Tuesday, August 31, 2010

FLUMINENSE 2 X 2 S. PAULO (29/08/2010)

Entre o quase e o óbvio (31/08/2010)

Caros amigos, a vida segue e o Fluminense continua líder do campeonato brasileiro, após o empate de domingo no Maracanã. É fato que a nossa distância em pontos para o segundo colocado e os demais reduziu consideravelmente; contudo, para ser campeão numa competição de pontos corridos, às vezes nem é necessário ter ponto algum à frente do vice. Continuamos na ponta e, de toda forma, não é nenhum desastre empatar com o hexacampeão São Paulo em Mário Filho, ainda mais com a estrela de seu craque-símbolo reluzindo em campo, o inquestionável goleiro Rogério Ceni. Falando em goleiro, se pesarmos tudo o que aconteceu no domingo, podemos dizer que até ganhamos um ponto em vez de perdermos dois. Afinal, por mais que Belletti não estivesse bem em campo e até comprometesse a atuação da equipe, ou ainda que Washington tenha efetuado uma cobrança de pênalti sofrível contra o craque Ceni, a grande verdade é que o Fluminense desceu derrotado na primeira etapa por duas falhas crassas, absolutas e até patéticas do profissional que hoje ocupa a posição de arqueiro Tricolor: Fernando. Assim posto, o trabalho de recuperar o resultado contra um time forte, tricampeão brasileiro nos pontos corridos e que precisava de um bom resultado por conta da atual fase, foi triplicado. Ainda assim, quase viramos a partida, vide Washington; a vitória nos escapou num dia em que tudo deu quase errado, afora cenas óbvias já repetidas muitas e muitas vezes debaixo das nossas traves. Menos mal que, num bom momento, até as partes ruins ficam em segundo plano. O empate não foi uma tragédia, mas o desastre está nas circunstâncias em como ele aconteceu. O Fluminense está de pé, vivo e atuante, líder e senhor de si, mas é preciso muito cuidado, pois somente agora chegamos à metade do campeonato.

Foi um Maracanã de pouco público, diante da multidão que se interessa pelo Fluminense. A redução da carga de ingressos, a confusão com o fechamento das cadeiras azuis e a expectativa do posterior fechamento do Maracanã, até agora sob dúvida, contribuíram decisivamente para a não lotação do estádio, ainda que mais uma bela festa fosse vista nas arquibancadas. Mais incrível ainda foi o “planejamento” feito pelas autoridades em alocar a torcida são-paulina, com cerca de trezentas pessoas, num espaço das arquibancadas amarelas onde caberia oito vezes mais gente e, para culminar, impedindo o trânsito dos Tricolores no corredor. Não seria mais razoável e racional colocar os visitantes numa pequena parte das arquibancadas verdes à direita da tribuna do estádio? Assim, todo o resto permitiria a livre circulação dos nossos torcedores. Basta raciocinar. Ou “colar” o que se fazia nos anos 70.

O primeiro tempo não foi o nosso forte. Primeiro, sentimos as faltas de Emerson e Gum, como se já não bastasse Fred; segundo, não foi uma tarde feliz de Belletti e o time acabou tendo uma distribuição confusa em campo. Terceiro, porque a equipe paulista tem qualidade, não está numa posição na tabela condizente com seu elenco e precisava reagir. O quarto motivo fica para o final desta crônica. Ainda assim, toques geniais de Conca e Deco foram vistosos no gramado, e o luso-brasileiro marcou seu primeiro tento com a camisa Tricolor, após belo passe de Conca a linha de fundo e o cruzamento de Julio Cesar, que voltou a atuar bem. O gol logo no começo do jogo nos serviria para dar calma, até porque antes e depois dele o São Paulo foi um time de velocidade e ataque, nos pressionando severamente. Faltas surgiram com frequência na nossa intermediária e isso era uma preocupação. Ceni bateu uma com perigo e, pouco tempo depois, juntou sua perícia ao quarto motivo e empatou o jogo. Mal demos a saída, eles viraram o jogo com um verdadeiro donativo individual nosso e conseguiram a talvez até inesperada vantagem. Mais trabalho para Muricy do que o devido. O peso de ter que virar uma partida que estava à mão e foi entregue por grosseiros erros individuais.

Voltamos com Rodriguinho no ataque e a inevitável saída de Belletti. O time voltou com muita raça e inverteu os papéis: dono do ataque, contra um São Paulo recuadíssimo. Para piorar, o time do Morumbi tem um goleiro e ele se chama Rogério Ceni: com sua calma e sobriedade, sem pulos estrambóticos, cacoetes religiosos, ele fez várias defesas difíceis parecerem tranquilas (bem ao contrário do que temos sido obrigados a ver nos últimos anos nas Laranjeiras) e garantiu a paz temporária ao São Paulo, por quinze minutos. Até pode ter vacilado em nosso gol de empate, quando ameaçou dar um passo à frente e não foi para Leandro Euzébio cabecear no canto direito do goleiro; porém, o craque se redime: a seguir, com tranquilidade, pegou uma (péssima) cobrança de pênalti feita por Washington, e mostrou porque é o paradigma do goleiro brasileiro às vésperas de 40 anos de idade. Ainda houve vinte minutos para se tentar a virada, mas nosso time cansou, o São Paulo segurou firme e, no fim das contas, o empate foi justo pelo conjunto de produção das equipes.

O quarto motivo nasce nas arquibancadas amarelas à direita da tribuna, quando chega meu amigo Leo e comenta com humor: “Já tem um mês sem frangar, isso não é normal; podem se preparar para fortes emoções hoje...”. Alguns risos, a parcial contrariedade da nossa amiga Marô e veio o jogo. O comentário do Leo é que me fez escrever esta crônica somente hoje; queria não alimentar o texto com qualquer mágoa ou sentimentos ruins que não são da estirpe Tricolor. Porém, antes destas primeiras linhas, tive a oportunidade de ler nesta terça-feira as declarações de Fernando num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro, onde disse o seguinte: “Contra fatos não há argumentos. Estou há dez anos no clube e já joguei 259 vezes. Fui o goleiro titular no título da Copa do Brasil em 2007, no vice-campeonato da Libertadores em 2008 e estou invicto desde que voltei. Essa perseguição tem que acabar”.

