Friday, July 31, 2009

PALMEIRAS 1 X 0 FLUMINENSE

Trocando as mãos pelos pés (30/07/2009)

A crise é uma realidade e a posição na tabela, desastrosa. O Tricolor padece lentamente, e precisa de reação imediata, difícil de ser vista a olho nu. Estivemos em campo ontem, contra o Palmeiras no Parque Antarctica. Mais uma derrota. Mais um revés. Contudo, o jogo não foi traduzido plenamente por seu placar final, e foi decidido basicamente em pequenos detalhes. E ao se trocar as mãos pelos pés, ao contrário do ditado popular.

Tivemos pela frente um gramado pesadíssimo por conta da chuva, além de uma equipe aplicada taticamente, não à toa no topo da tabela. E, com a chuva, é natural que os times tentem explorar a surpresa dos chutes de longe. Tivemos duas ou três chances, o Palmeiras também. Mesmo sendo uma equipe melhor do que a nossa hoje, não nos esmagou. O jogo esteve igual. E para nos, poderia ter até sido melhor se Kieza, nosso solitário atacante, tivesse com quem ao menos trocar um passe. Poderíamos até ter chegado ao gol com eficiência. Entendo a necessidade de marcação e defesa, mas seis jogadores no meio de campo resultam na nulidade do ataque – e, como somos os piores marcadores de gols do campeonato, parece evidente que esta é uma característica que precisa ser modificada. Quero destacar uma excelente finalização de Marquinho, de fora da área, no canto esquerdo baixo do goleiro pentacampeão Marcos, que fez grande esforço para colocar a bola para escanteio – desde os melhores momentos de Thiago Neves, o Fluminense tem dificuldade para dar chutes perigosos de fora da área adversária. Este, o do Marquinho, foi o momento mais perigoso do primeiro tempo. Não houve outras grandes emoções até ali, a rigor; entretanto, parecia até um sinal positivo para nós: estávamos equilibrando a peleja contra um dos times da liderança da competição. Foi um zero a zero justo; também o seria, com um gol para cada time. O charco estava superado pela metade.

Mais surpreendente ainda foi até a melhora das equipes na segunda etapa. Os times voltaram mais velozes, ao contrário do que se espera numa partida chuvosa, e isso certamente causou mais atenção aos expectadores, tanto no Parque Antarctica quanto em todo o Brasil, pela televisão.

E o Fluminense parecia crescer, meus amigos.

E, do seu jeito, com vontade e raça, finalizou uma, duas três vezes. Kieza deu um chute tão perigoso que Marcos deu um daqueles saltos como se fosse na Copa de 2002 – a bola passou a centímetros da trave esquerda. Contrariando todas as previsões, o Fluminense poderia até arriscar certa superioridade na partida. Mas era um engano crasso.

Houve um contra-ataque e nosso ex-jogador Diego Souza entrou livre pela esquerda de nossa defesa, fato praticamente habitual na situação de agora. Deu um bom chute, relativamente forte, mas nada que não pudesse ser evitado com uma boa defesa de nosso goleiro. E aí mora o problema, caros amigos: há tempos, com idas e vindas, não temos propriamente um goleiro debaixo das traves, mas um beque-equipe, tal como nas velhas peladas de rua dos anos sessenta e setenta. Um zagueiro que joga de luvas. Assim sendo, Fernando, em mais uma exótica performance, em vez de se esticar para buscar a bola, resolveu defendê-la com o pé direito. E o resultado, tal como em muitas e muitas outras vezes, foi o gol adversário. O Palmeiras abriu o marcador e o jogo encerrou ali mesmo; ainda faltava meia hora para o término da partida, uma enormidade, mas o revés sofrido justamente depois de o time mostrar melhora, ainda mais num gol evitável, acabou com a equipe. A seguir, as inócuas entradas de João Paulo e Maurício, num time já combalido fisicamente e com o peso do gramado.

Fomos trucidados por nós mesmos. Quando o time está bem, meio e defesa resolvem tudo; quando está mal, é o goleiro que tem que aparecer. E, mal como agora, não podemos contar com um goleiro que insiste em trocar as mãos pelos pés como se isso representasse uma vantagem técnica, jamais vista em oitenta anos de futebol profissional no Brasil. Ou pelo mundo.

