Friday, January 29, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 VOLTA REDONDA; CAXIAS 0 X 4 FLUMINENSE


A quadra (29/01/2010)

E veio a quadra. A quarta vitória seguida no campeonato estadual. Corrijam-me se errado estiver, mas não lembro da última temporada em que o Fluminense iniciou com três placares com três ou mais gols a favor e, ao mesmo tempo, invicto na defesa. Não há dúvidas do enorme desnível que se pode constatar entre os times de grande investimento e os modestos, e muitos diriam ser esta a razão da goleada de ontem. Discordo com veemência: basta lembrar o ano passado. Em Caxias, vencíamos os locais por dois a zero até os quinze minutos finais, quando nos impuseram uma virada histórica e acachapante; ontem foi diferente. O Fluminense foi soberano, senhor absoluto da partida, jogou com mais aplicação – e menos calor contra – do que na vitória magra sobre o Volta Redonda e caminha a passos largos para a classificação às semifinais da Guanabara. Quatro a zero foi pouco, pouco.

Vamos descontar a distância do local de jogo, definida pelo planejamento exótico da Federação. Mais ainda, o também exótico horário de happy-hour para a realização da partida, que favorece o televisionamento e, simultaneamente, inibe a presença ao menos razoável de torcedores, de modo que pouco mais de três mil pessoas viram a graúda atuação do Tricolor, liderada pelo maestro Darío Conca. Descontemos ainda as expulsões do Caxias: quando aconteceram, éramos pelos senhores da situação – completo e absoluto domínio em campo. Foi um jogo com onze cartões amarelos: alguém fatalmente seria expulso. Lembre-se também que o Caxias tem um dos melhores zagueiros da cidade: Tinoco, nossa cria mal-aproveitada e que poderia perfeitamente estar num grande clube.

A grande diferença do time do Fluminense para o de três ou quatro meses atrás é a confiança. Claro, o entrosamento e a condição física também contam muito. A maioria dos jogadores é a mesma da equipe que estava condenada pela imprensa e que fez do impossível uma verdade tranqüila. As peças que chegaram têm funcionado com qualidade. Julio César, por exemplo, deu muita melhoria à lateral-esquerda. Willians, que desta vez começou jogando pela ausência de Diguinho, entrou muito bem, com velocidade. Everton tem sido regular e com muita qualidade. Foi o caso de ontem: além dos jogadores citados, Diogo voltou na cabeça-de-área. Sabemos que é um jogador de recursos limitados; contudo, de uma garra leonina. Quem entra tem dado conta do recado; neste campeonato, a exceção talvez tenha sido o ataque de domingo passado, sem Fred. Provando que foi só por um momento, Maicon, que não costuma ter a melhor das finalizações, abriu o marcador em uma jogada rara para nossos olhos: marcou numa cabeçada no canto esquerdo do goleiro. O jogo mal tinha começado e lá estava o Fluminense à frente do marcador, mesmo com algumas substituições, mesmo com o esquema 4-4-2 em vez do 3-5-2. E desta vez, não foi o time que fez o gol e afrouxou o ímpeto de seu ataque: o time continuou buscando outro gol como se o placar estivesse em branco. De tanto insistir – e merecer – fez outro, contando também com a participação de Maicon, cruzando para a área. Fred não finalizou, mas quem rompeu como um centroavante nato foi Julio César, escorando o cruzamento de forma rasteira, relembrando os velhos tempos de categoria de seu pai, César, excelente atacante no começo dos anos oitenta. Afora as outras jogadas do primeiro tempo, ressalte-se que Conca e Fred sofreram muitas faltas. Inferiorizado tecnicamente, numericamente em campo e no placar, o Caxias não poderia esperar muita coisa da etapa final.