Eu vos pergunto: QUE PERSEGUIÇÃO?

Apesar de estar há dez anos no Fluminense e de sua propalada paixão de torcedor Tricolor, Fernando mostrou em suas declarações que conhece pouco das Laranjeiras. Primeiro, não sabe que para ser nosso ídolo de verdade, não basta torcer para o Fluminense ou apenas mostrar um grande futebol que ele mesmo não tem: é preciso ter humildade. Basta olhar o presente, com Darío Conca. Basta olhar o passado imediato, com Thiago Silva ou Marcão. Um pouco mais atrás, com Paulo Victor (a quem ele, Fernando, teve a audácia de desdenhar recentemente), Delei, o genial Romerito e o histórico Benedito de Assis. Não é preciso falar de Castilho, Altair, Denilson, Telê. Fernando também conhece pouco de estatística, embora tente usá-la a seu favor: dos dez goleiros menos vazados da história do clube, é batido na média por nove deles – só vence o craque Batatais porque este fez sua carreira entre os anos 30 e 40, quando os placares eram muitos mais elásticos do que hoje. E, se realmente quisesse usar a estatística como ferramenta para se livrar de perseguições, o resultado seria desastroso: é o goleiro que mais vezes foi vazado em partidas seguidas na história do clube. Sem contar que, destes dez anos, não foi titular em cinco deles – nos cinco restantes, em duas oportunidades, foi barrado por deficiência técnica com o time nas últimas posições dos campeonatos brasileiros de 2006 e 2009; por coincidência ou não, após a barração o time se salvou em ambas as competições. E quando voltou ao time como titular, foi por contusão do novo goleiro (como neste 2010) ou por decreto superior (como em 2007). Definitivamente, os apupos de metade do anel Tricolor das arquibancadas cheias não são à toa: quem freqüenta os estádios está acostumado o que vê, mas não resignado.

Aos fãs do paragoleiro, deixo claro que nada de pessoal tenho contra sua figura e inclusive reconheço que teve alguns bons momentos no gol do Fluminense - infelizmente todos foram entrecortados com falhas grosseiras e barração. Tenho simpatia pelo fato de que ele seja um Tricolor declarado e vibrante, mas isso não significa que, como torcedor e cronista, eu precise fazer papel de cego para não ver as evidências. Estes fãs é que talvez não entendam que eu e muitos outros Tricolores criticamos a questão TÉCNICA de Fernando, tão-somente - afora uma ou outra bobagem, como questionar a trajetória vitoriosa de Paulo Victor no arco Tricolor.

Fernando se sente perseguido porque convive com vaias há muitos anos: contudo, todas foram originadas de falhas capitais suas. Algumas foram até esquecidas pela torcida, como a cometida contra o Boca Juniors em nossa antológica vitória por três a um em 2008, ou o incrível gol contra feito com as mãos contra o São Caetano em 2006. Fernando se sente perseguido porque uma considerável parte da torcida do Fluminense não o vê como ídolo e sequer como merecedor de ser titular de uma camisa que já foi vestida por Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho, Félix, Wendel, Paulo Victor. O mais incrível é que seus defensores muitas vezes o isentam de culpa em falhas e derrotas simplesmente por “ser Tricolor”. Eu vos pergunto: Emerson, nosso Sheik, é um declarado rubron-negro; por “não ser Tricolor”, deveria ser preterido do time? O mesmo vale para Fred, Conca e Deco. Ora, bolas, o que importa é o respeito profissional à camisa e, principalmente, a preparação durante os treinos para que os desastres não aconteçam nos jogos – e o senhor Fernando, com suas repetidas trapalhadas já conhecidas de boa parte da lucidez Tricolor, evidentemente tem deficiências de fundamentos na posição de goleiro: note-se as equivocadas saídas de gol que costuma cometer, afora a enorme dificuldade em se posicionar e defender qualquer cobrança de falta adversária que vá na direção do nosso gol. A partida contra o São Paulo foi apenas o mais do mesmo, a velha repetição dos mesmos erros. Em suma, o óbvio.

A função do goleiro é atuar justamente quando o time sofre dificuldades; o meio de campo não está bem e, por isso, não neutraliza os ataques adversários; a defesa não colabora, enfim, vários outros motivos.

O que se espera de Fernando com a camisa do Fluminense não tem a ver com berros apaixonados, deslumbramentos, frases vazias de baixo impacto ou a miopia diante de seus próprios – e inúmeros – erros. Basta que mostre dentro de campo o que ainda não fez em metade de sua carreira: alta qualidade técnica. Humildade para reconhecer que Paulo Victor, Félix e Castilho, afora outros tantos, não se tornaram herois da meta Tricolor à toa – fizeram e muito por merecer; não eram apenas torcedores no gol, mas sim craques do maior quilate.

Acima, muito acima, de Fernando, está o Fluminense. E ele volta a campo para uma duríssima batalha contra o Palmeiras de Scolari amanhã, no que pode ser a última jornada no Maracanã por um longo tempo. Nas condições atuais, mesmo na frente, a vitória é fundamental para nossas pretensões. Vencer ou vencer, com ou sem um bom batedor de pênaltis, com ou sem um goleiro à altura das tradições do clube - que fala demais e joga bem menos do que pensa. Quem espera sempre alcança - mas com humildade e trabalho.

