Mais um algoz à lona (26/08/2010)
Quando um grande time encontra-se em grande fase, todos os percalços normalmente lembrados no mundo do futebol ficam por terra: jogadores que estão no banco conseguem suprir a ausência dos titulares, torcedores pés-frios que povoam as arquibancadas não conseguem exercer nenhuma carga negativa; o adversário pode ser forte e agressivo que, num estalo, tudo dá certo e vem um grande triunfo. Este último exemplo foi o caso de ontem, na grandiosa vitória do Fluminense sobre o Goiás em pleno Serra Dourada, por três a zero. Primeiro porque, tal como no jogo anterior contra São Januário, o esmeraldino das centrais é uma carne-de-pescoço para o Tricolor em qualquer situação; segundo, porque precisava desesperadamente da vitória e jogava em casa, onde costuma apresentar boas performances; terceiro, porque a essa altura da competição, são todos contra a nossa camisa, de modo que cada jogo é um desafio ainda maior em se manter no topo da tabela. Mas tudo deu certo: mesmo numa partida em que o time não foi permanentemente brilhante, os bons momentos foram muito mais numerosos do que os maus agouros. O talento do craque reluziu com vigor. Pouco resta aos famigerados editores de esportes para esconder o óbvio ululante à vista menos apurada que seja: o Fluminense é um dos reais candidatos ao título de campeão brasileiro e, se mantiver a pegada atual, é o grande favorito. Reitero: ninguém resiste ao talento de um craque!
Não me venham com bravatas de que o Fluminense não é mais o mesmo, que perdeu velocidade e que não é tão ameaçador quanto em outras partidas. Hoje escalado com jogadores experientes, o que se vê é um time preparado para dar o bote mortífero quando é o momento certo. Foi o que aconteceu. Ainda assim, buscamos o gol logo de saída, lembrando que, independentemente da fase em que se encontra hoje, o Goiás é sempre um adversário temível em seus domínios, afora o fato de contar com experimentados ex-Tricolores como Wellington Monteiro (carinhosamente apelidado por nossa amiga Marô de “Gordinho 5” nos tempo em que era nosso defensor), o quase folclórico Rafael “He-Man” Moura e o veloz Everton Santos, mais jogadores conhecidos como Jonilson, Júnior e Amaral. Começamos bem, mas, aos poucos, era normal que o time da casa buscasse resultado. O Goiás fez isso sem o sucesso esperado, felizmente. E não pecamos pela passividade: um dos lances mais perigosos ao fim da primeira etapa foi justamente nosso, com a cabeçada à queima-roupa de Diogo e a grande intervenção do veterano goleiro Harley. E o outro, com Gum perdendo o gol, chutando livre em cima de Tolói. Não foi uma primeira etapa de moleza, mas sim um jogo equilibrado, com alternativas e muito corrido debaixo da baixíssima umidade goiana. Foi bom para o Fluminense o empate neste tempo, como poderia ter sido em todo o jogo. Felizmente, excelentes surpresas estavam reservadas para os nossos corações, valentes como o de Washington.
Na volta ao campo, nem o “tranqüilo” Muricy (bem-humorada força de expressão) nem o tenso Leão mexeram em suas equipes, e o que se viu nos primeiros minutos foi uma retomada do que havia sido jogado antes: os times estudando o melhor momento para o grande golpe, os goleiros sem nenhuma intervenção relevante e o tempo correndo. Talvez alguém tivesse pensado que o jogo terminaria num empate sem gols, razoável para o Fluminense e péssimo para o Goiás. Talvez. A realidade desfraldou outros fatos.
Falei noutras linhas desta crônica e não cansarei de repetir: ninguém resiste ao talento de um craque. O craque rompe barreiras, desafia paradigmas, cria soluções geniais onde os olhos da obviedade não alcançam o horizonte. Se um desavisado soubesse do placar no intervalo, ficasse ausente e só o pesquisasse ao final do jogo, o que lhe viria primeiramente à cabeça para imaginar que o zero a zero se tornou um três a zero retumbante? Simples: o craque.
Deco não vinha de um bom ano: rendeu pouco nos últimos momentos com o poderoso Chelsea e pouco jogou na Copa da África do Sul. Se tivesse vindo para outro time, mais querido aos olhos da imprensa, certamente seria recebido como um mito: craque em Portugal, Espanha e Inglaterra; dotado de fundamentos como chute, passe e drible precisos, cairia como uma luva em novas manchetes. Mas a imprensa não gosta do Fluminense líder, menos ainda de que o Tricolor fosse capaz de trazer um reforço internacional, um craque além-mar e além-fronteiras. Diziam que era uma enganação, jogador de passagem. Como seria possível? Só os rancorosos e ressentidos com as glórias das Laranjeiras, isentos de esportividade, acreditariam em tal bobagem. O luso-brasileiro jogou seus vinte minutos contra o Vasco e mostrou seu talento em três ou quatro lances de fazer o Maracanã tremer. Ontem não foi diferente. Na tabela com o também craque – cracaço – Conca, Deco chega la lateral da área. Os desavisados pensariam se tratar de um cruzamento para o Coração Valente. Não foi o caso: era um passe, um passe precioso, digno, belo em sua trajetória de curva que tirou toda a defesa verde do lance. Washington pode não ser do trato com a pelota, mas sabe reconhecer um lindo passe a ponto de convertê-lo em gol. E foi mais um dos lindos gols do Fluminense nessa maravilhosa trajetória recente: chute forte, fuzilando Harley, um a zero. O Goiás acusou o golpe. O tento cheirava a mais uma vitória, a quinta fora de casa. O jogo estaria decidido? Quase.
Não se desafia o craque. Deco ainda queria mais. O toque de primeira para nosso cão de guarda, Mariano. O toque para Emerson, livre, marcar o segundo gol. Com dois a zero, aí sim os goianos reconheceram a derrota. Não é fácil virar um jogo contra o líder do campeonato em tais circunstâncias.
Ainda haveria o golpe final, com a entrada de Marquinho. O meia-lateral, muitas vezes contestado, mas bastante útil em outras, recebeu um primoroso passe do jovem Bob (que prima pela regularidade quando é chamado a jogo). Livre, diante de Harley, tocou rasteiro no canto esquerdo e, nos acréscimos, sacramentou o resultado final. Mais um de nossos algozes tradicionais ao nocaute.
Trinta e seis pontos a três jogos do fim do primeiro turno. Uma coisa é certa: entre muitos soluços e engasgos, o Fluminense cada vez mais mostra a sua força neste ano.
Paulo-Roberto Andel
3 comments:
Muito bom!!!
Gostei da crônica.
ST
Show de bola, como sempre.
Beijosss
E.T.
Para a próxima: Elio, tricolor, 2 anos, sabia que o Washington treinou com o Ceni.
Pergunta do torcedor precoce: por que, então,"ele" "cobrar/bater mal "[rs]o pênalti?
Neeeense...
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