Tuesday, April 27, 2010

FLUMINENSE 3 X 2 PORTUGUESA (22/04/2010)


Por pouco (23/04/2010)

Caros amigos, veio a classificação. A duras, duríssimas penas, como se sabe, mas conseguimos. Assim, o Fluminense está entre os oito postulantes ao título da Copa do Brasil.

Poderia ter sido um jogo mais fácil, muito mais fácil se o Fluminense conseguisse manter em campo a estabilidade entre os dois tempos de jogo. Em muitos casos neste ano, fizemos ótimos primeiros tempos e, após os intervalos, nosso time caiu drasticamente de produção. O jogo de ontem contra a Portuguesa foi exatamente desta forma: um primeiro tempo com direito a golaços, jogadas primorosas e três a zero antes da meia-hora inicial, dando a entender que o resto seria fácil de administrar. Depois do intervalo, o time Tricolor caiu numa tal pasmaceira que, para muitos, houve o sério risco da virada da Fabulosa em pleno Maracanã, o que teria sido um desastre capaz de inviabilizar o resto de nosso ano. A Portuguesa fez dois gols, brigou, mas felizmente era tarde demais para a vitória. Passamos desta fase como um aluno que passa de ano na recuperação: é preciso melhorar. Muito. Além disso, pela primeira vez sem Cuca, demitido dias antes e substituído interinamente por Mário, treinador da base e craque que tive a honra de ver com a camisa dez no monumental time campeão de 1980. Aproveito a oportunidade para agradecer dignamente a Cuca: por mais que o Fluminense não estivesse desempenhando um bom papel nesta temporada, a fantástica jornada do fim do ano passado jamais será esquecida pelos Tricolores. Jamais! Éramos a crosta interna do fundo do poço, massacrados dia e noite pela mídia esportiva, os clowns do futebol brasileiro – e Cuca, junto a Fred, Conca e mais todo o time que passou a ser chamado de “guerreiros”, conseguiu uma proeza histórica: salvar o Fluminense de um descenso que já se tinha como certo, numa campanha que dificilmente será igualada por outra equipe, em condições semelhantes à nossa naquele momento, na história do futebol brasileiro. Se me coubesse opinar, eu jamais teria deixado o jovem Digão de fora da nossa zaga, assim como não autorizaria o empréstimo de Tartá. Porém, o saldo de Cuca é positivíssimo e isso ficou bem claro nas arquibancadas, quando foi saudado exemplarmente por nossa torcida.

O início do jogo foi fantástico. De cara, Fred abriu o marcador com bela finalização e mostrou presença ao se aproveitar da falha do goleiro luso ao se chocar com um defensor. O gol estava aberto, mas o artilheiro finalizou de chapa, no ângulo esquerdo. Mal o jogo começara e o Fluminense abria caminho para confirmar a classificação. Pouco tempo depois, em bela arrancada pela meia-esquerda, Alan ia fuzilar quando foi derrubado –e, logo em seguida, sacado por conta de uma apendicite que o levaria ao hospital e à sala de cirurgia. Fred não titubeou nem usou a paradinha: bateu como o craque que é, com força no alto, ângulo direito, sem a menor possibilidade de defesa para Fábio. Mais à frente, apesar de um impedimento já ter sido assinalado, novamente Fred executou uma belíssima finalização, em bicicleta que raspou o travessão da Portuguesa. Tudo dava conta de que teríamos uma noite tranqüila no Maracanã, ainda mais quando, a partir de um curioso cruzamento errado de Júlio César (sem ironias), a bola sobrou na linha de fundo, pela direita, para nosso Deus da Raça, Mariano. Fred, mais craque do que nunca, anteviu o passe e recuou da posição em que estava, deixando atônita a defesa comandada pelo tresloucado Domingos; recebeu o cruzamento e tocou rápido, rasteiro e forte, quase no meio do gol, levando muitos a crerem que o jogo tinha sido liquidado em termos de placar – impressão que foi reforçada com o que se viu até o fim da primeira etapa: o Fluminense tocando a bola com tranqüilidade diante da encolhida Portuguesa. De toda forma, cuidado era sempre preciso, ainda mais diante do bom time luso, comandado pelo estreante - e competente – Vadão.

“Finalmente, teremos um intervalo tranqüilo”, vaticinou o Presidente Sussekind a meu lado nas cadeiras azuis do Mário Filho. Assim foi. A intranqüilidade só veio quando o árbitro apitou o início do segundo tempo; melhor dizendo, na segunda metade da fase final. Antes disso, a Portuguesa não foi muito ameaçadora e nós tivemos algumas poucas chances até de ampliar o marcador. Aos poucos, a velocidade do nosso time feneceu, eles adiantaram a marcação, começamos a ter dificuldades na defesa, na saída de bola, na articulação; num dado momento, as coisas se inverteram a tal ponto que a Portuguesa parecia a mandante do jogo – ou seja, nem parecia Maracanã. E, a quinze minutos do fim, aconteceu o gol luso, numa rebatida nossa que sobrou para Luiz Ricardo livre, fuzilar Rafael no meio do gol. Aí, o caos se mostrou retumbante: além de sentirmos o golpe, imediatamente depois tomamos novo gol, em falta cobrada pelo experiente Paulo Sérgio, no canto direito de Rafael, que falhou no lance ao pular atrasado. Num estalar de dedos, a Portuguesa quase igualou um placar dificílimo e veio com tudo para cima. Para o ruim ficar pior, Darío Conca foi expulso ao receber o segundo cartão amarelo. A tensão foi enorme e o mal-estar na torcida aumentou quando, justamente na hora em que o argentino saiu e Wellington entraria em campo para valorizar a posse de bola no ataque, Mário, preocupadíssimo, mudou a substituição e colocou Diogo para amenizar a pressão em nossa defesa. O velho camisa dez fez o que lhe cabia, sem merecer as vaias que recebeu: pegou o time numa situação delicada e ali não era hora de muitas invenções. Brilhou a estrela vencedora de Mario, mais uma vez. Ainda sob pressão, aos trancos e barrancos, o Fluminense resistiu até o final da partida e o três a dois ratificou nossa classificação.

No final do jogo, o placar eletrônico dava conta de que o próximo adversário será o Grêmio, vencedor do confronto contra o Avai, na semana que vem. Uma pedreira das pedreiras, mas quem quer ser campeão da Copa do Brasil não pode escolher adversários. É lutar e lutar, vencer ou vencer, como nos ensinou o Presidente Horta. Temos sete dias de preparação, ainda sem sabermos se realmente contaremos com Muricy Ramalho no comando do Fluminense. Haja o que houver, estamos vivos e lutamos pelo título. Mas é preciso melhorar muito, tal como disse aqui noutro parágrafo. Muito. Será que 2007 está de volta, quando tropeçamos contra América de Natal, Bahia e mesmo o Figueirense para, na grande final, levantarmos a taça? Uma coisa é certa: o Fluminense não tem títulos de mão-beijada, antecipados pelos cronistas, louvados antes da hora. Tudo é difícil, tortuoso, mesmo quando tivemos excepcionais times, noutras ocasiões. Mais uma vez, o revés está à frente. Que sejamos capazes de mais uma superação digna da nossa centenária camisa.

Paulo-Roberto Andel

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