Paulo-Roberto Andel

Friday, August 27, 2010

GOIÁS 0 X 3 FLUMINENSE (25/08/2010)



Mais um algoz à lona (26/08/2010)

Quando um grande time encontra-se em grande fase, todos os percalços normalmente lembrados no mundo do futebol ficam por terra: jogadores que estão no banco conseguem suprir a ausência dos titulares, torcedores pés-frios que povoam as arquibancadas não conseguem exercer nenhuma carga negativa; o adversário pode ser forte e agressivo que, num estalo, tudo dá certo e vem um grande triunfo. Este último exemplo foi o caso de ontem, na grandiosa vitória do Fluminense sobre o Goiás em pleno Serra Dourada, por três a zero. Primeiro porque, tal como no jogo anterior contra São Januário, o esmeraldino das centrais é uma carne-de-pescoço para o Tricolor em qualquer situação; segundo, porque precisava desesperadamente da vitória e jogava em casa, onde costuma apresentar boas performances; terceiro, porque a essa altura da competição, são todos contra a nossa camisa, de modo que cada jogo é um desafio ainda maior em se manter no topo da tabela. Mas tudo deu certo: mesmo numa partida em que o time não foi permanentemente brilhante, os bons momentos foram muito mais numerosos do que os maus agouros. O talento do craque reluziu com vigor. Pouco resta aos famigerados editores de esportes para esconder o óbvio ululante à vista menos apurada que seja: o Fluminense é um dos reais candidatos ao título de campeão brasileiro e, se mantiver a pegada atual, é o grande favorito. Reitero: ninguém resiste ao talento de um craque!

Não me venham com bravatas de que o Fluminense não é mais o mesmo, que perdeu velocidade e que não é tão ameaçador quanto em outras partidas. Hoje escalado com jogadores experientes, o que se vê é um time preparado para dar o bote mortífero quando é o momento certo. Foi o que aconteceu. Ainda assim, buscamos o gol logo de saída, lembrando que, independentemente da fase em que se encontra hoje, o Goiás é sempre um adversário temível em seus domínios, afora o fato de contar com experimentados ex-Tricolores como Wellington Monteiro (carinhosamente apelidado por nossa amiga Marô de “Gordinho 5” nos tempo em que era nosso defensor), o quase folclórico Rafael “He-Man” Moura e o veloz Everton Santos, mais jogadores conhecidos como Jonilson, Júnior e Amaral. Começamos bem, mas, aos poucos, era normal que o time da casa buscasse resultado. O Goiás fez isso sem o sucesso esperado, felizmente. E não pecamos pela passividade: um dos lances mais perigosos ao fim da primeira etapa foi justamente nosso, com a cabeçada à queima-roupa de Diogo e a grande intervenção do veterano goleiro Harley. E o outro, com Gum perdendo o gol, chutando livre em cima de Tolói. Não foi uma primeira etapa de moleza, mas sim um jogo equilibrado, com alternativas e muito corrido debaixo da baixíssima umidade goiana. Foi bom para o Fluminense o empate neste tempo, como poderia ter sido em todo o jogo. Felizmente, excelentes surpresas estavam reservadas para os nossos corações, valentes como o de Washington.

Na volta ao campo, nem o “tranqüilo” Muricy (bem-humorada força de expressão) nem o tenso Leão mexeram em suas equipes, e o que se viu nos primeiros minutos foi uma retomada do que havia sido jogado antes: os times estudando o melhor momento para o grande golpe, os goleiros sem nenhuma intervenção relevante e o tempo correndo. Talvez alguém tivesse pensado que o jogo terminaria num empate sem gols, razoável para o Fluminense e péssimo para o Goiás. Talvez. A realidade desfraldou outros fatos.

Falei noutras linhas desta crônica e não cansarei de repetir: ninguém resiste ao talento de um craque. O craque rompe barreiras, desafia paradigmas, cria soluções geniais onde os olhos da obviedade não alcançam o horizonte. Se um desavisado soubesse do placar no intervalo, ficasse ausente e só o pesquisasse ao final do jogo, o que lhe viria primeiramente à cabeça para imaginar que o zero a zero se tornou um três a zero retumbante? Simples: o craque.

Deco não vinha de um bom ano: rendeu pouco nos últimos momentos com o poderoso Chelsea e pouco jogou na Copa da África do Sul. Se tivesse vindo para outro time, mais querido aos olhos da imprensa, certamente seria recebido como um mito: craque em Portugal, Espanha e Inglaterra; dotado de fundamentos como chute, passe e drible precisos, cairia como uma luva em novas manchetes. Mas a imprensa não gosta do Fluminense líder, menos ainda de que o Tricolor fosse capaz de trazer um reforço internacional, um craque além-mar e além-fronteiras. Diziam que era uma enganação, jogador de passagem. Como seria possível? Só os rancorosos e ressentidos com as glórias das Laranjeiras, isentos de esportividade, acreditariam em tal bobagem. O luso-brasileiro jogou seus vinte minutos contra o Vasco e mostrou seu talento em três ou quatro lances de fazer o Maracanã tremer. Ontem não foi diferente. Na tabela com o também craque – cracaço – Conca, Deco chega la lateral da área. Os desavisados pensariam se tratar de um cruzamento para o Coração Valente. Não foi o caso: era um passe, um passe precioso, digno, belo em sua trajetória de curva que tirou toda a defesa verde do lance. Washington pode não ser do trato com a pelota, mas sabe reconhecer um lindo passe a ponto de convertê-lo em gol. E foi mais um dos lindos gols do Fluminense nessa maravilhosa trajetória recente: chute forte, fuzilando Harley, um a zero. O Goiás acusou o golpe. O tento cheirava a mais uma vitória, a quinta fora de casa. O jogo estaria decidido? Quase.

Não se desafia o craque. Deco ainda queria mais. O toque de primeira para nosso cão de guarda, Mariano. O toque para Emerson, livre, marcar o segundo gol. Com dois a zero, aí sim os goianos reconheceram a derrota. Não é fácil virar um jogo contra o líder do campeonato em tais circunstâncias.

Ainda haveria o golpe final, com a entrada de Marquinho. O meia-lateral, muitas vezes contestado, mas bastante útil em outras, recebeu um primoroso passe do jovem Bob (que prima pela regularidade quando é chamado a jogo). Livre, diante de Harley, tocou rasteiro no canto esquerdo e, nos acréscimos, sacramentou o resultado final. Mais um de nossos algozes tradicionais ao nocaute.

