Tuesday, March 30, 2010

MADUREIRA 1 X 3 FLUMINENSE; FLUMINENSE 0 X 3 VASCO



Entre as palmas, o tédio e a freguesia (29/03/2010)

Quando se esperava finalmente o start do Fluminense para a condição de candidato ao título carioca, o meio de semana nos deu esperanças e o domingo as destroçou impiedosamente, caros amigos.

A partida de quarta-feira passada foi muito bem vencida, ainda que tenha ocorrido a tradicional oscilação que temos apresentado em nossas atuações. Desta vez, entretanto, havia uma justificativa cabível: depois de uma excelente apresentação no primeiro tempo, praticamente liquidando o jogo com três a zero, com direito a mais um gol de Mariano, nosso deus da raça, era natural que o Fluminense minorasse o ritmo da partida, até porque a seguir viria o clássico contra o Vasco e, no campo, tínhamos vantagem numérica com a expulsão do veterano Edinho, zagueiro de Conselheiro Galvão, desde os últimos minutos da etapa inicial. Mesmo em banho-maria, ainda perdemos vários gols na etapa final, principalmente a partir da entrada de Wellington no ataque. Outra promessa foi a volta gradual do argentino Equi Gonzalez, jogador de ótimos recursos e que ainda não emplacou no time por forma física e contusões. No mais, a maestria tradicional de Conca e a marca de André Lima, que não tem o talento de Fred, mas é bom finalizador. O gol do Madureira pouco teve a ver com alguma falha nossa: um golaço num excelente chute de Bruno no ângulo, depois de driblar Mariano e Diguinho. Ressalto, contudo, que ambos têm crédito com a torcida. É do jogo, acontece. Prós e contras, uma partida digna das melhores deste anos, como foram contra Botafogo, Uberaba e o primeiro tempo de nossa inacreditável derrota para o Flamengo. Destaque negativo, apenas para a pouquíssima (e justificável) presença de público no estádio Raulino de Oliveira, o do Trabalhador: pela primeira vez em dezesseis anos, o Fluminense jogou no Rio de Janeiro para menos de mil pessoas. A última tinha sido numa virada de dois a um sobre a Portuguesa de Desportos, numa quarta à noite no Maracanã, com direito a dois gols de Djair. Um ano depois, se vale a superstição, vencemos o maior campeonato da história do Maracanã, maior até do que nosso título mundial em 1952. Quanto às justificativas de ausência dos torcedores, mais uma vez bato nas mesmas teclas que podem parecer até cansativas: horários exóticos, preços exorbitantes e uma estranha névoa no ar de favorecimento às redes transmissoras a cabo.

Com as credenciais de uma boa atuação, o Fluminense então entrou em campo para mais um clássico no Maracanã contra o Vasco, na condição de levissimamente favorito. Não se trata de desprezar o oponente histórico, mas sim de uma questão circunstancial: neste momento, temos jogadores de melhores recursos técnicos, tão somente isso. Todos sabemos que, nos clássicos, a principal marca é não haver favorito; contudo, neste momento, o Fluminense estaria numa melhor condição, até porque os cruzmaltinos vinham de duas derrotas acachapantes para Olaria e Americano e precisavam da vitória a todo custo, o que nos faria supor que buscariam o ataque e dariam espaços generosos. Antes do jogo, com arquibancadas vazias para a história dos times, a proporção de dois Tricolores para cada vascaíno parecia ser certo termômetro das expectativas em campo. Pois bem: todos os palpites dados neste parágrafo foram ao chão, como se nocauteados por Ali ou Tyson.

Primeiro, o Vasco não veio disposto ao ataque. Fechadíssimo em sua defesa, parecia querer golpear o Fluminense em contra-ataques, que foram bem poucos no primeiro tempo. Nosso ataque chegou a fazer algumas jogadas, mas repetiu-se o ciclo de alternâncias: “gastamos” nosso futebol no primeiro tempo contra o Madureira e a fonte escasseou de novo. Para não dizer que não fizemos nada na enfadonha etapa, Darío Conca cobrou uma ótima falta para boa defesa de Fernando Prass. Afora isso, o acontecimento mais impactante nas arquibancadas adveio do temor de minha amiga Marô, em fuga desenfreada por entre os degraus de concreto, com gritos impactantes: era o temor pela presença de uma violenta e agressiva barata, devidamente trucidada. O Fluminense jogava por um empate e não se mostrava disposto a igualar a Gávea na pontuação. Era um jogo com cara de empate, e assim encerrou o primeiro ciclo.

Para meu espanto, na volta do vestiário, o Fluminense praticou não somente um futebol horroroso. Em mais de novecentos jogos testemunhando o Tricolor no estádio, creio ter visto uma de suas piores atuações. Nada mais funcionou, tudo ficou bem pior, muito pior do que o apresentado noutras partidas. Desconte-se a garra de Mariano, tudo deu errado: até nosso craque Conca desapareceu momentaneamente. E o Vasco, que vinha tímido, temeroso, foi para a frente e conseguiu seu gol numa falha coletiva nossa: o escanteio batido da direita chegou ao meio da área, na canela de Thiago Martinelli e, dali, para o meio do gol. Com tem acontecido em partidas mais recentes, o Vasco se supera diante do manto Tricolor e, quando abriram o placar, chegou-se a temer pelo pior, uma goleada retumbante. Não bastasse a confusão em campo, até Cuca se auto-fundiu: tirou Cássio (até compreensivelmente, tendo em vista que toda hora virava bolas na frente dos atacantes vascaínos) mas deixou Leandro Euzébio em campo, com cartão amarelo. Minutos depois, foi expulso. Com um a menos, Everton de lateral-esquerdo, Equi no meio falhando (ao contrário do que faz normalmente), Alan perdendo um gol incrível, Wellington entrando apagadamente e Conca sem produzir, o Fluminense tomou o caminho de um desastre. Ainda assim, os três a zero basicamente foram produzidos a sete minutos do fim do jogo: um gol de Dodô, livre, tocando por entre as pernas de Rafael; outro de Fagner, em belo chute da diagonal direita, livre, acertando o ângulo direito após passe do cansadíssimo e esfalfante Carlos Alberto, que mesmo assim conduziu a bola livre por vinte ou trinta metros sem qualquer sinal de combatividade. Em suma, depois de tomar o primeiro gol, o Tricolor passou a ser um time expectador: apenas via o Vasco em campo, e nada mais, parecendo até preguiçoso, acomodado, inexplicavelmente indiferente com o que se passava. Assim, o que poderia ter sido uma vitória que atestasse nossa capacidade de lutar pelo título se transformou em uma derrota que, mesmo sem ser capaz de nos tirar da disputa do turno, dado que continuamos a um empate da classificação e enfrentaremos o Macaé no domingo, provavelmente no Maracanã, ergue um enorme ponto de interrogação no que poderemos esperar daqui para diante no campeonato carioca. Nosso principal jogador dificilmente voltará em condições para os jogos decisivos. Em momentos culminantes deste ano, fomos literalmente atropelados. Na camisa, sempre acredito. Na força de nossa torcida, sempre, sempre. Entretanto, em qual time do Fluminense eu devo acreditar? O que dominou o Botafogo? O que se mostrou guerreiro contra o Uberaba? Ou o que não consegue vencer o Vasco e mais, é trucidado por ele enquanto anda descompromissadamente em campo?

A pergunta me incomoda.

Paulo-Roberto Andel, 29/03/2010

Friday, March 19, 2010

UBERABA 0 X 2 FLUMINENSE (17/03/10)


MAIS:

AMÉRICA 1 X 1 FLUMINENSE/ FLUMINENSE 2 X 0 CONFIANÇA


CONTRASTES (18/03/2010)

Meus amigos, passou uma semana e o Fluminense viveu contrastes a valer desde a maravilhosa partida contra o Botafogo – dez dias, com maior exatidão. Embora os resultados matemáticos não tenham deixado a desejar, fica no ar a dúvida que parecia ter sido dissipada contra o Alvinegro, mas não foi. Uma partida contra o modesto, mas arrumado, Confiança de Sergipe e uma vitória sem viço, mas que nos classificou para a próxima fase da Copa do Brasil; a seguir, o empate contra o América no Engenhão, numa partida em que o Diabo foi predominante e que resultou em nossa perda de liderança na chave; para terminar, a boa vitória contra o Uberaba, no Triângulo Mineiro, com uma boa atuação, grandes gols e a perda de Fred. O próprio Fred pode ser um estimador dos contrastes aos quais me referi. De formas diferentes, ele foi personagem dos três jogos, em papeis diferentes e um futuro que nos preocupa.