O segundo tempo voltou como o primeiro: amplo domínio nosso em todos os setores, de modo que não seria nenhuma petulância afirmar que o jogo já estava bem-resolvido a nosso favor. E os ataques continuaram: basta dizer que um dos melhores em campo foi o goleiro Getúlio, com uma série de defesas importantes nos vinte minutos iniciais. A partir de então, as alterações no Fluminense, com as entradas de Alan e Marquinho em substituição a Fred e Willians, foram decisivas para a goleada. O jovem atacante, que sempre entra melhor no decorrer das partidas do que logo de início, talvez pela própria ansiedade típica da juventude, incendiou o ataque com dribles e passes. E Marquinho, que nunca fazia gols mas começou a série no fim do ano passado, carimbou a rede duas vezes, sacramentando o marcador: no terceiro gol, fuzilou o cantinho direito do goleiro, na diagonal, sem defesa. No quarto, entrou pelo meio da área e chutou; a bola bateu num zagueiro, traiu completamente a saída do goleiro Getúlio e morreu mansa e pererecante no canto direito, mais uma vez.

O velho Fluminense líder está de volta. Quatro jogos, quatro vitórias incontestáveis, nenhum gol sofrido. Domingo virá a verdadeira prova de fogo: o jogo que nunca termina, frente à Gávea. Dizem ter um dos melhores ataques do mundo. Nenhum Fla-Flu pode ser previsto: é o jogo do imponderável, da surpresa e do fascínio pelo súbito. Não há favorito. Uma coisa, entretanto, é certa: há muito tempo o Fluminense não entra tão forte num clássico. Tivemos noventa e sete anos de supremacia no futebol carioca e, por contagens tão exóticas quanto o horário da partida de ontem, há quem diga que a perdemos. Se é o caso de mais uma vez mostrar a força do Tricolor, melhor momento não há.


A terceira vitória (25/01/2010)

Meus caros amigos, o fato é que a vitória de ontem no Maracanã foi bem diferente do que todos nós poderíamos imaginar no começo de jogo. O Fluminense começou melhor, marcou seu gol de imediato e muitos esperavam até um resultado elástico contra o Vota Redonda, mesmo com o pavoroso calor de verão sendo um outro adversário à parte. Os gols não vieram e o resultado foi magro, resumido ao belíssimo gol marcado pelo zagueiro Leandro Euzébio; contudo, o mais importante de tudo foi a terceira vitória seguida, que leva o Tricolor á liderança de seu grupo e indica o caminho das semifinais da Guanabara.

O feriado de meio de semana, a alta temperatura e, claro, as trapalhadas relativas à venda e o preço de ingressos contribuíram decisivamente para o pequeno público no Maracanã. Como golpe fatal, a ausência do artilheiro dos guerreiros: Fred. Este último fator explica muito do que foi o jogo, como veremos a seguir.

Foi muito bonito o chute que Leandro Euzébio deu ao marcar nosso único tempo: uma pancada reta, no ângulo esquerdo do veterano goleiro Everton. Não importa que tenha entrado com liberdade até à frente da área – foi um chutaço. Então, começamos imediatamente com vantagem e isso, claro, não foi um problema, mas justificou o que aconteceu em seguida. Realizamos bons ataques e não há dúvida de que o marcador deveria ter sido ampliado. Contudo, parece claro que o time sem Fred é uma coisa e, com ele, é outra. Ano passado, sem Fred, éramos náufragos em meio à tempestade; quando o craque voltou, deixou sua marca em quase todos os jogos e o impossível se tornou fácil. Claro que o time do Fluminense não se resume a Fred, temos outras armas. Mas ele é o nosso especialista na hora H, a da finalização, e o time fica carente da referência no ultimo toque. Assim, houve chances, mas nenhuma se cristalizou próxima de um gol; mesmo Conca, nosso maestro, errou finalizações. Os jovens Alan e Maicon têm ajudado muito nossa equipe, não há dúvidas a respeito, mas jogar com um ataque de garotos, ainda que promissores, não é o ideal. Maicon não finaliza com maestria, embora seja utilíssimo nas manobras de ataque, cruzamentos e passes; Alan tem um pequeno velho problema comum em muitos ex-juniores: quando entra no segundo tempo, incendeia; quando começa de saída, não exibe a mesma performance. Claro que ainda tem a evoluir e a torcida das Laranjeiras só espera dele o melhor.