Trinta e seis pontos a três jogos do fim do primeiro turno. Uma coisa é certa: entre muitos soluços e engasgos, o Fluminense cada vez mais mostra a sua força neste ano.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, August 25, 2010

VASCO 2 X 2 FLUMINENSE (22/08/2010)



Para deixar saudades (23/08/2010)

Eram cinco minutos do segundo tempo da partida de ontem, e a imensa massa vascaína explodia como nunca: a Colina acabara de fazer, mais uma vez, o papel de algoz contra o nosso time. Uma virada estrondosa. Pensei nos velhos e novos tempos: o Vasco está sempre no nosso caminho. O adversário mais difícil de ser batido por nós. E pensei: ainda é cedo. Afinal, começamos o jogo dando as cartas com o emocionante gol do zagueiro Gum; depois, eles empataram com Éder Luis em falha da nossa defesa esquerda. Eles viraram, mas ainda era cedo, cedo como foram muitas outras emoções. E com o time do ai-jesus, o time do último minuto, o atual líder do campeonato brasileiro, não se pode brincar. Dez minutos depois da virada vascaína, tudo ficaria igual de novo, e assim seria até o apito derradeiro, mesmo com grandes oportunidades para ambos os lados. Um dos melhores clássicos dos últimos anos, disputado a cada fio de cabelo, que terminou justamente empatado. Uma digna despedida das apoteóticas - e lotadíssimas - cadeiras azuis do Maracanã em seu último jogo, já que serão extintas para a nova configuração dos assentos do estádio. E deixarão saudade, muita saudade, como um dia já deixou a eterna geral.

Quem esteve ontem no Maracanã viu uma festa linda. Um espetáculo de cores e alegria nas arquibancadas e por todo o estádio. A beleza do mosaico Tricolor feito com balões de gás dava um contraste ao preto-e-branco vascaíno. Melhor ainda que os times tenham entrado em campo com seus uniformes clássicos, tradicionais. Em campo, nós lutávamos pela consolidação da liderança e o Vasco pela proximidade ao G4. Eram oitenta mil pessoas, mas meus olhos fatigados viam cento e dez mil, como nos meus tempos de criança. E uma coisa é certa: de lá para cá, o Vasco sempre foi carne-de-pescoço. Mesmo quando fomos superiores e vencemos títulos contra eles, nada foi fácil. E de vinte anos para cá, São Januário é uma espinha atravessada na garganta das Laranjeiras, sem descer com litros d’água. Mesmo em muitas partidas mais recentes, quando pareciam em situações desfavoráveis, ao menos nos impuseram o empate – isso quando não venceram, como no desespero do fim de 2008. É deles que nos vem o verdadeiro ai-jesus.

Quero falar do começo do jogo. O Fluminense entrou com a verdadeira obsessão pela vitória e quase marcou no primeiro – e lindo – chute do argentino Conca, perto do ângulo direito de Prass. Logo depois, o gol no escanteio pela direita do ataque, a cobrança curvada de Conca, o rebote e o chute de Gum, fazendo explodir a multidão Tricolor. O líder começou jogando como líder. O Vasco sentiu o golpe por alguns minutos, mas, time grande que é, a seguir voltou com o implacável senso de marcação e uma correria alucinante. A partida parecia uma corrida de Fórmula 1. Os ataques tinham alguma supremacia sobre as defesas, mas as finalizações não alcançavam o objetivo. Aos poucos, surgiu um problema para nós: recuamos o time mais do que o devido, o que fez com que o Vasco se sentisse mais à vontade para agredir. Entretanto, o gol saiu justamente em outra situação, num contra-ataque; Carlos Alberto, o melhor homem em campo e jogando com exagerada liberdade, fez ótimo passe para a direita do ataque. Apesar de nossos três zagueiros, a defesa estava desguarnecida. Éder Luis entrou livre e deslocou Fernando. Tudo igual no placar, mas o vazio entre nossa defesa e ataque era preocupante, afora a esforçada – mas inócua – tentativa de Washington voltar ao meio de campo para brigar com a bola (acabava brigando com a bola). O Vasco cresceu ainda mais nos instantes finais, mas não o suficiente para a virada. O segundo tempo prometia, ainda mais com Deco no banco de reservas, pronto para jogar.

Nossa expectativa era a de Muricy acertar o time, baqueado após o gol sofrido. Contudo, mal começou o segundo tempo, o velho Carlos Alberto, com seu velho corte e passe de pé direito, dividiu uma bola com Diguinho de pé-murcho – o pior momento da partida, antes de sair contundido -, ganhou e encontrou o lateral Fagner livre outra vez; o trio de zaga estava desatento mais uma vez e o Vasco comemorou a virada com ânsia. Seria mais um dos castigos que o Vasco imporia a nós? Não, definitivamente não. O Fluminense deste semestre é o time de Muricy, é o time que não se entrega e faz do gol seu próprio oxigênio. Era preciso mudar, e todos esperavam Deco em campo; além do inegável talento, sua entrada contribuiria para diminuir o ímpeto ofensivo dos vascaínos. Antes disso, o pecado capital: não se pode dormir num clássico. Diguinho fez isso e fomos punidos com a virada. Houve uma bola na direita do ataque e Felipe sairia jogando; ele se distraiu e perdeu para Emerson. O Sheik rapidamente cruzou para a área. Zé Roberto, em vez de despachar a bola, quis dominá-la; perdeu o tempo, Julio César a tomou com surpreendente velocidade, frente à pequena área, e fuzilou Prass. Era o empate. Nada estava perdido, ainda que a vitória tão desejada não viesse.

Os quinze minutos do fim de jogo reservaram fortes emoções. Finalizações perigosíssimas para ambos os ataques e, a nosso favor, a entrada triunfal de Deco. O luso-brasileiro não está em plena forma, mas rapidamente mostrou seu arsenal de jogadas: passes perfeitos, uma jogada em que deixou dois marcadores no chão e a chegada avassaladora como atacante, num chutaço pelo alto que, se tivesse pegado o rumo certo, Prass nem teria se mexido. Para fechar o jogo, como se fosse um castigo a ser repetido, novamente Carlos Alberto pela direita, novamente a defesa perdida e um chute perigoso que saiu rente à trave direita do nosso goleiro. A justiça foi feita. No belo espetáculo de ontem ninguém merecia perder. Para as estatísticas, mais uma pedrinha vascaína em nosso sapato. Desta vez, leve.

