Friday, May 11, 2007

Mudança de rumos

Depois de meses, finalmente começou a grande final do campeonato carioca – ou fluminense, para os que queiram corrigir. Dois times com momentos distintos na competição. Dois gigantes que, em raríssimas oportunidades, digladiaram-se pelo título estadual, embora tenham quase cinqüenta taças, quando reunidos.

Com o digno público de uma final, o Botafogo disse ao que veio e foi todo ataque, todo velocidade e toque de bola, contra um Flamengo que veio mais fechado, cauteloso. Entretanto, essa mesma cautela não serviu para deter o ímpeto botafoguense: além dos dois gols, o Alvinegro foi absoluto na primeira etapa. Caso tivesse feito quatro ou cinco, ninguém que tivesse visto o match se assustaria, tamanha a superioridade de General Severiano.

A vantagem do Botafogo, contudo, não se cristalizou de primeira mão. Inauguraram o placar apenas depois de meia hora de jogo, quando um cruzamento rasteiro e esperto de Zé Roberto encontrou Dodô livre na pequena área. Ao contrário da tradicional classe nas finalizações, o sete botafoguense não titubeou: com a chance de gol, praticamente deu um carrinho na bola para impedir a chegada do goleiro Bruno. Ressalte-se, porém, que até os carrinhos de Dodô possuem charme, possuem classe. Talvez, ao notar tantos gols perdidos, Dodô viu a necessidade de que aquela bola entrasse – e, como já dito antes, até sujou o calção pelo tento.

O Flamengo, que já vinha impactado pela completa inferioridade técnica em campo, curvou-se. Havia o temor de uma goleada. Os flamengos, apaixonados por todo o estádio, silenciavam. A cinco minutos do fim, então veio o grande golpe numa rápida cobrança de falta, Lúcio Flávio, entrando elegantemente pela intermediária e meio da área rubro-negras, deixou cinco ou seis adversários caídos até deslocar Bruno com um leve toque no canto direito e explodir a massa alvinegra, num verdadeiro golaço.

O primeiro tempo fechou com a superioridade do Botafogo, tanto no placar quanto em termos de atuação. Magnífica. Tivesse alguém que apontar o vencedor ao final, creio que cada nove entre dez fichas seriam em branco e preto. Futebol, porém, é jogo de surpresas, de idas e vindas, mudança de rumos. E os times voltaram muito diferentes para o segundo tempo.

O Botafogo, estranhamente, recuou mais do que tinha feito em jogos anteriores, e talvez mais do que havia feito durante todo o ano. O Flamengo, que tinha sido um indefeso cordeiro, presa fácil para os alvinegros, voltou como um leão ferido, de Biafra, e ganhou a intermediária adversária. O jogo virou, o Flamengo passou a dar as cartas, alguns bons ataques aconteceram.

Tudo mudou de vez aos dezessete minutos do segundo tempo. Numa jogada rápida, Renato entrou livre pela esquerda do ataque; o jovem goleiro Julio César, afoito, trocou o gol real pela chance de defesa de um pênalti, defesa que a ele não caberia: era o último homem e foi justamente expulso. Renato fuzilou o ângulo direito do reserva Max, e a Gávea descontou.

O estádio levantou vôo com o grito da massa rubro-negra, e os botafoguenses é que tomaram lugar de calados, aflitos, ao enfrentarem um adversário recuperado, veloz e atuando com um jogador a menos. O Flamengo é que passou a mandar no jogo e perder gols seguidos. Tudo pelo avesso.

Aos trinta e três, novo golpe rubro-negro, jab de esquerda. Cruzamento de Leo Lima, que tinha acabado de entrar, falha do inseguro Max e soltura de bola nos pés de Souza, que completou para o gol vazio. Decretado o empate em dois tentos.

Em seguida, confusão. Um bate-rebate, falta quase na linha central do campo, Leo Lima e Diguinho, que tinham acabado de entrar, foram devidamente expulsos. O Botafogo, já sem Lúcio Flávio e sem o seu amuleto cão de guarda, esmoreceu. Por outro lado, o Flamengo, que tinha acabado de reforçar seu ataque, para explorar a vantagem de mais um jogador, perdeu opções. Leo Lima, mais uma vez, pareceu predestinado a seguir o autor de uma jogada só: o famoso cruzamento de letra para o gol vascaíno, na final contra o Fluminense, em 2003. E, portanto, perdendo chances de firmar-se de vez no futebol, enquanto o tempo passa.

Três jogadores a menos em campo significaram muito mais espaços; contudo, o cansaço das equipes, particularmente do Flamengo, que tinha um a mais, não contribuiu para novos gols. E o jogo terminou em empate final.

Cada time teve um tempo a seu favor. Pelas circunstâncias finais, meu palpite é de que, se houvesse um vencedor, ele estaria mais próximo de ser o Flamengo. Não foi. Assim são os clássicos.

Domingo, está programada a batalha final. Ambos os times têm compromissos perigosos no meio de semana: o Botafogo encara o Atlético em Minas, pela Copa do Brasil; o Flamengo visita o uruguaio Defensor, pela Libertadores. Depois de quinta, ficam as expectativas para se conhecer o novo campeão do Rio.

Paulo Roberto Andel, 30/04/2007

No comments: