Friday, February 09, 2007

Guerra e paz

É sempre bom adentrar Maracanã e encontrar o América num match qualquer. Esteve por ausente por muito tempo, e agora tem recuperado seu espaço no cenário da Guanabara.

Tal como o inesquecível Nelson, sou Tricolor desde muitas encarnações, e serei por outras. Muitos torcedores de toda a Guanabara têm respeito e admiração pelo América, o hipotético segundo time das torcidas, e pode até haver algum fundo verídico nisso.

Por outro lado, sem qualquer demérito, também é bom ver o Vasco em Mário Filho, Vasco que hoje distancia-se cada vez mais por utilizar São Januário freqüentemente. É a casa dos vascaínos e compreende-se; porém, os amantes do bom futebol não resistem ao espetáculo de beleza e magia que é a presença das equipes de grande torcida no Maracanã. O Vasco também precisa do Maracanã, e vice-versa.

Os cariocas vivem tempos de guerra. Por um instante, nem tudo está perdido. É o clássico da paz. Vasco versus América. Ganhou este apelido por que, ao final dos anos trinta, havia duas ligas de futebol no Rio de Janeiro, rivais. Aconteceu a unificação e o primeiro jogo, justamente entre as duas equipes, selava a paz no então futebol federal.

Mal começou o embate, e o América abriu placar, com uma certeira, porém quase defensável, cabeçada do veterano Júnior Baiano, após cobrança de esquinado pela direita do ataque rubro. Como sempre acontece no futebol, o gol inicial cria novas nuances para qualquer partida, quanto mais se acontecer outro tento, e foi o que houve. Com pouco mais de dez minutos, o América tinha feito o segundo gol, com boa finalização de André Gomes. Então, o treinador cruzmaltino Renato resolveu alterar o time, colocando Abedi no lugar de Ives, dois jovens. Não houve mudanças significativas na partida, e o placar não se alterou: o Vasco corria atabalhoadamente, e o América esperava sempre as chances de um contra-ataque. Enquanto a torcida gritava seu nome, o veterano Romário permanecia impassível no banco de reservas.

Começado o segundo tempo, o Vasco teve nova baixa, a expulsão justa de Igor aos três minutos. Seria um forte complicador para o segundo tempo, até mesmo para as novas substituições, mas Renato não se fez de rogado e colocou Romário, para a saída do argentino Conca. O Vasco ficou com dez em campo, mas três atacantes. A sede de ataque, justa e necessária, se fez positivamente presente com o gol de André Dias em boa jogada.

Existe a tradicional história do placar de dois a zero. O outro time diminui, ganha ânimo e fica mais perto do empate do que o oponente fica da vitória. Poderia até ter ocorrido isso, mas a verdade é que o gol não ajudou a organizar o Vasco e nem o experiente América tremeu. Ao contrário, poucos minutos depois, Morais foi expulso e a cruz de Malta reduziu-se a nove em campo, o que praticamente aniquilou a chance de um improvável empate. A derrota confirmou-se: o América passou a tocar a bola com calma, sem ser ameaçado.
O resultado criou um bolo na chave de classificação e, com isso, o Tricolor, mau lavrador, recupera chances de buscar classificação para a fase final da Guanabara. Quem viver, verá.

Em paralelo, Romário segue sua luta implacável pelo milésimo gol. Não fez ontem. Não tem feito. A vida e a luta continuam.
Paulo Roberto Andel, 08/02/2007

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