Thursday, June 10, 2010

FLUMINENSE 2 X 1 VITÓRIA (02/06/2010)



Em cima da pinta (03/06/2010)

Mais uma quarta-feira, mais um horário exótico de jogo no Maracanã, mais um adversário rubro-negro. Mais uma vitória do Fluminense. Mais do mesmo? Nem tanto. O Tricolor mostrou mais uma vez que segue o caminho dos triunfos; entretanto, vencer o Vitória ontem não foi como nas duas partidas anteriores, quando os adversários foram completamente dominados. E os três pontos foram colocados sob sério risco a menos de dez minutos do final da partida, de forma deveras conhecida, como veremos a seguir. De toda forma, o momento é muito bom e depois de muito, mas muito tempo, conseguimos três vitórias seguidas no campeonato brasileiro sem a pressão da proximidade às últimas colocações. Ainda é muito cedo, mas as três vitórias seguidas oferecem tranqüilidade ao Fluminense, perto da interrupção do certame em função da Copa do Mundo de 2010.

Mário Filho fica a poucos quilômetros do centro da cidade. Sete e meia da noite é hora de total engarrafamento nas ruas, mais vagões de Supervia e Metrô completamente entupidos. Era véspera do feriado de Corpus Christi. Nada disso foi capaz de impedir a nossa querida torcida. Quase trinta mil pessoas no Maracanã em tais circunstâncias, num momento mais do que propício: números órfãos de consistência – e publicados pelos comentaristas carentes de consistência - apontaram a torcida do Fluminense como dez vezes menor em tamanho do que alguns de seus principais rivais. É abominável quando querem fazer da Estatística, ciência admirável e pilar da sociedade moderna, um referencial para conclusões que só podem ser levadas a sério se assumirem a condição humorística – e, por isso mesmo, finalizadas com uma sonora gargalhada. Aos que não compartilham de minha opinião, faço um breve comentário: quando um torcedor na rua é indagado sobre sua preferência clubística, existe alguma investigação para se saber se ele de fato acompanha ou time de seu coração ou não? Os que duvidam dos milhões de Tricolores estão condenados ao entrevamento nos castelos da mediocridade. Poderia aqui discutir sobre os conceitos de tecnologia das amostragens realizadas para estes processos, os intervalos de confiança, a rejeição de hipóteses, mas não é o que objetivo aqui. Falemos do Tricolor e sua grande vitória, superando até mesmo alguma própria - e gritante – falha individual.

O Fluminense, como se esperava, deus as cartas no jogo e dominou o primeiro tempo da partida, contra um Vitória claramente interessado em se defender, ainda mais porque tinha seis desfalques em sua equipe. Com esse panorama, um empate fora de casa era muito bem-visto. Mas não demorou muito para que abríssemos o marcador: Fred, sempre ele, livre, tocou para o gol vazio após espetacular defesa do goleiro Vinicius, após chute de Rodriguinho. Foi o melhor lance de nosso atacante baixinho enquanto esteve em campo: ao contrário de jogos anteriores, falhava muito na hora do penúltimo toque para adentrar a área e isso diminuía nossas finalizações. Mesmo assim, foi um lutador em campo. Quase fez um gol de cabeça no comecinho do jogo, mas perdeu a chance. O Fluminense estava bem postado na marcação e isso não permitiu maiores chances de gol para os baianos que, por sinal, abusaram de lances violentos em campo: basta dizer que Rafael deixou o campo após levar um chute na cabeça de Lenilson, completamente desnecessário e equivocadamente punido com o cartão amarelo – o certo seria a expulsão imediata, mas este não é o forte do árbitro Seneme. E Darío Conca foi literalmente caçado em campo com sucessivas faltas num rodízio de jogadores rubro-negros. Contudo, ninguém foi capaz de impedir o indescritível chapéu de calcanhar que o argentino aplicou num jogador do Vitória numa espetacular arrancada para o ataque, pela direita. E a bola que acertou na trave esquerda, com toda a categoria? Às vésperas da Copa do Mundo, fica cada vez mais difícil de entender porque Conca jamais foi convocado para a seleção Argentina – é um dos melhores jogadores em atividade no Brasil, o que resume a questão. Importante também ressaltar a ótima atuação do lateral Carlinhos, fundamental na atual fase Tricolor. Uma excelente opção de contra-ataque, cruzamentos sempre perigosos, velocidade. Há tempos, tempos mesmo, que a lateral-esquerda das Laranjeiras não está tão bem ocupada, e que isso não seja apenas um momento, mas uma realidade. Mariano acertou um chute de curva, fortíssimo, perto da trave direita de Vinicius. E Fred? Está fora de forma, é verdade, mas é craque: prende a marcação, tenta jogadas difíceis e é premiado por seu faro de artilheiro nato, vide o jogo de domingo no Mineirão e o de ontem. Lembro que a exceção de perigo no ataque do Vitória foi uma cabeçada perdida por Egídio, completamente livre.