Uma vitória expressiva no clássico contra o Botafogo era a esperança de engrenar rumo a disputa de títulos neste primeiro semestre. No campeonato estadual, principalmente: afinal, o Botafogo já é o grande finalista da competição. Mas o que se viu nos jogos contra o Confiança e o América foi de preocupar. Na partida pela Copa do Brasil, o time parecia lento, sem espírito de competição, relaxado como se parecesse que a qualquer momento poderia aplicar uma goleada, e sabemos que não é assim no futebol de hoje. De toda forma, o que se viu foi um caminhão de gols perdidos, mesmo que o time não se aplicasse tanto. Ressalte-se a excelente atuação do goleiro Pantera. Mas os sergipanos não se limitaram a ficar atrás: também tentaram o gol algumas vezes e quase conseguiram. Por todo respeito que o Confiança mereça, o fato de só termos chegado ao gol depois de quase uma hora de jogo mostra bem o quanto nos enrolamos com nossas próprias pernas, na tradicional jogada ensaiada em que Conca – para variar, nosso melhor homem em campo, bem diferente da apatia do time, especialmente no segundo tempo – rola uma cobrança para um chute de Fred. Tiro forte e rápido, que pegou Pantera de surpresa. E seria o magro escore de um a zero que nos classificaria, não fosse um gol de cabeça de Fred nos últimos suspiros do jogo, facilitado pelo cansaço dos homens do Confiança: depois do cruzamento no escanteio, sequer subiu para cabecear: estava livre e tocou no canto direito do goleiro. Claro que o artilheiro merece os parabéns, mas a tarefa foi facilitada. Menos mal: a vitória veio e, com ela, a classificação, ainda que num Maracanã vaziiísmo e de ingressos caros, protesto que todos já devem estar habituados.

Então, veio o jogo do Engenhão, contra o América. É certo que fomos prejudicados pelo fato de que Fred, com um minuto de jogo, levou cartão amarelo desnescessariamente do árbitro Índio – com isso, o artilheiro passou a ter problemas em todas as jogadas, com medo de ser expulso; mais tarde, errou por conta da má atuação mesmo. Índio resolveu torcer a partida de vez aos quinze minutos ao expulsar Everton e Jones. Nosso volante nesta partida era prioridade para conduzir a bola na meia-cancha. Mas o que realmente comprometeu nossa atuação foi a ausência de Darío Conca, expulso no clássico de domingo: sem o argentino, além da perda de um craque que pode resolver num lance individual, o Fluminense fica completamente desprovido de ligação entre defesa e ataque com qualidade. A isso, some-se o fato de termos jogado com três zagueiros, o que aumenta ainda mais o hiato no meio-de-campo. Ainda assim, conseguimos um gol numa boa trama que resultou na finalização de Marquinho. Antes disso, sentimos uma bola em nosso travessão na cabeçada do ex-vascaíno Claudemir. Depois, o América empatou com toda justiça, num belo gol de Júnior, com grande categoria, fuzilando o canto esquerdo de Rafael em chute de fora da área. O empate decretou nosso caminho para não vencer a partida, mas abriu caminho para o América, que esteve muito mais perto do tento na segunda etapa e, fosse a justiça, deveria ter vencido – principalmente no nosso excelente goleiro Rafael ia engolindo um frango histórico, ao deixar a bola escapasse do meio de suas mãos e tocasse na trave. Ao menos, mesmo jogando mal, o time não teve a postura acomodada da partida anterior, contra o Confiança. Mas foi muito pouco para quem almeja o título do Rio. Outra coisa que poderia ser boa, mas só foi ótima na partida seguinte, como veremos a seguir, foi a volta de Alan, aos poucos, ao time. O menino não se destacou na partida contra o Diabo, mas é coisa da idade. É preciso ter paciência.

