Entre o quase e o óbvio (31/08/2010)
Caros amigos, a vida segue e o Fluminense continua líder do campeonato brasileiro, após o empate de domingo no Maracanã. É fato que a nossa distância em pontos para o segundo colocado e os demais reduziu consideravelmente; contudo, para ser campeão numa competição de pontos corridos, às vezes nem é necessário ter ponto algum à frente do vice. Continuamos na ponta e, de toda forma, não é nenhum desastre empatar com o hexacampeão São Paulo em Mário Filho, ainda mais com a estrela de seu craque-símbolo reluzindo em campo, o inquestionável goleiro Rogério Ceni. Falando em goleiro, se pesarmos tudo o que aconteceu no domingo, podemos dizer que até ganhamos um ponto em vez de perdermos dois. Afinal, por mais que Belletti não estivesse bem em campo e até comprometesse a atuação da equipe, ou ainda que Washington tenha efetuado uma cobrança de pênalti sofrível contra o craque Ceni, a grande verdade é que o Fluminense desceu derrotado na primeira etapa por duas falhas crassas, absolutas e até patéticas do profissional que hoje ocupa a posição de arqueiro Tricolor: Fernando. Assim posto, o trabalho de recuperar o resultado contra um time forte, tricampeão brasileiro nos pontos corridos e que precisava de um bom resultado por conta da atual fase, foi triplicado. Ainda assim, quase viramos a partida, vide Washington; a vitória nos escapou num dia em que tudo deu quase errado, afora cenas óbvias já repetidas muitas e muitas vezes debaixo das nossas traves. Menos mal que, num bom momento, até as partes ruins ficam em segundo plano. O empate não foi uma tragédia, mas o desastre está nas circunstâncias em como ele aconteceu. O Fluminense está de pé, vivo e atuante, líder e senhor de si, mas é preciso muito cuidado, pois somente agora chegamos à metade do campeonato.
Foi um Maracanã de pouco público, diante da multidão que se interessa pelo Fluminense. A redução da carga de ingressos, a confusão com o fechamento das cadeiras azuis e a expectativa do posterior fechamento do Maracanã, até agora sob dúvida, contribuíram decisivamente para a não lotação do estádio, ainda que mais uma bela festa fosse vista nas arquibancadas. Mais incrível ainda foi o “planejamento” feito pelas autoridades em alocar a torcida são-paulina, com cerca de trezentas pessoas, num espaço das arquibancadas amarelas onde caberia oito vezes mais gente e, para culminar, impedindo o trânsito dos Tricolores no corredor. Não seria mais razoável e racional colocar os visitantes numa pequena parte das arquibancadas verdes à direita da tribuna do estádio? Assim, todo o resto permitiria a livre circulação dos nossos torcedores. Basta raciocinar. Ou “colar” o que se fazia nos anos 70.
O primeiro tempo não foi o nosso forte. Primeiro, sentimos as faltas de Emerson e Gum, como se já não bastasse Fred; segundo, não foi uma tarde feliz de Belletti e o time acabou tendo uma distribuição confusa em campo. Terceiro, porque a equipe paulista tem qualidade, não está numa posição na tabela condizente com seu elenco e precisava reagir. O quarto motivo fica para o final desta crônica. Ainda assim, toques geniais de Conca e Deco foram vistosos no gramado, e o luso-brasileiro marcou seu primeiro tento com a camisa Tricolor, após belo passe de Conca a linha de fundo e o cruzamento de Julio Cesar, que voltou a atuar bem. O gol logo no começo do jogo nos serviria para dar calma, até porque antes e depois dele o São Paulo foi um time de velocidade e ataque, nos pressionando severamente. Faltas surgiram com frequência na nossa intermediária e isso era uma preocupação. Ceni bateu uma com perigo e, pouco tempo depois, juntou sua perícia ao quarto motivo e empatou o jogo. Mal demos a saída, eles viraram o jogo com um verdadeiro donativo individual nosso e conseguiram a talvez até inesperada vantagem. Mais trabalho para Muricy do que o devido. O peso de ter que virar uma partida que estava à mão e foi entregue por grosseiros erros individuais.
