Tuesday, March 30, 2010

MADUREIRA 1 X 3 FLUMINENSE; FLUMINENSE 0 X 3 VASCO



Entre as palmas, o tédio e a freguesia (29/03/2010)

Quando se esperava finalmente o start do Fluminense para a condição de candidato ao título carioca, o meio de semana nos deu esperanças e o domingo as destroçou impiedosamente, caros amigos.

A partida de quarta-feira passada foi muito bem vencida, ainda que tenha ocorrido a tradicional oscilação que temos apresentado em nossas atuações. Desta vez, entretanto, havia uma justificativa cabível: depois de uma excelente apresentação no primeiro tempo, praticamente liquidando o jogo com três a zero, com direito a mais um gol de Mariano, nosso deus da raça, era natural que o Fluminense minorasse o ritmo da partida, até porque a seguir viria o clássico contra o Vasco e, no campo, tínhamos vantagem numérica com a expulsão do veterano Edinho, zagueiro de Conselheiro Galvão, desde os últimos minutos da etapa inicial. Mesmo em banho-maria, ainda perdemos vários gols na etapa final, principalmente a partir da entrada de Wellington no ataque. Outra promessa foi a volta gradual do argentino Equi Gonzalez, jogador de ótimos recursos e que ainda não emplacou no time por forma física e contusões. No mais, a maestria tradicional de Conca e a marca de André Lima, que não tem o talento de Fred, mas é bom finalizador. O gol do Madureira pouco teve a ver com alguma falha nossa: um golaço num excelente chute de Bruno no ângulo, depois de driblar Mariano e Diguinho. Ressalto, contudo, que ambos têm crédito com a torcida. É do jogo, acontece. Prós e contras, uma partida digna das melhores deste anos, como foram contra Botafogo, Uberaba e o primeiro tempo de nossa inacreditável derrota para o Flamengo. Destaque negativo, apenas para a pouquíssima (e justificável) presença de público no estádio Raulino de Oliveira, o do Trabalhador: pela primeira vez em dezesseis anos, o Fluminense jogou no Rio de Janeiro para menos de mil pessoas. A última tinha sido numa virada de dois a um sobre a Portuguesa de Desportos, numa quarta à noite no Maracanã, com direito a dois gols de Djair. Um ano depois, se vale a superstição, vencemos o maior campeonato da história do Maracanã, maior até do que nosso título mundial em 1952. Quanto às justificativas de ausência dos torcedores, mais uma vez bato nas mesmas teclas que podem parecer até cansativas: horários exóticos, preços exorbitantes e uma estranha névoa no ar de favorecimento às redes transmissoras a cabo.

Com as credenciais de uma boa atuação, o Fluminense então entrou em campo para mais um clássico no Maracanã contra o Vasco, na condição de levissimamente favorito. Não se trata de desprezar o oponente histórico, mas sim de uma questão circunstancial: neste momento, temos jogadores de melhores recursos técnicos, tão somente isso. Todos sabemos que, nos clássicos, a principal marca é não haver favorito; contudo, neste momento, o Fluminense estaria numa melhor condição, até porque os cruzmaltinos vinham de duas derrotas acachapantes para Olaria e Americano e precisavam da vitória a todo custo, o que nos faria supor que buscariam o ataque e dariam espaços generosos. Antes do jogo, com arquibancadas vazias para a história dos times, a proporção de dois Tricolores para cada vascaíno parecia ser certo termômetro das expectativas em campo. Pois bem: todos os palpites dados neste parágrafo foram ao chão, como se nocauteados por Ali ou Tyson.

Primeiro, o Vasco não veio disposto ao ataque. Fechadíssimo em sua defesa, parecia querer golpear o Fluminense em contra-ataques, que foram bem poucos no primeiro tempo. Nosso ataque chegou a fazer algumas jogadas, mas repetiu-se o ciclo de alternâncias: “gastamos” nosso futebol no primeiro tempo contra o Madureira e a fonte escasseou de novo. Para não dizer que não fizemos nada na enfadonha etapa, Darío Conca cobrou uma ótima falta para boa defesa de Fernando Prass. Afora isso, o acontecimento mais impactante nas arquibancadas adveio do temor de minha amiga Marô, em fuga desenfreada por entre os degraus de concreto, com gritos impactantes: era o temor pela presença de uma violenta e agressiva barata, devidamente trucidada. O Fluminense jogava por um empate e não se mostrava disposto a igualar a Gávea na pontuação. Era um jogo com cara de empate, e assim encerrou o primeiro ciclo.

Para meu espanto, na volta do vestiário, o Fluminense praticou não somente um futebol horroroso. Em mais de novecentos jogos testemunhando o Tricolor no estádio, creio ter visto uma de suas piores atuações. Nada mais funcionou, tudo ficou bem pior, muito pior do que o apresentado noutras partidas. Desconte-se a garra de Mariano, tudo deu errado: até nosso craque Conca desapareceu momentaneamente. E o Vasco, que vinha tímido, temeroso, foi para a frente e conseguiu seu gol numa falha coletiva nossa: o escanteio batido da direita chegou ao meio da área, na canela de Thiago Martinelli e, dali, para o meio do gol. Com tem acontecido em partidas mais recentes, o Vasco se supera diante do manto Tricolor e, quando abriram o placar, chegou-se a temer pelo pior, uma goleada retumbante. Não bastasse a confusão em campo, até Cuca se auto-fundiu: tirou Cássio (até compreensivelmente, tendo em vista que toda hora virava bolas na frente dos atacantes vascaínos) mas deixou Leandro Euzébio em campo, com cartão amarelo. Minutos depois, foi expulso. Com um a menos, Everton de lateral-esquerdo, Equi no meio falhando (ao contrário do que faz normalmente), Alan perdendo um gol incrível, Wellington entrando apagadamente e Conca sem produzir, o Fluminense tomou o caminho de um desastre. Ainda assim, os três a zero basicamente foram produzidos a sete minutos do fim do jogo: um gol de Dodô, livre, tocando por entre as pernas de Rafael; outro de Fagner, em belo chute da diagonal direita, livre, acertando o ângulo direito após passe do cansadíssimo e esfalfante Carlos Alberto, que mesmo assim conduziu a bola livre por vinte ou trinta metros sem qualquer sinal de combatividade. Em suma, depois de tomar o primeiro gol, o Tricolor passou a ser um time expectador: apenas via o Vasco em campo, e nada mais, parecendo até preguiçoso, acomodado, inexplicavelmente indiferente com o que se passava. Assim, o que poderia ter sido uma vitória que atestasse nossa capacidade de lutar pelo título se transformou em uma derrota que, mesmo sem ser capaz de nos tirar da disputa do turno, dado que continuamos a um empate da classificação e enfrentaremos o Macaé no domingo, provavelmente no Maracanã, ergue um enorme ponto de interrogação no que poderemos esperar daqui para diante no campeonato carioca. Nosso principal jogador dificilmente voltará em condições para os jogos decisivos. Em momentos culminantes deste ano, fomos literalmente atropelados. Na camisa, sempre acredito. Na força de nossa torcida, sempre, sempre. Entretanto, em qual time do Fluminense eu devo acreditar? O que dominou o Botafogo? O que se mostrou guerreiro contra o Uberaba? Ou o que não consegue vencer o Vasco e mais, é trucidado por ele enquanto anda descompromissadamente em campo?

A pergunta me incomoda.

Paulo-Roberto Andel, 29/03/2010

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