Tuesday, February 01, 2011

CABOFRIENSE 2 X 4 FLUMINENSE (30/01/2011)

Quatro! (31/01/2011)

Uma vitória por quatro a dois. Quatro vitórias seguidas na Guanabara. A classificação às semifinais em uma das mãos. A expectativa da reestréia na Libertadores. A artilharia de Fred. Este é o Fluminense de hoje, ainda que as loas dos jornais estejam voltadas para outras cores. Mais uma vez, tivemos uma atuação oscilante, com direito a bons e maus momentos, entrecortados pelo calor equatorial de Macaé. Se não convenceu plenamente, o Fluminense venceu e prosseguiu em sua trajetória de vitórias; as sensações Botafogo e Flamengo também venceram e não convenceram. Em suma, tudo dentro do equilíbrio de um campeonato carioca (ou estadual, para quem preferir). Tudo isso sem contar com a volta do craque Conca e a também “estréia” de Willians.

Em tempos de verão, o calor durante os jogos pode até não ser desculpa, mas é evidente que ele atrapalha a performance dos times: basta ver como os jogadores quase desabam quando é marcado o tempo técnico, na metade de cada etapa de jogo. E o Fluminense sentiu o calor, como não poderia deixar de ser, ainda que tenha aberto o marcador no comecinho da partida, em excelente jogada ensaiada na cobrança rasteira de Souza para o meio da área e Fred, com a tradicional categoria, fuzilar o canto esquerdo do goleiro Fábio. Como quase sempre acontece, quando marcamos cedo, nosso time não sustenta a atuação com regularidade no decorrer do tempo. Tartá não estava bem. Por outro lado, Fred perdeu mais dois gols e Carlinhos, um. Outro gol poderia ter acontecido até a metade do primeiro tempo, mas fomos infelizes nos arremates, e quando houve a parada técnica, o Tricolor recuou mais do que o devido e cedeu espaços para a Cabofriense, muitas vezes levada ao ataque pelas jogadas nem sempre eficazes do veterano Schneider. Numa delas, a linda jogada do meia Wagner, acertando um “drible da vaca” em André Luis (escalado minutos antes da partida em lugar de Gum, que sentiu), provocou a primeira defesa feita pelo goleiro Cavalieri com a camisa do Fluminense, fechando o canto esquerdo com qualidade, mas ainda sem inspirar a confiança que os torcedores aprenderam a ter com o Tricampeão Ricardo Berna, barrado sem justificativa técnica plausível e, mais do que isso, uma profunda injustiça. Logo após a grande defesa, Cavalieri experimentou mais um gol sofrido: jogada e matada de Capixaba na área, finalizando no canto direito e igualando o marcador. Com o gol, o Fluminense fez menção de que o acerto de Muricy no intervalo era imprescindível. E o jogo ficou mais lento nos dez minutos finais do primeiro tempo, fazendo com que o empate parecesse o mais razoável. Podíamos ter vencido o jogo até ali, mas o calor, nossa certa ineficiência para lidar com o ataque da Cabofriense e nossas chances perdidas formaram um conjunto que explicou o empate.

Quero falar de Fred. Tem feito jogos de grande qualidade técnica, ainda que nem sempre a regularidade física esteja presente, como no caso contra o Bangu – não correu o tempo todo mas decidiu o jogo em linda cabeçada. Entretanto, sua qualidade, sua capacidade de antever as jogadas e sua frieza são características que podem levá-lo de volta à seleção brasileira, se a forma física se tornar fulgurante. A cada jogo, várias boas jogadas e gols importantes. Sobre os novatos em campo, creio que Souza já mostra a força de titular e Edinho é titubeante, nem de longe fazendo jus ao grande craque homônimo do passado Tricolor. Sabe-se que Muricy é grande fã de Edinho e foi o responsável por sua contratação, mas o fato é que ele não tem jogado melhor do que Valencia e Diogo jogaram na campanha do Tricampeonato. Vamos aguardar os fatos.