Na primeira metade do primeiro tempo, o Fluminense foi absoluto e o Volta Redonda praticamente não chutou a gol. Foi quando perdemos os melhores lances. Na segunda metade, tanto o calor quanto a relativa tranqüilidade em campo fizeram do Fluminense um time menos aplicado em busca do gol; tocava a bola bem, mas a finalização ou não era alcançada ou falhava, talvez porque o Volta também não fosse um adversário perigoso ofensivamente. Foi justa a vitória no primeiro tempo; um pouco mais de capricho nas finalizações ou a hipotética presença de Fred poderiam justificar até mais um golzinho ou dois. Não foi o caso e o velho um a zero que é nossa sina desde 1951 fechou a primeira etapa.

A segunda etapa começou um pouco diferente. Ao contrário de todo o primeiro tempo, o Volta Redonda adiantou sua marcação e resolveu buscar o ataque; entretanto, as limitações técnicas não permitiram nenhum grande perigo para a nossa defesa, invicta no certame. Bem aos pouquinhos, as coisas voltaram a se encaixar e o Fluminense tomou para si as rédeas da partida novamente, controlando o meio de campo e atacando. Porém, o problema crônico do dia foi mantido: o penúltimo e o último toques saíam sempre descompassados. E as mudanças feitas por Cuca não deram o gás que talvez o time precisasse: entraram Kieza e Marquinho nos lugares de Maicon e Júlio César, sem maiores alterações. Aliás, Kieza perdeu um de seus incríveis gols, ao entrar livre pela esquerda do ataque, driblar Everton, mas se enrolar com a bola e ela sair pela linha de fundo. Em seguida, pode-se dizer que foi a mais perigosa finalização do Volta Redonda, num chute forte que Rafael colocou para escanteio.

Nos quinze minutos finais, ainda houve tempo para perdermos novos gols. Nos contra-ataques, o Volta Redonda colocou a pressão final, mas soubemos segurar com tranqüilidade. O jovem e veloz Willians ainda entrou para dar mais fôlego no meio de campo e segurar o resultado. Deu certo.

Nos últimos campeonatos estaduais, em raras vezes no atual sistema de grupos o Fluminense tinha começado tão bem. Três vitórias, duas delas expressivas. Alguns certamente tratarão com deboche a nossa vitória de ontem, repetindo as mesmas bobagens de sempre ao tratarem do Tricolor sem o devido respeito. Se hoje não jogamos o vistoso futebol de outras jornadas, importante é ter pontuado sem falhar, ainda mais numa semana de responsabilidades: enfrentar o Caxias em Volta Redonda, no Estádio da Cidadania e, domingo, recomeçar o jogo que nunca termina. Haverá um Fla-Flu no Maracanã, e isso diz tudo, desde 1912. Um a zero para nós nos dois jogos é um resultado que me apetece plenamente.


Paulo-Roberto Andel

Friday, January 22, 2010

FLUMINENSE 3 X 0 BANGU; AMERICANO 0 X 3 FLUMINENSE



De Parraro a Pipico (18/01/2010)


Mais um jogo da luta pela Guanabara, mais um jogo contra o heroico Bangu pela frente. Nos termômetros, um calor arábico que deveria servir de alento aos dirigentes, eternos maus aprendizes e reféns da televisão – quarenta e dois graus na entrada do Maracanã, muito mais no gramado. E a estréia do Fluminense diante de sua torcida no ano de 2010, em sua casa, um jogo que deveria atrair cinqüenta mil torcedores, mas não chegou a um quarto disso. Quais as razões? Várias, todas originadas de pessoas que não entendem muito bem da pelota, do concreto das arquibancadas, do cheiro de gol. Proibir venda de ingressos no Maracanã no dia da partida tornou, incrivelmente, o futebol carioca o único espetáculo que se tem notícia na cidade que impede a presença de público subitamente; ou seja, milhares de pessoas, desmotivadas para encarar quarenta graus em fila nas Laranjeiras - mais aumento de preços, mais o sol fortíssimo de três da tarde, horário verdadeiro do jogo – simplesmente abdicaram de ver o time de guerreiros em campo. Realmente, é difícil compreender o que se passa na cabeça das autoridades do futebol, ainda mais quando se vê o Maracanã vazio do lado de fora e os cambistas se esbaldando em vender por até cem reais um ingresso que custa quarenta, mas que sabemos valer na verdade vinte.