Assim, depois de duas partidas sem qualidade, mas com boa pontuação (ou, ao menos, relativa), estava de novo o Fluminense em campo para a primeira partida contra o Uberaba, novamente pela Copa do Brasil. Conca estava de volta e, com ele, o bom futebol do time, finalmente. Uma boa partida, uma boa atuação e a classificação assegurada para mais uma fase, agora contra o vencedor do confronto entre Ponte Preta e Portuguesa. Nem mesmo a preocupação com a normalmente exótica arbitragem de Roman nos preocupou. Só o que não mudou foram os contrastes. Fred, que não vinha vem e errou alguns lances, numa jogada boba da tradicional ensaiada com Conca, se machucou e saiu de maca. Alan, que há muito merecia uma grande jornada, fez um belo gol na primeira etapa, com o seu tradicional arranque e arremate preciso; no segundo, um gol de placa, maravilhoso, em lindo chute de primeira após excelente cruzamento e drible de Mariano, com a bola morrendo no canto baixo esquerdo do goleiro, merecendo portanto a condição de destaque das partidas. Não acho que Alan devesse ter sido sacado do time apenas por conta daquele pênalti contra o Vasco, mesmo com as excelentes atuações de Wellington Silva. Trata-se de um ótimo jogador e o melhor finalizador dentre os nossos jovens atacantes. Depois do golaço de Alan, o Fluminense passou a cozinhar em banho-maria um jogo praticamente decidido, que nada tem a ver com a apatia contra o Confiança. E, ao menos, depois de minutos e minutos, a promessa de um bom futebol, como o liderado por Conca, que faça chuva ou sol, é garantia de bons lances e muita raça.

O temor agora é pela contusão de Fred. O artilheiro é vital para nossas pretensões futuras. Tem futebol de sobra e vai recuperar a fase. Precisamos de Fred no ataque e seus grandes gols. Ao menos, na ausência dele, ao contrário do que alguns queriam, fica claro que Alan é uma ótima opção. Não se pode queimar o garoto por causa de um pênalti perdido. Grandes craques da imprensa já perderam Copas do Mundo nos pênaltis e não foram alijados do futebol por isso.

E precisamos de estabilidade nas partidas. O Fluminense que precisa prevalecer é o dos jogos contra o Botafogo e o Uberaba. O Fluminense do ataque, do toque de bola, do ímpeto. Aquele dos jogos contra Confiança e América, melhor esquecer. De toda forma, uma partida domingo contra o Resende e, em seguida, uma semana de treinos. Espera-se, finalmente, o start definitivo do Tricolor no ano de 2010.

Paulo-Roberto Andel, 18/03/2010

Tuesday, March 16, 2010

EM HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DE PAULO VICTOR



DOS QUATRO FANTÁSTICOS E O ÚLTIMO GRANDE HERÓI

Amigos, como disse Nelson, nosso pai eterno das letras do futebol, o Tricolor nasceu quarenta minutos antes do nada. E ali, a minutos do fim do nada, coube ao Tricolor arquitetar uma de suas missões: dar camisa aos quatro fantásticos para que, no goal, esculpissem cada um a seu jeito a história do futebol brasileiro na meta. Eu estou aqui para falar destes quatro fantásticos e mais um quinto.

O brasileiro passou a entender o significado da palavra goalkeeper quando Marcos Carneiro de Mendonça, todo de branco e com vistosa fita roxa na cintura, desesperando os adversários e fazendo palpitar os corações femininos. Marcos foi o nosso primeiro herói, com suas defesas elegantes, de pouca movimentação e extraordinário senso de colocação. Marcos, o tricampeão de 17 a 19. Quando a seleção brasileira ganhou o primeiro título de sua história, era Marcos o seu goleiro, fantástico goleiro, o pioneiro – e em muito deve ter inspirado o acidentalmente rubro-negro Pixinguinha em sua clássica “1 x 0”, alusiva à final do campeonato sulamericano. Depois de imensa e definitiva carreira de louros nos gramados, ainda foi nosso campeão como presidente do clube.

Nos tempos de nosso primeiro fantástico como presidente, veio Batatais, batizado Algisto Lorenzato. Cinco vezes campeão em seis anos. Dez anos de titularidade. A Copa do Mundo era francesa, parisiense, e nós, devotos do Tricolor, emprestamos classe e categoria ao goal da Seleção Brasileira novamente. Era Batatais, o próprio, e mais um pouquinho de Marcos Carneiro de Mendonça, como se a camisa número 1 do time nacional fosse nossa como que por decreto e fé, uma fé inabalável de que o goal poderia até ser por nós sofrido, mas que seria sempre muito difícil. E assim foi. Sempre.

