Wednesday, August 25, 2010

VASCO 2 X 2 FLUMINENSE (22/08/2010)



Para deixar saudades (23/08/2010)

Eram cinco minutos do segundo tempo da partida de ontem, e a imensa massa vascaína explodia como nunca: a Colina acabara de fazer, mais uma vez, o papel de algoz contra o nosso time. Uma virada estrondosa. Pensei nos velhos e novos tempos: o Vasco está sempre no nosso caminho. O adversário mais difícil de ser batido por nós. E pensei: ainda é cedo. Afinal, começamos o jogo dando as cartas com o emocionante gol do zagueiro Gum; depois, eles empataram com Éder Luis em falha da nossa defesa esquerda. Eles viraram, mas ainda era cedo, cedo como foram muitas outras emoções. E com o time do ai-jesus, o time do último minuto, o atual líder do campeonato brasileiro, não se pode brincar. Dez minutos depois da virada vascaína, tudo ficaria igual de novo, e assim seria até o apito derradeiro, mesmo com grandes oportunidades para ambos os lados. Um dos melhores clássicos dos últimos anos, disputado a cada fio de cabelo, que terminou justamente empatado. Uma digna despedida das apoteóticas - e lotadíssimas - cadeiras azuis do Maracanã em seu último jogo, já que serão extintas para a nova configuração dos assentos do estádio. E deixarão saudade, muita saudade, como um dia já deixou a eterna geral.

Quem esteve ontem no Maracanã viu uma festa linda. Um espetáculo de cores e alegria nas arquibancadas e por todo o estádio. A beleza do mosaico Tricolor feito com balões de gás dava um contraste ao preto-e-branco vascaíno. Melhor ainda que os times tenham entrado em campo com seus uniformes clássicos, tradicionais. Em campo, nós lutávamos pela consolidação da liderança e o Vasco pela proximidade ao G4. Eram oitenta mil pessoas, mas meus olhos fatigados viam cento e dez mil, como nos meus tempos de criança. E uma coisa é certa: de lá para cá, o Vasco sempre foi carne-de-pescoço. Mesmo quando fomos superiores e vencemos títulos contra eles, nada foi fácil. E de vinte anos para cá, São Januário é uma espinha atravessada na garganta das Laranjeiras, sem descer com litros d’água. Mesmo em muitas partidas mais recentes, quando pareciam em situações desfavoráveis, ao menos nos impuseram o empate – isso quando não venceram, como no desespero do fim de 2008. É deles que nos vem o verdadeiro ai-jesus.

Quero falar do começo do jogo. O Fluminense entrou com a verdadeira obsessão pela vitória e quase marcou no primeiro – e lindo – chute do argentino Conca, perto do ângulo direito de Prass. Logo depois, o gol no escanteio pela direita do ataque, a cobrança curvada de Conca, o rebote e o chute de Gum, fazendo explodir a multidão Tricolor. O líder começou jogando como líder. O Vasco sentiu o golpe por alguns minutos, mas, time grande que é, a seguir voltou com o implacável senso de marcação e uma correria alucinante. A partida parecia uma corrida de Fórmula 1. Os ataques tinham alguma supremacia sobre as defesas, mas as finalizações não alcançavam o objetivo. Aos poucos, surgiu um problema para nós: recuamos o time mais do que o devido, o que fez com que o Vasco se sentisse mais à vontade para agredir. Entretanto, o gol saiu justamente em outra situação, num contra-ataque; Carlos Alberto, o melhor homem em campo e jogando com exagerada liberdade, fez ótimo passe para a direita do ataque. Apesar de nossos três zagueiros, a defesa estava desguarnecida. Éder Luis entrou livre e deslocou Fernando. Tudo igual no placar, mas o vazio entre nossa defesa e ataque era preocupante, afora a esforçada – mas inócua – tentativa de Washington voltar ao meio de campo para brigar com a bola (acabava brigando com a bola). O Vasco cresceu ainda mais nos instantes finais, mas não o suficiente para a virada. O segundo tempo prometia, ainda mais com Deco no banco de reservas, pronto para jogar.

Nossa expectativa era a de Muricy acertar o time, baqueado após o gol sofrido. Contudo, mal começou o segundo tempo, o velho Carlos Alberto, com seu velho corte e passe de pé direito, dividiu uma bola com Diguinho de pé-murcho – o pior momento da partida, antes de sair contundido -, ganhou e encontrou o lateral Fagner livre outra vez; o trio de zaga estava desatento mais uma vez e o Vasco comemorou a virada com ânsia. Seria mais um dos castigos que o Vasco imporia a nós? Não, definitivamente não. O Fluminense deste semestre é o time de Muricy, é o time que não se entrega e faz do gol seu próprio oxigênio. Era preciso mudar, e todos esperavam Deco em campo; além do inegável talento, sua entrada contribuiria para diminuir o ímpeto ofensivo dos vascaínos. Antes disso, o pecado capital: não se pode dormir num clássico. Diguinho fez isso e fomos punidos com a virada. Houve uma bola na direita do ataque e Felipe sairia jogando; ele se distraiu e perdeu para Emerson. O Sheik rapidamente cruzou para a área. Zé Roberto, em vez de despachar a bola, quis dominá-la; perdeu o tempo, Julio César a tomou com surpreendente velocidade, frente à pequena área, e fuzilou Prass. Era o empate. Nada estava perdido, ainda que a vitória tão desejada não viesse.

Os quinze minutos do fim de jogo reservaram fortes emoções. Finalizações perigosíssimas para ambos os ataques e, a nosso favor, a entrada triunfal de Deco. O luso-brasileiro não está em plena forma, mas rapidamente mostrou seu arsenal de jogadas: passes perfeitos, uma jogada em que deixou dois marcadores no chão e a chegada avassaladora como atacante, num chutaço pelo alto que, se tivesse pegado o rumo certo, Prass nem teria se mexido. Para fechar o jogo, como se fosse um castigo a ser repetido, novamente Carlos Alberto pela direita, novamente a defesa perdida e um chute perigoso que saiu rente à trave direita do nosso goleiro. A justiça foi feita. No belo espetáculo de ontem ninguém merecia perder. Para as estatísticas, mais uma pedrinha vascaína em nosso sapato. Desta vez, leve.

Falta pouco para terminar o primeiro turno. Precisamos manter o ritmo incessante. Agora, começa a seqüência de partidas quarta e domingo. Não há tempo para respirar. O empate fez com que nossa vantagem sobre o segundo colocado caísse para dois pontos, fazendo o delírio das aratacas de plantão. Se conseguirmos manter essa vantagem durante todo o difícil segundo turno, seremos campeões. É o que importa, é o imperativo: manter a vantagem. E mesmo que não seja assim e que, em alguma rodada, sejamos superados por outro time, não há por que se desesperar. O importante é estar brigando nas últimas rodadas. É sempre bom lembrar que este time ainda sente a falta de Fred. Quando o matador voltar e tabelar com Deco e Conca, será bem difícil manter a calma de qualquer defesa adversária.

Pela frente, dois times bastante difíceis, independentemente da colocação: Goiás, no Serra Dourada, e São Paulo no apertado Maracanã. Nossa prova de fogo. É uma semana de afirmação. Enquanto isso, lembro das cadeiras e da geral. A saudade é inevitável.

Paulo-Roberto Andel

1 comment:

Paty e Will Vianna said...

Muita saudade das cadeiras, amigo.
Vamos aguardar as obras, o Maraca vai ficar melhor ainda (espero). Enquanto isso, vamos nos deliciando com o Fluzão.