Wednesday, April 14, 2010

BOTAFOGO 3 X 2 FLUMINENSE (10/04/2010)


Hora de até-breve (12/04/2010)

O campeonato carioca acabou para nós. Estadual, se preferirem. Acabou com gosto amargo e imerecido para esta torcida fanática, empolgada e que não abandona o time nem em seus piores momentos, como se viu no ano passado. Fomos capazes de uma das maiores viradas em campo na história do futebol brasileiro para, em seguida, não mostrarmos força em decidir o título que mais vezes vencemos em nossa história. Maus sinais puderam ser vistos no Fla-Flu, quando sofremos uma goleada após termos feito o melhor primeiro tempo destes quatro meses de 2010. E contra o Vasco, se a partida não nos soava decisiva, era a hora de mostrar força contra um grande adversário. Restou-nos outra goleada.

E não acabou sábado, talvez. No outro domingo, o retrasado, vencemos o Macaé por três a um, numa partida em que estivemos bem somente na primeira etapa e fizemos dois gols. Nem fomos senhores absolutos dos primeiros quarenta e cinco minutos, pelo contrário: foi o time nortista quem começou dando as cartas no jogo e até nos pressionando, para depois reagirmos. O menino Alan fez um belo gol e foi o destaque. Everton também, em bela cabeçada encobrindo o goleiro macaense após bom cruzamento de Wellington. Algumas boas defesas de Rafael e mais não aconteceu. Foi preocupante a quantidade de faltas nas proximidades da nossa grande área; numa delas, ao fim do jogo, o Macaé descontou numa bela cobrança do veterano André Gomes. A partida transmitida pela televisão aberta, mais os velhos fatores já muito conhecidos, é um bom explicador para um Maracanã deserto, deserto – e o que dizer dos quarenta reais de ingresso? Alguns homens de imprensa dizem que o problema é a “carteirinha”, a carteira de estudante – e disso discordo com veemência. O Maracanã sempre foi cheio pelo público do trem; basta ver os gatos-pingados que saltam em Derby Club para uma partida deste campeonato. É um preço absurdo para qualquer torcedor. Então, o Fluminensne ratificou sua condição de postulante ao turno, a Taça do Rio, mas sem brilho, sem a pegada que marcou o que se convencionou chamar “time de guerreiros”. Foi um jogo que deu para o gasto, deu para as contas e só. Ao menos, parecia viva a chama de conquista, mesmo que nossos olhos tenham testemunhado mais uma vitória opaca. Depois, uma semana de treinos e a tentativa de chegar à batalha final.

Veio o grande jogo contra o Botafogo, ainda no mesmo Maracanã vazio, que não pode ser o deste jogo centenário. A televisão, burra, somente preocupada com os lucros, tem feito o velório do futebol. E começou mais um jogo decisivo com arquibancadas vazias. Ainda assim, os nossos foram o dobro de General Severiano. E o dobro suspirou angustiadamente quando, na primeira descida do ataque, aconteceu o mesmo padrão da partida contra o Macaé: falta. No cruzamento da direita, Loco Abreu quase se abaixou para cabecear, de longe, mas foi o suficiente para acertar o canto direito, bater Rafael e toda a nossa defesa. O Botafogo, mais tranqüilo por já estar na final, abria o marcador e nos causava o desânimo que tem sido recorrente nos últimos anos. Não fomos criados para perder. Nossa história não é a de derrotas. Mas os momentos decisivos recentes têm nos deixado a desejar.

Não foi o gol do Loco suficiente para nos abater completamente em campo, e prova disso é que o Fluminense, ainda que com o ritmo lento que tem pautado sua atuação neste ano, deu o contra-ataque, ameaçou o Botafogo várias vezes e, quando empatou na bela cabeçada de Fred após o cruzamento de Diguinho, frente à área, já deveria ter empatado antes. Além de finalizações perigosas, houve o pênalti que o artilheiro cobrou no travessão, para nosso desespero. Era visível que o melhor goleiro do Brasil hoje, Jefferson, não iria sair atabalhoadamente; Fred ia arriscar a tradicional paradinha, desistiu e acabou cobrando como nunca faz: no alto. A bola beijou o travessão e o Botafogo sorriu. Novo desânimo? Talvez. De toda forma, o Fluminense continuava superior em campo e empatou o jogo. Mais ainda: virou a partida num lindo gol também marcado por Fred, girando e batendo sem chance no canto direito depois do cruzamento de Alan. Até então, havia passado trinta e poucos minutos de jogo e, pode-se dizer, dali em diante, não fomos mais ao ataque até o fim do primeiro tempo. E, até o fim do jogo, só agrediríamos o Botafogo mais uma única vez, sem sucesso. Descemos para o vestiário vitoriosos, mas nada indicava que a segunda etapa seria fácil. E ela acabou sendo um desastre.

Quando o Botafogo voltou, não poderia ter tido outra postura que não buscar o ataque. Se tivéssemos velocidade, contra-ataques seriam ótimos, mas não era o caso. Voltamos burocraticamente, e não se ganha um jogo decisivo com burocracia. Nem era o caso de segurar o jogo: ainda era muito cedo para tal. Não é o caso de crucificar Alan, mas o gol perdido ao chutar a bola por cima do travessão quando ainda tínhamos a vantagem poderia mudar tudo. Não aconteceu. E então, em coisas que só acontecem ao Botafogo uma bola despretensiosamente cruzada na área sobrou para Fahel, caído, contra vários marcadores, e ele conseguiu dar um peteleco que mal passou a linha de gol, superando a todos e Rafael também. Numa jogada inesperada talvez até mesmo pelos botafoguenses, veio o empate.

Se estivéssemos numa boa jornada, talvez fosse possível buscar a vitória e a vaga para a final do turno. Não foi o caso. Nosso craque Conca produziu pouco; Fred, mesmo mostrando ser o grande matador, fraquejou no pênalti e não teve êxito em tabelas; o jovem Alan sentiu o peso de perder o gol, logo ele que tinha feito uma boa jornada no domingo anterior. Diguinho esteve bem, mas não é dos maiores ao passar e driblar. Julio César foi o Julio César: pouco acertou e foi substituído por Marquinho, numa troca já manjada pelos adversários. Mariano tinha raça, mas precisávamos de mais do que isso. A verdade é que não mostramos um futebol de campeões e nem mesmo a incrível validação do terceiro gol alvinegro, com direito a falta e impedimento no mesmo lance, pode servir de atenuante. Fomos mal, muito mal. Depois do três a dois, ainda havia meio tempo, mas ficou claro que o panorama da partida não ia mudar. E assim o campeonato acabou para nós este ano: em silêncio, em vazio e na certeza de que era possível ter feito mais. Nos grandes jogos, nos momentos decisivos, falhamos em todos. O futebol não perdoa isso.

Descontadas hipérboles em campo e sandices da arbitragem, o que mudou tanto da boa vitória que tivemos no turno, contra o Botafogo, para este jogo? Muito pouca coisa, exceto o fato de que os alvinegros vieram para este segundo tempo dispostos a matar ou morrer, enquanto entramos com uma apatia incompatível com a camisa Tricolor. Mais uma virada, mais uma eliminação, mais um adeus. Ou melhor, até breve: ainda temos a Copa do Brasil. E a certeza de que, para vencê-la, é preciso mudar para melhor, e muito.

Quem espera sempre alcança, esta é nossa reza.

Precisamos ser campeões de novo.


Paulo-Roberto Andel, 12/04/2010

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