Friday, May 28, 2010

FLUMINENSE 2 X 1 FLAMENGO (26/05/2010)


Que “tabu”? (27/05/2010)

Haja o que houver, quando nasce um Fla-Flu as multidões se movimentam, mesmo que distantes de um Maracanã em horário de rush no meio de semana. Assim foi o jogo de ontem e, a se julgar o exótico horário da partida, estabelecido contra os interesses dos que freqüentam regularmente o estádio, vinte mil pessoas no Mário Filho formam um conjunto bem razoável em termos de presença. O Fluminense enfrentou seu grande adversário, dominou a partida por completo e conseguiu sua segunda vitória no campeonato brasileiro, com absoluta justiça. Mais do que isso, destruiu um “tabu” criado pela imprensa “oficial” do futebol carioca, o de não vencer clássicos recentemente – a maior parte deles terminou com empates. O resultado final, de dois a um, foi até pouco diante da completa superioridade Tricolor durante todo o match.

Antes da bola rolar, rumores davam conta de que nosso matador Fred poderia não estar em campo, devido a dores que sentira, mas que não foram ratificadas como problema pelos exames médicos. O artilheiro veio a campo, parecia visivelmente limitado do ponto de vista físico, mas, dado seu talento, é um problema para qualquer defesa adversária mesmo que esteja com as duas pernas imobilizadas. Foi dele o primeiro chute a gol, com cerca de trinta segundos. A bola foi longe, mas foi o cartão de visitas do que seria o jogo em seu primeiro tempo: o Fluminense tomando de assalto a intermediária da Gávea, praticamente sem réplicas. A distribuição em campo do time lembrou muito a do segundo tempo contra o Corinthians, quando perdemos mais jogamos muito melhor do que os mosqueteiros.

Volto a falar do público. Como tinha dito, tendo ocorrido a aberração do horário de sete e meia da noite, naturalmente seria impossível encher o Maracanã como ele merece. Por alguns instantes, voltei no tempo. O velho jogo de 1979, quando Paulo Goulart, monumental, defendeu o penal do camisa dez – mais à frente, o apoteótico drible de Cristóvão em Manguito, deixando o parrudo zagueiro da Gávea no chão, para depois fuzilar Cantarelli. Um três a zero de claudicar oceanos. Bem queria voltar no tempo e rever aquele jogo; dada a impossibilidade, nada melhor do que ver uma grande vitória no hoje, no agora. E a noite de ontem me concedeu um brinde à infância, como em tantas outras vezes, só que com a estranheza de ver os flamengos em bem menor número, calados, quase mudos diante de um time que não fez jus à sua tradição no clássico, dada sua total falta de reação frente à força do Tricolor.

Fred tinha chutado a primeira bola para fora; porém, mesmo longe das condições idéias, é um jogador que complica qualquer marcação adversária, ainda mais tendo como seu municiador Darío Conca, que costuma fazer boas apresentações contra o rubro-negro. E foi justamente num belo passe de Conca, depois de uma arrancada pelo meio-de-campo, que Rodriguinho recebeu pela direita do ataque na área, livre, e deslocou Bruno, tocando mansamente em diagonal no canto direito do goleiro. Um belo começo: marcar seu primeiro tento com a camisa sagrada das Laranjeiras justamente num Fla-Flu. Aberto o placar, o Fluminense mostrou que começa a entender o estilo Muricy: não arredou pé do ataque, não abdicou de marcar mais gols, impôs ostensiva marcação. Continuou a tentar. O jogo só voltou a ter relativo equilíbrio quase dez minutos depois, quando Vagner Love ia encobrir Rafael, mas o goleiro recuou, defendeu a tempo e evitou o empate. Por pouco tempo. O Fluminense estava disposto a vencer o jogo e tinha ótimas opções, a começar por Carlinhos, que caiu como uma luva na lateral-esquerda. O gol acabou não saindo, mas o Fluminense terminou o primeiro tempo com méritos, diante do poderoso campeão brasileiro, numa partida muito corrida.

Um a zero num Fla-Flu é nada, não garante nada. Assim, era preciso ampliar o placar na volta para o segundo tempo. A Gávea, mais ofensiva com duas alterações, queria a igualdade. Mas o craque faz toda a diferença. Dario Conca, de frente para gol e um lindo chute de chapa, com força, no canto direito de Bruno, indefensável. O segundo gol cobria o Fluminense de autoridade, e poderia dizer que o jogo se desenhou ali. Mas como, num Fla-Flu? Simples: não seria possível manter o ritmo dinâmico do primeiro tempo e, com a diminuição do ritmo de jogo, seria pior para os flamengos, em desvantagem no marcador. Mais ainda: num misto de nervosismo e violência, ex-jogadores como Toró e Fernando abusavam das faltas grosseiras – no final, o próprio Fernando foi expulso depois de verdadeira agressão contra Carlinhos, sem precisar sequer receber o cartão amarelo. Saudades de casa? Não importa. A partir da expulsão, coube ao Fluminense valorizar a posse de bola para garantir o resultado. Nos minutos finais, ainda restou o gol da Gávea, em cobrança de falta e falha nossa no golpe de vista de Rafael, que definitivamente não vive uma boa fase – o que muito me preocupa, porque alguns querem ressuscitar o beque-equipe como titular, para desespero de qualquer bom entendedor de futebol. De toda forma, o gol foi o último chute de uma partida que já estava decidida e muito bem jogada por nossa equipe. Basta dizer que até Marquinho quase fez um gol de cabeça. Estivéssemos com Fred num grande dia e maior poder de fogo, a goleada teria sido iminente.

Para completar, o desespero recolhido dos flamengos, ávidos por nos provocar com uma faixa que ironiza um verso de nosso hino. Nela, apologias a um hexacampeonato que não aconteceu, uma hegemonia conquistada à custa de distorções matemáticas e de calendário, mais a cereja do bolo: a palavra “Libertadores”, que não poderia soar mais imprópria depois de nova eliminação precoce da competição sulamericana, com direito a hecatombes imperiais. Não ficamos atrás: abrimos a nossa faixa com Renato Gaúcho e Assis, mais os vices que impusemos à Gávea em decisões. Ontem, o Fluminense foi o vencedor em campo, nas arquibancadas, na justiça e na história. Eles são um instante; nós, a eternidade. O Fluminense está vivo e, com Muricy, pode começar a trilhar os caminhos de uma grande campanha neste ano. Os grandes campeões da imprensa estão com o silêncio da derrota. Nós, com os passos humildes, progredimos. O Tricolor voltou. Eu vos pergunto: que tabu, amigos das Laranjeiras?

Que tabu era esse?

O da Gávea não perder jogos sob a arbitragem de Marcelo de Lima Henrique.

O Fluminense nasceu para desafiar paradigmas.


Paulo-Roberto Andel

4 comments:

Lau Milesi said...

Aliás, os tricolores vivem quebrando paradigmas... e alguns quebram até a coluna.[rs]

Um beijo, cronista nota MIL.
Com carinho:

"La U".

anderson said...

Boa Noite! estou admirado com suas belas materias. e convido a participar do meu blog, tambem das enquete que temos para voce deixar seu conceito, podemos fazer parceria.
acesse www.andersonoradialista.blogspot.com

Anonymous said...

Torcida do Fluminense é censurada no Maracanã

Um grupo de torcedores do Fluminense, sem ligação com facções organizadas, foi alvo de censura da Polícia Militar antes do Fla-Flu da última quarta-feira, vencido pelo Fluminense por 2 a 1. Revoltados com as arbitragem, que cometeu erros nos jogos do Tricolor contra o Ceará, na primeira rodada, e contra o Corinthians, na terceira, os torcedores pretendiam fazer um protesto pacífico com a irônica faixa "O Ministério da Safadeza adverte: roube com moderação", mas foram impedidos pela PM, sob o argumento de que a frase nada teria a ver com o clube.


----------------


Os colegas que foram alvo de censura pela Policia Militar devem procurar o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro imediatamente, para que sejam tomadas medidas no âmbito civil, administrativo e penal. Isso é abuso de poder. Não é tarefa da polícia exercer juízo de valor sobre a manifestação do pensamento.

Esse tipo de atitude não pode ser tolerada e nem entendida como de menor importância. Quem reclama de falta de justiça tem que aprender a fazer a sua parte também. TEM QUE DENUNCIAR.

A denúncia pode ser feita de forma sigilosa ou até de forma anônima. NÃO HÁ O QUE TEMER!

Marcos Santos said...

E viva o Flu!!!

Sabe o que acho engraçado Paulo? O Flamengo e sua eterna síndrome megalomaníaca e a eterna apelação positiva da imprensa esportiva em favor deles.

Você já viu as famílias do Caio, do Wellington Silva e principalmente do melhor dos três, do Philippe Coutinho, assistindo aos jogos de seus filhos no estádio? Já viu esse tipo de abordagem da mídia com esses jovens craques do Bota, do Flu e do Vasco? Claro que não. Mas a armação na tentativa de alçar à condição de craque e ídolo, um tal de Diego Maurício, com todo esquema preparado para mostrar a mamãe nas arquibancadas, me fez pensar: A torcida do Flamengo só pode ser mesmo a maior de todas.
O que a imprensa faz em favor deles, não faz em favor de time nenhum.

Meu time disputou as últimas cinco finais do Carioca, um fato inédito na história do campeonato. Das cinco ganhou duas e perdeu três. Mas esse fato desagrada a mídia esportiva. Sendo ou não fruto de roubalheira do Cesar Maia, a verdade é que o Engenhão é um tremendo estádio, onde compramos ingressos pela internet e entramos passando o cartão de crédito nas roletas eletrônicas, conforto ignorado pela imprensa, que prefere fomentar, junto com a PM, aquela babaquice de acesso ruim. Levo meu filho cadeirante ao estádio e não vejo nada disso.
Na verdade eles prefeririam que esses feitos fossem dos mulambos. Nesse caso hipotético, você tem alguma dúvida do tipo de repercussão? Eu não tenho, sou botafoguense e já estou acostumado.

Forte abraço