Wednesday, July 12, 2006

Rescaldos

Agora, esfriados os ânimos e já com a volta do campeonato brasileiro devidamente encaminhada, talvez ainda caibam pequenas observações sobre o assunto que tomou o Brasil como uma verdadeira obsessão, a de sempre: Copa do Mundo.
Sempre deixo claro que minha empolgação é o Maracanã, é São Januário, é Bariri. Aqui, em nossa vizinhança, é que são germinadas diariamente as sementes da paixão que chamamos de futebol.
Nos últimos dias, como sempre acontece toda vez que nossa impecável condição de melhores do mundo tem risco de ser arranhada, muitos vociferaram pelos quatro cantos. O fim de Ronaldo. A lenda de Ronaldinho. A falta de raça. Garra. Fibra.
Se passássemos pelos franceses, teríamos honrado as chuteiras da pátria, vingado o trágico fim de 1998, "trágico" para nós e merecidíssimo para eles.
Uma tremenda bobagem.
A espetacular seleção de 1982 - que, a meu ver, desde que nasci, foi a maior favorita de todas, junto com esta de 2006 - tinha um talento extraordinário, uma disposição impecável e ficou pelo mesmo meio de caminho. Nosso time era quase impecável, mesmo tendo soluçado contra União Soviética e Escócia na mesma competição. A Itália era desdenhada por nossa imprensa...um time com titulares do quilate de Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Conti, Altobelli e, sim, Paolo Rossi. Jogamos mal; se mal não foi, ao menos pior do que eles, os ítalos. Foram superiores e venceram. Nós, brasileiros, não soubemos e nem sabemos admitir a inferioridade pontual no futebol - pontual sim, pois no longo prazo somos imbatíveis no conjunto da obra. Chegaram a cogitar que o Júnior, craque da pelota, havia falhado em não ter jogado seu próprio corpo para dentro do gol na hora em que Rossi finalizou o terceiro gol, afim de causar impedimento. Quem puder, reveja o tape do gol e constante o absurdo que propuseram como causa da nossa, digamos, saída antecipada.
Não tínhamos a seleção dos sonhos em 1986, mas a partida que selou nossa eliminação foi de nosso amplo domínio. Os franceses arrastavam-se na prorrogação, frente o sol equatorial do México. Pênaltis, babau! Jogamos melhor e demos adeus.
Na Copa da Itália, conseguimos jogar três partidas horríveis, recorde na história da Nazionale brasileira, creio. Veio a única em que jogamos bem, três bolas na trave, o diabo, um toque de craque Maradona nos despejou.
A decisão de 1998, por mais que problemas extra-campo tenham influenciado, revela um fato constrangedor: jogamos pessimamente. E três gols foram pouco.
Pelo meio do caminho, ora ganhamos o mundo, ora perdemos. É do jogo, é do futebol, o esporte mais apaixonante da Terra justamente porque nem sempre o melhor vence. Há uma parcela do imponderável, como se o velho Sobrenatural de Almeida, de Nelson, a cada quatro anos buscasse novos ares.
O mesmo Parreira, hoje fuzilado, foi o sóbrio campeão de 1994. Errou? Sim, todos erramos. Contudo, na partida contra o time de Zidane, fez o que todos queriam - todo o povo, toda a imprensa, até mesmo boa parte dos jogadores. Ronaldinho na frente, Juninho na armação. Era o que esperávamos dar certo, mas não deu: foi um desastre. Uma equipe com tantos jogadores de categoria sem conseguir trocar três passes com precisão.
Há momentos em que me pergunto: por que não somos capazes de admitir que falhamos no futebol?
Nosso mérito eterno não se arranha por isso. Os maiores vencedores souberam, um dia, tirar proveitosas lições dos revezes.
Os ítalos, vitoriosos, merecem os louros. E nós, aos poucos, reconstruiremos o caminho para nova volta ao pódio em 2010, que é nosso lugar e onde todos no mundo esperam nos ver.
Enquanto isso, voltemos ao nosso Maracanã, ao nosso futebol que foi construído com alicerces dignos, capazes de nos firmar em todo e qualquer pantheon do esporte bretão.
Mal posso esperar pelo jornal da madrugada, e conferir os gols da rodada.
Paulo Roberto Andel - 12/07/06

No comments: