do Fluminense e o que talvez pudesse ter sido – ou melhor, NÃO ter sido sem ele. A nossa história é recheada de conquistas tidas como impossíveis apenas para os borra-botas, com seus sorrisos pascácios, alheios à realidade que reza o respeito ao fundador do futebol no Brasil – não apenas por data, já que Ponte Preta e Rio Grande nasceram um pouco antes, mas pelo mérito, pelos feitos, pela trajetória. A nossa história foi construída com o descaso de rádios, jornais e, posteriormente, televisões. Contudo, a nosso favor, uma única voz e um texto inigualável: Nelson Rodrigues – assim, tínhamos toda a imprensa nos oferecendo descaso, mas o maior cronista do futebol brasileiro em todos os tempos vestido com as nossas cores. E Nelson nos deixou mais cedo do que o justo: a literatura esportiva do Brasil merecia seus textos sobre os tricampeões dos anos oitenta, o colossal título de 1995, o terrível – mas curto – momento dos rebaixamentos, sim, junto à gloriosa volta por cima: mais uma vez, só os pascácios acreditam que não venceríamos os grupos alternativos na Copa João Havelange de 2000; basta ver a campanha. Dali em diante, o Tricolor centenário e campeão em 2002, as disputas de títulos brasileiros quando chegamos perto em 2001, 2002, 2005, 2007 e agora, mais do que nunca, em 2010. A apoteose e a tristeza na final da Libertadores, que um dia será recompensada. A inesquecível virada do ano passado, calando e humilhando a todos os que malversaram o Tricolor. As letras de Nelson seriam nosso escudo contra a empáfia e a soberba; ele pode não estar aqui fisicamente, mas é certo que seu espírito norteia qualquer Tricolor.

Enquanto Nelson bradava com sua voz rouca e seu texto maravilhoso, boa parte da mídia desdenhava o Fluminense e ganhávamos títulos, conquistávamos vitórias e respeito. Tem sido sempre assim. Procurem nos jornais de 1941: ninguém elegia o Fluminense favorito, exceto Nelson, mas fomos campeões na Gávea. Procurem por 1946: a mesma coisa. O supercampeão foi o Fluminense. Se quiserem mexer nos velhos arquivos dos jornais, o Fluminense não era favorito nos textos nem no primeiro Fla-Flu de 1912, que vencemos pelo emblemático três a dois que tantas vezes se repetiu e nos deu troféus inesquecíveis. Na era moderna, o campeão de 1951 que, no ano seguinte, venceu o Mundial de Clubes e resgatou o futebol brasileiro da tragédia de 1950, era tratado como o “timinho” de Zezé Moreira. Quanta insensatez! A máquina montada por Parreira em 1984 também não teve o menor crédito jornalístico. O que dizer de 1995, quando estávamos a nove pontos do grande campeão da imprensa, chegamos à última partida com apenas um de desvantagem e ganhamos o maior título de todos os tempos? Sempre foi assim, meus amigos, sempre! A cada nova rodada, apontam um novo campeão: primeiro, o Ceará; depois, o Corinthians; agora, Botafogo e Cruzeiro.

A partida do turno, com nosso time ainda não azeitado, foi vencida pelos corinthianos num dois a um apertado, onde pressionamos o tempo todo, perdemos vários gols e ainda fomos vítimas de uma calamitosa arbitragem.

Dezenove rodadas depois, a situação é outra. Antes de entrarmos em campo, o atual favoritíssimo Botafogo – para Juca Kfouri, time dotado de uma alma vitoriosa, naturalmente excetuando-se os vinte e um anos compreendidos entre 1968 e 1989 – poderá não ter vencido o Goiás, que luta contra o rebaixamento e tem dado sinais de melhora. O cogitadíssimo Cruzeiro também terá jogado contra o humilde – mas perigoso – Guarani. E se não vencer?

