Monday, January 24, 2011

FLUMINENSE 6 X 2 OLARIA (23/01/2011)


Dia de luz, festa de sol (24/01/2011)


Ontem, Fluminense e Olaria fizeram um jogo com várias nuances e circunstâncias, principalmente no primeiro tempo. Chutes perigosos, boas defesas, falhas, idas e vindas, viradas e reviravoltas no placar, bolas na trave: tudo aconteceu para uma partida rica e que acabou com uma poderosa goleada Tricolor por seis a dois no Engenhão. A alegria continua e, com ela, a certeza de que somos candidatos à Guanabara.

Nossa luta carioca começou na quinta-feira passada e, nela, a vitória mínima sobre o bom time do Bangu a poucos minutos do fim da partida serviu como amuleto: parecia ser o velho Fluminense de 1951, o rei dos um-a-zero que valeram um título. Porém, sabíamos que o time poderia render bem mais. Creio que o Fluminense buscará um equilíbrio no decorrer da competição; não é o caso de suspeitar do jogo contra os de Moça Bonita e nem de pular estrepitosamente com a goleada de ontem. Temos Muricy à beira do campo, seguindo os mandamentos do Mestre Telê Santana: nem desespero, nem euforia exagerada. Mas deixo claro: vencemos com autoridade, equilibro e atitude. Seis gols não são entregues de bandeja num drive-thru: o Tricolor cumpriu bem seu papel. Não me venham com galhofas.

Logo no primeiro minuto, ainda sob os raios de sol lambendo as arquibancadas do Engenhão, uma linda tabela entre Mariano, Deco e Fred fazia vezes de grande promessa para este ano tão esperado – o da nossa volta à América, o da luta pelo estadual e pelo tetracampeonato brasileiro. Os dez minutos seguintes foram de total predomínio das Laranjeiras, até que Fred, em passe típico dos melhores camisas dez de outros tempos, deu um passe de letra e deixou o brigador Marquinho – felizmente de volta ao futebol, após a fratura no braço - com a faca e o queijo nas mãos para abrir o marcador. Na marca do pênalti, livre, o camisa sete fuzilou de pé esquerdo no canto esquerdo do goleiro Renan. Mas não houve tempo para qualquer festa: enquanto vários dos nossos jovens leões ainda urravam por conta do gol, o Olaria deu a saída, não se fez de rogado e empatou: livre frente à área, Felipe chutou forte de pé esquerdo também, mas no canto direito de Ricardo Berna, que nada pode fazer. Evidentemente, o empate foi uma surpresa negativa, mas nada que abalasse a incessante fé da nossa torcida. Os cinco minutos seguintes é que nos deram certo mal-estar, porque os azuis ganharam confiança e vieram para a frente, geralmente em velozes contra-ataques. Num deles, o excesso de garra de Valencia resultou num pênalti contra nós, muito bem-cobrado por Renan Silva: pé esquerdo com força no canto esquerdo, Ricardo Berna completamente deslocado no chute. Sinceramente, não creio que o pênalti seria marcado com facilidade se estivesse em campo outra grande equipe que não fosse o Fluminense, mas estava feito e o jeito era seguir em frente. É sempre desagradável estar perdendo qualquer jogo de virada, ainda mais antes dos vinte minutos do primeiro tempo, mas justamente por causa disso é que o torcedor do Fluminense não precisava se abalar. Afinal, quem espera sempre alcança. Dada a saída de bola, retomamos a partida como se não estivéssemos em desvantagem no marcador: o Fluminense de hoje é um time confiante, calejado. E mostraria a que veio.

