Brilhou a estrela da Gávea e o Brasil tem seu novo campeão de Copa.
Há os que discordam da real qualidade dos times vencedores da Copa do Brasil, dado que seria uma competição "menor", permitindo um caminho teoricamente mais fácil para se chegar à disputa da Copa Libertadores, ou que seria esvaziada devido à ausência de times já envolvidos em outros torneios. Permitam-me contrariar esta tese.
Primeiro, nós, tão fanaticamente envolvidos com a chamada competição de "tiro curto", uma vez que a Copa do mundo é nosso fascínio maior, brasileiro, precisamos compreender que o campeão desse tipo de certame é o que não falha - ou melhor, que acerta nos momentos capitais. A bota italiana nos premite aceitar isso melhor, por exemplo. A Copa do Brasil não é menor; pelo contrário, seu sistema não permite erro. O campeão merece os louvores sim, mesmo que seu team não corresponda às melhores expectativas.
O chamado sistema de "mata-mata" permite jogos fáceis? Se os ventos do emparelhamento forem bons, talvez. Contudo, exige-se respeito: não foi à toa que Criciúma, Juventude e Paulista, todos excluídos do panteão das grandes equipes nacionais, já conquistaram o ouro.
Além do mais, qualquer final de campeonato que seja disputada entre dois times de grande história é sinal de disputa difícil, árdua a princípio. Em se tratando de dois rivais seculares como Flamengo e Vasco, pior ainda.
O Flamengo pode não ter o time que toda a massa rubro-negra deseja, certamente. Porém, conquistou o título de forma inconteste: ultrapassou as etapas como manda o figurino da competição e, na fase final, dominou os dois jogos.
Por mais que Renato, o treinador cruzmaltino, tivesse tentado imbuir o Vasco do chamado espírito de luta, os primeiros minutos já denunciaram um time nervosíssimo, perdido, incapaz de trocar três passes e sendo desarmado facilmente pela defesa flamenguista, de forma limpa e sem faltas. A pressão criada pelos dois gols da partida anterior assustou o Vasco.
O penúltimo golpe foi dado com a expulsão justíssima de Valdir O Papel. Suas duas entradas desnecessárias, até grotescas, justificaram os cartões. Com vinte minutos de partida, visivelmente nervoso, jogando mal, precisando tirar uma diferença de dois gols e com um jogador a menos, a tarefa do Vasco faria qualquer um dos doze trabalhos de Hércules parecer piada. Renato irritou-se com o atacante, chegando a empurrá-lo para longe de repórteres e, se não fez a coisa correta (o que bem sabemos), compreende-se: ele, Renato, percebeu que tudo poderia estar perdido a partir de então. E estava certo.
A seguir Ney Franco fez excelente mexida, tirando Toró, que seria um candidato à expulsão, dado que também já havia levado o cartão. Obina entrou e o Flamengo controlou o jogo de vez.
O golpe final veio no terço da partida. O gol de Juan, jogador limitadíssimo mas ocasional bom finalizador, acabou com as esperanças do Vasco, menos pela quase impossibilidade e mais pelo conjunto de revezes criados antes e durante a partida. Dali em diante, a moçada da Gávea administrou a partida sem maiores problemas - as escassas finalizações do Vasco foram sempre distante do gol ou de certos perigos.
A festa é merecida, ainda mais no caso de um club que chegou a várias finais dessa competição em tempos recentes, sem sucesso.
Classificado para a mais importante competição sul-americana, agora cabe ao Flamengo o despertar para o campeonato brasileiro, onde se encontra em posição delicada, e a preparação de um team que faça justiça às cores vermelha e preta perante toda América.
O velho estádio da Gávea tremula em verde e amarelo.
O ponto negativo ocorreu, como em muitas vezes, fora das quatro linhas: meia-dúzia de bobocas malversaram o nome de milhões de rubro-negros em mais uma confusão estapafúrdia entre torcidas que, estanhamente, insistem em ser chamadas de "organizadas".
Todavia, a massa flamenguista, alheia às balbúrdias, merece todos os parabéns pela conquista da louvada Copa.