Voltar ao estádio monumental é sempre uma alegria que jamais cessa. O sentimento que me toma é o da saudade. Um outro Maracanã, um outro Rio de Janeiro. Foi num sábado à tarde que o Fluminense incendiou o Bangu, há mais de trinta anos. Nosso centroavante era Parraro, um jovem vindo do Paraná; na ponta-esquerda, o falecido e genial Zezé; na direita, Robertinho. Pois bem, o Fluminense fez cinco a zero no Bangu. Parraro fez dois ou três e virou herói por quinze dias. Na semana seguinte, demolimos a Gávea com o gol antológico de Cristóvão e o sensacional Paulo Goulart silenciando o Pelé branco num pênalti. Aquele time seria reformulado e só ganharia o título no ano seguinte, na cobrança de falta do legendário Edinho. As glórias do grande tricampeão, anos depois. Parraro sumiu; foi uma lenda de brilho fugaz, mas dorme eternamente no berço esplêndido da minha infância.

Deixo de lado as trapalhadas dos cartolas, a nostalgia e quero falar do jogo. Mais que um jogo, uma batalha sem oásis. Um calor infernal dentro de campo foi, naturalmente, o principal fator para uma partida cadenciada, que teve o Tricolor como comandante das ações e o Bangu mais defensivo, guardando posição. Um dos jogadores que mais sentem o calor massacrante é nosso craque Dario Conca e, além disso, o Bangu exercia-lhe pesada marcação, comandada pelo nosso eterno ídolo Marcão. Daí, o argentino não repetiu no primeiro tempo a atuação magnífica que teve em Campos, embora estivesse longe de jogar mal – é que os espaços eram curtos e a temperatura, claro, só atrapalhava. Nem nossa torcida gritava com a força habitual, tamanho era o incômodo com o caldeirão de concreto no Mário Filho. Cadências à parte, estivemos melhor, sempre jogando no campo adversário e quando o juiz marcou – bem – o primeiro pênalti da partida, já tínhamos perdido gols e éramos senhores absolutos em campo. O pênalti, o pênalti. O nosso heróico Marcão cometeu a infração. Fred deu a tradicional paradinha e inaugurou placar, chutando bem no canto direito. Não me venham falar mal da paradinha ou paradona, seja lá o que for. O pênalti é a falta maior no campo de futebol, é a penalidade máxima e não um momento de afago no goleiro. O pênalti é marcado porque ele é o último recurso para se impedir o momento máximo deste maravilhoso esporte: o gol. E quem frustra um gol, um golaço ou mesmo um gol simples, merece sofrer um gol de pênalti. Não dizem os populares que pênalti mal-marcado não entra? Digam-me do pênalti bem marcado: a bola merece beijar a rede. Lamento pelos goleiros: às vezes, eles não têm culpa da falta penal – mas alguém de seus times tem. O Fluminense fez gol, ele foi merecido e a vitória no primeiro tempo foi justa. Esse menino, o Everton, tem jogado um futebol maravilhoso: domingo, ele esteve bem à frente, ofensivo e fez um lindo gol; ontem quase fez outro, após bela tabela com Maicon, o Bolt. Foi uma excelente contratação: jovem, vigoroso e polivalente – exatamente o contrário do que vinha ocorrendo nos últimos anos, quando as Laranjeiras serviam de casa de repouso para ex-jogadores em atividade. Mais uma vez, nunca é demais lembrar, digo que o primeiro tempo foi primoroso diante das péssimas condições climáticas.