Voltamos com Rodriguinho no ataque e a inevitável saída de Belletti. O time voltou com muita raça e inverteu os papéis: dono do ataque, contra um São Paulo recuadíssimo. Para piorar, o time do Morumbi tem um goleiro e ele se chama Rogério Ceni: com sua calma e sobriedade, sem pulos estrambóticos, cacoetes religiosos, ele fez várias defesas difíceis parecerem tranquilas (bem ao contrário do que temos sido obrigados a ver nos últimos anos nas Laranjeiras) e garantiu a paz temporária ao São Paulo, por quinze minutos. Até pode ter vacilado em nosso gol de empate, quando ameaçou dar um passo à frente e não foi para Leandro Euzébio cabecear no canto direito do goleiro; porém, o craque se redime: a seguir, com tranquilidade, pegou uma (péssima) cobrança de pênalti feita por Washington, e mostrou porque é o paradigma do goleiro brasileiro às vésperas de 40 anos de idade. Ainda houve vinte minutos para se tentar a virada, mas nosso time cansou, o São Paulo segurou firme e, no fim das contas, o empate foi justo pelo conjunto de produção das equipes.
O quarto motivo nasce nas arquibancadas amarelas à direita da tribuna, quando chega meu amigo Leo e comenta com humor: “Já tem um mês sem frangar, isso não é normal; podem se preparar para fortes emoções hoje...”. Alguns risos, a parcial contrariedade da nossa amiga Marô e veio o jogo. O comentário do Leo é que me fez escrever esta crônica somente hoje; queria não alimentar o texto com qualquer mágoa ou sentimentos ruins que não são da estirpe Tricolor. Porém, antes destas primeiras linhas, tive a oportunidade de ler nesta terça-feira as declarações de Fernando num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro, onde disse o seguinte: “Contra fatos não há argumentos. Estou há dez anos no clube e já joguei 259 vezes. Fui o goleiro titular no título da Copa do Brasil em 2007, no vice-campeonato da Libertadores em 2008 e estou invicto desde que voltei. Essa perseguição tem que acabar”.
Eu vos pergunto: QUE PERSEGUIÇÃO?
Apesar de estar há dez anos no Fluminense e de sua propalada paixão de torcedor Tricolor, Fernando mostrou em suas declarações que conhece pouco das Laranjeiras. Primeiro, não sabe que para ser nosso ídolo de verdade, não basta torcer para o Fluminense ou apenas mostrar um grande futebol que ele mesmo não tem: é preciso ter humildade. Basta olhar o presente, com Darío Conca. Basta olhar o passado imediato, com Thiago Silva ou Marcão. Um pouco mais atrás, com Paulo Victor (a quem ele, Fernando, teve a audácia de desdenhar recentemente), Delei, o genial Romerito e o histórico Benedito de Assis. Não é preciso falar de Castilho, Altair, Denilson, Telê. Fernando também conhece pouco de estatística, embora tente usá-la a seu favor: dos dez goleiros menos vazados da história do clube, é batido na média por nove deles – só vence o craque Batatais porque este fez sua carreira entre os anos 30 e 40, quando os placares eram muitos mais elásticos do que hoje. E, se realmente quisesse usar a estatística como ferramenta para se livrar de perseguições, o resultado seria desastroso: é o goleiro que mais vezes foi vazado em partidas seguidas na história do clube. Sem contar que, destes dez anos, não foi titular em cinco deles – nos cinco restantes, em duas oportunidades, foi barrado por deficiência técnica com o time nas últimas posições dos campeonatos brasileiros de 2006 e 2009; por coincidência ou não, após a barração o time se salvou em ambas as competições. E quando voltou ao time como titular, foi por contusão do novo goleiro (como neste 2010) ou por decreto superior (como em 2007). Definitivamente, os apupos de metade do anel Tricolor das arquibancadas cheias não são à toa: quem freqüenta os estádios está acostumado o que vê, mas não resignado.
Aos fãs do paragoleiro, deixo claro que nada de pessoal tenho contra sua figura e inclusive reconheço que teve alguns bons momentos no gol do Fluminense - infelizmente todos foram entrecortados com falhas grosseiras e barração. Tenho simpatia pelo fato de que ele seja um Tricolor declarado e vibrante, mas isso não significa que, como torcedor e cronista, eu precise fazer papel de cego para não ver as evidências. Estes fãs é que talvez não entendam que eu e muitos outros Tricolores criticamos a questão TÉCNICA de Fernando, tão-somente - afora uma ou outra bobagem, como questionar a trajetória vitoriosa de Paulo Victor no arco Tricolor.