No horário nobre, mais uma daquelas batalhas que já são rotina na vida do torcedor Tricolor. Além de lutar em campo, é preciso lutar contra a campanha massiva das manchetes, narrações e comentários. É certo que não querem o Fluminense campeão. Sabemos que o Corinthians contra com toda a simpatia da CBF, afora ter um bom time, claro – e também já contar com a vitória antecipada contra o Vasco, em São Januário, na partida que lhe foi docemente adiada pelas comemorações do centenário do escrete paulista, o que me parece no mínimo uma sonora bobagem. E é certo que passamos por um mau momento: alguns sinais de lentidão em campo; o desajuste nas funções de Conca e Deco, sem interseção; Fred do lado de fora e perto de confusões; o manto sagrado de Castilho vazio debaixo das traves. Mas quem disse que o Fluminense nasceu para não lutar contra as intempéries? Já são cem anos e uma centena de títulos dessa maneira. Não há porque mudar agora. Os galhofeiros podem ficar engasgados sim.

Os nossos farão um mar de cores no Engenhão na noite de hoje. E quem tem a nossa torcida nunca é derrotado de véspera. Quem venceu títulos como nós já vencemos nunca pode ser tratado como coadjuvante. Mais uma vez, são todos contra uma centenária camisa que insiste em colocar água no chope dos jornalistas e matemáticos.

Em suma: confio numa esmagadora vitória do Tricolor hoje. E mesmo que ela não venha, nada irá abalar nossa luta por esse título. Aguardem os próximos capítulos.


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, September 14, 2010

ATLÉTICO GO 2 X 1 FLUMINENSE (11/09/2010)


Onze de setembro (12/09/2010)

É certo que o campeonato brasileiro é muito disputado, principalmente na era dos pontos corridos. Com exceção da primeira edição em 2003, quando o Cruzeiro disparou qualitativamente falando, em todos os outros anos os campeões tiveram oscilações em algum momento. Parece que chegou a vez do Fluminense: depois do mau resultado contra o Guarani, em Campinas, e da vitória oscilante contra o Ceará, eis que o líder voltou a campo contra o Atlético Goianiense no Serra Dourada. E perdeu. Nada que justificasse a euforia da imprensa de rapina, já decretando o Botafogo como grande campeão, além do Cruzeiro: o Fluminense ainda é o líder e terá um jogo dificílimo pela frente contra o Corinthians, quarta-feira que vem, num abarrotado Engenhão. Mas o fato é que perdemos. E, mais uma vez, embora tenhamos feito um bom primeiro tempo, chutado bolas na trave, criando excelentes jogadas, perdemos em função de erros individuais: o primeiro e o segundo gols aconteceram, para variar, em falhas notórias do Perseguido – no primeiro; um gol servindo como ducha de água fria para nosso time, que dominava o jogo e teve que recomeçar do zero; no segundo, crucial por já ser nos acréscimos de tempo, impossibilitando qualquer reação. Ainda há tempo para a recuperação, sem sombra de dúvida, mas uma inevitável pergunta ecoa nos quatro cantos das Laranjeiras: será possível que sejamos campeões brasileiros sem um goleiro?

No jogo de ontem, estava claro que o Atlético não ia ser canja de galinha; luta contra o rebaixamento, tem alguns bons jogadores e um excelente treinador – o nosso René Simões. Contudo, o Fluminense fez uma primeira meia hora muito boa, com jogadas lindas de Deco e Conca, sendo que muito antes dos vinte e dois minutos, quando Washington tocou para o gol após lindo passe do argentino e o início maravilhoso de Deco, já éramos predominantes na partida – uma jogada de placa. O jogo estava a nosso favor e todos esperávamos um resultado expressivo que obrigasse os jornais a não defenestrarem o Tricolor. Éramos ataque e fazíamos blitz na defesa goianiense; porém, na primeira bola que chegou ao ataque dos mandantes, pela esquerda, o jogador William recebeu a bola e chutou sem o menor esforço para empatar, dado que a saída de gol do Perseguido em sua insistente vontade de fechar o ângulo de chute com os pés é, no mínimo, humorística. Repito: quando a defesa falha, é o caso normal do goleiro brilhar. Em nosso time, quando a defesa falha, o gol é certo porque é impossível para qualquer goleiro defender – ou rebater - um chute na diagonal estando praticamente encontrado na trave mais próxima ao chutador. O empate não esfriou o ímpeto do nosso time, mas outras barreiras apareceram à frente; além dos chutes na trave feitos por Washington (em linda cobraça de falta) e Gum, o bom goleiro Márcio fez mais uma grande partida neste campeonato. Os atleticanos podem dizer: “Nós temos um goleiro”. Nós, Tricolores, não. Quero deixar claro que minhas palavras não querem crucificar ninguém, mas somente testemunhar um fato evidente, que já se repetiu em outros anos e surge novamente agora, quando queremos brigar pelo título brasileiro. E temos outros problemas: nosso time é muito experiente, mas, por conta disso, também perde em velocidade, dado o grande número de jogadores em campo com mais de trinta anos – não há nenhum preconceito nisso, desde que jovens peças de reposição ofereçam velocidade ao Fluminense no segundo tempo. E ainda o caso das outras partidas: apesar de Conca e Deco fazerem lindas jogadas, de plástica inquestionável, ambos embolam o espaço outrora ocupado por Mariano – e ali, pela ala direita, foram criadas as principais jogadas que levaram o Fluminense à liderança do campeonato, as mais velozes, as demolidoras. É preciso ainda achar a formação ideal com os craques, os experientes, mas também sem tirar a força velocista da equipe. Com Julio César fazendo a meia, a velocidade era ainda mais escassa.