No segundo tempo, o Fluminense deixou de ocupar o campo adversário, mas o Bangu não se importava em ir ao ataque, comandado por Pipico, o que mantinha a nossa supremacia em campo com relativa tranquilidade. Isso foi assim até perto dos vinte minutos; Cuca mexeu na equipe, trocou o esquema de jogo para o velho 4-4-2 tentando assegurar as e o Fluminense, aproveitando de mínimos momentos de sombra no gramado, voltou a buscar o ataque. Em poucos minutos, um novo e bem-marcado pênalti, num belo drible do renascido Conca. Novamente o temido Fred na cobrança, sempre tradicional: a paradinha bem-executada e o goleiro se esticando até a trave para buscar a bola, inutilmente. A torcida presente no Maracanã explodiu. Pode-se dizer que, com o desgaste das equipes, o segundo gol era uma pá-de-cal nas pretensões do Bangu. Já no apagar das luzes, ainda houve tempo para o menino Alan, substituto de Bolt, fazer um belo gol, chutando de fora da área com firmeza, no canto esquerdo do goleiro Marcos Leandro. Antes disso, o jovem atacante substituído tinha perdido uma chance esplêndida, ao chutar cruzado da pequena área e a bola sair rente à trave direita dos banguenses.

Parraro agora está longe. Pipico saiu cedo do gramado. O Fluminense venceu com sobras, mantém a liderança, não sofreu gols e, diante de um calor avassalador, mostrou um ótimo futebol dentro das possibilidades. O time de guerreiros continua, mas não mais para evitar um descenso impossível (nem tanto...): a meta agora é a de títulos. E eles são possíveis. O novo compromisso é no domingo, contra o Volta Redonda no Maracanã, mas todos contam as horas para o dia trinta e um: frente a frente com os favoritos da imprensa, frente a frente com o dito melhor do Brasil. A Gávea nos espera. O último dia do mês não tardará.


Recomeço (19/01/2010)

Foram quarenta dias depois de vencermos um dos maiores desafios de nossa história, meus amigos. E quarenta longas noites até que pudéssemos rever o amado Tricolor em campo, começando um novo ano. Nós, que acompanhamos toda a saga heroica do ano passado, quando o Fluminense realizou uma de suas maiores façanhas – e, conseqüentemente, da história do futebol brasileiro – ao se manter na primeira divisão do campeonato brasileiro, após ter sido dado como clinicamente morto, estamos de volta com novos objetivos. Afinal, para o despeito de muitos, ficou bem claro que nosso elenco era de grande valor – o que nos vitimou foi uma longa e má fase, já devidamente superada. O momento é outro; contudo, inegavelmente o sentimento de fé e solidariedade entre time e torcida se mantém mais do que nunca. O time de guerreiros está fortalecido: pela primeira vez em anos, o Fluminense troca de temporada com a base anterior. Para completar, os reforços contratados foram meticulosamente selecionados e jovens. Apesar de nenhum comentarista ter feito as ressalvas devidas, não somente o Fluminense tem ares de grande postulante a títulos como também uma das mais baixas médias de idade nos campeonatos hoje realizados no Brasil. Assim, o que nos cabia esperar era um começo de temporada digno, mesmo que fora de casa, no sempre complicado (e infelizmente maltratado) estádio Godofredo Cruz, contra o Americano de Campos, válido pela primeira rodada da Guanabara. E, mesmo estando longe de ser o favorito da imprensa, o Fluminense mostrou seu recado. Uma vitória maiúscula, impiedosa, contra o alvinegro do norte, numa partida que foi praticamente definida no primeiro tempo.