Fernando se sente perseguido porque convive com vaias há muitos anos: contudo, todas foram originadas de falhas capitais suas. Algumas foram até esquecidas pela torcida, como a cometida contra o Boca Juniors em nossa antológica vitória por três a um em 2008, ou o incrível gol contra feito com as mãos contra o São Caetano em 2006. Fernando se sente perseguido porque uma considerável parte da torcida do Fluminense não o vê como ídolo e sequer como merecedor de ser titular de uma camisa que já foi vestida por Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho, Félix, Wendel, Paulo Victor. O mais incrível é que seus defensores muitas vezes o isentam de culpa em falhas e derrotas simplesmente por “ser Tricolor”. Eu vos pergunto: Emerson, nosso Sheik, é um declarado rubron-negro; por “não ser Tricolor”, deveria ser preterido do time? O mesmo vale para Fred, Conca e Deco. Ora, bolas, o que importa é o respeito profissional à camisa e, principalmente, a preparação durante os treinos para que os desastres não aconteçam nos jogos – e o senhor Fernando, com suas repetidas trapalhadas já conhecidas de boa parte da lucidez Tricolor, evidentemente tem deficiências de fundamentos na posição de goleiro: note-se as equivocadas saídas de gol que costuma cometer, afora a enorme dificuldade em se posicionar e defender qualquer cobrança de falta adversária que vá na direção do nosso gol. A partida contra o São Paulo foi apenas o mais do mesmo, a velha repetição dos mesmos erros. Em suma, o óbvio.
A função do goleiro é atuar justamente quando o time sofre dificuldades; o meio de campo não está bem e, por isso, não neutraliza os ataques adversários; a defesa não colabora, enfim, vários outros motivos.
O que se espera de Fernando com a camisa do Fluminense não tem a ver com berros apaixonados, deslumbramentos, frases vazias de baixo impacto ou a miopia diante de seus próprios – e inúmeros – erros. Basta que mostre dentro de campo o que ainda não fez em metade de sua carreira: alta qualidade técnica. Humildade para reconhecer que Paulo Victor, Félix e Castilho, afora outros tantos, não se tornaram herois da meta Tricolor à toa – fizeram e muito por merecer; não eram apenas torcedores no gol, mas sim craques do maior quilate.
Acima, muito acima, de Fernando, está o Fluminense. E ele volta a campo para uma duríssima batalha contra o Palmeiras de Scolari amanhã, no que pode ser a última jornada no Maracanã por um longo tempo. Nas condições atuais, mesmo na frente, a vitória é fundamental para nossas pretensões. Vencer ou vencer, com ou sem um bom batedor de pênaltis, com ou sem um goleiro à altura das tradições do clube - que fala demais e joga bem menos do que pensa. Quem espera sempre alcança - mas com humildade e trabalho.
Paulo-Roberto Andel
Caros amigos, a vida segue e o Fluminense continua líder do campeonato brasileiro, após o empate de domingo no Maracanã. É fato que a nossa distância em pontos para o segundo colocado e os demais reduziu consideravelmente; contudo, para ser campeão numa competição de pontos corridos, às vezes nem é necessário ter ponto algum à frente do vice. Continuamos na ponta e, de toda forma, não é nenhum desastre empatar com o hexacampeão São Paulo em Mário Filho, ainda mais com a estrela de seu craque-símbolo reluzindo em campo, o inquestionável goleiro Rogério Ceni. Falando em goleiro, se pesarmos tudo o que aconteceu no domingo, podemos dizer que até ganhamos um ponto em vez de perdermos dois. Afinal, por mais que Belletti não estivesse bem em campo e até comprometesse a atuação da equipe, ou ainda que Washington tenha efetuado uma cobrança de pênalti sofrível contra o craque Ceni, a grande verdade é que o Fluminense desceu derrotado na primeira etapa por duas falhas crassas, absolutas e até patéticas do profissional que hoje ocupa a posição de arqueiro Tricolor: Fernando. Assim posto, o trabalho de recuperar o resultado contra um time forte, tricampeão brasileiro nos pontos corridos e que precisava de um bom resultado por conta da atual fase, foi triplicado. Ainda assim, quase viramos a partida, vide Washington; a vitória nos escapou num dia em que tudo deu quase errado, afora cenas óbvias já repetidas muitas e muitas vezes debaixo das nossas traves. Menos mal que, num bom momento, até as partes ruins ficam em segundo plano. O empate não foi uma tragédia, mas o desastre está nas circunstâncias em como ele aconteceu. O Fluminense está de pé, vivo e atuante, líder e senhor de si, mas é preciso muito cuidado, pois somente agora chegamos à metade do campeonato.