Falta pouco para terminar o primeiro turno. Precisamos manter o ritmo incessante. Agora, começa a seqüência de partidas quarta e domingo. Não há tempo para respirar. O empate fez com que nossa vantagem sobre o segundo colocado caísse para dois pontos, fazendo o delírio das aratacas de plantão. Se conseguirmos manter essa vantagem durante todo o difícil segundo turno, seremos campeões. É o que importa, é o imperativo: manter a vantagem. E mesmo que não seja assim e que, em alguma rodada, sejamos superados por outro time, não há por que se desesperar. O importante é estar brigando nas últimas rodadas. É sempre bom lembrar que este time ainda sente a falta de Fred. Quando o matador voltar e tabelar com Deco e Conca, será bem difícil manter a calma de qualquer defesa adversária.

Pela frente, dois times bastante difíceis, independentemente da colocação: Goiás, no Serra Dourada, e São Paulo no apertado Maracanã. Nossa prova de fogo. É uma semana de afirmação. Enquanto isso, lembro das cadeiras e da geral. A saudade é inevitável.

Paulo-Roberto Andel

Wednesday, August 18, 2010

FLUMINENSE 3 X 0 INTERNACIONAL (15/08/2010)


Mais alegria (16/08/2010)

Por volta de duas e meia da tarde de ontem, eu me preparava para sair de casa rumo ao Maracanã monumental. O telefone tocou:

- Cara, é derrota certa, o Bruno super pé-frio vai ao jogo com o pai.

Agradeci a ligação. Era o amigo Zé Freire, o pé-frio mais temido por toda a Gávea. Ali se fez a senha para uma grande vitória. Nada pode ser mais confortante para um Tricolor do que a tentativa de mau-agouro promovida por um flamenguista.

O entorno de Mário Filho lembrava o de uma grande decisão de campeonato. Talvez fosse; em competições de pontos corridos, todo jogo tem importância. Carros e mais carros a perder de vista no viaduto Oduvaldo Cozzi e na avenida Radial Oeste. Homens, mulheres e crianças com a obsessão de ver o Fluminense em campo, o líder do Brasil defendendo a cabeça da tabela. A beleza estampada nas cores, nas faces e nos tecidos. Não há como contestar: o Tricolor voltou e, tal como reza a tradição, com trajes de gala. Sessenta mil apaixonados e mais um lindo mosaico em branco da paz, celebrando os maravilhosos títulos brasileiros de 1970 e 1984. É importante também falar da presença de Deco: o craque luso-brasileiro, que seria por demais decantado caso viesse da Europa para outro time, foi um amuleto prévio em campo, já desfilando com nosso manto. Sim, amigos: o Fluminense de ontem e hoje, mais líder do que nunca, sofre o desfalque de ninguém menos do que Fred, mais a recuperação de Belletti e a preparação de Deco. É fácil perceber que temos um de nossos elencos mais fortes dos últimos tempos; o que se espera agora é o equilíbrio e o bom-senso entre o clube, o patrocinador e as outras forças componentes do Fluminense para que sejamos bem-sucedidos. Disputar uma vaga na Libertadores é uma realidade. O título é um sonho ainda distante, que precisa ser concretizado a cada passo, com total segurança. Distante, porém possível.

Um ano passa rápido, num estalar de dedos. Não há como esquecer 2009. O jogo daquele dia teve um sabor amargo. Éramos o desespero em três cores centenárias: a vitória era vital para a sobrevivência na primeira divisão, onde éramos mais do que os últimos – primordialmente, o alvo das chacotas. Na tarde de calor infernal, abrimos o placar com Gum, eles viraram e, no fim, um outro gol salvador de Gum, jogando feito artilheiro, nos deu um mísero ponto que foi a nossa redenção ao fim daquele certame. Eram trinta mil pessoas apaixonadas acreditando na virada; a partir dali, viraram quarenta, cinqüenta, sessenta mil e, um ano depois, a nossa luta não é mais para escapar do abominável descenso, mas sim de manter vivo o sonho de um título tão esperado. Somos os primeiros; a grande vitória de ontem ratificou esta posição.

Não me venham com a falácia mofada de que o Internacional entrou em campo com um time de reservas. Renan, Sorondo, Fabiano Eller, Tinga, Andrezinho e Rafael Sobis são meio time de um dos melhores elencos do país – o virtual campeão brasileiro na visão sempre certeira (sic) de Kfouri. Foram a campo com seriedade, mesmo com o time já com a cabeça na final da Libertadores e no esquema 3-6-1, que dificulta qualquer time mandante. O jogo foi muito equilibrado, ao menos em seu começo. Quando podia, o Inter atacava e preocupava. Mas o Fluminense de hoje é mortífero, não se pode bobear. Dois ataques em torno dos vinte minutos e dois gols. O primeiro, feito a meu ver pelo jogador mais importante em campo, Mariano. Conca é o craque, é quem a bola procura, é quem dá as cartas e combate com absoluta garra Argentina; contudo, o símbolo do Fluminense de hoje está nas arrancadas de Mariano pela lateral-direita – ora cruza com maestria, ora dá um corte para dentro e chuta. Não podia haver união maior: o lateral invadiu pela direita, executou o corte e chutou. A bola acabou sendo interceptada e amortecida por Conca, que estava no caminho, só que tomou o canto direito e bateu Renan. No segundo, o escanteio fornecido pelo nosso Fabiano Eller, campeão de 2005. Na direita do ataque, a cobrança perfeita do argentino - craque da partida, sem dúvida – e a cabeçada de Washington no ângulo esquerdo de Renan. Reitero: Conca enche os olhos de qualquer um com seu majestoso futebol, mas é nas arrancadas de Mariano que se vê a vontade de um time que pode ser campeão. Nos minutos restantes, metade da primeira etapa, o Fluminense continuou a pressionar o Inter, quase marcando mais um gol pelo menos; do nosso lado, uma defesa mais circense do goleiro do que propriamente difícil, e o Fluminense desceu tranqüilo para o vestiário.