Nada tenho contra a figura pessoal do goleiro Fernando, e nem o vejo como o único culpado pela atual situação do Fluminense. Mas, num momento como esse, é fundamental que o time possa se reerguer tendo a figura de um bom goleiro, com maturidade, que saiba reconhecer suas falhas e que trabalhe para saná-las. Além do mais, o estilo de jogo baseado no futebol de salão não é compatível com o de campo, cujas dimensões em todos os aspectos são muito maiores. É hora de se repensar isso. Boa parte da torcida, nos jogos também pensa o mesmo. E o que dizer da volta de Fernando, parado há mais de um mês por decreto? Ricardo Berna, nos últimos tempos, dava muito mais tranqüilidade à equipe.

A agonia continua. Não se pode negar que, dentro do quadro pavoroso da tabela atual, o time apresentou uma postura mais combativa nos últimos jogos. Mas isto é pouco: em 1996, não faltava raça e o rebaixamento aconteceu. Precisamos pontuar. E não podemos tomar gols com tentativas de defesas exóticas.

Nelson Rodrigues, com suas frases eternas disse “Se quiseres antever o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”. E o passado glorioso dos goleiros de Álvaro Chaves não foi escrito com os pés, mas sim com as mãos.

Paulo-Roberto Andel, 30/07/2009

Wednesday, July 29, 2009

FLUMINENSE 1 X 1 CRUZEIRO

Fagulha na tempestade (26/07/2009)


A agonia do Fluminense persiste. É um momento de muita dificuldade e tristeza para todos nós, na atual campanha que tem todas as matizes da vergonha. Apesar de tudo, desta vez o Fluminense não perdeu, se é que o empate dentro de casa, contra um time que tinha um jogador a menos, pode ser considerado um bom resultado. Claro que nosso adversário, o Cruzeiro, é um time de enorme valor e respeito. Contudo, um time que pretende se afastar da desagradável zona de rebaixamento do campeonato brasileiro não pode se limitar a empates em casa.

Desde minha última crônica, sobre a nossa derrota para o Internacional no Beira-Rio, eis que o Fluminense sofreu outras duas derrotas. Uma, sábado passado, acachapante, para o Goiás, numa goleada construída em menos de trinta minutos, no segundo tempo, e de virada. Foi o resultado que sacramentou a dispensa do jovem treinador Eutrópio, numa experiência precipitada e que claramente não surtiria efeitos. Em seguida, o Portaluppi de volta, com a bênção do patrocinador do clube, cada vez mais dotado dos poderes presidenciais em Álvaro Chaves. Portaluppi é nosso eterno herói em campo, é um campeão do Centenário e decidiu o maior Fla-Flu da história do Maracanã. Tem algum valor em sua nova profissão; já nos levou a um grande triunfo. Mas... seria o nome apropriado para ajustar o time atual do Fluminense? Se o experiente e competentíssimo Carlos Alberto Parreira, nome certo no pantheon de glórias das Laranjeiras, não conseguiu, seria certo o nome de Portaluppi? Nós, torcedores, esperamos que sim. Ainda.

Então o novo treinador estreou contra o Atlético Mineiro, no Mineirão, na quarta-passada. Podemos dizer que o time apresentou mais raça e velocidade. A parte negativa veio com a contusão de Fred e, a meu ver, com a equivocada barracão do goleiro Ricardo Berna. Fernando, de volta, mostrou o velho repertório de jogadas com os pés, tal qual um capoeirista. Entretanto, a força de um goleiro está nas mãos, na saída do gol, no fechar de ângulos e, mais uma vez, fomos comprometidos por uma falha sua, no primeiro gol dos mineiros, quando a partida parecia equilibrada e qualquer um dos times poderia estar à frente. Logo, o Atlético fez o segundo; descontamos no final, mas isso foi pouco para a reação. Mais uma derrota. O problema não estava em Parreira e nem em Berna. Mais uma derrota e, mais uma vez, a péssima situação saltando aos olhos.

Quero falar da força de nossa torcida. Sei que somos gigantes, mas me surpreendeu ver treze mil Tricolores no Maracanã, num frio começo de noite de domingo. Outra situação também foi muito triste: a perda de Cléber. Sim, Cléber, o armador de um time simplesmente conhecido com Máquina. Tempos em que as jovens promessas do Fluminense eram Pintinho, Cléber, Mário, Zezé, Delei. Os tempos são outros. Guardarei toda minha saudade.