Marcos partiu, Batatais também. O conjunto de traves manteve-se seguro, perene. Era Castilho. Carlos José Castilho. Goleiro de quatro Copas, duas vencidas, gigantescas, também campeão do mundo pelo Fluminense. Dezenove anos vestindo o manto sagrado que herdou dos antepassados, talvez nos anos 40, provavelmente na preleção feita previamente aos quarenta minutos antes do nada que geraram o Fluminense. Castilho, nossa sorte, a “Leiteria” dos adversários, o nosso santo da baliza. Castilho, que deu seu dedo pelo Tricolor. Era nosso craque da meta, que a tudo via de diferente por conta de seu daltonismo – e que, por isso mesmo, tinha uma visão privilegiada, peculiar, especial, em seu mundo de cores que confundiam um vermelho e um verde que, adicionados ao branco, só poderiam resultar no Tricolor. Não bastassem tantas qualidades, Castilho ainda foi o maior guardião de nossa camisa: ninguém a vestiu em campo mais vezes do que ele.

Quando Castilho foi embora, para quem deveria ser passado o bastão, o cajado que abençoa todo goleiro das Laranjeiras? Veio Félix. Félix Mielli Venerando. Mais cinco títulos em sete anos no Rio, mais um campeão brasileiro em vert, blanc & rouge. Mais uma vez, o Brasil ganhava o mundo com um goleiro do Tricolor em seu elenco. Chegou sob desconfianças, ganhou fãs e cansou de dar voltas olímpicas no Maracanã. Ao sair, parecia ter deixado seu trono vago, o mesmo trono que um dia foi de Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho e dele, Félix.

Nada disso. Não havia um quinto? Sim.

Era Paulo Victor Barbosa de Carvalho. Veio do Espírito Santo e isso poderia ser claramente um sinal de amém. São Paulo Victor, das defesas quase impossíveis e que sofria apenas os goals impossíveis de serem defendidos. Foi Paulo quem viu lá de longe, do outro lado do campo, a serenidade de Assis ao bater Raul no último minuto, como se fosse nosso Telê, nosso fio de esperança, ao buscar um campeonato até ali improvável. E foi Paulo que novamente viu Assis de novo, no mesmo outro lado, cabeceando enquanto Fillol procurava uma inútil paisagem. Persistente que é, Paulo ainda teve tempo de se ajoelhar e vibrar em campo quando Paulinho, o ponta genial, deu números finais ao tricampeonato de 1985. Pouco antes, Paulo teve o Brasil a seus pés, era 1984, como campeão de céu e mar. Foi a uma nova Copa da França e repetiu seu antepassado Batatais; não venceu, mas nem precisava. Era nosso último grande herói.

Nosso goal continua impávido, sereno, bem defendido. Se nos falta um Marcos, um Batatais, um Castilho, um Félix ou um Paulo Victor, é questão apenas de corpo. Na alma, estão todos ali por trás da meta, soprando bolas inacreditavelmente para que deixem de ser goals certos. Ou ainda mexendo invisivelmente as traves para que as bolas chutadas ou cabeceadas não tenham a direção devida contra nós. Se Nelson vivo fosse de corpo, pois de alma sempre será, diria que a camisa do goleiro tricolor, imbatível, implacável, jogaria sozinha – e o goal, eternamente fechado estaria, de tão santificado, abençoado e protegido das intempéries quanto possível fosse.

Paulo-Roberto Andel

Wednesday, March 10, 2010

FLUMINENSE 2 X 1 BOTAFOGO (07/03/2010)



Outro jogo que nunca termina (08/03/2010)

Mal começado o grande clássico de ontem, contra o Botafogo no Maracanã, e nós, poucos presentes ao estádio, vimos o gol mais perdido do ano – e logo por quem: nosso artilheiro Fred. O jovem Maicon, prestes a dar adeus às Laranjeiras, fez um misto de cruzamento com a força de um chute; o excelente goleiro Jefferson espalmou e a bola sobrou livre para Fred, no bico da pequena área, com a missão de apenas encostar a bola. Foi o que nosso craque fez; porém, ao contrário do sempre esperado, sem a precisão necessária – a bola subiu, subiu, passou caprichosamente por cima do travessão com o gol vazio. E o mal-estar tomou conta de toda a fiel torcida Tricolor: perder um gol daqueles contra uma grande equipe com menos de um minuto de jogo poderia ser fatal para as nossas pretensões. Felizmente, tudo não passou de engano: o Fluminense fez uma de suas melhores partidas no ano, dominou amplamente o clássico e venceu com a mais absoluta justiça.

O gol perdido não abalou nosso time. Jogamos à frente durante toda a primeira etapa, contra um campeão que praticamente não nos atacava e, talvez, estivesse fazendo com astúcia o seu melhor papel: o de boxeador surpreendente, que aplica um golpe mortal na distração do oponente. Foi assim quando o Botafogo abriu o marcador, quase no fim do primeiro tempo: uma jogada sem maiores riscos na grande área, quando Maicon poderia ter saído jogando tranqüilamente, mas, sem o cacoete necessário a um defensor, perdeu o lance para Wellington e, a seguir, cometeu a falta penal típica dos jogadores que não são beques. Pênalti marcado, coube ao bom atacante Herrera convertê-lo num forte chute, no alto do gol, sem chances para Rafael. Mais uma vez, o drama se repetia: o Fluminense, em várias oportunidades nos últimos anos, faz boas partidas, domina o adversário, mas não consegue vencer. Assim tem sido em vários momentos cruciais e também em jogos como o de ontem, que não era decisivo, mas é sempre um clássico. Mestre Nelson Rodrigues magistralmente vaticinou o Fla-Flu como o jogo que nunca termina, o jogo que começou cinco minutos antes do nada, com toda a propriedade. Imaginemos então sobre Fluminense e Botafogo, que começaram o mais antigo debate do futebol brasileiro seis anos antes? Seis anos e cinco minutos antes do nada, portanto. As camisas centenárias que ajudaram a forjar o futebol como ele é. Futebol, que, tal como a vida, também tem suas surpresas – e uma, especialíssima, estava reservada para a etapa final, mas ninguém desconfiaria no vazio estádio. Sim, dezessete mil pessoais em um clássico centenário constituem um estádio vazio, bem sabemos. Em paralelo, dirigentes tentando culpar equipes de menor investimento pelo desastre de bilheteria, como se as modestas agremiações fossem culpadas por horários esdrúxulos e jogos de ingressos caríssimos com a velha desculpa das carteiras de estudantes falsificadas. Amigos, num país onde o salário mínimo gira em torno de quinhentos reais, uma arquibancada custa oito por cento daquele valor. Demais para grande parte da população humilde, que se acostumou por décadas a lotar o Maior do Mundo. Aproveito para falar dos liberalóides que defendem ingressos caros para elitizar o futebol: raras vezes algo me soou tão burro em toda a vida. Futebol é arte, é espetáculo e elite pela própria natureza – uma elite erguida com a força de trabalhadores, operários, mascates e populares. E estes têm feito falta ao estado, donde se pode depreender o vazio que prolifera no Maracanã, em São Januário e no Engenhão.

Volto ao jogo. O melhor estaria por vir.

Quando veio o segundo tempo, o que se pôde ver foi o mesmo panorama do primeiro tempo: o Fluminense, senhor absoluto das ações e pressionando embora sem finalizações que exigissem muito de Jefferson, contra um Botafogo cauteloso, ávido pela defesa do resultado para, quem sabe, conseguir matar o jogo num contra-ataque esporádico. Nós esperamos quinze minutos, e valeu a pena.

Quem esteve no Maracanã viu um gol perdidíssimo de Fred, mas também testemunhou um de seus mais belos gols. Maicon, sempre ele, avançou pela direita e cruzou com perícia; Fred, de voleio, jogada que já vinha tentando há alguns jogos, fuzilou o canto direito do gol botafoguense, sem o menor traço de chance para o goleiro. Um gol sublime, do ofício dos artilheiros, que causou espasmos em nossa torcida e um soluço considerável nos alvinegros: um gol desses, que não é perdido, pode levantar um time, uma platéia. Como o Fluminense já predominava na partida, isso só aumentou, inclusive a ponto de continuarmos pressionado até mesmo depois de um lance inesperado, como foi a expulsão – justa – de Darío Conca, a primeira com nossa camisa. Nada nos deteve, nada nos abalou. Só a vitória nos interessava contra os campeões da Guanabara e, nos dez minutos em que tivemos um homem a menos em campo, o panorama não mudou; pelo contrário, quando entrou o menino Wellington Silva nosso ataque reacendeu. Parecia que a partida estava mesmo escrita a nosso favor. Mais tarde, Herrera foi expulso e a igualdade numérica se refez. Entretanto, ainda éramos melhores, mesmo faltando pouco tempo. E neste pouco tempo, se fez justiça a um jogador que tem sido dos mais combativos e dedicados do Fluminense: Mariano. A cinco minutos do fim, Wellington Silva deixou dois marcadores para trás, na esquerda do ataque, e cruzou certeiro. Fred não estava na pequena área, mas quem surgiu com um raio foi nosso lateral que chapou a bola para o fundo do gol alvinegro. Justiça no placar e justiça ampla para Mariano, que pode não ser dos melhores com a bola nos pés, mas é dos melhores com a camisa encharcada de suor. Um verdadeiro jovem leão. E estava decretada a virada no grande clássico.

