Friday, November 27, 2009

LDU 5 X 1 FLUMINENSE (25/11/2009)




Hecatombe? (26/11/2009)

A quinze minutos do fim do jogo de ontem, no Equador, parecia repetido o revés hercúleo do ano passado. A LDU nos vencia, com justiça, por três a um e isso nos levaria a lutar contra o placar no jogo de volta. Ficou ainda pior: mais dois gols e uma goleada impiedosa que, todos sabemos, por mais qualidade que tenham os equatorianos, foi construída muito mais por fatores extra-campo do que na bola. E, no meio de uma campanha espetacular nos últimos treze jogos, uma campanha digna de aplausos, o Fluminense mais uma vez sucumbiu na altitude. Mais uma vez, uma barreira que parece instransponível a um passo do topo da América. Então, eu vos pergunto: será mesmo instransponível?

Em primeiro lugar, quero deixar claro aos amigos que descarto qualquer possibilidade de falha do nosso excelente goleiro Rafael em qualquer um dos cinco gols: tirando o de cabeça, todos os outros foram chutes fortes e indefensáveis. Com o outro goleiro, tenho uma certeza: o descenso no campeonato brasileiro e a eliminação na Copa Sulamericana já seriam realidades inquestionáveis. Segundo: a LDU nos venceu com inteira justiça, mesmo que tenha se feito valer de expedientes vis como a sucessão de duas bolas em campo a cada paralisação – e uma delas, talvez nossa única e justa reclamação, do gol de empate deles, feito na mais absoluta irregularidade. Naturalmente, os comentaristas mais-queridos fizeram galhofa do fato. São os mesmos que queriam paralisar o campeonato quando o Barueri venceu a Gávea de forma inconsteste. Terceiro: apesar da promessa inicial, com o grande gol nosso na saída de jogo, mais uma vez criado nos pés de Fred que, percebendo os efeitos da altitude, deu um chute cheio de efeito para o rebote que premiou Marquinho, não fomos o Fluminense demolidor destes últimos treze jogos. Era visível, mesmo com a vantagem no marcador, que o time sucumbiria fisicamente. Nossas principais armas nas partidas anteriores estavam na garra, na pegada, na marcação implacável. Não conseguimos isso: a LDU marcou seus gols em chutes de longe, sem que cercássemos a bola ou os finalizadores. Juntando o enorme esforço recente, mais as viagens continentais e a altitude que afeta até aos narradores das partidas, o somatório resultou numa goleada que, para muitos, é impossível de ser revertida.

E aí é que está a diferença do Fluminense.

Somos acostumados a reverter situações tidas como impossíveis.

No campeonato brasileiro, éramos tidos como galinha-morta. Ressurgimos. Domingo, temos o então jogo mais importante do ano, contra um Vitória que, se não vem com total empolgação pelo fato de praticamente estar de férias, conta com ex-jogadores nossos, que fracassaram com nossa camisa e mostram-se magoados, como se a nossa maravilhosa torcida os vaiasse porque atuavam bem. E, mais do que a nossa definitiva sobrevivência no certame brasileiro – na qual acredito piamente -, o jogo de domingo será um divisor de águas em nosso caminho. Uma boa vitória e partiremos com tudo para a decisão de quarta feira, onde não basta vencer, mas é preciso golear. Corrijo o texto: não acredito na divisão de águas. Os Leandros da Bahia que me perdoem, mas quem manda no Maracanã é o Fluminense. Não somos levianos, nem prepotentes: apenas sabemos que este time é capaz de reverter este quadro. Vejam a força da nossa torcida, que abarrotou o Tom Jobim para dar apoio aos nossos jogadores. Ninguém está promovendo teatro: é possível reagir.

Recordo o ano passado. Ter perdido por dois gols nos custou caro. Logo na saída de jogo, a besteira de Ygor nos pôs em desvantagem no marcador e precisávamos de três gols. Conseguimos antes dos vinte minutos do segundo tempo e somente o Sobrenatural de Almeida pode explicar como não vencemos aquele jogo no campo, sem prorrogação. Foi muito difícil. Mas conseguimos. Este ano, a batalha é mais aguda ainda: quatro gols de vantagem. Claro que é muito difícil. Mas será impossível?

Amigos, vejam nosso passado de glórias. Vejam o que temos feito recentemente, contrariando toda lógica em torno do descenso. Dependemos apenas de nossas forças para nos mantermos na primeira divisão. Duas vitórias pelo um a zero de 1951. Vitórias simples, mesmo que sem viço. Vencer ou vencer, nos ensina o Presidente Horta.