Foi um Maracanã de pouco público, diante da multidão que se interessa pelo Fluminense. A redução da carga de ingressos, a confusão com o fechamento das cadeiras azuis e a expectativa do posterior fechamento do Maracanã, até agora sob dúvida, contribuíram decisivamente para a não lotação do estádio, ainda que mais uma bela festa fosse vista nas arquibancadas. Mais incrível ainda foi o “planejamento” feito pelas autoridades em alocar a torcida são-paulina, com cerca de trezentas pessoas, num espaço das arquibancadas amarelas onde caberia oito vezes mais gente e, para culminar, impedindo o trânsito dos Tricolores no corredor. Não seria mais razoável e racional colocar os visitantes numa pequena parte das arquibancadas verdes à direita da tribuna do estádio? Assim, todo o resto permitiria a livre circulação dos nossos torcedores. Basta raciocinar. Ou “colar” o que se fazia nos anos 70.
O primeiro tempo não foi o nosso forte. Primeiro, sentimos as faltas de Emerson e Gum, como se já não bastasse Fred; segundo, não foi uma tarde feliz de Belletti e o time acabou tendo uma distribuição confusa em campo. Terceiro, porque a equipe paulista tem qualidade, não está numa posição na tabela condizente com seu elenco e precisava reagir. O quarto motivo fica para o final desta crônica. Ainda assim, toques geniais de Conca e Deco foram vistosos no gramado, e o luso-brasileiro marcou seu primeiro tento com a camisa Tricolor, após belo passe de Conca a linha de fundo e o cruzamento de Julio Cesar, que voltou a atuar bem. O gol logo no começo do jogo nos serviria para dar calma, até porque antes e depois dele o São Paulo foi um time de velocidade e ataque, nos pressionando severamente. Faltas surgiram com frequência na nossa intermediária e isso era uma preocupação. Ceni bateu uma com perigo e, pouco tempo depois, juntou sua perícia ao quarto motivo e empatou o jogo. Mal demos a saída, eles viraram o jogo com um verdadeiro donativo individual nosso e conseguiram a talvez até inesperada vantagem. Mais trabalho para Muricy do que o devido. O peso de ter que virar uma partida que estava à mão e foi entregue por grosseiros erros individuais.
Voltamos com Rodriguinho no ataque e a inevitável saída de Belletti. O time voltou com muita raça e inverteu os papéis: dono do ataque, contra um São Paulo recuadíssimo. Para piorar, o time do Morumbi tem um goleiro e ele se chama Rogério Ceni: com sua calma e sobriedade, sem pulos estrambóticos, cacoetes religiosos, ele fez várias defesas difíceis parecerem tranquilas (bem ao contrário do que temos sido obrigados a ver nos últimos anos nas Laranjeiras) e garantiu a paz temporária ao São Paulo, por quinze minutos. Até pode ter vacilado em nosso gol de empate, quando ameaçou dar um passo à frente e não foi para Leandro Euzébio cabecear no canto direito do goleiro; porém, o craque se redime: a seguir, com tranquilidade, pegou uma (péssima) cobrança de pênalti feita por Washington, e mostrou porque é o paradigma do goleiro brasileiro às vésperas de 40 anos de idade. Ainda houve vinte minutos para se tentar a virada, mas nosso time cansou, o São Paulo segurou firme e, no fim das contas, o empate foi justo pelo conjunto de produção das equipes.
O quarto motivo nasce nas arquibancadas amarelas à direita da tribuna, quando chega meu amigo Leo e comenta com humor: “Já tem um mês sem frangar, isso não é normal; podem se preparar para fortes emoções hoje...”. Alguns risos, a parcial contrariedade da nossa amiga Marô e veio o jogo. O comentário do Leo é que me fez escrever esta crônica somente hoje; queria não alimentar o texto com qualquer mágoa ou sentimentos ruins que não são da estirpe Tricolor. Porém, antes destas primeiras linhas, tive a oportunidade de ler nesta terça-feira as declarações de Fernando num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro, onde disse o seguinte: “Contra fatos não há argumentos. Estou há dez anos no clube e já joguei 259 vezes. Fui o goleiro titular no título da Copa do Brasil em 2007, no vice-campeonato da Libertadores em 2008 e estou invicto desde que voltei. Essa perseguição tem que acabar”.
Eu vos pergunto: QUE PERSEGUIÇÃO?