Falarei do jogo contra o Cruzeiro. Na primeira meia hora de partida, tivemos as nossas chances. O esquema 3-6-1 não ofereceu nenhuma melhora para o futebol da equipe, ressalte-se. Mas Conca e Kiesa, em jogadas distintas, poderiam ter aberto o marcador. Não que fôssemos melhores em campo, com a pobreza criativa que temos sofrido, mas um gol teria sido normal. Para variar, não fizemos; em sua primeira boa oportunidade, o Cruzeiro entrou tabelando como quis, Henrique apareceu livre na frente do gol e inaugurou o marcador, com a bola rasteira no meio da meta. E, claro, a partir de então, o primeiro tempo foi marcado pela apatia, pelo desânimo e pelo mal-estar típicos de quem vem de uma enorme seqüência de fracassos. Felizmente, o placar não se dilatou.

Começamos a segunda etapa com sorte. Dieguinho, que entrara na vaga de João Paulo, cruzou e Kiesa empatou, chutando forte no canto direito de Fábio. Era o primeiro minuto e, para um time em boa fase, seria certamente um chamariz para a virada. Não é o nosso caso de hoje. O Fluminense até atacou, tentou algumas jogadas, mas a frouxidão ainda maior da nossa marcação, agravada pela saída de Fabinho, permitiu ao Cruzeiro um sem-par de oportunidades claras – algumas, chutadas para fora; outras, nos pés capoeiristas de Fernando. E o maior agravante foi que tivemos meia hora em campo com o Cruzeiro tendo apenas dez jogadores: Leonardo tinha sido expulso aos dezesseis minutos. Repetindo uma estranha sina que já vem de longas jornadas, o Tricolor é que passou a ser dominado e pressionado, como se nós é que estivéssemos numericamente inferiores nas quatro linhas. E ainda fomos salvos pelo travessão, depois de uma finalização de Jonathan. Nos sobrou ainda um último lance, com Kiesa, mas o jovem atacante, embora veloz, ainda não mostrou se é um bom finalizador. Perdemos mais um gol. Conquistamos um ponto. E a agonia continua.

Na próxima quarta, tarefa das mais difíceis. Sem Fred, sem outros jogadores, temos pela frente o poderoso Palmeiras de Muricy em sua casa, o Parque Antarctica. Nunca foi tão difícil esperar uma vitória nossa, mas não temos outra alternativa: é torcer dia e noite, sol e chuva para sair da má situação em que estamos. Qualquer ponto nos interessa, qualquer ponto é glória e salvação, mesmo que, por um momento, pareça apenas uma fagulha em plena tempestade.


Paulo-Roberto Andel, 27/07/2009

Friday, July 17, 2009

INTERNACIONAL 4 X 2 FLUMINENSE

Queda livre (16/07/2009)

Quando encerrei minha crônica no domingo, depois da catastrófica derrota do Fluminense para o Santo André, no Engenhão, imaginei que momentos difíceis estariam por vir. Afinal, a famigerada zona de rebaixamento se tornara uma realidade; além disso, Parreira tentara tudo o que podia para reverter a situação em campo, mas a atuação do Tricolor foi abaixo da crítica. Qual o resultado? Simples: demitiram Parreira.

Em futebol, a pressão é muito grande e o que garante a permanência de um treinador é a sua performance. Se, no momento, o padrão do Fluminense era ruim, qualquer torcedor, com razoabilidade mínima, sabe que o problema não estava exclusivamente com Parreira. Acusam-no de ser frio e “sem alma”. Bom, e quando ganhou títulos e títulos nos anos setenta e oitenta, era também? Logo, os argumentos não se sustentam. Mais ainda, se demitir um ídolo do clube é imprescindível, porque não ter alguns cuidados? Por que não preservar nossa história? Mais uma vez, os homens das Laranjeiras andaram de costas para a memória do Fluminense. E a solução adotada foi a efetivação do auxiliar Eutrópio como treinador. Não quero aqui crucificar o jovem profissional, mas entendo que o Fluminense não pode ser vir de laboratório para iniciantes, ainda mais num momento de crise profunda como agora – onde não cabia uma experiência como,por exemplo, a de Ruy, o Cabeção, recém-chegado à nossa casa, se transformar no camisa dez do time e coordenador das jogadas.