Quando a Gávea sucumbiu aos pés do atacante Anapolina, em 1980, houve uma rara oportunidade em que se colocou o Vasco como absoluto favorito diante de nós, apesar de termos superado-os na disputa da Guanabara. Edinho fez o grande gol, Cartola e Nelson deram seu até-breve e o Fluminense foi o grande campeão. Em 1983, a Gávea comemorava a chegada à final, urrava “campeão!” e Benedito de Assis se tornou o Carrasco. Em 1985, o craque Leandro fuzilou São Paulo Victor e acertou o ângulo esquerdo, num dos maiores gols da história do Maracanã. Eles gritaram “campeão” e, dez dias depois, a taça repousou para sempre em Álvaro Chaves. Antes de tudo isso, em 1971, os botafogos empunhavam lencinhos brancos de choro para nós, a cinco minutos do fim da grande decisão. Lula foi o algoz e a taça é nossa para sempre.

Tudo estava perdido há um mês e meio atrás. Vencer dez jogos em treze parecia assombroso. Já vencemos oito. Faltam dois.

Com uma vitória imponente, meus amigos, podem escrever: o Fluminense poderá até não se tornar o campeão da América, mas, se isso acontecer, terá sido exclusivamente pelo saldo de gols. A estatística é curta, mas jamais perdemos para os equatorianos no Maracanã, estamos invictos em casa há vinte e cinco anos nas competições da América e, se lá, a torcida deles faz grande pressão, aqui nós temos a Young, a Legião, a Flunitor, a Força Flu e mais os nossos milhares de apaixonados que vão invadir o Mário Filho – afora os milhões que farão da tela da televisão seu próprio sentido de vida.

Tudo continua muito difícil, sabemos. Mas não é a hecatombe.

Na história do Fluminense, a palavra “impossível” simplesmente não existe.

Eu acredito. Você também. Todos nós.

Não há Tricolor que duvide que o impossível pode se tornar trivial. E, se duvidar, Tricolor de fato não é.


Paulo-Roberto Andel, 26/11/2009

Wednesday, November 25, 2009

O PRIMEIRO JOGO DA FINAL DA AMÉRICA



Sobre hoje à noite (25/11/2009)


Nas últimas semanas, não se encontra tempo para que o torcedor Tricolor respire. Uma batalha atrás da outra, incessante seqüência e o peso de não se poder falhar.

Hoje, mais uma vez, será assim.

À frente, os equatorianos da LDU, que ganharam fama por nos vencerem na decisão nos pênaltis no ano passado. Apesar de termos em nosso próprio país um verdadeiro exército de marketing contra nós, é impossível não reconhecer que a LDU só se tornou conhecida por pisar no maior estádio do mundo para uma decisão contra nós, tida até por alguns de nossos maiores adversários na imprensa como “a festa mais bonita que já se viu no Maracanã”.

Há um ano e meio, eu ainda estava paralisado por conta da perda de meu pai, que aconteceu a meia-hora do início de Fluminense e São Paulo, um daqueles jogos épicos que não esqueceremos para sempre. Não tinha como comemorar o fantástico gol de Washington naquele dia, revivendo a magia de sermos o time do último minuto, do último suspiro. Foi uma injustiça que meu pai não tenha visto aquele jogo, se é que não viu de algum lugar. De toda forma, a vida esportiva não lhe foi ingrata: o título mundial, a Máquina, os campeonatos brasileiros, mais Carlos Castilho, Paulo Victor, Edinho, Denílson, Telê Santana, Carlos Alberto Torres e muito, muito mais. E, por conta desta paralisação, de longe eu vi os apoteóticos jogos contra o Boca Juniors e a nossa fantástica vitória no jogo final, que infelizmente não foi suficiente para conquistarmos a América. E não tê-la conquistado é um fato que ainda hoje, conta com a incredulidade de muitos como eu.

Aquele jogo não acabou. Eu disse certa vez que não acreditava nos deuses do futebol, embora respeite quem exerça suas crenças a respeito. Para mim, houvesse um único deus do esporte e o Fluminense JAMAIS teria perdido aquela taça. O time invicto em casa, sem perder pontos. O time que aplicou a maior goleada do confronto Brasil-Argentina de toda a competição. O primeiro time brasileiro a eliminar o Boca Juniors depois do Santos de Pelé. Foi tudo em vão? Não.