No segundo tempo, orientado por seu decano treinador, o Atlético percebeu a perda de força física do Fluminense e paulatinamente passou a protagonista do jogo: um susto, outro susto, outro susto. Ficou no lá e cá: precisávamos também dos dois pontos, ainda mais sabendo que era o momento de reconstruir a vantagem na tabela – o vice Corinthians perdia no Pacaembu para o Grêmio. E nosso time sentiu o cansaço cada vez mais, embora sem desistir da vitória. A quinze minutos do fim, um mau presságio: o zagueiro atleticano Gilson foi expulso; como todos sabem, há um estranho – e desconfortável - desencanto nas Laranjeiras que torna difíceis todas as partidas onde nossos adversários têm desvantagem numérica de jogadores. De toda forma, fomos guerreiros como sempre, tentando a vitória. Carlinhos chutou duas vezes, não conseguiu.

Com a derrota do Corinthians, nosso empate era magro, mas não tão desastroso: quatro pontos à frente de um adversário são sempre uma boa pedida. E o jogo já se encaminhava em igualdade para o fim quando, mais uma vez, a miscelânea de erros que é hospedada debaixo das traves do Fluminense deu o ar da sua graça: uma bola vadia lançada para a direita do ataque; o Perseguido finge que vai, mas não vai; o jogador do Atlético em cima da linha de fundo e com dois marcadores no cangote, consegue cruzar; a finalização de Juninho é um pouco fraca, quica, mas é o suficiente para bater o único obstáculo diante dos sete metros de gol: um braço reto, esticado para cima, cujo dono estatelado no chão me lembrou os quadrinhos do Recruta Zero, quando este apanhava do Sargento Tainha e aparecia feito uma massa disforme no chão. O Atlético, que foi valente, soube suportar a pressão e não desistiu do jogo até o fim, mereceu a vitória. Nós, que jogamos bem e perdemos gols, mas tempos nosso gol praticamente vazio, merecemos perder.

O Corinthians perdeu no Pacaembu, mas não soubemos fazer nossa parte. Botafogo e Cruzeiro venceram seus jogos e chegaram perto do topo. Continuamos na ponta, mas nosso time está vacilante. À frente, três meses de decisões a cada três dias, a enorme simpatia da CBF pelo mais-querido de São Paulo, a imprensa galhofeira com seus neocandidatos ao título. Mais do que tudo isso, precisamos recuperar nosso bom futebol, acertar as posições dos craques, dar alforria a Mariano para que voe pela direita e, principalmente, ganhar para as Laranjeiras um título como nunca se viu antes em nossa história: uma taça imponente sem um goleiro que esteja de acordo com a centenária tradição iniciada por Marcos Carneiro de Mendonça – não por acaso o primeiro goleiro da história da seleção brasileira. É um desafio e tanto, como nunca tivemos. Alguém falará da Copa do Brasil de 2007 e eu lembrarei: também ganhamos aquele título sem goleiro; a diferença é que, sem detrimento dos participantes daquela competição, eles tinham bem menos pujança econômioca e técnica do que os atuais times deste campeonato brasileiro.

