Thursday, February 22, 2007

Fidalguia (?)

A cidade do futebol carioca foi tomada ontem por mais uma polêmica, e fora das quatro linhas: ocorreu o assédio do Tricolor a Renato, hoje treinador do Vasco, com grande repercussão.
Vários fatores contribuíram para o burburinho: primeiro, por causa da identificação de Renato com o Tricolor - somando tudo, nos tempos de campo, Renato não ficou dois anos em Laranjeiras, mas foi tempo suficiente para tornar-se ídolo eterno da torcida. Segundo, porque nas vezes em que trabalhou como técnico do Fluminense, Renato sempre mostrou um excelente trabalho, só atrapalhado certa vez pela mentalidade confusa dos dirigentes, que chegaram a demiti-lo e recontratá-lo num mesmo certame. Teve tempo e foi prestigiado em São Januário, conseguiu colocar um limitado time entre os cinco do Brasil em 2006.
Terceiro e pior motivo: a maneira como os dirigentes do Tricolor agiram, menos pelo atual cenário do futebol brasileiro, onde tudo limita-se a números e preços, mais pela fidalguia tricolor, a mesma do hino e tão bem citada nos brilhantes textos de Marcos Caetano. Renato está no Vasco, é profissional contratado e não fica bem para o manto Tricolor abordar os que estão vinculados a outras praças. Deveriam ter feito isso ao final do ano passado, em vez de manter o exotismo de PC Gusmão; agora, mais uma vez, repete-se a confusão: troca de treinadores permanente, o que não dá bons frutos ao time. Desimporta se ofereceram o triplo do salário atual de Renato, ou mesmo que esteja insatisfeito em São Januário por ser obrigado a colocar Romário em campo, ou ainda que tenha valores em aberto com o Vasco. Essa não é a natureza do Fluminense. E, aos que dizem ser o futebol profissional, recordo que realmente o é, mas diferente de todas as outras profissões da Terra.
Como torcedor, Renato sempre estará no meu rol de treinadores favoritos: foi do campo, conhece os caminhos, não tem a frescura ou a verborragia de muitos dos seus companheiros de profissão. Dado o vínculo vascaíno, recordo sempre um nome, o de Edinho - símbolo tricolor de muitos anos. Outro profissional de alto nível, que encontra-se disponível e sabe tudo da cancha é Jair Pereira. A meu ver, dois bons nomes para preenchar nosso vazio.
Arrisco um palpite. Se conheço bem Renato, desde os tempos de Grêmio, sempre atento à família e aos amigos, cumpridor de palavras e contratos, pode ter vibrado com a proposta das Laranjeiras e o aumento gigantesco, mas não aceitará o convite. Tem relativa estabilidade no Vasco e é grato aos que agem com fidalguia, velha fidalguia. De Eurico Miranda, tudo podem e devem dizer, menos que não prestigia os treinadores de verdade. É certo que tem seu estilo ímpar de administração, mais do que questionável, mas é elogiado por todos os treinadores que por lá passam.
Falando em Eurico, não deixou de ser engraçado que vociferasse violentamente contra os dirigentes do Tricolor por causa da ausência de ética na abordagem a Renato. Logo ele, que sempre pareceu tão ditante desses valores, justamente num momento como esse passa a ter razão.
Estamos às vésperas de um clássico entre Vasco e Fluminense. O jogo em si não vale nada: os cruzmaltinos já esperam o adversário semifinalista da Guanabara, o Tricolor já amarga a eliminação. Mas o fogo ateado por causa de Renato trará um novo sabor à partida. Gostaria de ver Renato nas Laranjeiras, mas não pela atual condução do processo. E creio que não virá.
Aguardemos o desfecho de Carnaval.
Paulo Roberto Andel, 15/02/2007

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