Deco ficou pouco tempo em campo, nitidamente ainda sente o forte calor do Rio de Janeiro e, tendo em vista já ser um veterano, tem dificuldades para chegar ao esplendor da forma. Contudo, nas poucas vezes que toca na bola, ela parece deslizar num perfeito carpete de sinuca. E foi assim que o Fluminense empatou o jogo: ele devolveu de primeira, com categoria, um rebote da defesa olariense e deixou Fred tão livre quanto este deixara Marquinho na abertura do placar. Com o grande artilheiro livre no semicírculo de ataque, a classe do pé direito no canto esquerdo foi absoluta, decretando o dois a dois. A primeira etapa ainda seria marcada pelo lance capital da partida: Renan Silva se aproveitou de uma furada calamitosa de Euzébio, entrou na área e driblou Berna; quando chutou para o gol livre, lá estava Carlinhos fazendo cobertura na trave direita e impedindo a nova desvantagem. O contra ataque foi mortífero: um inusitado cruzamento de pé esquerdo de Mariano, a confusão na defesa do Olaria e Fred, sempre ele, tocando de cabeça no canto esquerdo para o fundo das redes, decretando a revirada e permitindo uma descida tranqüila para o intervalo. Alívio: a dificuldade foi grande, mas deu tudo certo. Se Deco não esteve nos seus melhores dias, Tartá foi muito bem e decisivo; se Euzébio andou se equivocando, Berna e Carlinhos deram conta das tarefas; se Mariano parecia tímido e lento em parte do jogo, esteve presente na hora da virada com uma maravilhoso cruzamento. Falando particularmente em Berna, entendo que seu grande momento no gol Tricolor continua e não vejo o menor motivo para que Cavalieri ocupe esta vaga. Quem agüentou as pressões de 2006 e do fim do ano passado merece ser titular. É claro que Cavalieri é um goleiro de grande categoria, apesar de ter mostrado pouco serviço nos últimos anos em que esteve no futebol europeu. Brigará pela vaga e será uma grande disputa. Contudo, entendo que se Berna for barrado por questões extra-campo, uma enorme injustiça estará desenhada em Álvaro Chaves.

Podemos dizer que o jogo foi decidido na saída para o segundo tempo. No primeiro ataque, um escanteio cobrado por Marquinho e então Rodriguinho, que substituíra Deco, cabeceou no canto direito, fazendo quatro a dois e tirando qualquer ambição maior do Olaria. Nova revirada parecia algo improvável, ainda que nós, das Laranjeiras, bem saibamos sobre desmontar paradigmas. Mas o fato é que o jogo tomou ares de treino, abrindo alas para a colossal categoria de Fred, as boas jogadas de Tartá e um Fluminense que, mesmo tendo quase garantido os três pontos, não abdicou do ataque em momento algum. Coube a Rodriguinho marcar novamente após receber ótimo passe de Tartá, em chute rasteiro num ataque pela direita, jogada típica dele, para fazer o quinto gol. E ainda haveria novas emoções, contra e a favor: Marquinho, com absoluto merecimento, faria um lindo gol de falta no apagar das luzes, além do Olaria balançar a nossa trave antes do apito final. Para uma segunda partida de campeonato, foi excelente: um show de Fred, muito bem-coadjuvado por nossos outros jogadores.

Não custa lembrar que o Fluminense ainda tem o genial Conca em recuperação médica, além da ausência de Emerson no ataque. As opções de Araújo e Edinho. O elenco é forte e estamos apenas no começo. Nós não comemoramos títulos pré-datados, isso não tem a ver com as nossas cores. Mas fica evidente que o Fluminense vai brigar firme por todos os títulos que disputar este ano. Ganhar é outra coisa: todos brigam por um único grande lugar ao sol. Aqui estamos para tentar de novo. Time para isso, temos. O tempo há de confirmar ou não as nossas melhores expectativas e sonhos. De certo e real, sabemos ter um grande time, um dos melhores atacantes do Brasil, outros craques por voltar a campo e uma torcida infinita. Hoje, o Fluminense promete e muito. Repito: ninguém goleia à toa. O campeão brasileiro mostrou sua força e há de prosperar.


Paulo-Roberto Andel

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