Um menino comentou na Internet para meu amigo Leo que Félix e Paulo Victor eram os Fernandos Henriques de antigamente. Prometo falar disso na próxima crônica, onde espero estar bem menos infeliz com os erros primários de nosso camisa 1.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 10, 2010

FLUMINENSE 3 X 1 CEARÁ (08/09/2010)



Sobre oscilações (09/09/2010)


Uma desagradável derrota. Uma vitória praticamente tranqüila. A defintiva perda do mando de campo. A fúria da imprensa golpista. Uma crise desnecessária e a demissão do médico. Meus amigos, esta foi a recente semana do Fluminense, a mais conturbada desde que começou o campeonato brasileiro. Ao fim da rodada, a constatação: somos os líderes, mais líderes do que éramos no domingo passado, mas ainda com contas a ajustar, alguns problemas e necessidade de soluções que não comprometam a equipe Tricolor.

Começamos mal. A derrota para o Guarani aconteceu de forma indigesta. Foi evidente que mostramos um mau futebol, mesmo quando abrimos o marcador com o gol de Emerson, escorando passe de cabeça dado por Washington. Marcamos cedo, mas antes disso o Guarani já ocupava nosso campo, embora sem a menor objetividade nas conclusões. A seguir, mesmo com Conca e Deco errando bastante, até mesmo Mariano sem a força que se espera dele no ataque, o Fluminense teve uma ou duas chances de aumentar a vantagem, até que houve uma falta e... bem, não quero parecer aos mais jovens como um velhote ranzinza, mas vocês, eles e todos já sabem de outras crônicas o que penso sobre uma falta perigosa contra o Fluminense: absoluto risco de gol, devido à falta de capacitação técnica do rapaz que hoje veste a camisa que já pertenceu a Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho, Félix, Renato, Wendel, Paulo Victor – todos estes, goleiros de seleção brasileira. O canto direito baixo é sempre uma pedida de gol, referência, mas pode ser no meio do gol ou mesmo num toque sutil por cima da barreira, sem força. É o que bastaria. Foi o que bastou. O veterano Baiano empatou a peleja e fez o Guarani crescer, embora timidamente.

Quem tem um treinador como Muricy espera sempre o melhor de um intervalo, a mudança principalmente num dia de pouca inspiração. Mas não aconteceu: o Fluminense voltou mal, muito mal. Abusava dos passes errados, da falta de velocidade, esbarrava nitidamente em si mesmo e nem de longe lembrava o líder do campeonato. Conca e Deco não mostravam o brilho de outras temporadas. Washington tratava a bola como se fosse um boxeur. O Sheik saíra contundido. Com tudo isso, nós acreditávamos na perspectiva de um empate, frustrante na campanha como um todo, mas importante diante das circunstâncias negativas daquele domingo. O Guarani quase não chutava, embora alugasse nossa intermediária. Num time que tem uma má jornada, a defesa e o meio de campo titubeiam; nessas horas, quem tem que aparecer é o goleiro. Então veio uma falta e outro veterano se apresentou: o engraçado e razoável zagueiro Fabão. Sempre é difícil para qualquer goleiro quando, numa cobrança de falta contra si, a sua barreira abre e a bola passa por ela, desde que chutada com violência, o que quase impossibilita a defesa. A bola de Fabão seguiu exatamente este roteiro, com uma exceção: não foi chutada com enorme força e ainda ficou mais minguada quando foi amortecida pelo meio da nossa barreira. Quicou e, se tivéssemos um goleiro à altura das tradições das Laranjeiras, bastaria um passo para a esquerda, o encaixe no peito e a reposição. Como não temos, a bola ganhou o canto esquerdo, mansa, o Guarani venceu o jogo e todo o Brasil assistiu aos patéticos gestos tresloucados do Perseguido, saracoteando em protesto como se a barreira fosse a grande vilã do jogo, mas na verdade praticando uma pantomina que tirasse a atenção de si. Não adiantou. Os nossos fanáticos que estavam atrás do gol, na arquibancada, souberam vaia-lo com dignidade. Assim, o Fluminense perdeu a partida, teve quebrada a sua sequência de invencibilidade no campeonato e, para delírio dos fogueteiros da imprensa, lhes forneceu amplo material para chacotas e dúvidas sobre a real capacidade do líder Tricolor. Uma verdadeira festa setembrina nos impressos. Parece que nunca aprendem a lição, feito ano passado, quando decretaram o Fluminense morto e tiveram que oferecer as gargantas a uma poderosa espinha. Até o decano Kfouri, sem esconder sua paixão corinthiana, renovou seus votos de que o Fluminense não será campeão. Coitado. Uma hora, o Inter; noutra hora, o Cruzeiro; noutra, o Corinthians. São todos bons times, mas o líder é o Fluminense. E os corinthianos estão se sentindo como se fossem a própria Gávea: já contam com os três pontos da partida adiada na semana do aniversário alvinegro, como se fosse canja de galinha derrotar o Vasco em São Januário.