No segundo tempo, o mesmo panorama do primeiro: absoluto equilíbrio de forças até que o Inter vacilou, Emerson entrou com o vigor tradicional pela direita e fuzilou Renan por entre as pernas, fazendo o terceiro gol do Fluminense e a completa alegria dos nossos sessenta mil torcedores. A partir de então, com os gaúchos conformados e os Tricolores satisfeitíssimos, o jogo passou a ser de toque de bola sem grandes ameaças aos goleiros, uma ou outra no máximo. Vibração ensurdecedora nas arquibancadas foi a que anunciou os gols do Avaí, que batia o Corinthians e nos permitia aumentar a vantagem na tabela para quatro pontos de vantagem. Nova vibração ao fim da partida: os milhares se abraçando ao comemorar a volta do Tricolor, mais líder do que nunca. Definitivamente, 2010 é bem diferente de seu antecessor.

Muitas e muitas vezes, nós vimos projeções dos matemáticos e estatísticos a respeito dos times e suas chances de rebaixamento. Ninguém tocou um pio sobre a liderança do Fluminense, até porque ainda é muito cedo para qualquer definição. Mas eu lembro que começamos o campeonato sob clima de total descrédito e hoje somos os maiores pontuadores. Ainda temos muitos jogos pela frente. As próximas rodadas permitirão dizer o que vem pela frente: Palmeiras, São Paulo, Vasco, Guarani. Uma coisa é certa: ninguém nos tira do grupo de favoritos ao certame deste ano, queiram ou não. Nesta semana, muito trabalho para enfrentar um dos mais temíveis adversários: a Colina. O Maracanã será pequeno, os corações estarão acelerados. Porém, só de saber que temos a opção de reaproveitar o talento de Fred ou estrear o de Deco, os ventos que sopram nas Laranjeiras não podem ser outros que não os de otimismo. Ainda falta muita coisa, mas ser campeão brasileiro de 2010 é, inegavelmente, um pouco menos difícil do que impedir o descenso em 2009. Nós conseguimos. O céu é o limite. No próximo domingo, mais um passo importante.

No fim da noite de ontem, refestelado no conforto de meu lar, eis que o telefone tocou. Era Ursula, depois era o amigo Bolinha. O camarada Zé não telefonou outra vez. A Gávea está silenciosa.


Paulo-Roberto Andel

Friday, August 13, 2010

GRÊMIO 1 X 2 FLUMINENSE (08/08/2010)


A alegria continua (09/08/2010)

Se comemorações antecipadas, títulos pré-datados e manchetes caudalosas nos diários esportivos não fazem parte da rotina de um cidadão Tricolor – o que é fato -, a cada dia que passa os milhões de apaixonados pelo orgulho das Laranjeiras têm mais motivos para comemorar. Vejamos: após um começo de campeonato tíbio, pouco depois da eliminação na Copa do Brasil pelo Grêmio, nestes últimos três meses o Fluminense tem sido uma máquina de ganhar. Chegamos a um terço do campeonato e, no rol de vitórias que nos firmam na liderança, já estavam marcados os triunfos contra o Santos na Vila Belmiro, o Atlético Mineiro no Mineirão e o Avaí na Ressacada; independentemente de suas condições na tabela atual, times que dificilmente são batidos em casa. Agora, o Tricolor fez mais uma vítima: o mesmo Grêmio que nos ceifou em maio. Vencemos com autoridade, competência e mantivemos a ponta.

As leituras para o jogo de ontem podem oscilar conforme a visão de cada um; certo mesmo é que se não jogamos de forma tão maravilhosa a ponto de convencer os críticos, inegavelmente merecemos os três pontos por mais que o Grêmio tenha tentado uma reação. Primeiro, porque o Fluminense foi avassalador entre os dez e os vinte minutos do primeiro tempo, fazendo dois a zero e não dando tempo aos gaúchos de respirarem; segundo, porque no segundo tempo soube agüentar bem a pressão gremista com um homem a menos em campo, de forma que quando tomou o gol, as favas estavam contadas. Ainda falta muito para qualquer comemoração, mas o principal diferencial a favor do Fluminense é sabermos que, se este ritmo for mantido com sucesso nos próximos quatro meses, não sairemos do cobiçado G-4 e teremos fortes possibilidades de recuperar um título que não vencemos há vinte e seis anos, mas que já esteve muito próximo de nossas mãos várias vezes. Claro, os homens de imprensa suam frio ao pensar nisso; preferem falar do champagne, dos descensos, do que pode ser feito para tripudiar do Fluminense em vão. Eu vos digo: ainda é muito cedo, mas hoje ninguém merece mais este título do que o Fluminense. Ficamos a um triz das semifinais de 1986, com os São Paulo nos vencendo a vinte minutos do fim do jogo; em 1988, ficamos aí sim nas semifinais contra o Bahia; em 1991, contra o Bragantino; em 1995, contra o Santos. Depois do pesadelo e da ressurreição, as semifinais de 2001, 2002, o quinto lugar de 2005, o quarto lugar de 2007. Em vinte e cinco anos, por oito vezes estivemos à porta da esperança, uma excelente média de boa colocação a cada três anos. Como então o Fluminense pode ser tido como um azarão, um timinho? Só os alucinados acreditariam que não somos capazes. Os mesmos bocós que previram a nossa queda ano passado; depois do vexame, alguns ficaram dias sem sequer saírem de casa.

O Fluminense de Muricy é vigoroso, é valente. Sabe administrar a posse de bola e ser mortífero quando preciso. Não importa a situação: quem abre dois a zero no Grêmio em vinte minutos no Olímpico e segura a vantagem até quase o fim do jogo, com um jogador a menos em campo? Falemos da realidade: os jornais não escalam supercraques fictícios em nosso time titular o elenco, mas esta é uma grande fase. E tal como terminamos o ano passado, depois daquela que foi a maior virada do futebol brasileiro em campo, em todos os tempos, neste ano de 2010 o Fluminense tem pontuação de campeão: vinte e nove pontos em treze jogos. Mantendo a performance, chegará ao fim do campeonato com quase noventa. Oxalá!

