Tuesday, June 01, 2010

ATLÉTICO MG 1 X 3 FLUMINENSE (30/05/2010)


Para desafiar paradigmas (31/05/2010)


Futebol muda de cor em um detalhe. Um sopro. Uma pequena nuance. Dia desses, os idiotas da objetividade queriam impor ao Fluminense o sabor de fracasso: eliminado da Copa do Brasil precocemente, mal tendo tempo de se ver o trabalho de Muricy Ramalho como o novo treinador das Laranjeiras. Foram três derrotas: duas para o Grêmio e a estréia claudicante contra o Ceará. Então, como sempre fazem, os tendenciosos da mídia se dispuseram a ver a crise onde havia começo, o desastre onde seria plantado progresso. Alguns treinos depois, era visível que, mesmo ainda distante de um ótimo futebol, o time do Fluminense já tomava as feições de seu comandante: revezamentos nas alas, rapidez na saída para o ataque e marcação implacável atrás da linha da bola a todo instante. Veio a vitória contra o Goianiense. Perdemos para o Corinthians, mas fomos muito melhores em campo, além da desastrosa arbitragem de Gaciba. O time mostrava um caminho de evolução; então, veio a Gávea e os multicampeões foram completamente dominados pelas Laranjeiras. Ontem, é bem provável que o Fluminense tenha dito a que veio: venceu o Atlético Mineiro, de Vanderlei Luxemburgo, por três a um, numa atuação maiúscula em todos os sentidos – a melhor do ano. Fora das quatro linhas, a tônica do jogo foi a do nosso treinador surpreendentemente calmo, ao contrário do alvinegro, que reclamava e esbravejava sem fim pelo domínio exercido contra seu time. Chegamos em junho; tal como na quarta-feira passada, o Fluminense venceu e convenceu, desafiando mais um paradigma. Dois campeões estaduais derrotados inapelavelmente pela nossa centenária camisa. Que venha o Santos!

Meus amigos, o maravilhoso estádio do Mineirão tem nos proporcionado boas surpresas nos últimos anos. No gramado da Pampulha, vimos o golaço de Lenny nos três a dois contra o Cruzeiro. O golaço de Petkovic nos inesquecíveis seis a dois. Ano passado, a espetacular virada comandada por Fred impôs nova derrota ao time celeste: um três a dois histórico, que marcou o início da mais fulminante arrancada que se tem notícia de um time contra o descenso, na história do futebol brasileiro (e talvez mundial). Ontem, a cereja no bolo. Uma virada em alto nível contra o campeão mineiro em alto nível, inquestionável e com todos os méritos possíveis, sendo que não derrotávamos o Atlético em seus domínios há cinco anos. Contudo, nem tudo pareceu mar de rosas: mal foi dada a saída e o Fluminense era refém do placar. Muriqui, com o gol vazio, empurrou a bola para as redes após belo cruzamento de Coelho pela direita da área, em alta velocidade.

Acontece que, a cada nova partida, o Fluminense vai tomando a personalidade impetuosa de Muricy Ramalho, treinador dos mais vitoriosos na história recente do futebol brasileiro. Quem disse que o Fluminense iria se acovardar ou desesperar com a súbita desvantagem inicial? Longe disso: aos poucos, foi tomando as ações em campo. A combatividade foi plena. O ataque foi uma meta incessantemente buscada. A bola estava em grande parte do tempo em nossos pés. Faltava o gol, e tivemos chances: Fred, ainda debilitado e sem ritmo, não conseguia as finalizações ideais, por mais que tentasse, principalmente em jogadas de cabeça. Sendo o craque que é, só nos restava paciência. Quem espera sempre alcança. E o primeiro tempo, bem movimentado, terminou com o nosso predomínio, ainda que estivéssemos perdendo até então. Tivemos mais escanteios a favor, mais posse de bola, mais finalizações. Conca tentou e levou perigo nas bolas paradas, Carlinhos jogou muito bem mais uma vez, revezando com Marquinho, a zaga assentou depois da falha inicial; a destoar mesmo, apenas Rodriguinho, que seria substituído por Alan – e a história do jogo iria mudar, e muito.

A segunda etapa terminou com a primeira: o Fluminense tendo o domínio das ações, fato raro em se tratando de um Atlético dentro do Mineirão. Vanderlei gesticulava muito, enquanto Muricy era a imagem da serenidade. Tudo realmente diferente. Mas... quem espera sempre alcança. Mais uma vez, os versos eternos de nosso hino foram honrados, para desespero dos derrotados no Maracanã de quarta passada. O Fluminense tanto insistiu que conseguiu. Lá estava o velho Gum e sua cabeçada mortífera no canto direito, sem defesa para Marcelo. E imediatamente lá estava o velho Alan com seus menos de vinte anos a partir pela direita e fuzilar o goleiro Marcelo com um chute quase da linha de fundo, pela direita. Uma virada apoteótica em dois minutos. Deixo claro que só os que não acompanham o Fluminense podem ter acreditado numa, digamos, falácia de que Alan teria errado o cruzamento em vez de chutar. De todos os nossos atacantes formados em Xerém, é nosso melhor finalizador. Já fez vários gols de fora da área inclusive em clássicos. Voltando ao time depois da cirurgia de apêndice, a mesma que também fez Fred, era natural que, a qualquer momento, voltasse a marcar. Marcelo pode ter sido infeliz em ter sido surpreendido por esperar um cruzamento. O fato é que Alan é artilheiro e fez o que dele esperamos.

Mais atônito ainda com a virada do que antes, quando era apenas dominado, o Atlético naturalmente tentou buscar o tempo perdido e reagir no placar, aumentando seu campo ofensivo. E foi ameaçador, num lance capital da partida, quando Diego Tardelli, livre, perdeu o gol na pequena área, chutando por cima do travessão após cruzamento da esquerda, com Rafael já batido. A bola não entrou e ali ficou sacramentada a expressiva vitória do Fluminense. Faltava apenas o toque final, e ele veio nos acréscimos: uma maravilhada tabelinha entre Fred e Alan, até que o craque adentrou área e fuzilou sem chance o canto esquerdo de Marcelo. O Mineirão não se calou, contudo: nossos fanáticos lá estavam a berrar pelo time de guerreiros que, mais uma vez, mostrou força e condições para brigar este ano na parte de cima da tabela, num jogo limpo e de pouquíssimas faltas.

Mais uma vez, fica claro que a empáfia e o deslumbramento não são marcas da torcida do Fluminense. Ainda falta muita coisa para ser ajustada, reforços irão chegar e teremos um intervalo por conta da Copa do Mundo, um mês para acertar o time. Meu palpite era o de que, estando entre o oitavo e o décimo lugares, a subida gradual poderia acontecer a partir de julho. Tudo ainda é muito novo e efêmero, mas hoje o Fluminense é o terceiro colocado na tabela, mesmo com tão pouco tempo de nova direção. Faltam dois jogos para a pausa: o Vitória, na despedida do Maracanã - que entrará em obras – e o Avaí, em Santa Catarina. Não serão partidas fáceis, mas se conseguirmos quatro pontos, tudo leva a crer que o Fluminense recomeçará o campeonato com um dos times da ponta da tabela, na parte alta – bem distante de cenários de outros anos. Hoje, sem dúvida, nossa esperança é concreta. Mais do que vencer, o Fluminense tem jogado bem e, mesmo com a já tradicional indiferença da imprensa esportiva local, pode vir a ser um dos postulantes ao título. Nada será fácil e nossa história demonstra isso; contudo, quem espera sempre alcança. Estamos esperando. O amanhã será em breve.


Paulo-Roberto Andel

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