Com o espírito de dúvida, voltamos a campo contra o Ceará, ontem, no Engenhão, no já folclórico horário das dezenove e trinta, que fez do bonito estádio uma consagração de seu apelido: “Vazião”. Cinco mil lordes e damas ocuparam o João Havelange e, sob certo desconforto por causa do bombadeio da imprensa, cerraram os olhos com desconfiança quando o Fluminense entrou em campo. Felizmente, um ledo engano de todos nós: foi o primeiro tempo mais fácil de todo o campeonato até agora. Três a zero que poderiam ter sido seis ou sete, tamanho o número de oportunidades que perdemos. Washington marcou dois e perdeu três. Mariano na frente da área, perdeu um gol incrível. O Ceará batia cabeça e, a quinhentos quilômetros do Engenhão – mais precisamente em São Paulo e Curitiba, os mais-queridos da CBF viviam o mal-estar: o Parque São Jorge precisaria vencer de qualquer maneira para encostar no Tricolor. Reitero: vencemos com absoluta soberania o primeiro tempo e colocamos um pé e meio nos três pontos da noite. E foi isso que prejudicou o segundo tempo: o Fluminense decaiu completamente em termos de velocidade e ofensividade. Novos rounds de Washington com a bola. A rigor, destaques firmes ficaram por conta de Mariano, sempre ele com sua raça e dedicação incessantes, o argentino Conca, com algumas maravilhosas jogadas e grande participação nos gols e lances de perigo, além da nossa defesa, mais precisamente Leandro e André. Timidamente, aos poucos o Ceará, animado com as mexidas em seu time, tentou atacar mais – melhor, tentou atacar, o que não tinha feito na primeira etapa. Perdemos um gol, dois gols, três gols e tudo num dia em que poderíamos aproveitar para ampliar o importante saldo, que pode ser decisivo no futuro. Quando a partida chegou a quinze minutos do fim, aí as coisas complicaram. O Ceará criou alguns lances e tudo levava a crer que, por saídas confusas, socos na bola mal-dados e o pé onde deveria estar a mão constituíam indícios de que não sairíamos sem sermos vazados. Uma bolinha marota, outra e outra. No contra-ataque, Marquinhos e Carlinhos montaram uma forte blitz ofensiva; mais ainda: Marquinhos salvou um gol feito do Ceará, tirando a bola em cima da linha com o goleiro evidentemente batido no lance, como reza a tradição. A torcida não perdoou e, a cada mau lance do Perseguido, gritava como se fosse um gol. Infelizmente, as suspeitas se confirmaram e, ao fim do jogo, o veterano Geraldo entrou na área e, diante de um goleiro que não sabe sair do gol, apenas tocou com fraqueza no meio da meta. Foi o suficiente para que apupos aumentassem, não pela atuação do time como um todo – afinal, o segundo tempo lento foi conseqüência da boa primeira etapa, mas sabemos que um líder precisa impor a sua força, ainda mais jogando em um novo campo como será daqui por diante. Era importante pontuar; conseguimos. O poderoso e beneficiado (mais uma vez) Corinthians não venceu no Paraná; então, continuamos mais do que líderes.

Quando ares de tranqüilidade pareciam soprar na Pinheiro Machado, a torcida do Fluminense se depara com uma entrevista de Fred, acusando o Departamento Médico do clube de prejudicá-lo, ao lhe conceder uma alta precipitada para a volta aos campos. Uma confusão típica de um clube que tem uma história e torcida lindas, que é um paradigma dos melhores momentos do futebol brasileiro, mas que hoje é dotado de uma administração confusa mesmo que mostre resultados no gramado. Doutor Simoni, o chefe do Departamento, pediu demissão e mostrou enorme contrariedade com o artilheiro. Foi dada a senha para mais achincalhe do Fluminense nos jornais. Não havia o que escrever sobre a vitória fácil de quarta, então apelaram. Kfouri, radiante, já decretou o fracasso do Fluminense e a taça para a Toca da Raposa. Ao lado da adminstração Tricolor, do goleiro Perseguido e de boa parte da imprensa esportiva, é mais um que não aprende – e vejam que o ano passado se constituiu em uma verdadeira fábrica de besteiras contra as Laranjeiras. Torço para que os problemas internos sejam mantidos em ambiente fechado.