Então, sem Parreira e com o time em frangalhos, fracassando em aspectos individuais, o Fluminense voltou a campo para enfrentar o Internacional de Porto Alegre no Beira-Rio. Em síntese, uma parada duríssima para qualquer time em boa fase, quanto mais para nós. Mais uma vez, fomos atropelados de saída; mais uma vez, reagimos; mais uma vez, o adversário nos atropelou vigorosamente e fomos goleados. A culpa tem muitos sócios neste caso; não se trata de um monopólio de Parreira.

O primeiro tempo foi uma reprise do jogo de semana passada, contra o Corinthians; também reprise do outro jogo contra o Parque São Jorge, no Maracanã, pela Copa do Brasil; mais ainda, reprise do primeiro tempo contra a Gávea, pela Copa Rio. Um atropelo sem apelação. Os colorados fizeram dois gols e poderiam ter feito muito mais. No primeiro, depois da bola parada na esquerda do ataque, contaram com a apatia de nossa defesa, parada e receptiva: quatro jogadores do Inter assediaram Ricardo Berna quando o zagueiro Sorondo cabeceou para inaugurar o placar. Pouco tempo depois, um belíssimo gol de Andrezinho, encobrindo o adiantado Berna, aumentou o marcador. Os saudosos do goleiro-que-defende-com-os-pés vociferaram. Uma sonora bobagem. Berna tem sido obrigado a jogar mais adiantado justamente pelo caos estabelecido em nossa defesa; a todo instante, se coloca para sair com os pés. Andrezinho percebeu antes e fez um lindo tento.

Entre os gols, a verdadeira ducha de água fria no Fluminense. A expulsão de Fred, num lance bobo com o sempre violento Magrão, numa disputa que em o cartão amarelo seria suficiente. O exagero do árbitro Roman naturalmente custou muito mais caro a nós: Fred é infinitamente superior a Magrão. Prejuízo no bolso, descemos para o vestiário com mais uma derrota na cachola.

No segundo tempo, com o resultado na mão, o Inter naturalmente relaxou. É o que normalmente acontece em situações assim. Só que relaxou demais e, em um minuto o Fluminense empatou o jogo. Aos vinte e sete, uma bela conclusão de Ruy, encobrindo Lauro após uma falha na saída de gol, acertando o ângulo esquerdo. Vinte e oito, cabeçada rara de Conca, no canto direito, de cima para baixo. Apesar das alterações, com resultado quase inócuo, o Fluminense chegou à igualdade mais pela raça e vontade do que propriamente por qualquer evolução, seja de ordem tática ou técnica.

Seria honroso o empate, caso consolidado. Uma virada traria um outro astral ao Fluminense. Porém, mesmo com vários volantes, sabemos que, de nossa intermediária para trás, tudo é frágil, tênue; os adversários têm dominado as partidas e feito os gols como bem querem. Mal segurava a igualdade em dois, e sofremos o terceiro gol em belo chute do jovem Taison – chute muito bem dado, mas incentivado pela facilidade em avançar livre no nosso campo. A bola no canto direito baixo de Berna, que nada pode fazer. O jogo estava decidido.

Ainda houve tempo para mais um gol, que certamente é uma demonstração da nossa atual situação: o ataque gaúcho entrando livre para esquerda até Taison, novamente, tocar para o gol vazio e sem marcação.

Mais uma vez, uma goleada contra nós.

Temos perdido por conta do treinador ou por conta das nossas gritantes falhas individuais?

Nosso time é realmente bom ou apenas um arremedo do que a imprensa escreveu no começo do ano?

Nossa luta é para uma plena recuperação ou contra a dramática zona de rebaixamento?

Mais um capítulo da novela no próximo sábado, no frio início de noite, contra o Goiás.

E que novela!

Paulo-Roberto Andel, 16/07/2009

Wednesday, July 15, 2009

FLUMINENSE 0 X 1 SANTO ANDRÉ

Uma noite para esquecer (12/07/2009)

No frio início da noite de domingo, o Fluminense voltou a campo pelo campeonato brasileiro, no Engenhão, para enfrentar o time do Santo André. O que poderia ser uma partida comum, tomou ares de vida ou morte: àquela altura, o Tricolor já estava na famigerada zona de rebaixamento, de modo que a vitória tinha se tornado uma obrigação para escapar da incômoda situação. Tudo depois de uma seqüência de vários maus resultados.

Logo no começo do jogo, na primeira jogada dentro de nossa área, uma intervenção desastrosa de Wellington Monteiro tomou o fundo de nossas redes. Um gol contra. A partir de então, o time do Fluminense mergulhou num completo desacerto. Buscava ataque, pressionava, mas errava nos toques cruciais, de modo que a pressão se tornava inócua. É certo que a ala direita teve alguma evolução, com a estréia do veterano lateral Ruy, o Cabeção. Contudo, foi pouco para um domínio efetivo das ações na partida.

Com a outra camisa, o maior perigo à nossa meta ficava por conta de outro veterano: Marcelinho Carioca. Aliás, provado que idade e condição física podem se alinhar nos veteranos, estava presente em campo o jogador mais velho em atividade no campeonato da série A, pelo menos: o volante Fernando, que parecia correr mais do que vários jovens de vinte e poucos anos em campo.

Nas arquibancadas, era natural a insatisfação de nossos cinco mil torcedores. Apupos a todo instante, com ênfase especial para a dupla Wellington-Edcarlos. O zagueiro da Bahia realmente não vem em boa fase, mas convém ressaltar que salvou um gol feito, tirando uma bola em cima da linha, após Ricardo Berna ter sido encoberto por Elvis. Enfim, o torcedor apóia, e até tem sido compreensivo demais. Só discordo dos xingamentos proferidos a respeito de Carlos Alberto Parreira. Trata-se de um símbolo eterno de nosso clube, e fica claro que, a cada rodada que passa, a irregularidade de nosso time está calcada nas falhas individuais: foi assim na partida decisiva contra o Flamengo, no campeonato estadual; o mesmo, nos jogos decisivos contra o Corinthians, pela Copa do Brasil; tem sido assim no atual certame como, por exemplo, na partida em casa contra o Santos. Claro que Parreira não conseguiu imprimir ao time do Fluminense a tradicional aplicação das equipes que dirige, e isso é um problema. Mas o fundamental está na questão individual. Por mais que o treinador trabalhe, não pode lhe caber a culpa se um volante chuta a bola contra seu próprio gol. Por outro lado, com muita gana e vontade, Conca é o espelho do que o time do Fluminense deveria ser. Com dez Concas em campo, não perderíamos nunca.

Até o fim do primeiro tempo, o panorama não se alterou. O Santo André, recuado, buscava eventualmente contra-ataques. O Fluminense dominava o jogo no campo adversário, mas não criava nenhuma jogada perigosa. Pela maneira como foi, a vitória dos celestes foi justa na primeira etapa.

E a nós, caberia descer para o vestiário com a pesada cruz, mesmo que temporária, da zona de rebaixamento. A velha e desagradável cruz que queremos eternamente distante de Álvaro Chaves.

O segundo tempo começou marcado pelo desespero que naturalmente nos cercava. Marquinho entrou, para dar mais vigor ofensivo. Não deu certo. Quem esteve novamente perto do gol foi o Santo André, em mais uma cobrança venenosíssima de falta de Marcelinho.

E então veio o abafa. Cruzamentos e cruzamentos, todos bem interceptados pelo bom goleiro Neneca. Parreira tentou de tudo: gritava à beira do granado, se exasperava, dava instruções. E mexia no time. Veio o menino Tartá, ausente há tempos e de quem a torcida muito espera. O menino reclamou de não estar sendo aproveitado; entretanto, quando teve a chance, pouco produziu.

Entre nervosismo, pressão, insatisfação, uma má performance em campo, evitar a derrota parecia impossível. O time tentava mais chuveirinhos e a partida terminou com o Fluminense todo no ataque, mas sem conseguir um chute perigoso sequer em toda a segunda metade da etapa final.

É um momento lamentável.

Há quatro rodadas, ocupávamos a sexta colocação. Agora, a zona de rebaixamento.

A bela torcida do Fluminense não merece isso. A trajetória de Carlos Alberto Parreira não merece isso. O futebol não merece.

Precisamos recolher os cacos. É um momento matematicamente grave, mas perfeitamente superável. Que os homens das Laranjeiras acertem seus caminhos, em prol do bem comum que é o Fluminense – o nosso amado Tricolor que não merece este revés.


