Friday, October 08, 2010

FLUMINENSE 0 X 3 SANTOS (06/10/2010)



Um drama passado a limpo (08/10/2010)

Na quarta-feira à noite, fiquei atordoado. Quando saí de um dos banheiros do Engenhão, me deparei com a cena de um menino duns oito anos, em completo desespero e muitas lágrimas com o que tinha acabado de ver. Aquele choro me doeu muito mais do que a terrível jornada que o Fluminense cumpriu nos últimos dias: o desagradável – porém justo, como falarei a seguir - empate contra o Prudente, sábado passado, e a acachapante derrota para o Santos anteontem.

Normalmente, escreveria estas linhas na quinta, logo após o jogo. Não o fiz por dois motivos: primeiro, esperar os jogos da noite de ontem para ter melhor visão sobre os acontecimentos; segundo, deixar a raiva pela derrota de quarta se esvair – menos pelo marcador e mais por como ela aconteceu. No fim de tudo, meus nobres amigos, o Fluminense está diante de um drama, o maior de todo este ano: mesmo com golpes de sorte nos tropeços dos adversários diretos na luta pelo título, mesmo ainda conseguindo manter a liderança do campeonato, o fato é que o Fluminense não está em boa fase e um dos adversários mais temíveis, o Cruzeiro, ficou a apenas um ponto de nós. Mais ainda: desfalcados, enfrentaremos o mesmo Cruzeiro em casa, no próximo domingo. Vencer é imperativo.

Mas será possível, tendo em vista nosso atual momento?

Sim, mas se dentro de campo o time não corresponder, tudo ficará por conta da mágica e centenára camisa, além dos milhões de devotos do Tricolor. É o que nos resta. O Fluminense é o líder do campeonato, mas está gravemente ferido. Cabe a nós empurrar a equipe para este título fantástico. Vamos esquecer o que nos aconteceu recentemente e manter todo o pensamento positivo.

Contra o Prudente, é fato que tivemos maior volume de jogo sobre a verdadeira piscina que era o gramado do Prudentão. Uma batalha aquática. Isso não nos impediu de ver um dos gols mais bonitos do campeonato, marcado por Rodriguinho em um chute fantástico no ângulo esquerdo do goleiro do bom goleiro Giovanni, quebrando o tabu de só ter marcado gols em times rubro-negros. Se o mesmo Rodriguinho finalizasse com a mesma competência em outros lances que teve, livre na área, teríamos aplicado uma sonora goleada. E aí é que digo da justiça do resultado final: o Prudente no segundo tempo foi, ainda que de forma tímida, ao ataque. E a velha máxima do futebol é imperdoável: quem não faz, leva. Tivemos todas as chances para vencer o jogo e não as aproveitamos; então, o empate foi justo. Recuar quando se abre o marcador e finalizar sem precisão não são mostras de qualidade, às vezes: pode até ser o contrário. Menos mal que os poderosíssimos e favoritíssimos Cruzeiro e Corinthians empataram em casa contra Atlético Paranaense e Ceará, respectivamente. No Pacaembu, o eterno ídolo Magno Alves fez a sua parte e o Ceará chegou a estar vencendo por dois, mas a fragilidade do time permitiu a reação corinthiana. Uma rodada a menos, tudo no lugar, mas sinais de preocupações.

A quarta-feira tinha a expectativa da volta de Fred aos gramados. Mais uma vez, o exótico horário imposto pela televisão e quatorze mil Tricolores não falharam: estavam nas arquibancadas, driblando engarrafamentos, o caos e tudo mais que viesse pela frente. Acabamos presenciando o que provavelmente foi nossa pior apresentação no campeonato, no ano de 2010 e talvez desde os piores momentos do campeonato brasileiro do ano passado. Tudo deu errado, dentro e fora do campo. O placar não indica a verdade do jogo: quem visse sem saber imaginaria um Santos agressivo e imponente. Tenho dúvidas até se alguns jogadores santistas saíram realmente suados de campo: o time paulista jogou em ritmo de treino e venceu como quis nos quarenta e cinco minutos finais – lembrou até a nossa atuação diante do Atlético Mineiro. O estreante lateral Marquinhos nem foi tão mal, mas evidentemente sentiu o peso da camisa centenária. Conca, marcadíssimo e, com isso, sem as naturais grandes contribuições. O meio de campo perdido entre a ligação direta dos chutões da defesa e o “domínio” no ataque – normalmente não-feito por Washington. E, talvez, o pior desfalque: Mariano. Sem ele, o Fluminense fica isento de arranque e velocidade rumo ao gol adversário. Marquinho sem “s”, mas com cem partidas pelo Tricolor, teve uma atuação de regular para ruim; contudo, eu não otiraria de campo. Ele saiu no intervalo para a entrada de André Luis, visando reforçar a zaga, o que pouco adiantou.

Segundo tempo em cima, o estádio urrou pela volta de Fred. Fiquei preocupado: entrou com lentidão absoluta e parecia até nem ter plenas condições de andar. Em pouquíssimos minutos, voltou a sentir dor e curiosamente permaneceu em campo, mesmo senso possível fazer duas substituições. Nas poucas vezes em que tocou na bola, mostrou o craque que é: um passe sensacional para Conca. Mas foi muito pouco e dificilmente poderemos contar com ele para o restante da jornada.

Chutamos uma bola na trave, com Carlinhos, mas foi um dos poucos bons momentos do lateral e do time. O primeiro gol do Santos revela como foi péssima a nossa noite: dentro da área, recuperam dois rebotes até que Zé Eduardo, o craque da noite com três gols, acertou meia-bicicleta no meio do gol de Rafael. O segundo gol foi um chutaço proveniente de um dos lances mais bizarros que já vi contra a defesa do Fluminense em toda a minha vida: um balão proveniente do meio de campo, Leandro Euzébio espera a bola quicar para se mexer, Rafael hesita justamente porque espera o zagueiro, Zé Eduardo tem presença de espírito – ajeita livre e fuzila o ângulo esquerdo. Derrota consumada depois de tal fato e meu estranhamento com os enlutados do Perseguido, que passaram a vaiar Rafael contundentemente para, em seguida, vibrar com o time – dando a errônea sensação de que o goleiro tinha sido o responsável pela derrota até então. Houve uma confusão de sentimentos. Rafael não tem o brilho do ano passado, sem dúvida, mas meu comentário sobre o jogador Fernando Henrique é simples e direto: ruim sem ele, pior com ele. O terceiro gol foi apenas a cereja do bolo que o Santos tinha preparado sem muito esforço, diante de uma noite trágica, de nosso pior futebol: Zé Eduardo entrando livre pela esquerda da defesa e tocando para o gol vazio. De toda forma, reconheço dignidade naqueles que bradaram pelo título e cantaram como se nada estivesse acontecendo. Não é a minha posição, mas entendo que a hora é de apoiar e não massacrar. Ainda falta falar dos dois gols anulados: mesmo que um tivesse sido justamente validado e o outro não, com um pouquinho de esforço o Santos faria quatro ou cinco. Não perdemos por conta do mau apito. Calcemos as sandálias da humildade.

O que dizer nas linhas restantes? Estamos mal, ainda somos os líderes e teremos um jogo de vida ou morte domingo. Não temos mais Fred, mas esperamos a volta de Emerson. O Presidente Horta é nosso guia: vencer ou vencer! Não temos alternativa. Ou o Fluminense reage de vez e mantém a posição de líder favorito ou despenca. Domingo é dia de maracujá e calmantes.

Sou um obcecado.

Eu acredito.

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