Friday, April 27, 2007

Complicações

Caríssimos, o Maracanã ontem presenciou a dificuldade no futebol quando um momento é essencialmente adverso.

O Tricolor deparou-se contra a equipe de três cores da Bahia de São Salvador. Primeiro jogo de eliminatórias pela Copa do Brasil, torneio que tem a sua importância: primeiro, ela traz ao cenário times que pouco aparecem na mídia durante boa parte da temporada. Segundo, permite a essas mesmas equipes, muitas consideradas de pequeno porte, o sonho de uma boa colocação e até mesmo do título – que o digam Criciúma, Santo André e Paulista. Terceiro, o fato de a competição ser no sistema popularmente conhecido como "mata-mata" tempera todos os jogos, que têm caráter decisivo.

Falarei do jogo. O Tricolor não passa por uma boa fase. Passes simples tomar enorme ar de dificuldade. Uma simples cobrança de lateral para ter a sombra do desespero. Compreende-se. Um clube centenário, criado do paradigma do futebol nacional, acostumado a títulos e com muito pouca coisa a comemorar nos dias vigentes. O escapar da degola no campeonato brasileiro do ano passado trouxe sopros de mudança. Contrataram dezessete jogadores e dispensaram Marcão, o novo Rei Zulu. Não poderia ser impunemente. Veio o fracasso na competição doméstica, não há um time pronto para o brasileiro e o que sobrou foi o sonho da Libertadores, cuja via de acesso com menor tráfego é a Copa do Brasil. Logo, todas as fichas nela estão, e a pressão é grande. Por outro lado, o descrédito gerado pela má campanha traz pouca gente ao estádio, uns dez mil. O Tricolor não é time de estádios vazios. Para ele, cem mil torcedores é uma reles bagatela. Injusto, portanto.

Sim, o jogo. O primeiro tempo não foi de todo mau; aliás, nem mau chegou a ser. O Fluminense, ao contrário de outras partidas, começou com ímpeto e criando jogadas, pressionando, fazendo valer sua condição de mandante, contra um Bahia grande de camisa, mas atualmente muito limitado. Pouco depois dos quinze minutos, Rafael Moura, perito, perdeu gol feito acertando a trave, para desespero da nação. Em seguida, veio um cruzamento da direita, Carlos Alberto matou, ajeitou e chutou bem, com força, no meio do gol, mas sem defesa para o veterano goleiro Paulo Musse. A partir de então, pelo restante do primeiro tempo, veio relativa calmaria para Laranjeiras: atacava, embora sem perícia nas finalizações, e não era incomodado em nenhum momento pelos baianos. Respirava-se com certo alívio. Veio o intervalo. O Fluminense terminou relativamente bem, terminou melhor do que todos os seus jogos recentes.

E então, amigos, aconteceu o que eu me referia no primeiro parágrafo, o pandemônio que é enfrentar a tempestade constante, a má fase. Tivesse um bom momento nas mãos, o Tricolor teria ampla vantagem no marcador durante a primeira etapa, pelo menos mais dois tentos, e tudo estaria num mar de rosas. Porém, o magro escore deu margem para novos temores. E na Copa do Brasil, sofrer gols em casa é perigo de óbito.

O Tricolor vive um mau momento.

O primeiro ataque baiano misturou falhas da zaga com a freqüente ineficácia do goleiro Fernando ao sair do gol. O veloz atacante Fábio Saci não perdoou e completou para as redes. A partir de então, outro Fluminense ocupou o campo, temeroso com o revés. Um Fluminense medíocre, acuado por um adversário naturalmente mais fraco, nervoso, perdido. Passou a errar tudo. E o jogo passou para as mãos do Bahia, que só não virou marcador devido, repito, à limitação de seu time. Torcedores de arquibancada vociferavam permanentemente e a vaia passou a dominar o Maracanã, com apupos reforçados para o ocupante da meta de Laranjeiras.
Não tenho em mente maiores lances de enorme perigo ou emoção no match. Lembro, isso sim, da vaia. A desconcertante e pavorosa vaia. Posso dizer que o jogo acabou na fantasia que tornou-se realidade, com o folclórico Saci. Tornou-se algo horrível de se ver, ainda que necessário para os torcedores de fé. Era quase uma autópsia de mau futebol.

Dez mil pessoas nervosas, irritadas.

O final não poderia ser pior. Houve uma falta desnecessária de Carlos Alberto, ao término do jogo. Tomaria apenas o amarelo. Nervoso como estava, alterou-se e foi expulso. As arquibancadas rejeitavam Joel e louvavam Renato Foi um empate com sabor de derrota.

Nada está perdido, senhores, é o Fluminense. Ao Bahia, serve um empate sem gols. Ou uma vitória simples. E só. Para os Tricolores, repetir o mediano primeiro tempo de ontem já seria um alento para uma vitória, ou mesmo um empate por dois ou mais gols, que traria a vaga para os cariocas.

O time está nervoso. Carlos Alberto não joga. A defesa confunde-se. A meta está vazia.
Reitero, porém, que, quando trata-se de Fluminense, a vitória impossível simplesmente não existe. É muito difícil, e poderá ser mais ainda. Impossível, jamais.
Nem com a má fase pelo caminho.

Paulo Roberto Andel, 19/04/2007

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