Friday, October 16, 2009

SANTO ANDRÉ 1 X 2 FLUMINENSE (10/10/2009)



Fred venceu (13/10/2009)

Meus caros amigos das Laranjeiras, esta crônica demorou um pouco mais do que o habitual por conta do fracionamento de jogos no campeonato brasileiro. Por conta da partida da seleção brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo, contra a Bolívia, parte dos jogos ocorreu no sábado e parte ontem. Assim, poderíamos ver melhor o que nos espera. Não foi bom para nós que o Náutico vencesse o líder Palmeiras de forma estrondosa, ou o Sport ter conseguido o empate no Serra Dourada contra o Goiás. De toda forma, dentro da missão muito difícil – mas não impossível – de escapar do rebaixamento neste ano, o Fluminense cumpriu de forma brilhante seu jogo contra o Santo André. Não foi brilhante porque jogou um futebol de altíssimo nível todo o tempo, mas porque soube aliar eficiência e raça, dois pontos fundamentais no atual momento que passamos. E, para aqueles que dizem ser impossível uma seqüência de vitórias, eu lembro que nas partidas mais recentes, conseguimos uma vitória de virada contra o bom time do Avaí – o mesmo que empatou ontem em dois contra o Botafogo, num Engenhão abarrotado pelos alvinegros -, uma goleada contra o peruano Alianza, um empate contra o Corinthians e a vitória deste sábado, a primeira fora de casa pelo campeonato brasileiro. A derrota para o Flamengo foi um resultado normal. Por mais que a situação seja drástica em termos matemáticos, nossa campanha recente é de time de briga. E, se tudo correr bem, passamos a contar com um reforço especial de alto nível: Fred.

A semana passada foi marcada por suspeitas de que o artilheiro mineiro, jogador do porte de seleção brasileira, estivesse de “corpo mole” tendo em vista sua dificuldade em retornar aos gramados, após contusão seríssima. Mais ainda: teria sido visto em aulas de surfe, colocando o Fluminense em segundo plano. Seja lá o que tenha acontecido, uma coisa é clara: Fred, em campo, acertando ou não, é dotado de disposição e raça absolutas. Jamais vestiu a camisa Tricolor para jogar de forma apática, desinteressado. E mostrou isso mais uma vez, contra o Santo André. Contra tudo o que se esperava, Fred entrou em campo, jogou praticamente a partida inteira e fez a diferença.

Quando o jogo começou, cedo se via que era um outro Fluminense em campo, bem diferente do que os números da última colocação no campeonato apresentam: um time vibrante, veloz, com forte marcação e boa saída para o ataque. Na defesa, o esquema com três zagueiros funcionou muito bem. Ainda assim, enfrentar um jogador do talento de Marcelinho, mesmo veterano, é sempre complicado; o craque chutou e cruzou várias vezes para o gol de Rafael que, de forma eficiente, nos tranqüilizou com defesas seguríssimas e uma, fantástica, ao evitar gol feito no canto esquerdo. Por mais que precisássemos desesperadamente da vitória, era possível ver que as coisas caminhavam bem; havia uma postura correta em campo de nossa parte. Ali não era um reles time de lanterna e rebaixado.

Nos primeiros vinte minutos, já tínhamos dado alguns tímidos sinais de ameaça ao goleiro Neneca. Foi o tempo que bastou. O jovem Alan, o melhor chutador dos garotos recém-formados nas divisões de base, tomou uma bola na intermediária dos paulistas, limpou e chutou, como costuma fazer. Um golaço. Um grande golaço, com bola no ângulo esquerdo, indefensável. E o golaço redime: um time que o marca pode tomar as rédeas de uma partida e até mesmo inverter uma situação francamente desfavorável. Era o gol que o Fluminense precisava para marcar posição na partida e, finalmente, tentar a primeira vitória fora de casa na competição. O golaço redime, e foi o que sucedeu: o Fluminense passou a dar as cartas na partida. Nossa principal preocupação era a de não sofrer o empate, fato que tem se repetido muitas vezes na competição e que, por conta disso, tem feito com que nos encolhamos absurdamente. Dessa vez, tinha de ser diferente. E foi: numa jogada velocíssima de Dieguinho pela esquerda do ataque, aconteceu um pênalti a nosso favor, cometido pelo também veterano Gustavo Nery, ressentido com nossa casa. Fred deu a paradinha, colocou no canto esquerdo e, pela primeira vez em meses, o Fluminense desceu realmente tranqüilo para o vestiário num intervalo. O golaço de Alan, a segurança de Rafael e Digão, a fúria ofensiva de Dieguinho, a experiência e o talento de Fred não deixam mentir: era outro Fluminense.

No segundo tempo, cometemos o engano tradicional do recuo excessivo, quando poderíamos muito bem ter ganhado espaço à frente para o definitivo gol da vitória. Isso deu força ao Santo André que, também desesperado, veio para a frente em busca da reação. O talento de Marcelinho imperava em campo, obrigando Rafael a intervenções sucessivas. Recuamos demais, além da conta e eles marcaram um gol de cabeça aos quinze minutos do segundo tempo, com o jogador Camilo. Imaginem se estivéssemos apenas com um gol no placar: seria o terror. Contudo, a vantagem ainda era nossa e, na meia hora seguinte, coadjuvado por boas atuações de vários jogadores nossos, Fred mostrou a que veio, embora ainda longe da forma ideal. Pedia a bola para si, cavava faltas a todo instante, valorizava a posse de bola no ataque – algo que o Fluminense tinha muita dificuldade em fazer nas vitórias que deixou escapar recentemente. Dessa forma, tomamos o gol, mas não perdemos as rédeas da partida. O Santo André, cansado, tendo em vista a alta média de idade de seu elenco, fraquejou, enquanto mantivemos a pegada até o fim do jogo. Pouco antes disso, Fred deixou o campo em boa condição, para a entrada de Adeílson. Antes, Marquinho tinha entrado no lugar de Alan, para melhorar o poder de marcação.

E o Fluminense venceu. Fora de casa. E Fred venceu. Mostrou que está de volta, com muita vontade e sendo capaz de decidir a nosso favor.

Na verdade, a situação ainda é muitíssimo grave. Entretanto, a atuação do time numa difícil partida o credencia a buscar novas vitórias. Dentro das expectativas atuais do futebol brasileiro, fizemos um bom jogo. Conquistamos mais três pontos fundamentais.

Ainda é muito cedo, mas desconfio que, se conseguirmos fazer três partidas do mesmo nível seguidamente nas próximas rodadas, com três vitórias simples, o cenário muda de figura: faltariam seis jogos e o Fluminense precisaria de onze pontos. Seria muito; porém, haveria a nossa ascensão. E quando ascendemos, o que cabe aos adversários é sair da frente, mesmo que esteja em jogo uma virada muito difícil como a de agora.

Muito difícil. Muitíssimo. Mas não impossível.

Não podemos mais falhar.

E, de forma muito tênue, se pode enxergar uma melhora. Com mais esta semana de treinos, vem à frente o poderoso Internacional, que empatou com o mediano Atlético Paranaense ontem.

Jogando como sábado, com raça e aplicação, não é impossível vencermos.


Paulo-Roberto Andel, 13/10/2009

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