Na volta a campo, Muricy sacou Tartá, inconsistente na partida, e colocou Marquinho. Em lugar de Rodriguinho, entrou o Maestro Conca, para a alegria dos milhões de Tricolores. O argentino precisa ainda de ritmo de jogo, mas é claro que disse ao que veio ontem: comandou o meio de campo, criou jogadas e nenhum torcedor sóbrio seria capaz de acreditar que ele acabou de passar por uma cirurgia de joelho. Mas nada é fácil ou simples para o Fluminense: mal-começado o segundo tempo, um pênalti desnecessário de Souza em Diego Salles permitiu a virada do Cabofriense, a segunda que tomamos em uma semana e que, por si só, exige cuidados a seguir. O time da casa cometeu um pecado capital: virar o jogo cedo e tentar segurar o resultado, faltando quarenta minutos para o fim, tendo um Fluminense do outro lado – não daria certo. Conca passou a abusar da categoria, Marquinho perdeu um gol feito e o empate era questão de tempo, até que em linda e precisa cabeçada, André Luis igualou o jogo em dois gols, aos vinte.

Empatar é menos ruim do que perder, com certeza. Mas, tecnicamente falando, o que o Fluminense precisava era de uma vitória com bom saldo de gols, visando ultrapassar o Botafogo na liderança do grupo. Ainda faltava metade do segundo tempo e, após a parada técnica, nosso time retomou de vez as rédeas do jogo: passou a dominar a partida de vez, organizado por Conca e Fred, mais a agradável surpresa dos últimos jogos e que foi intensificada. Falo da “estréia” de Willians, que fez um ano de 2010 tíbio nas Laranjeiras e, nos últimos jogos, tem sempre entrado com esforço e algum talento. Ontem, apareceu de vez. Foi dele a ótima jogada que resultou no golaço da virada, marcado por Fred de bate-pronto no canto esquerdo de Fábio; a seguir, com muita raça, o próprio Willians finalizou com artilheiro, após jogada de Carlinhos e cruzamento de Marquinho. O jovem atacante que teve uma ótima passagem no Vitória da Bahia, mas ficou apagado no Palmeiras e no próprio Fluminense, parece dar a impressão de que vai ser um jogador muito útil nesta temporada. Além de nossas qualidades, foi inegável que o Cabofriense perdeu força quando seu zagueiro Alysson foi merecidamente expulso. Antes disso, o descontrole do time praiano era tamanho que proporcionou uma das cenas mais tresloucadas de todo o campeonato: após uma bola que Euzébio tentou salvam em cima da linha lateral e errou, ela resvalou no estreante treinador Waldemar Lemos que, sob completo – e injustificado - frenesi, entrou em campo para tentar agredir o zagueiro, o time e quem mais viesse pela frente, recebendo o cartão vermelho. Sem treinador, abalado psicologicamente e, a seguir, sem um zagueiro, o Cabofriense se tornou uma presa fácil nos minutos finais, o que não denigre a importante vitória Tricolor.

O Fluminense está com a classificação às semifinais da Guanabara por um triz. Todos indicam que haverá um Fla-Flu e que a Gávea é a grande favorita, todos dizem que ninguém será capaz de parar Ronaldinho Gaúcho, com se Zico já não tivesse sucumbido diante de Paulo Goulart. Nada pode ser melhor do que isso para começarmos um grande ano. Se conseguirmos ratificar a classificação diante do Duque de Caxias, na próxima quinta-feira calorenta do Engenhão, o jogo contra o Botafogo será um bom aperitivo para a semana de emoções que teremos. Para delírio de milhões e despeito de meia-dúzia, o Fluminense está de volta à América. Tomo emprestados os versos consagrados por Mário Reis, recentemente reavivados pelo grande Tricolor Chico Buarque: “Voltei a cantar/ porque senti saudade/ do tempo em que eu andava pela cidade”. A torcida Tricampeã voltou a cantar mais do que nunca. Ainda precisamos melhorar muita coisa, mas quem é tão melhor do que nós no Rio de Janeiro? Quem é tão melhor que não nos dá chances na Libertadores? Alguns parecem insistir em desaprender a lição.

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