Confiante na equipe, mas também cauteloso por já ter feito uma substituição inesperada, Muricy não mexeu na equipe durante o intervalo. O Fluminense não voltou mal, mas também não apresentou o mesmo ímpeto das partidas anteriores, o que preocupava a todos. Principalmente porque Conca estava desgastado e, claro, cansado de apanhar sem que o Vitória levasse mais do que alguns cartões amarelos. Aos poucos, vieram as mudanças restantes: Alan para substituir o cansado Rodriguinho; Digão, para guarnecer a zaga e segurar um jogo difícil de placar magro. Cedemos espaços desnecessários ao Vitória, que tímida; mas pontualmente tentava conseguir um gol. Tudo parecia bem, até que senti um mal-estar: num ataque dos baianos, que poderia ser facilmente interrompido com uma defesa, o goleiro Fernando, que substituíra Rafael, resolveu fazer a velha graça com os pés, dando dois dribles para sair jogando e, dessa feita, conseguir os aplausos de boa parte da torcida – e conseguiu. Muitos têm simpatia pelo goleiro, dado que é assumidamente nosso torcedor e está há anos no clube. Porém, a história e os dados explicam a sua condição atual de reserva. Como diz o próprio Muricy, a bola pune. Numa estranha atmosfera, o Vitória a partir daquele lance passou a jogar mais perto da área Tricolor. Renan Oliveira perdeu um gol incrível, finalizando pela diagonal direita. E veio o empate, a poucos minutos do fim, logo depois de Alan também ter perdido uma boa chance que definiria a partida, chutando em cima da zaga na marca do pênalti: no contra-ataque, uma falta na esquerda do ataque do Vitória; o cruzamento e a cabeçada firme – mas não forte – de Jonas, entre o meio do gol e o canto direito. Como já aconteceu de forma mais espalhafatosa no passado, em gols feitos por Juan do Flamengo, Chicão do Corinthians e alguém do São Caetano cujo nome não sei, Fernando se encarregou do resto e o silêncio tomou conta do Maracanã. Nas cadeiras, vociferei: menos por mais uma falha do goleiro, mais pela vitória que escorria de nossas mãos naquele momento. Felizmente, logo em seguida a raça de Alan fez jus aos eternos versos do hino: quem espera, sempre alcança. O cruzamento em curva de Mariano, a finalização do jovem atacante, o rebote do goleiro, a tranqüilidade de Alan num chute que não saiu perfeito, a bola na trave e, finalmente, nas redes. Uma vitória que poderia ser tranqüila, mas teve ares de completa tensão. Uma vitória com a raça do Tricolor. Uma vitória que tem a cara de outras conquistas de Muricy Ramalho. Uma vitória que nos coloca novamente entre os primeiros do campeonato brasileiro.

Agora, as luzes se apagam. Vem a Copa do Mundo. O Maracanã deixará um mar de saudades. Estou feliz, mas alguma coisa me faz lembrar de São Paulo Victor.


Paulo-Roberto Andel

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