Paulo-Roberto Andel, 13/07/2009

CORINTHIANS 4 X 2 FLUMINENSE

Aos pés do craque (08/07/2009)


Amigos, esta não tem sido uma temporada fácil para o Fluminense, definitivamente. Nosso jogo não tem encaixado; vivemos um tempo de enorme irregularidade e, no campeonato brasileiro, isso custa caro. Mais caro ainda quando se enfrenta um craque, e foi o caso de hoje: Ronaldo, com seu Corinthians ao lado. Foi um grande jogo, e nele tivemos de tudo: a possibilidade de tomar uma goleada acachapante; a reação gloriosa que quase nos leva a um empate heróico e, por fim, o golpe fatal imposto pelo maior artilheiro das copas do mundo. Perdemos e não estamos satisfeitos, mas fomos coadjuvantes de uma grande batalha.

Nas partidas realizadas recentemente entre o Tricolor e o alvinegro do Parque São Jorge, o equilíbrio foi muito grande. Pela Copa do Brasil, perdemos por um a zero no Pacaembu, onde o empate teria sido mais justo. E empatamos no jogo de volta, no Maracanã, quando aconteceu nossa desclassificação. Ronaldo teve seus lampejos de craque; bem marcado, no entanto, não marcou. Desta vez, foi muito diferente.

A partida foi a única disputada pela competição brasileira hoje, de modo que todo o Brasil deu-lhe atenção. E a fidalguia apresentada na entrega das faixas aos campeões da Copa, por nós feita, dava um sabor de fraternidade ao jogo que durou até o último apito de Heber, exceto pelo baixo calão do futebol de Christian.

Começou o jogo e vimos um Fluminense tocando a bola ofensivamente e com autoridade. Depois de atuações tíbias, a derrota no último momento para o Avaí e os empates zerados contra Flamengo e Grêmio, era hora de reação. E parecia que ia dar, pois o Tricolor tinha mais posse de bola, pressionava o campo de defesa do Corinthians e as finalizações aconteciam – Fred chegou a fazer um belo gol de cabeça, corretamente anulado por impedimento milimétrico, além de outras duas finalizações perto do gol. Éramos os senhores. Mas aí, meus amigos, o craque aparece – aparece e não deixa pedra sobre pedra. Então, na primeira bola em que entrou com liberdade no ataque, e ainda contado com a insistência de marcação em linha da zaga Tricolor, Ronaldo entrou e venceu Ricardo Berna com toda categoria, matando a bola no canto direito do nosso goleiro. O Corinthians abria o marcador e, pelos dez minutos seguintes, mesmo apresentando um bom futebol, o Fluminense foi vítima de um verdadeiro pandemônio. Veio o pior, e o medo de uma sonora goleada. Os mosqueteiros marcaram mais dois lindos gols. O segundo da série, para muitos, foi o gol mais bonito de todo o campeonato: uma linha de passe, com três toques de primeira, numa tabela começada por Ronaldo, que passou para Christian e este, para Dentinho finalizar novamente à direita de Berna. Uma jogada primorosa, que mostra como Christian poderia ser um jogador melhor ao priorizar a técnica em vez das botinadas, como o chute no peito de Diguinho. Um psicólogo também lhe faria bem. Volto ao jogo: o terceiro gol foi um Scotch 12 anos de Ronaldo: a velha arrancada pela esquerda, a matada na bola, o drible desconcertante em Edcarlos que desabou feito um sarapatel e a bola, mansa, pela terceira vez no canto direito de Berna. Era o três a zero e uma goleada assustadora. Incrível: jogávamos bem, ofensivamente, tocando a bola, perdendo gols e o Corinthians nos trucidava em ritmo de treino. O primeiro tempo terminou com o que poderia ser uma faísca de nossa reação: Leandro entrou livre pela direita, tinha grande chance de fazer o gol, mas o impedimento foi marcado erradamente.

Quando veio a segunda etapa, claramente o time do Corinthians sofreu a natural acomodação que acontece a todo time com grande vantagem no placar. O Fluminense, timidamente, se lançava ao ataque talvez em busca do gol de honra, talvez em busca de uma reação improvável. Parecia um rol de tentativas inócuas, até perto dos trinta minutos de jogo, quando Conca percebeu espaço no miolo corinthiano, arrancou com a bola sozinho sem passar aos companheiros teoricamente impedidos e, livre, fez um golaço, finalizando com violência na esquerda alta do goleiro Felipe. Um gol de força e raça, que serviu de lampejo para o Fluminense e mostrou ao Corinthians que era cedo demais para se administrar um resultado. De toda forma, reagir ainda era difícil. Parreira não hesitou: lançou o time inteiro de vez para a frente, fazendo três alterações e procurando mais velocidade. A posse de bola era nossa de novo.