Apesar de estar há dez anos no Fluminense e de sua propalada paixão de torcedor Tricolor, Fernando mostrou em suas declarações que conhece pouco das Laranjeiras. Primeiro, não sabe que para ser nosso ídolo de verdade, não basta torcer para o Fluminense ou apenas mostrar um grande futebol que ele mesmo não tem: é preciso ter humildade. Basta olhar o presente, com Darío Conca. Basta olhar o passado imediato, com Thiago Silva ou Marcão. Um pouco mais atrás, com Paulo Victor (a quem ele, Fernando, teve a audácia de desdenhar recentemente), Delei, o genial Romerito e o histórico Benedito de Assis. Não é preciso falar de Castilho, Altair, Denilson, Telê. Fernando também conhece pouco de estatística, embora tente usá-la a seu favor: dos dez goleiros menos vazados da história do clube, é batido na média por nove deles – só vence o craque Batatais porque este fez sua carreira entre os anos 30 e 40, quando os placares eram muitos mais elásticos do que hoje. E, se realmente quisesse usar a estatística como ferramenta para se livrar de perseguições, o resultado seria desastroso: é o goleiro que mais vezes foi vazado em partidas seguidas na história do clube. Sem contar que, destes dez anos, não foi titular em cinco deles – nos cinco restantes, em duas oportunidades, foi barrado por deficiência técnica com o time nas últimas posições dos campeonatos brasileiros de 2006 e 2009; por coincidência ou não, após a barração o time se salvou em ambas as competições. E quando voltou ao time como titular, foi por contusão do novo goleiro (como neste 2010) ou por decreto superior (como em 2007). Definitivamente, os apupos de metade do anel Tricolor das arquibancadas cheias não são à toa: quem freqüenta os estádios está acostumado o que vê, mas não resignado.
Aos fãs do paragoleiro, deixo claro que nada de pessoal tenho contra sua figura e inclusive reconheço que teve alguns bons momentos no gol do Fluminense - infelizmente todos foram entrecortados com falhas grosseiras e barração. Tenho simpatia pelo fato de que ele seja um Tricolor declarado e vibrante, mas isso não significa que, como torcedor e cronista, eu precise fazer papel de cego para não ver as evidências. Estes fãs é que talvez não entendam que eu e muitos outros Tricolores criticamos a questão TÉCNICA de Fernando, tão-somente - afora uma ou outra bobagem, como questionar a trajetória vitoriosa de Paulo Victor no arco Tricolor.
Fernando se sente perseguido porque convive com vaias há muitos anos: contudo, todas foram originadas de falhas capitais suas. Algumas foram até esquecidas pela torcida, como a cometida contra o Boca Juniors em nossa antológica vitória por três a um em 2008, ou o incrível gol contra feito com as mãos contra o São Caetano em 2006. Fernando se sente perseguido porque uma considerável parte da torcida do Fluminense não o vê como ídolo e sequer como merecedor de ser titular de uma camisa que já foi vestida por Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho, Félix, Wendel, Paulo Victor. O mais incrível é que seus defensores muitas vezes o isentam de culpa em falhas e derrotas simplesmente por “ser Tricolor”. Eu vos pergunto: Emerson, nosso Sheik, é um declarado rubron-negro; por “não ser Tricolor”, deveria ser preterido do time? O mesmo vale para Fred, Conca e Deco. Ora, bolas, o que importa é o respeito profissional à camisa e, principalmente, a preparação durante os treinos para que os desastres não aconteçam nos jogos – e o senhor Fernando, com suas repetidas trapalhadas já conhecidas de boa parte da lucidez Tricolor, evidentemente tem deficiências de fundamentos na posição de goleiro: note-se as equivocadas saídas de gol que costuma cometer, afora a enorme dificuldade em se posicionar e defender qualquer cobrança de falta adversária que vá na direção do nosso gol. A partida contra o São Paulo foi apenas o mais do mesmo, a velha repetição dos mesmos erros. Em suma, o óbvio.
A função do goleiro é atuar justamente quando o time sofre dificuldades; o meio de campo não está bem e, por isso, não neutraliza os ataques adversários; a defesa não colabora, enfim, vários outros motivos.
O que se espera de Fernando com a camisa do Fluminense não tem a ver com berros apaixonados, deslumbramentos, frases vazias de baixo impacto ou a miopia diante de seus próprios – e inúmeros – erros. Basta que mostre dentro de campo o que ainda não fez em metade de sua carreira: alta qualidade técnica. Humildade para reconhecer que Paulo Victor, Félix e Castilho, afora outros tantos, não se tornaram herois da meta Tricolor à toa – fizeram e muito por merecer; não eram apenas torcedores no gol, mas sim craques do maior quilate.
Acima, muito acima, de Fernando, está o Fluminense. E ele volta a campo para uma duríssima batalha contra o Palmeiras de Scolari amanhã, no que pode ser a última jornada no Maracanã por um longo tempo. Nas condições atuais, mesmo na frente, a vitória é fundamental para nossas pretensões. Vencer ou vencer, com ou sem um bom batedor de pênaltis, com ou sem um goleiro à altura das tradições do clube - que fala demais e joga bem menos do que pensa. Quem espera sempre alcança - mas com humildade e trabalho.
Paulo-Roberto Andel