O momento atual é tão glorioso que até nosso goleiro, acostumado a lances exóticos, tem se portado bem. Fez duas grandes defesas no primeiro tempo, cruciais: com o gol, o Grêmio, que viria com toda a força na segunda etapa, cresceria e nos faria até correr risco de derrota. Mas não foi o que aconteceu: antes dos perigos, o Deus Mariano da Raça já tinha marcado seu tento, em cobrança de falta pela esquerda no canto esquerdo do arqueiro Marcelo. E Emerson é implacável: o arranque, a passada e o chute: quase sem ângulo, driblou Marcelo e rolou para o gol vazio. Descemos para o vestiário com grande vantagem e total confiança.

Que não sejam só mesquinhos aqueles que só viram o Grêmio como poderoso no segundo tempo. Eles atacaram, e o que poderia se esperar? Um dos maiores clubes do mundo, com altíssimo aproveitamento de pontos em casa, perdendo de dois a zero e precisando reagir para superar um mau momento. Evidentemente, buscariam o ataque. Foi o que fizeram nos primeiros quinze minutos do segundo tempo. Mas o Fluminense não tinha mais seus jogadores em pele, osso e músculos, mas sim de brita: uma barreira intransponível. Nem mesmo quando perdemos o ótimo menino Bob, expulso num lance onde Souza deveria ter sido também advertido, a situação mudou. O Fluminense tomou gosto pela vitória e a quis com todas as forças. E quando o time está bem, até jogadores que pareciam apagados surgem em campo e mantêm a pegada: por exemplo, como o outrora inseguro Williams, no lugar do argentino Conca. Emerson machucou o pé, Rodriguinho entrou, mas ficou pouco tempo, por conta da perda de Bob; veio o Marquinho velho de guerra e equilibrou as ações.

O Grêmio, forte e merecedor, fez seu gol ao final. Era tarde. Não havia como virar. O Fluminense era senhor do tempo e dos louros. O pouco que restava na ampulheta serviu para mais uma última emoção, quando Washington chutou a bola na trave ao fim da partida e poderia ter aumentado o placar.

O que dizer do Fluminense hoje, meus amigos?

É o líder, é o maiorial. Está vencendo sem o craque Fred. Está vencendo sem o craque Deco.

A hora é de controlar os nervos e a ansiedade. Ser líder pesa, exige responsabilidade e cobranças. Hora de empunhar a humildade que sempre tivemos, mas sabendo que o Fluminense não é mais uma promessa de time, e sim uma realidade.

Mais uma semana e nova decisão: o fortíssimo Internacional, no Maracanã. Desimporta que esteja lutando pelo título da Libertadores e, com isso, venha com seu time mesclado ou mesmo reserva. O banco do Colorado é mais forte do que muitas linhas titulares no Brasil. Degrau a degrau, passo a passo, é mais um grande desafio. Resta-nos lotar o Maracanã, gritar, vibrar, torcer e o nosso time fazer o que tem feito.

Não há espaço para a imprensa ridicularizar o Fluminense em suas páginas. No máximo, como sempre, torcer contra. Este não é um time pré-rebaixado por decreto, mas sim um sincero líder que sonha, bem mais à frente, com um dezembro espetacular.


Paulo-Roberto Andel

Friday, August 06, 2010

FLUMINENSE 3 X 1 ATLÉTICO-PR (31/07/2010)


(Mais: Botafogo 1 x 1 Fluminense - 25/07/2010)


O primeiro da lista (01/08/2010)

Quem te viu, quem te vê... mais duas rodadas se passaram e, ao lado da competência, a sorte se alinhou; assim, o Fluminense é novamente o líder do campeonato brasileiro, queiram ou não os marrons, os mais-queridos e outros menos votados no cenário. Temos duas alegrias: a de ver o time no topo da tabela e a de testemunhar os velhos “seca-pé-de-pimenteira” prevendo nossa efêmera liderança, assim como fizeram com os “cálculos” do rebaixamento ano passado. É um autêntico "faz-me rir".

Primeiro, o clássico contra o Botafogo, disputado no Engenhão, com um certo gosto de despedida do Maracanã. Gosto do campo alvinegro, mas ainda preciso sentir um que é um jogo entre os grandes times com lotação máxima por lá. A nossa torcida não se fez de rogada, compareceu em maior número e pareceu animada com o desfecho da dramática possível saída de Muricy: o treinador ficou conosco, ainda que dissessem que contra a vontade. Duvido: nenhum jogador ou treinador fica em clube nenhum no futebol de hoje por obrigação. A verdade é que Muricy quis ficar no Fluminense e o Fluminense queria ficar com Muricy. Estranhíssima também a postura do presidente da confederação, chamando primeiramente o treinador para um café sem qualquer consulta ao clube. Drama à parte, Muricy foi compulsivamente saudado quando da entrada em campo. Havia outras tensões também presentes por conta da colocação na tabela: o Tricolor brigando pela ponta e o Botafogo lutando contra a zona de rebaixamento. Desimporta a pontuação de cada time: era um clássico, e no clássico os times se igualam.

O primeiro tempo foi bastante movimentado e equilibrado, com ligeiríssima superioridade para General Severiano, apenas porque seus finalizadores arriscavam mais. Do nosso lado, Fred e Conca não pareciam bem – o artilheiro, inclusive, saiu machucado em lance sozinho na segunda etapa. A compensar, as estréias de Emerson e Beletti. O primeiro mostrou a garra e velocidade costumeiras dos tempos da Gávea, embora ainda precise de certo ritmo natural para quem não vinha jogando. O segundo, se não fez uma partida brilhante e mostrou também problemas físicos, atuou regularmente e salvou um gol certo do Botafogo no primeiro tempo, quando apareceu como quarto-zagueiro. Mais tarde, por conta do cansaço e de um cartão amarelo, saiu para a entrada de Thiaguinho, que esteve com um pé do Cruzeiro, mas ficou na última hora. Alguns chutes a gol, algumas boas defesas dos dois lados, mas nada que mostrasse a absoluta supremacia de um time sobre o outro - meio ponto a mais para o Botafogo, e só. Nosso maior risco foi numa jogada de Diogo que, ao final do primeiro tempo, quase fez um gol contra, evitado pela providencial defesa de Fernando. A seguir, as coisas mudariam.