Não venham me dizer que o Americano foi prejudicado porque teve o meio-campista Paulo Henrique expulso. O cartão foi muito bem aplicado e, além do mais, antes disso o Tricolor já vencia e com sobras. Houve um grande gol do estreante Everton, vindo de Barueri: matou a bola no peito, na intermediária de ataque: livre, viu o goleiro adiantado e o encobriu, com a bola morrendo no canto esquerdo. Mais tarde, com um a mais em campo, a coisa só facilitou: jogávamos bem e nem o precaríssimo gramado do Godofredo Cruz nos atrapalhou. O fim do primeiro tempo ainda nos reservou mais um gol de Maicon: o menino tocou de chapa, livre na área, novamente no canto esquerdo do goleiro Fred, em jogada que ia ser completada pelo nosso Fred, mas escapuliu. Sempre será difícil vencer em Campos, ainda mais por dois gols de diferença logo de cara. Jogamos de tal forma que pareceu até fácil, e ficou a certeza de que administrar o resultado garantiria os três pontos. O que mais me impressionou no primeiro tempo foi ver que o Fluminense tinha voltado com o mesmo ímpeto do fim do ano passado – muitos, ingenuamente, quiseram crer que era coisa de momento e passaria. Não foi o caso. A pegada do time animou toda torcida, sejam os nossos missionários em Campos, sejam os expectadores em todo o Brasil. E a impressão que os reforços deixaram foi a melhor possível: Leandro Euzébio foi seguríssimo, Everton fez um golaço e imprimiu ritmo alucinante na primeira fase, afora a excelente atuação de Julio César, que seria coroada ao final da partida. O que pudemos ver foi um Fluminense promissor, que não veio ao campeonato estadual como simples e burocrático participante. Dos guerrilheiros do ano passado, a disposição habitual, com grande destaque para Conca. E sempre falarei da impressionante raça que toma o lateral Mariano:ele é um símbolo desta garotada que tem feito nossas alegrias.

Quando se pensava que o segundo tempo viria morno, com o Fluminense valorizando a posse de bola em detrimento da velocidade, sucedeu exatamente o contrário: sob a liderança do maestro argentino, o Fluminense esmagou o Americano em seu campo de defesa, tendo perdido dois gols feitos nos primeiros minutos. E logo aos dez, veio a pá-de-cal, em belíssima jogada iniciada por Diguinho na intermediária de ataque, colocando a bola entre as pernas do adversário e tocando para Julio César, livre, na entrada esquerda da área. O lateral invadiu, fez que ia cruzar, mas acabou chutando no canto esquerdo de Fred, o goleiro, outra vez. Mais um gol do Fluminense no canto esquerdo. O terceiro gol e a vitória decretada.

A seguir, aí sim, tocamos a bola com mais propriedade e calma, diante de um Americano atônico em sua sempre perigosa casa. Ainda houve tempo para mais gols perdidos, como o do nosso Fred, chutando nos pés do Fred deles. E também tempo para a entrada de Willians, Thiaguinho e Alan, todos com boa participação mesmo em poucos minutos. A verdade é que o Fluminense foi senhor absoluto do jogo, com toda autoridade e venceu sem contestações. Ainda é cedo para se trilhar os maiores caminhos, mas foi muito animador ver o time com a mesma garra do fim do ano passado e com uma atuação tão boa diante de um adversário sempre complicado.

Quero falar da atuação soberba de Dario Conca, com dribles e arranques espetaculares, capazes de aplauso por parte de qualquer torcedor. É um jogador diferenciado e merece estar na seleção de Diego Maradona. A jogada que Conca fez no segundo tempo, arrancando dentro da área diante de dois marcadores, atarantados, e que quase resultou em gol, é digna de uma apoteose com a nossa camisa.

Desde sua enorme façanha de salvamento ano passado, o Fluminense não foi prioridade nos holofotes da imprensa, fato absolutamente normal nas últimas cinco ou seis décadas. Assim tem sido, assim será. Nosso trabalho foi em silêncio, sem alarde, sem gigantismos. O campeonato é curto e grosso, de tiro rápido, sem direito a falhas. A estreia, contudo, foi bastante animadora. Estamos no mesmo patamar dos outros postulantes ao título da Guanabara e, se houve um jornalista absolutamente sincero na crítica esportiva do Rio, ele escreveu no dia de hoje que, dos propalados candidatos ao título, o que teve a melhor atuação foi o Tricolor. Não há dúvidas a respeito.

Ainda é muito cedo, mas uma nova atuação de mesmo nível contra o Bangu na quarta, no Maracanã, e tudo caminhará para um forte embalo desta equipe que, como todos viram ano passado, tem potencial para nocautear o impossível. Somos apenas um dos candidatos. A diferença, em relação a outras jornadas, é que desta vez, mesmo vestidos com humildade e dignidade, somos muito fortes. Este é o ano novo; este não é o time que luta para não cair, e sim pelo topo do pódio.


Paulo-Roberto Andel, 18/01/2010