Thursday, February 04, 2010

FLUMINENSE 3 X 5 FLAMENGO (31/01/2010)




Uma noite para se esquecer (01/02/2010)

Para os nossos torcedores que estiveram ontem no Maracanã e puderam comparar o primeiro e o segundo tempos de nossa atuação no Fla-Flu, computar o resultado final chega a ser inacreditável, tendo nossa até então invicta defesa tomado cinco gols. Uma verdadeira aberração. Como pôde o time que promoveu um maravilhoso espetáculo na primeira etapa ser derrotado de forma tão acachapante no segundo? As razões podem ser muitas, mas a maior delas é definitiva: o Fla-Flu não permite vacilo. O Fla-Flu não permite cochilo ou descanso – é o jogo que nunca termina. O time que estiver com vantagem e não souber consolidá-la está perdido. Foi o que aconteceu. O Tricolor foi senhor absoluto do primeiro tempo e, a rigor, cometeu apenas um erro, no pênalti infantil de Diguinho em cima de Juan que resultou no primeiro gol da Gávea; contudo, logo a seguir Cássio marcou nosso terceiro tento em quarenta e cinco minutos, o que fez os flamengos temerem pelo pior. Talvez tenham até cogitado remover algumas faixas enlameadas de prepotência, penduradas nas grades das arquibancadas: afinal, falar de hegemonia com aquele baile do primeiro tempo pareceria ridículo, quase tão ridículo quanto um tricampeonato conquistado em dois anos. Também não quero entrar no mérito da Libertadores: chegamos a uma grande final e a perdemos no detalhe, com uma campanha digna de qualquer campeão da grande competição, sem contar com a benesse da ausência de times argentinos e uruguaios. Voltaremos à América.

Muitas vezes, um time vence o outro num Fla-Flu com sobras no marcador, mas isso não quer dizer necessariamente um predomínio do vencedor sobre o derrotado. Trata-se das chances aproveitadas, de não vacilar em lances capitais. Ontem, no primeiro tempo, nós mesmos ficamos assustados. Nossa atuação na fase inicial superou todas as expectativas, ainda mais porque nossa referência no ataque, Fred, ficou de fora da partida por contusão. E o fato é que o Fluminense fez três gols e foi pouco, muito pouco, diante das chances de gol perdidas. Com nosso craque em campo, no ataque, seis a um no primeiro tempo teria sido o justo e razoável, mesmo que Alan tenha feito um belo gol no começo. Os gols feitos por Conca, em bela cobrança de tiro penal, e Cássio em rebatida na área, de certa forma, demonstram que o nosso ataque ficou devendo. A enorme massa flamenga sentiu isso: estava amuada, contida, quase uma multidão silenciosa nas arquibancadas do Mário Filho. O fato é que fizemos uma excelente partida no primeiro tempo, com muita aplicação e força física diante do calor arábico, mas dois gols de vantagem num Fla-Flu constituem apenas uma vantagem ínfima. E, somando as duas etapas, o tempo em que estivemos com sobra de gols na frente foi ínfimo. O Flamengo não chutou contra nosso gol, exceto no pênalti; não ameaçou, não agrediu. Fomos soberanos, mas cometemos um erro capital – o de dar uma segunda chance ao maior adversário. O primeiro gol deles já tinha lhes servido de alento e, se não tivéssemos feito logo em seguida o terceiro gol, talvez o resultado final não tivesse sido tão acachapante como aconteceu: seria um segundo tempo iniciado com o Fluminense de faróis de milha acesos. Não foi o que aconteceu. Jogamos um grande primeiro tempo, mas o futebol não é de quarenta e cinco minutos somente.

Quando veio a etapa final, era evidente que os flamengos viriam para o tudo ou nada: era um Fla-Flu, já estava três a um para nós e, em caso de mais um gol Tricolor, a goleada se tornaria um fato inevitável. Era preciso ter toda a atenção do mundo nos primeiros minutos, quando eles atacariam a favor de sua torcida e buscariam toda a pressão possível. Além do mais, era quase impossível que um grande time jogasse tão mal dois tempos seguidos. Não tivemos o cuidado necessário e o jogo virou.

O Fla-Flu não permite vacilo. Em questão de três minutos, levamos uma bola na trave e dois gols. Mais do que o jogo estar empatado tão rapidamente, é claro que a questão psicológica pesou muito: quando você está em boa vantagem e a cede, a tendência é de uma virada e não de uma reação tua. A massa flamenga explodiu com o empate e, para os atentos, ficou claro que a virada era questão de tempo. Nosso time, em poucos minutos, já estava completamente extenuado pela vibração do primeiro tempo, e não seria capaz de conter a velocidade dos flamengos, liderados por seu ataque e pela emoção de sua torcida. Os gols que decidiram nossa derrota foram marcados a dez minutos do fim, mas muito antes disso era visível a diminuição do Fluminense numa partida que tinha sido tão sua, tão dominada, mas foi jogada fora por detalhe. A rigor, a expulsão do zagueiro Álvaro não fez a menor diferença: parecia que a Gávea tinha quinze em campo contra oito nossos. No Fla-Flu é assim: não se mede a supremacia apenas por estatísticas pontuais ou números somente. Veja o nosso caso passado: ganhamos o centenário com oito em campo, contra dez. Voltando ao placar, o gol derradeiro de Adriano ilustra bem a situação: arrancou livre, de antes do meio de campo, e ficou sozinho contra Rafael sem que ninguém o ameaçasse: nosso time, desesperado e sem a menor condição de reação física, pediu um impedimento sem o menor cabimento. E o que parecia ser nosso fugiu por entra as nuvens. Tivemos tudo para impor uma severa goleada no primeiro tempo e não conseguimos; no segundo tempo, veio o segundo ato e a reação heróica dos flamengos saraivou nossas redes sem o menor sinal de piedade.

Menos mal que tenha sido agora. Há tempo para juntar os cacos, repensar e forjar os devidos cuidados para a fase final da Guanabara. Temos dois jogos para decidirmos nossa classificação e, feito isso, lutar nas semifinais. A Gávea se tornou a grande favorita, o que não é novidade em sessenta anos de mídia impressa nacional. As faixas da arrogância continuarão estendidas nas arquibancadas deles. Acho que ainda é cedo para se festejar: não podemos perder o foco da competição, precisamos realinhar as coisas e, mais do que isso, nosso grande Fred estará de volta em pouco tempo. Se tivermos a chance de encontrar os flamengos na final da Guanabara, não precisamos de goleadas estrambóticas como a que levamos hoje, ou a que deixamos de dar hoje; não precisamos de impérios e outras megalomanias. Basta o um a zero, e tudo o que foi sofrido ontem terá sido vingado com a doçura rascante de um vinho.

Enganam-se os fanfarrões. Quem espera sempre alcança.

Recordar é viver. Nada está perdido e nenhum campeão foi decretado. Pode ser 1959 ou 1964, ainda não sabemos. Aguardemos os próximos actos.


Paulo-Roberto Andel

1 comment:

Lau Milesi said...

Paulinho esse placar foi todo em função de falta de "foco' no jogo. Fizeram os primeiros e se empolgaram.[rs]Estou imitando uns comentaristas esportivos que falam o óbvio.[rsrs]
Neeeeeense.

Beijos