Segundo tempo iniciado, de cara Fred deu dois bons passes para Emerson marcar. No primeiro ele perdeu, mas no segundo foi demolidor: driblou Jefferson, que tinha iniciado a jogada com uma reposição de bola errada, e tocou para o fundo das redes, abrindo o placar. A partir de então, uma partida mais nervosa e dividida, até que o Botafogo, desesperado, veio para cima e empatou o jogo a quinze minutos do fim, num cruzamento de Renato Cajá que quicou, não alcançou Edno, mas foi suficiente para superar o pé de Fernando, ganhando o filó. Equilíbrio no jogo, igualdade no placar. Depois disso, o Botafogo quase virou, em cabeçada do nosso velho Antônio Carlos no travessão. E nós também quase ganhamos, em bola que bateu no poste direito de Jefferson depois do cruzamento de Darío Conca. Um placar justo, mas que nos pareceu amargo, já que a vitória corinthiana nos tomara a liderança. Mas o campeonato é disputado palmo a palmo, centímetro após centímetro; portanto, ainda vão rolar os dados. Só que não entendeu isso foram os papagaios da imprensa, que repetiram mil vezes: “O Fluminense é fogo-de-palha; isso já, já, acaba.”. Enquanto isso, Washington, de forma surpreendente, retornou às Laranjeiras. Havia cheiro de gol.

O Maracanã com ótimo público num sábado à tarde, de quarenta mil presentes. O Fluminense, sedento pela vitória e torcendo pela reconquista da liderança. Do outro lado, o time que entregou um jogo vergonhosamente para nos derrubar em 1996, mais o debochado e folclórico Guerrón. O time que é uma espinha na nossa garganta, ainda a ser devidamente digerida. Ingredientes de uma partida para pegar fogo. E foi o que se viu. O Atlético perder um gol feito com o mesmo Guerrón, logo no começo; era um time veloz que não parecia disposto a se retrancar: pelo contrário, queria mandar no Maracanã. Foram vinte minutos de equilíbrio, até que o velho ditado de Muricy prevaleceu: a bola pune. E o algoz é o craque. Bola na lateral-esquerda, Bruno Costa titubeou e perdeu para Darío Conca. O argentino executou cruzamento mortífero para o meio da área. Quando as coisas estão escritas cinco mil vezes, não há como questionar: em condições normais, dada a precária técnica, Washington dificilmente acertaria o chute. Mas estava escrita, ele pegou de primeira e fez um golaço, estufou a rede e carimbou a vitória do Fluminense. Não me tenham como arrogante ou prepotente, essa não é minha marca. O bom Tricolor tem a estampa da humildade. Apenas falo da verdade: depois do gol, o Fluminense foi senhor absoluto da partida, o que não quer dizer que o Atlético não tenha tentado o empate. Nossos onze estiveram bem em campo, sem dúvida: Cássio fez sua partida mais veloz com a camisa Tricolor e, aliando isso à sua considerável técnica, foi um gigante na defesa; Julio César, outrora indeciso, jogava firme. Nem parecia que estávamos sem Fred em campo. Washington, matador quando foi preciso. E o primeiro tempo acabou com o Atlético tentando reagir, mas fornecendo espaços e, a cada vez que o Fluminense arrancava impiedosamente para o ataque, uma voz do além dizia: “São favas-contadas. O Fluminense vencerá. O Fluminense é melhor”. A descida para o vestiário foi confiante: ainda havia o que mostrar no segundo tempo.

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre o que seria o Fluminense em seus domínios, não gastou dez minutos para perdê-las. Outra jogada sensacional e surpreendente de Washington, em ótimo passe; a arrancada estonteante de Emerson; o chute impiedoso, inquestionável, veloz e fortíssimo, no alto: em poucos segundos, nova explosão da massa Tricolor em seu campo maior. Os rubro-negros sentiram o golpe: ali, o Fluminense não perderia nunca mais. E os jovens predominaram, para colocar mais velocidade na partida: Alan, bem como sempre, no lugar de Emerson; Fernando, o Bob, substituindo muito bem a Belletti desde o intervalo.

O terceiro gol do Fluminense foi de Washington, após ótimo passe do argentino. Foi a apoteose das três cores, mas poderia ter sido muito mais: antes do passe final, Conca praticamente driblou toda a defesa paranaense; seguro, preferiu servir ao Coração Valente, que não perdoou e empurrou a bola rasteira no canto esquerdo do goleiro Neto. E quando sofremos o primeiro tento, o jogo estava mais do que liquidado, tanto que não naasceu a partir de então nenhuma pressão atleticana.

O Fluminense dormiu no sábado como líder do campeonato e assim continuou, com o empate do Corinthians contra o Palmeiras. Somos os primeiros. Ainda é muito cedo para qualquer comemoração, mas gostaria de lembrar artigos do passado; quando éramos a galinha-morta do campeonato, noutras temporadas, o que diziam é que em doze jogos, se um time estivesse na zona de rebaixamento, já seria bem complicado de se recuperar nos próximos meses. Passou um terço do campeonato. Estamos em agosto. Quatro meses para se saber quem pisará no pantheon do futebol brasileiro. O título do campeonato, depois de vinte e seis anos – e muitas tentativas que ficaram bem próximas da taça – ainda é um sonho. A diferença de hoje para maio, julho e julho, é que hoje este sonho é real.

Para a alegria da enorme massa Tricolor, hoje somos os primeiros. Uma coisa é certa: brigaremos por essa taça, milímetro a milímetro, gota a gota, respiração a respiração. Este ano, nossa meta é cercar e dominar o topo. Nenhum gigantismo, nenhuma falácia insolente: não temos rádios, jornais e tevês para fazer do nosso time um sonho dos mitômanos. Temos trabalho. Um Tricolor me disse no metrô, depois do jogo: “Agora temos um time e um treinador”. Foi o que houve de mais sóbrio ontem. Estamos no páreo e que ninguém se surpreenda com nosso eventual triunfo. Agora é esperar que nada nos atrapalhe dentro do clube e fora das quatro linhas; dentro delas, tudo corre bem sob a batuta de Muricy.

No mais, resta perguntar a quem possa responder: que fim levou Guerrón?


Paulo-Roberto Andel