Sinal amarelo (11/10/2010)
Não foi por falta de acreditar; a torcida do Fluminense se fez firme e presente no Parque do Sabiá. Se o nosso padrão de jogo tem apresentado evidente queda, por outro lado não nos faltaram chances de gol. O Cruzeiro foi melhor, administrou o jogo, contou também com a sorte e, de uma só vez, nos derrotou e nos tomou a liderança do campeonato. No Pacaembu, o favorecido Corinthians levou quatro gols do Atlético Goianiense, o que não soubemos aproveitar. Definitivamente, não foi uma boa tarde ontem. Sinal amarelo nas Laranjeiras. Atenção. Nove jogos pela frente. A certeza de que precisamos melhorar muito para conquistarmos esse tão sonhado título. A certeza de que, ao contrário das bazófias da imprensa, temos ainda a chance de conquistá-lo, sim. Nossa história fala por nós: somos o time do último minuto, das viradas impossíveis frente à comemoração adversária. É preciso levantar a poeira de Álvaro Chaves, mas que fique claro: o campeonato não acabou e ninguém derrota o Fluminense por decreto. O ano passado aí está para não nos deixar mentir.
Embora jogando muito aquém do brilho de outras jornadas neste mesmo campeonato, o Fluminense suportou bem a pressão do Cruzeiro, não sucumbiu após tomar o gol que viria a ser decisivo e, tanto no primeiro tempo quanto no segundo, teve várias chances de gols. As falhas individuais pesaram bastante. Na defesa, a indecisão de Gum e Rafael levou à cabeçada colocada de Wellington Paulista. No ataque, Rodriguinho e Washington abusaram do direito de perder gols: o primeiro chegou ao cúmulo de chutar uma bola para fora – e alto – quando estava a meio metro da linha de gol num determinado lance. Não bastassem os problemas de contusões já conhecidos, Deco se machucou ainda no primeiro tempo e, com Conca muito marcado, a lucidez nos passes ficou bastante prejudicada. Com a queda da velocidade Tricolor nos últimos jogos, ficou mais tranqüilo para que o time celeste administrasse seus passes e ataques – esse é o ponto mais importante e preocupante do atual momento do Fluminense: sem Emerson e Mariano, com Conca marcado, viramos um time comum e não o postulante ao título. Com Fred, não podemos contar devido ao agravamento de sua contusão. O que fazer? O que pensar?
No segundo tempo, o jogo foi relativamente calmo para o Cruzeiro. Digo relativamente porque embora o mandante tivesse o domínio da partida em alguns momentos, chegando a chutar uma bola no travessão e um gol bem-anulado por conta de impedimento, novamente o Fluminense abusou do direito de errar nas finalizações, principalmente com o ataque que foi uma peça nula em campo. Sabemos que Washington tem utilidade dentro da área, como um brigador; ao sair dela, é muito difícil ganhar qualquer jogada ou acertar qualquer fundamento. E Rodriguinho, que fez uma bela jornada no campeonato paulista deste ano, sendo o vice-artilheiro da competição, parece às vezes sentir a camisa Tricolor: perde gols inacreditáveis. Se fizesse um terço das chances que tem desperdiçado, estaria brigando pela artilharia do campeonato brasileiro.
Meus amigos, o sinal está amarelo.
O Fluminense precisa recobrar a velha força nestes últimos nove jogos. Para mim, seis. Se chegarmos líderes na partida contra o São Paulo e os paulistas estiverem fora da briga pelo campeonato, acho que dificilmente perderemos o cobiçado caneco. É claro que o Tricolor do Morumbi é uma força permanente, assim como o Palmeiras; o que acho difícil é que joguem contra nós com o máximo de empenho, caso o Corinthians ainda esteja disputando o título. Não cabe saudar hipocrisias: nos dias de hoje, é o que mais vemos nos jornais do país por conta das eleições presidenciais. Ano passado, o maioral foi campeão contando com a pouca vontade do Corinthians, ironicamente, e do Grêmio. Não falo de entrega de jogos e nenhum de nós ratificaria tal comportamento, mas a verdade é que nenhum do Morumbi ou do Parque Antarctica quer ver o Parque São Jorge em festa e ter colaborado para isso.
O fato é que o Fluminense de hoje não tem o mesmo brilho de meses atrás, nem mesmo dos momentos esporádicos nas vitórias contra Ceará, Vitória da Bahia e Avaí. Mas também não é o time sonolento e burocrático da partida contra o Santos. É preciso reagir. É preciso retomar a agressividade e a velocidade da saída de bola. Emerson, Mariano e Diguinho, se voltarem contra o Botafogo, num clássico decisivo domingo que vem, podem ser peças decisivas neste processo. Teremos uma semana de folga e tempo para as recuperações físicas. Será uma longa espera: estamos aflitos, não podemos falhar justamente no fim da trilha. E, se a condição técnica não voltar a prevalecer, é preciso raça dentro das quatro linhas e nas arquibancadas. Não ficamos conhecidos como o time de guerreiros? Pois bem, o momento é agora. Retomemos a inesquecível parceria entre time e torcida nos treze jogos finais do ano passado. Naquele momento, era uma luta de vida ou morte; éramos a galhofa do esporte brasileiro. No gramado, realizamos uma virada impossível de ser igualada: dez vitórias. Hoje, restam nove jogos. Quem disse que a camisa centenária, impondo seu carisma e sua garra em campo, não pode conseguir sete vitórias? O suficiente para sermos campeões com um pé nas costas. Porém, acima de tudo é preciso retomar a atitude vencedora, seja com o talento ou com o coração.
Nossos corações batem mais vigorosos nesta semana. Domingo, não podemos falhar. O Cruzeiro tem dois pontos à nossa frente, mas enfrentará o poderoso Grêmio no sul, e perder lá não é nenhuma aberração. Meio a zero contra o Botafogo e poderemos voltar à liderança. Um clássico que, por si somente, é sempre difícil em mais de cem anos de disputa. A questão é que acabamos com todas as nossas reservas de falha. Não podemos mais errar. E, para sermos campeões, só a vitória interessa. Domingo, as arquibancadas azuis serão pequenas para tanta ansiedade.
O sinal está amarelo? Vamos torná-lo verde!
Paulo-Roberto Andel