Não estamos no melhor momento de nosso futebol. Existem problemas. Mas onde estão aqueles que escreviam “se o campeonato acabasse hoje...”? Sumiram? Pois bem, meus amigos, se o campeonato acabasse hoje, mesmo com todos os problemas, o campeão do Brasil teria o seguinte nome: Fluminense Football Club.

Ainda é muito cedo para alijarem a centenária e definitiva camisa Tricolor do pódio. Nosso paragoleiro é uma caricatura. Nosso atacante que faz gols também os perde. Nosso craque maior se destempera diante do microfone.

Mas ainda é muito cedo.

Muito cedo.

Somos o time do último minuto.

Os anos de 1976, 1983, 1995 e 2005 aí estão para respaldarem a história, não a falácia.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 03, 2010

FLUMINENSE 1 X 1 PALMEIRAS (01/09/2010)


O castigo (02/09/2010)

Não foram poucas vezes em que o Fluminense conquistou grandes vitórias e títulos com gols marcados no fim das partidas – no circuito carioca, por exemplo, o Tricolor já ganhou campeonatos desse jeito contra as outras três grandes equipes da cidade, como se viu em 1971, 1976 e 1983. E muito dessa história foi escrito na beleza do Maracanã imortal, que mais uma vez cerrará portas para um até-breve. Ontem nos despedimos do estádio, para o qual só voltaremos em 2013. Foi de um gosto amargo: levamos o gol de empate nos últimos segundos do jogo. O Fluminense não foi bem como em outros jogos, principalmente no segundo tempo, mas a punição foi severa demais, ainda que a culpa tenha sido nossa pelo jeito com que o time se posicionou, ainda mais no fim do jogo. Menos mal que ainda somos os primeiros do campeonato – e assim terminaremos, independentemente do que venha a acontecer domingo. Não importa que o Corinthians tenha um jogo a menos; será contra o Vasco, em São Januário e isso quer dizer sonora dificuldade. A nós, cabe fazer a nossa parte, a nossa cartilha. Não foi assim ontem, embora a ótima fase atual do Tricolor nos permita até lamentar quando empatamos contra uma grande equipe. Não fizemos o dever de casa, jogamos mal principalmente no segundo tempo, Muricy não mexeu como se esperava e, ao fim da partida, a cereja envenenada do bolo.

É estranho ver o Maracanã sem as tradicionais cadeiras, quase tão estranho quanto ainda é vê-lo sem a querida e folclórica geral. Passa uma impressão desconfortável, creio. Lugares vazios, dez da noite, ao menos havia a promessa de uma boa partida para se guardar na memória, até que possamos voltar ao velho estádio. Vinte mil Tricolores sonhavam com uma grande jornada na noite de ontem, e não se pode dizer que começamos mal. O Fluminense fez as vezes de mandante do jogo e se lançou ao ataque, ocupando ostensivamente a intermediária palmeirense mas sem ameaçar categoricamente o pentacampeão Marcos. Uma ou outra vez o Palmeiras também atacava, mas a finalização era deficiente e o pouco que foi ao gol teve a participação estrambótica do nosso “camisa 1”. Do nosso lado, a maravilha de se ver mais jogadas plásticas de Deco: um drible, um passe, um giro inesperado de quem tem categoria de sobra. Se cabe uma contraposição ao futebol luso-brasileiro, ela esteve mais do que visível na atuação de Washington: o Coração Valente abusou dos erros e divergências com a bola, item maior do espetáculo, além de insistir em buscar jogo para tabelar – o que tem enorme dificuldade. Até mesmo em nosso gol, o artilheiro mostrou conflito com a pelota: perdeu um gol incrível, a bola foi rebatida, Conca chutou para o gol; então, Emerson amorteceu e fuzilou Marcos, abrindo o placar e proporcionando certa calma para o difícil restante da partida. Sim, todos sabemos que Washington é um jogador brioso, que pode ter utilidade e que faz gols. Não há dúvidas a respeito. Mas também não se questiona que, quando se recuperar de contusão e voltar a campo, Fred será o titular absoluto ao lado do Sheik.

