Wednesday, August 18, 2010

FLUMINENSE 3 X 0 INTERNACIONAL (15/08/2010)


Mais alegria (16/08/2010)

Por volta de duas e meia da tarde de ontem, eu me preparava para sair de casa rumo ao Maracanã monumental. O telefone tocou:

- Cara, é derrota certa, o Bruno super pé-frio vai ao jogo com o pai.

Agradeci a ligação. Era o amigo Zé Freire, o pé-frio mais temido por toda a Gávea. Ali se fez a senha para uma grande vitória. Nada pode ser mais confortante para um Tricolor do que a tentativa de mau-agouro promovida por um flamenguista.

O entorno de Mário Filho lembrava o de uma grande decisão de campeonato. Talvez fosse; em competições de pontos corridos, todo jogo tem importância. Carros e mais carros a perder de vista no viaduto Oduvaldo Cozzi e na avenida Radial Oeste. Homens, mulheres e crianças com a obsessão de ver o Fluminense em campo, o líder do Brasil defendendo a cabeça da tabela. A beleza estampada nas cores, nas faces e nos tecidos. Não há como contestar: o Tricolor voltou e, tal como reza a tradição, com trajes de gala. Sessenta mil apaixonados e mais um lindo mosaico em branco da paz, celebrando os maravilhosos títulos brasileiros de 1970 e 1984. É importante também falar da presença de Deco: o craque luso-brasileiro, que seria por demais decantado caso viesse da Europa para outro time, foi um amuleto prévio em campo, já desfilando com nosso manto. Sim, amigos: o Fluminense de ontem e hoje, mais líder do que nunca, sofre o desfalque de ninguém menos do que Fred, mais a recuperação de Belletti e a preparação de Deco. É fácil perceber que temos um de nossos elencos mais fortes dos últimos tempos; o que se espera agora é o equilíbrio e o bom-senso entre o clube, o patrocinador e as outras forças componentes do Fluminense para que sejamos bem-sucedidos. Disputar uma vaga na Libertadores é uma realidade. O título é um sonho ainda distante, que precisa ser concretizado a cada passo, com total segurança. Distante, porém possível.

Um ano passa rápido, num estalar de dedos. Não há como esquecer 2009. O jogo daquele dia teve um sabor amargo. Éramos o desespero em três cores centenárias: a vitória era vital para a sobrevivência na primeira divisão, onde éramos mais do que os últimos – primordialmente, o alvo das chacotas. Na tarde de calor infernal, abrimos o placar com Gum, eles viraram e, no fim, um outro gol salvador de Gum, jogando feito artilheiro, nos deu um mísero ponto que foi a nossa redenção ao fim daquele certame. Eram trinta mil pessoas apaixonadas acreditando na virada; a partir dali, viraram quarenta, cinqüenta, sessenta mil e, um ano depois, a nossa luta não é mais para escapar do abominável descenso, mas sim de manter vivo o sonho de um título tão esperado. Somos os primeiros; a grande vitória de ontem ratificou esta posição.

Não me venham com a falácia mofada de que o Internacional entrou em campo com um time de reservas. Renan, Sorondo, Fabiano Eller, Tinga, Andrezinho e Rafael Sobis são meio time de um dos melhores elencos do país – o virtual campeão brasileiro na visão sempre certeira (sic) de Kfouri. Foram a campo com seriedade, mesmo com o time já com a cabeça na final da Libertadores e no esquema 3-6-1, que dificulta qualquer time mandante. O jogo foi muito equilibrado, ao menos em seu começo. Quando podia, o Inter atacava e preocupava. Mas o Fluminense de hoje é mortífero, não se pode bobear. Dois ataques em torno dos vinte minutos e dois gols. O primeiro, feito a meu ver pelo jogador mais importante em campo, Mariano. Conca é o craque, é quem a bola procura, é quem dá as cartas e combate com absoluta garra Argentina; contudo, o símbolo do Fluminense de hoje está nas arrancadas de Mariano pela lateral-direita – ora cruza com maestria, ora dá um corte para dentro e chuta. Não podia haver união maior: o lateral invadiu pela direita, executou o corte e chutou. A bola acabou sendo interceptada e amortecida por Conca, que estava no caminho, só que tomou o canto direito e bateu Renan. No segundo, o escanteio fornecido pelo nosso Fabiano Eller, campeão de 2005. Na direita do ataque, a cobrança perfeita do argentino - craque da partida, sem dúvida – e a cabeçada de Washington no ângulo esquerdo de Renan. Reitero: Conca enche os olhos de qualquer um com seu majestoso futebol, mas é nas arrancadas de Mariano que se vê a vontade de um time que pode ser campeão. Nos minutos restantes, metade da primeira etapa, o Fluminense continuou a pressionar o Inter, quase marcando mais um gol pelo menos; do nosso lado, uma defesa mais circense do goleiro do que propriamente difícil, e o Fluminense desceu tranqüilo para o vestiário.

No segundo tempo, o mesmo panorama do primeiro: absoluto equilíbrio de forças até que o Inter vacilou, Emerson entrou com o vigor tradicional pela direita e fuzilou Renan por entre as pernas, fazendo o terceiro gol do Fluminense e a completa alegria dos nossos sessenta mil torcedores. A partir de então, com os gaúchos conformados e os Tricolores satisfeitíssimos, o jogo passou a ser de toque de bola sem grandes ameaças aos goleiros, uma ou outra no máximo. Vibração ensurdecedora nas arquibancadas foi a que anunciou os gols do Avaí, que batia o Corinthians e nos permitia aumentar a vantagem na tabela para quatro pontos de vantagem. Nova vibração ao fim da partida: os milhares se abraçando ao comemorar a volta do Tricolor, mais líder do que nunca. Definitivamente, 2010 é bem diferente de seu antecessor.

Muitas e muitas vezes, nós vimos projeções dos matemáticos e estatísticos a respeito dos times e suas chances de rebaixamento. Ninguém tocou um pio sobre a liderança do Fluminense, até porque ainda é muito cedo para qualquer definição. Mas eu lembro que começamos o campeonato sob clima de total descrédito e hoje somos os maiores pontuadores. Ainda temos muitos jogos pela frente. As próximas rodadas permitirão dizer o que vem pela frente: Palmeiras, São Paulo, Vasco, Guarani. Uma coisa é certa: ninguém nos tira do grupo de favoritos ao certame deste ano, queiram ou não. Nesta semana, muito trabalho para enfrentar um dos mais temíveis adversários: a Colina. O Maracanã será pequeno, os corações estarão acelerados. Porém, só de saber que temos a opção de reaproveitar o talento de Fred ou estrear o de Deco, os ventos que sopram nas Laranjeiras não podem ser outros que não os de otimismo. Ainda falta muita coisa, mas ser campeão brasileiro de 2010 é, inegavelmente, um pouco menos difícil do que impedir o descenso em 2009. Nós conseguimos. O céu é o limite. No próximo domingo, mais um passo importante.

No fim da noite de ontem, refestelado no conforto de meu lar, eis que o telefone tocou. Era Ursula, depois era o amigo Bolinha. O camarada Zé não telefonou outra vez. A Gávea está silenciosa.


Paulo-Roberto Andel

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