Minutos depois, o menino Alan, talvez a mais provável consolidação das chamadas promessas de Xerém, que tinha acabado de entrar no jogo, invadiu com categoria pela esquerda do ataque, driblou Felipe secamente e fuzilou a meta. A bola bateu no zagueiro Diego e entrou. Era o segundo gol e a chance de reverter uma goleada terrível num resultado digno. Ali, a menos de quinze minutos do fim, novamente o Fluminense dava as cartas de vez na partida, sendo candidato ao terceiro tento.

Embora não tenha decidido o jogo com seu erro calamitoso, o árbitro Heber, que há muito tem uma enorme coincidência de erros nas partidas contra o Fluminense, praticamente selou a vitória do Parque São Jorge: numa falta clara em cima de Fred em cima da risca da grande área, mandou o jogo seguir. Fred, erradamente, carregou nos palavrões e foi expulso. Um erro de jogador que não se justifica, mas se explica: nosso jovem artilheiro não tem marcado os gols; acontece uma chance capital de empate numa infração, e o árbitro dá de ombros? Na hora em que poderíamos igualar as ações, fomos alijados por um erro cuja nascente foi a falha arbitral de Heber. E não é de hoje.

O craque, que nada tem a ver com isso, não perdoa: mata! Decide.

Houve um cruzamento da esquerda corinthiana e um chute. Berna espalmou. A bola cruzou toda a frente da defesa, sem que os zagueiros do Fluminense a espanassem. Ronaldo vem de frente para a bola. Olha a posição do goleiro. Bate de peito de pé, em curva, para tornar a defesa impossível, e acerta o ângulo esquerdo. Um golaço. Estávamos definitivamente derrotados.

Tivemos falhas, principalmente na defesa. Não podíamos levar os gols que levamos. Mesmo assim, quase chegamos a um empate sensacional. Tivemos posse de bola, atitude, ofensividade. O que deu errado?

Não venham culpar Parreira, nosso ídolo. A culpa é do craque. E, hoje, ao contrário do que costumeiramente foi um dia, ele não tem a nossa camisa. Está do outro lado. Não perdoa. Mata! E decidiu. Por isso é que, um dia, denominaram-no de Fenômeno.


Paulo-Roberto Andel, 08/07/2009

Wednesday, July 08, 2009

FLUMINENSE 0 X 0 FLAMENGO

Edinho, outra vez (28/06/2009)

E veio o Fla-Flu. O jogo que nunca termina – cada nova partida é, na verdade, um segundo dentro da eterna disputa entre a Gávea e as Laranjeiras.

Não foi das mais brilhantes a partida de ontem; tratou de um empate sem gols, com superioridade nossa na primeira etapa, e deles na segunda. Para ambos, a superioridade não significou um predomínio absoluto no tapete do Maracanã. Cada tive esteve melhor do que o outro em cada um dos tempos, mas longe da majestade que o Fla-Flu exige.

Poderia ter sido melhor se programassem direito. Os homens fora das quatro linhas insistem em sempre fazer o pior. Saibam que aqueles que chegaram no Maracanã antes da hora tiveram, por sorte, a chance de rever alguns dos maiores jogadores que o estádio já aplaudiu: Cláudio Adão, Edinho, Delei, Júnior, Paulo César Caju, Manfrini. Uma preliminar de masters, marcada justamente para o mesmo horário em que a seleção brasileira decidia a Copa das Confederações contra os Estados Unidos. E o Maracanã vazio, bem diferente dos tempos em que a turma, por qualquer coisa, atraía cem mil pagantes. Paulo Goulart no gol, recordando 1980. Os jovens puderam saber de quem se tratavam os jogadores veteranos. Um espetáculo bonito, que merece ser repetido e que também careceu de melhor divulgação. Quero falar de Edinho: se a velocidade já não é a mesma, pelas inevitáveis mazelas do tempo, revê-lo em campo me trouxe aos tempos de criança, carregado pela mão por meu pai. Edinho era o líder, o zagueiro das grandes arrancadas, que poderia usar tranqüilamente a camisa dez. Foi o grande herói da minha transição da infância para a adolescência. Muitos, como eu, se deleitaram ao rever aqueles grandes heróis do passado no gramado. Para outros muitos, a preliminar já bastaria como atração do dia.

