Wednesday, July 08, 2009

FLUMINENSE 0 X 0 FLAMENGO

Edinho, outra vez (28/06/2009)

E veio o Fla-Flu. O jogo que nunca termina – cada nova partida é, na verdade, um segundo dentro da eterna disputa entre a Gávea e as Laranjeiras.

Não foi das mais brilhantes a partida de ontem; tratou de um empate sem gols, com superioridade nossa na primeira etapa, e deles na segunda. Para ambos, a superioridade não significou um predomínio absoluto no tapete do Maracanã. Cada tive esteve melhor do que o outro em cada um dos tempos, mas longe da majestade que o Fla-Flu exige.

Poderia ter sido melhor se programassem direito. Os homens fora das quatro linhas insistem em sempre fazer o pior. Saibam que aqueles que chegaram no Maracanã antes da hora tiveram, por sorte, a chance de rever alguns dos maiores jogadores que o estádio já aplaudiu: Cláudio Adão, Edinho, Delei, Júnior, Paulo César Caju, Manfrini. Uma preliminar de masters, marcada justamente para o mesmo horário em que a seleção brasileira decidia a Copa das Confederações contra os Estados Unidos. E o Maracanã vazio, bem diferente dos tempos em que a turma, por qualquer coisa, atraía cem mil pagantes. Paulo Goulart no gol, recordando 1980. Os jovens puderam saber de quem se tratavam os jogadores veteranos. Um espetáculo bonito, que merece ser repetido e que também careceu de melhor divulgação. Quero falar de Edinho: se a velocidade já não é a mesma, pelas inevitáveis mazelas do tempo, revê-lo em campo me trouxe aos tempos de criança, carregado pela mão por meu pai. Edinho era o líder, o zagueiro das grandes arrancadas, que poderia usar tranqüilamente a camisa dez. Foi o grande herói da minha transição da infância para a adolescência. Muitos, como eu, se deleitaram ao rever aqueles grandes heróis do passado no gramado. Para outros muitos, a preliminar já bastaria como atração do dia.

Mas o Fla-Flu nunca morre, o Fla-Flu nunca termina. E um jogo crucial estava a caminho. Depois do empate em casa contra o Grêmio e da derrota dolorida para o Avaí, no último segundo, tendo o Gago como algoz, só restava ao Fluminense lutar pela vitória. Mesmo numa má fase como a nossa, vencer o grande clássico realimenta as energias. Além do mais, nossa incômoda posição na tabela exigiria uma resposta em campo. Os flamengos também não estão no melhor das pernas, e o jogo em seguida mostrou isso.

Houve um momento de grande comicidade nas arquibancadas, antes do jogo. A massa flamenga, sempre sedenta por tripudiar do grande rival, simulou um mosaico, que serviria de alusão à hegemonia rubro-negra no número de campeonatos estaduais, ainda que inflada por um tricampeonato em dois anos, fato sui generis no cenário futebolístico mundial. Sim, amigos, os flamengos esperaram quase cem anos para brindar o que consideram uma vitória, mesmo que fictícia. Pois bem, quando foi dada a ordem, a torcida das arquibancadas amarelas se levantou: aconteceu uma hecatombe! Por razões desconhecidas, o texto que nos atingiria como galhofa tornou-se um verdadeiro provérbio chinês – traços, pontos e figuras descontinuadas que não formavam palavra alguma. Houve risos por todo o estádio, e não somente do nosso lado da arquibancada – vazio, mas muito espirituoso.

Até então, era o Fla-Flu do sonho e da fantasia, da entrada mágica dos times em campo, da festa das cores, do nosso encontro com nosso eterno rival e tradicional vice. Aí, sim, começou o Fla-Flu da realidade. E a nossa realidade não é mais a de Delei ou Paulo César Caju, mas a da simplicidade do volante Fabinho. Foi um leão: com ele, embora a limitação do jogo de bola fique evidenciada, a raça e a disposição são impecáveis, e o meio-de-campo se tornou nosso. Outra boa surpresa foi a atuação do lateral João Paulo, que vinha titubeante, mas, desta vez, entrou com força total: foi quase um atacante, agrediu bastante a direita da defesa flamenga, fez bons cruzamentos e apareceu para o jogo. Thiago Neves, em seu jogo de despedida, até tentou arrancar e chamar o jogo para si, mas sem maiores resultados. Nosso conjunto, aguerrido, passou a maior parte do tempo no campo deles. Porém, como as finalizações eram escassas, foi em vão.

No segundo tempo, a superação do Flamengo e a relativa demora de Parreira em mexer numa equipe que sempre fica muito cansada viraram o jogo; eles foram melhores, estavam mais inteiros, mas como nós: sem o faro do gol. E ainda contamos com Berna, em excelente fase, com grandes defesas. Vacilou num lance, e quase tomamos o gol, é verdade. Mas só um lunático questionaria sua importante participação: com ele, perdemos o sentimento de agonia a cada vez que a bola é recuada; as saídas nos cruzamentos; a reposição de bola; a sobriedade. Mesmo com as mexidas nos times, o panorama não se alterou. Desnecessário dizer que os matadores ficaram longe da mira: Adriano, por sinal, teria perdido um dos gols mais feitos da história do Mário Filho, se não estivesse impedido no segundo tempo: debaixo do travessão, livre, recebeu cruzamento da direita e tocou para o gol vazio, com a bola passando a centímetros da trave direita.

Apesar do mau resultado em termos de classificação, o time ao menos mostrou alguma qualidade no primeiro tempo. Precisamos de pontos, sem dúvida, mas a melhoria de rendimento nas partidas é uma credencial para que deixemos a incômoda posição do fim de tabela.

Talvez se fale pouco desse Fla-Flu pelo que se viu em campo; todavia, mesmo que escassos e até involuntários, os momentos mágicos de ali estar para ver uma partida jamais são superados. É o jogo que nunca termina.

Revi Edinho em nossa quarta-zaga. E voltei ao passado de glórias e títulos. Pode ser uma promessa. Um bom presságio. Quando o presente não está a nos alegrar, o passado invade os semblantes e nos traz o melhor. Não existe Fla-Flu sem passado.

O sol nascerá.

Paulo-Roberto Andel, 29/06/2009



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