Friday, April 27, 2007

A derrocada

Amigos, o Tricolor despediu-se do campeonato estadual no dia de ontem, após uma difícil vitória sobre a atlântica equipe do Boavista, pelo placar de quatro tentos a três.

Foi uma tarde tristonha. Inicialmente, pelo reduzidíssimo público presente ao Maracanã. Cerca de duas mil pessoas. Havia um vazio enorme nas arquibancadas, um sentimento de solidão. Compreende-se o desinteresse pelo jogo, tendo em vista que a classificação do Fluminense tinha probabilidades mínimas, devido a uma péssima campanha no certame atual. O simpático Boavista trouxe sua pequena leva de torcedores de Saquarema, apoiados pela prefeitura local, acrescidos de mais uns dois ou três rubro-negros – sim, incrivelmente, rubro-negros porque o jogo de fundo, após o pesadelo de Laranjeiras, viria a ser Flamengo x América, mero amistoso com a consolidação dos resultados das partidas até às seis da tarde.

O Maracanã não nasceu para ficar vazio. Dentro dele, é preciso um turbilhão de pessoas, um mundaréu de gentes. O grito das torcidas, a tensão, as cores e a festa.

Tarde ensolarada, vendedores de picolés e bebidas gritando seus produtos, começa o jogo. Parecia que o Tricolor, em sua batalha final, tomaria ares de vitória: numa jogada confusa, com bola quicando na área, Cícero tocou para as redes e abriu o escore. A minúscula massa vert, blanc & rouge teve segundos de satisfação. Segundos.

Saída de bola, ataque do Boavista pela direita da defesa, falha de Luiz Alberto, e o cruzamento veio na medida para o esperto atacante Anselmo fuzilar a rede. Mal construíra vantagem, o Tricolor sentiu o peso, a consolidação da precoce eliminação, e tudo temperado com vaias e palavrões dos torcedores mais exasperados. Toda a frustração aos berros, e poderia até piorar. Piorou.

O lateral Paulo Rodrigues, aos vinte e três minutos, acertou um chutaço do bico esquerdo da grande área, decretando a virada. Com a vantagem de Saquarema, os arquibaldos dirigiram-se furiosamente para a grade que os separa das tribunas, e xingaram ardorosamente o presidente Horcades. O baixo calão também atingiu em muito a Joel Santana. Em dado momento, foi mais interessante ver o espetáculo bizarro das arquibancadas do que, propriamente, assistir o jogo. Em campo, o Fluminense estava completamente perdido e alguns cogitaram o terceiro gol do Boavista, que não aconteceu. Assim terminou a primeira etapa.

Com a péssima atuação, era difícil imaginar o que poderia ser feito para alterar os ventos do Tricolor. Joel tirou Roger e Soares, para as entradas de Júnior César e Rafael Moura. Se as substituições feitas levassem em conta o histórico dos jogadores, eu diria que a de Roger foi péssima e a de Soares, ruim. Entretanto, por se tratar de questão pontual, deu certo. Ainda que com muitos erros, Júnior deu mais velocidade ao time. E Rafael Moura, bastante desengonçado, entrou raivoso, mito disposto. Aconteceu que o panorama do jogo se alterou: o Fluminense, aos tropeços, tomou as rédeas da partida – ruim, ressalte-se – e ofereceu ao Boavista apenas as opções de contra-ataque. Isso, no campo. A torcida ainda estava, com justiça, muito irritada com a atuação horrorosa.

Veio uma cobrança de falta, aos dezessete minutos. A defesa do Boavista parou, Luiz Alberto raspou de cabeça, sozinho, para decretar o empate. Então, o desgastado Boavista deu sinais de derrota, quase consolidada sete minutos depois do gol de Luiz, quando o limitadíssimo mas esforçado Rafael Moura escorou bem um cruzamento e virou o jogo. No outro lado, o de Boavista, o destaque ficou por conta da entrada do polêmico atacante Alex Alves, fora do peso e metrossexual assumido.

Não se pode negar jamais o espírito crítico dos torcedores do Fluminense. Mesmo com a virada, a torcida em momento nenhum aprovou a atuação do Tricolor, e manteve suas críticas, mesmo com a vantagem no placar. Para se ter uma idéia, a melhora substancial do time do Fluminense fez com que a partida se tornasse apenas, digamos, ruim.

Os momentos finais do jogo foram marcados por mais um gol de Carlos Alberto, sem comemorações, a dez minutos do fim. A cinco, mais um lance patético envolveu o goleiro Fernando: atrasado no tempo de bola, saiu mal do gol na esquerda da grande área e cometeu pênalti em Everton. Por ser o último homem da falta, foi devidamente expulso. O Fluminense já tinha feito as três alterações e, com isso, Cícero foi para o gol. Quase pegou o pênalti, cobrado por Anselmo e provocou a reação de torcedores mais bem-humorados, que pregavam sua efetivação na nova posição.

Os cinco minutos finais serviram para celebrar a péssima partida. Curiosamente, quem vir apenas o placar, terá a impressão de um match emocionante – e não foi absolutamente o caso. O adeus do Fluminense foi vitorioso no placar, mas amargo no que significou.

Torcedores do Flamengo, que chegaram antes para a preliminar, devem ter divagado sobre o que lhes esperava em seguida. Seria uma vitória, como a Tricolor. Seria um jogo fraco, como o anterior. Mas o Flamengo está na final. O Fluminense busca a sorte no futuro.
Paulo Roberto Andel, 08/04/2007

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