O campeonato ainda está longe de sua decisão, mas vencer os campeões da Guanabara com autoridade foi um excelente sinal. Não nos deixamos abater pelos gols perdidos – principalmente o primeiro – e nem pelo sofrido. O time jogou com calma, dedicação e talento. Um gol de placa e outro muito bonito. O Fluminense voltou a sorrir para si mesmo e ganha confiança justamente para a partida de quarta-feira, contra o time sergipano do... Confiança. Mais uma vez, o horário exótico fará com que sejam poucos os nossos torcedores no Maracanã. Mas vencer é preciso. Vencer, vencer. Prosseguir na Copa do Brasil e com força no Estadual. O jogo de ontem mostrou, mais uma vez, que temos chances. É hora de acreditar que o jogo que nunca termina possa ter reedição na final do campeonato.


Paulo-Roberto Andel, 08/03/2010

Friday, March 05, 2010

FLUMINENSE 5 X 1 FRIBURGUENSE; TIGRES 0 X 3 FLUMINENSE




As melhores respostas (05/03/2010)

Caros amigos, tudo o que reclamando nas últimas semanas por conta das atuações pouco convincentes do Tricolor parece ter ido por terra. É o que se espera. Depois de um período ruim, culminando com a precária atuação diante do modestíssimo Confiança de Sergipe pela Copa do Brasil, o Fluminense voltou a campo nesta semana para duas partidas, respectivamente contra Friburguense e Tigres – um jogo no Maracanã e o outro, no Engenhão. Duas vitórias absolutas, inconstestáveis e que atestaram a recuperação da nossa camisa sagrada. A lamentar, apenas os pequenos públicos que prestigiaram os dois jogos, que infelizmente perderam não somente as boas atuações do coletivo Tricolor, mas também a emocionante estréia - e seqüência – do menino Wellington Silva, tão jovem ainda e já vendido para o futebol inglês. É claro que os torcedores não tiveram culpa; além da má fase, o Fluminense teve contra si um jogo televisionado em rede aberta cujo ingresso custava caríssimos quarenta reais no domingo. E ontem, evidentemente, o horário de 19.30 no Engenhão – excelente estádio, mas que fica quase inviabilizado para jogos que coincidam com o rush da cidade.

Há quem ainda veja o Fluminense de esguelha, por causa do histórico anterior recente. Este time mostrou no ano passado que seria capaz de desafiar paradigmas. Para alguns, uma boa partida domingo e outra, raozável, ontem. Para mim, uma atuação magistral contra o Friburguense e uma muito boa contra o Tigres. Domingo, fomos esplêndidos, pouco importando se o adversário de Friburgo tivesse limitações: qualquer time teria sofrido um bocado com nosso jogo. Criamos, tabelamos, não deixamos de avançar mesmo com a boa vantagem de gols e, a rigor, só cometemos um pecado em falha individual de Diogo, comentando o penal ao abraçar a bola. E não se pode deixar de lado o gol antológico que Fred teria feito, no primeiro tempo, se tivesse acertando fielmente o voleio que ensaiou. Uma obra de arte. Afora isso, cobrou os pênaltis com eficiência e calou os críticos de sua “paradinha”: fez o gol legal sem ela, cobrando com força e categoria. Tudo correu muito bem e teve a cereja do bolo: a impetuosidade do jovem Wellington, mostrando categoria na finalização do segundo gol, batendo de chapa contra três defensores para, em seguida, se emocionar profundamente ao perceber que, ali, era finalmente um jogador profissional de futebol. O maravilhoso gol de Conca, iniciado numa seqüência de tabelas que nasceu de um “chapéu” um tanto desajeitado de Mariano – por sinal, um dos mais vibrantes em campo. E ainda houve tempo para o belo gol do estreante André Lima, interceptando o chute de Conca e fuzilando o canto direito do goleiro friburguense. Foi uma jornada irretocável e uma verdadeira injeção de ânimo para nossa torcida, que vinha de uma atuação tão frustrante contra o Confiança. Reitero: foi injusto que uma partida tão boa tivesse tido um público tão pequeno, tendo em vista as circunstâncias já relatadas. Era preciso que muitos vissem ser este o Fluminense.

Durante a semana, como se já não bastasse uma verdadeira equipe de jornalismo a trabalhar pelos vencedores de véspera – os imperialistas de plantão -, tentou-se criar um fato “negativo” envolvendo a imagem do jovem Wellington: circulou na rede mundial de computadores uma foto em que o jovem atacante estava vestido com uma camisa da Gávea. Agora, surge a explicação das aspas na palavra da linha anterior: o que poderia ter de negativo nisso? Tal raciocínio só poderia ter surgido por parte de um outro império: o do mal. Wellington é um menino que gosta de futebol como tantos outros e pode, perfeitamente, torcer para outro time e vestir a nossa camisa com a máxima dignidade. Quantos exemplos não temos no futebol? Roberto Dinamite, outrora alvinegro de General Severiano, tornou-se o símbolo maior de São Januário – com direito ao gol mais bonito de sua carreira ter sido feito contra seu time de infância. Gerson, um dos maiores craques de todos os tempos, vestiu Gávea, General Severiano, Morumbi e sempre foi um de nossos mais apaixonados torcedores. Edmundo, sinônimo de dedicação, sempre foi louvado pelos irmãos vascaínos, mas vestiu nossa camisa com total isenção clubística e muita raça. Se fizéssemos aqui uma lista, daria um livro. A verdade é que tudo isso só aconteceu contra o menino Wellington porque hoje, ele é uma jóia das Laranjeiras: se estivesse em clubes preferidos da imprensa esportiva, seria apenas uma brincadeira. Fato infinitas vezes mais grave, envolvendo um possível ato de pedofilia no futebol carioca, tem sido tratado com o total abafamento do caso.

Wellington deu sua resposta ontem, com o mesmo futebol exibido contra o Friburguense e jogando uma ducha de água fria nos que queriam vê-lo com outra camisa: antes de ir para a Inglaterra, vestirá somente a nossa e nenhuma outra mais. O Fluminense, se não jogou com o vigor de domingo, mostrou um bom futebol e encontrou um adversário muitíssimo mais fechado, o que diminuiu e muito nossos espaços no ataque. Ainda assim, Fred voltou a marcar de cabeça, recordando aos esquecidos de que é um jogador completo na finalização, além de participar decisivamente no lindo segundo gol, feito por Everton, depois de bela tabelinha tal como já havia acontecido no domingo – e, ele, Fred, aos poucos mostra recuperar a mobilidade em campo que, um dia, o fez jogador de Copa do Mundo. Lá atrás, a defesa de pouquíssimos reveses se sustenta com força.

É normal que muitos achem esses dois jogos como “galinha-morta”, tendo em vista a pífia participação dos times de menor investimento no campeonato estadual. Sem comparação com nosso rosário de glórias, de toda forma não custa lembrar: em jornadas como a dos tricampeões de 1985, também enfrentávamos times “galinha-morta”; contudo, na hora da decisão, prevaleceu o manto sagrado das Laranjeiras. Isso não é a torcida pela torcida, míope, às vezes cega: trata-se de uma constatação. Com exceção da Máquina de 1975, o Fluminense jamais teve alarido na imprensa por conta dos times que montou: éramos o Timinho. E não foram poucas as vezes que começamos desacreditados para, ao final dos certames, trazer a taça definitiva para nossa casa. Naturalmente, é preciso ainda paciência e tempo. Porém, ficou claro que nossa desconfiança teve as respostas corretas: o Fluminense está vivo, o Fluminense está forte e poderá avançar nas competições que disputará este ano não apenas como um decadente figurante, mas um postulante a títulos. É o que todos esperamos.


Paulo-Roberto Andel, 05/03/2009