O jogo prosseguiu sem alterações no decorrer do primeiro tempo, exceto pelo fato de que o Fluminense acelerava cada vez menos e cadenciava o jogo muito precocemente; por outro lado, o Palmeiras não saía muito de sua defesa, o que dificultava contra-ataques. Um momento positivo aconteceu por conta de um revés: Diogo se machucou e Belletti entrou em campo, sob alguns apupos; em seguida, o pentacampeão fez duas boas jogadas, com dribles, mostrando que ainda pode ser muito útil ao elenco das Laranjeiras. Ao fim do primeiro tempo, Emerson ainda deu um perigoso chute rente à trave de Marcos. Um a zero foi pouco pelo perigo que esse placar representa, mas justo em relação ao tamanho do jogo. E os erros que tínhamos cometidos ali iriam ser corrigidos por Muricy; ao menos era o que se esperava.

Não deu muito certo.

Na volta, quem tomou as rédeas do ataque foi o time paulista; sem agredir nos contra-ataques, o Fluminense ficou todo recuado e levando a pressão no volume de jogo, embora os lances muito perigosos não tivessem rondado o gol do Perseguido. Valdívia chutou longe. Marcos Assunção chutou perto, mas sem sucesso. Em certo momento, não pela nossa torcida, mas pelo desempenho em campo, um desavisado na televisão poderia imaginar que o Fluminense era o time visitante, não mandante, de tanto que havia se poupado em seu próprio campo, agarrado ao placar mínimo favorável. E, de tanto ficar atrás, nosso time perdeu a vocação do gol; teve chances de fazer o segundo tento, que liquidaria o assunto, mas não conseguiu. E o tropeço de Muricy: demorou a substituir jogadores e, quando o fez, colocou de forma certa o zagueiro André Luis – apenas tirou o errado, Emerson que, mesmo cansado, ainda conseguia impor algum susto na defesa esmeraldina. O Maracanã inteiro apostou que o substituído ia ser Washington, mas não foi assim. Aí, o Fluminense abdicou de vez de alguma técnica no ataque e passou os dez minutos finais encolhido, tentando garantir a vitória. Nos acréscimos do árbitro ainda houve tempo para Leandro Euzébio ser justamente expulso.

E então, meus amigos, o time das vitórias no último minuto se viu castigado por sua própria sina. Quando ninguém mais esperava nada do jogo, o Palmeiras acertou um chute perto, dois chutes perto. Nada aconteceu. A bola derradeira foi um balão de Tinga vindo da intermediária para o lado direito da nossa defesa; alcançou o voltante Edinho que, por pouco, não vestiu nossa camisa e ele cabeceou para a diagonal – estava exatamente no local onde Euzébio cobriria se não tivesse sido expulso. Ewerthon ficou livre, dominou como quis e tocou na não-saída do Perseguido (leia-se por não-saída apenas pular na frente de outro jogador, deixando o gol livríssimo para o tento). A cereja envenenada do bolo.

O momento é de buscar calma e realinhar as coisas. Não há motivo para alarde. Somos os líderes e, aos bravateiros de plantão que nos acusam de três empates em casa, nunca é demais lembrar que foram contra três grandes equipes e, em dois destes jogos, tivemos que correr boa parte do tempo em busca de empatar um marcador – os bravateiros eram os mesmos que diziam ser Deco um enganador e que bom mesmo eram Val Baiano e Crisbó. Mas merecíamos uma despedida melhor do Maracanã. Fred vai voltar e o time melhorará. Emerson vai recuperar a forma. Deco estará mais entrosado. O problema é saber se em determinadas partidas, jogando sem centroavante e sem goleiro, conseguiremos marcar pontos que nos mantenham na posição atual. Muricy vai buscar as respostas. Uma coisa é certa: não é pecado barrar nenhum jogador que esteja em más condições técnicas. Ou que sequer as tenha.


Paulo-Roberto Andel