Mas o Fla-Flu nunca morre, o Fla-Flu nunca termina. E um jogo crucial estava a caminho. Depois do empate em casa contra o Grêmio e da derrota dolorida para o Avaí, no último segundo, tendo o Gago como algoz, só restava ao Fluminense lutar pela vitória. Mesmo numa má fase como a nossa, vencer o grande clássico realimenta as energias. Além do mais, nossa incômoda posição na tabela exigiria uma resposta em campo. Os flamengos também não estão no melhor das pernas, e o jogo em seguida mostrou isso.

Houve um momento de grande comicidade nas arquibancadas, antes do jogo. A massa flamenga, sempre sedenta por tripudiar do grande rival, simulou um mosaico, que serviria de alusão à hegemonia rubro-negra no número de campeonatos estaduais, ainda que inflada por um tricampeonato em dois anos, fato sui generis no cenário futebolístico mundial. Sim, amigos, os flamengos esperaram quase cem anos para brindar o que consideram uma vitória, mesmo que fictícia. Pois bem, quando foi dada a ordem, a torcida das arquibancadas amarelas se levantou: aconteceu uma hecatombe! Por razões desconhecidas, o texto que nos atingiria como galhofa tornou-se um verdadeiro provérbio chinês – traços, pontos e figuras descontinuadas que não formavam palavra alguma. Houve risos por todo o estádio, e não somente do nosso lado da arquibancada – vazio, mas muito espirituoso.

Até então, era o Fla-Flu do sonho e da fantasia, da entrada mágica dos times em campo, da festa das cores, do nosso encontro com nosso eterno rival e tradicional vice. Aí, sim, começou o Fla-Flu da realidade. E a nossa realidade não é mais a de Delei ou Paulo César Caju, mas a da simplicidade do volante Fabinho. Foi um leão: com ele, embora a limitação do jogo de bola fique evidenciada, a raça e a disposição são impecáveis, e o meio-de-campo se tornou nosso. Outra boa surpresa foi a atuação do lateral João Paulo, que vinha titubeante, mas, desta vez, entrou com força total: foi quase um atacante, agrediu bastante a direita da defesa flamenga, fez bons cruzamentos e apareceu para o jogo. Thiago Neves, em seu jogo de despedida, até tentou arrancar e chamar o jogo para si, mas sem maiores resultados. Nosso conjunto, aguerrido, passou a maior parte do tempo no campo deles. Porém, como as finalizações eram escassas, foi em vão.

No segundo tempo, a superação do Flamengo e a relativa demora de Parreira em mexer numa equipe que sempre fica muito cansada viraram o jogo; eles foram melhores, estavam mais inteiros, mas como nós: sem o faro do gol. E ainda contamos com Berna, em excelente fase, com grandes defesas. Vacilou num lance, e quase tomamos o gol, é verdade. Mas só um lunático questionaria sua importante participação: com ele, perdemos o sentimento de agonia a cada vez que a bola é recuada; as saídas nos cruzamentos; a reposição de bola; a sobriedade. Mesmo com as mexidas nos times, o panorama não se alterou. Desnecessário dizer que os matadores ficaram longe da mira: Adriano, por sinal, teria perdido um dos gols mais feitos da história do Mário Filho, se não estivesse impedido no segundo tempo: debaixo do travessão, livre, recebeu cruzamento da direita e tocou para o gol vazio, com a bola passando a centímetros da trave direita.

Apesar do mau resultado em termos de classificação, o time ao menos mostrou alguma qualidade no primeiro tempo. Precisamos de pontos, sem dúvida, mas a melhoria de rendimento nas partidas é uma credencial para que deixemos a incômoda posição do fim de tabela.

Talvez se fale pouco desse Fla-Flu pelo que se viu em campo; todavia, mesmo que escassos e até involuntários, os momentos mágicos de ali estar para ver uma partida jamais são superados. É o jogo que nunca termina.

Revi Edinho em nossa quarta-zaga. E voltei ao passado de glórias e títulos. Pode ser uma promessa. Um bom presságio. Quando o presente não está a nos alegrar, o passado invade os semblantes e nos traz o melhor. Não existe Fla-Flu sem passado.

O sol nascerá.

Paulo-Roberto Andel, 29/06/2009