Hoje, depois de tantos jogos, creio que aquele não acabou. Não terminou naqueles noventa, cento e oitenta ou duzentos e dez minutos, somando os tiros da marca penal.

Ficou no ar um sentimento de injustiça que só foi aplaudido pelos mais-queridos, cientes de toda a mágoa que carregam no peito por tantas títulos que o Tricolor lhes amealhou. Só aplaudido por aqueles que se julgam grandes, mas, ao não reconhecerem a grandeza do Fluminense, tornam-se diminutos diante de uma indefesa formiga.

A cidade se calou, exceto nas zonas onde infelizmente o banditismo impera. O Maracanã tomou ares de 1950. Como pôde o melhor time da América em 2008 não ter sido o campeão? Aqueles tiros penais nos custaram caro: uma crise sem fim que quase culminou no descenso e trouxe reflexos até uns três meses atrás – todavia, o descenso não nos sucedeu, como não sucederá neste ano.

Então, tal como em 2008, o Fluminense começou a Copa Sulamericana com humildade, diante da favorita e decantada Gávea. Nosso time era um arremedo ainda, mas foi o suficiente para a classificação. Qualquer flamengo de bem sabe que o Fluminense sempre será uma parada indigesta. E nos classificamos. Dali em diante, com o garbo que nos marca, uma campanha que remete aos nossos melhores anos: “O Fluminense está mal; é um timinho”; “O Fluminense não tem condições de disputar um título este ano”. Assombra-me tanta idiotice escrita a título de “análise esportiva”. Aos poucos, a confiança que faltava ao time começou a chegar por causa do sucesso na Copa, e os reflexo no campeonato brasileiro foram inevitáveis. Somos os maiores pontuadores nacionais nas últimas onze rodadas. O Fluminense está a duas vitórias simples de eliminar o descenso, sem depender de outros adversários. E, no meio desse caminho, uma nova decisão da América, muito antes do que qualquer um de nós pudesse sonhar. Poderíamos enfrentar doze, vinte, ou trinta times nesta partida final. Porém, aquela partida de julho passado não acabou e, por isso, nosso adversário é a LDU.

Eles venceram os uruguaios por sete a zero? E nós, que desbancamos o líder Palmeiras, o poderoso Cruzeiro e o favorito Atlético?

O que quero dizer é que temos passado um momento muito difícil, quando tudo parecia perdido, mas, como reza a história do Tricolor, ressuscitamos e estamos muito perto de uma grande redenção.

Descartar o descenso parecia impossível e, agora, é uma realidade cada vez mais próxima.

Por que não, como prêmio “menor”, tomar a América que nos pertence desde o ano passado?

Não há o que temer. Os equatorianos são fortes. Mas quem inventou o maior futebol do mundo fomos nós, em Álvaro Chaves, e isso ninguém nos tira.

Quem há de duvidar que o Fluminense não possa honrar o que lhe foi inacreditavelmente surrupiado ano passado?

Meus amigos, este time e esta camisa são capazes de coisas que parecem lendas. Destes centro e sete anos, tenho vivido isso nos últimos trinta.

Meu amor não me engana.

Eu confio na força na nossa secular camisa. Na força da nossa torcida apaixonada. Na força do nosso time, tratado com um pedinte à míngua, se tivesse hoje mais seis rodadas no campeonato brasileiro, brigaria pela vaga na Libertadores e não pelo descenso.

Eu confio no Tiba, no Leo, na Marô, no Regal, no Cid. Também confio na Rita, no Doria, no Dudu, no William, no Jocemar, no Jorge, no Presidente Sussekind. Eu confio na força mental dos nossos milhões de amigos que não desgrudarão da tela da televisão hoje à noite, faltando entrar no vídeo e empurrar a bola para dentro do gol equatoriano.

Eu confio no Tricolor. Eu acredito na conquista da América, a daquele jogo que ainda não acabou e que o destino fez questão de recomeçar hoje. Tenho certeza de que não foi à toa.

E tudo isso basta para justificar qualquer torcida.


Paulo-Roberto Andel, 25/11/2009

SPORT 0 X 3 FLUMINENSE (22/11/2009)



A dois passos do impossível (23/11/2009)

Quando o primeiro tempo do nosso jogo de ontem terminou, na famosa Ilha do Retiro, era nítida a preocupação da nossa massa de milhões de Tricolores em terras nacionais e estrangeiras. Primeiro, não se sabia ao certo se o time estava por dosar o investimento físico no jogo visando administrar a maratona de jogos à frente ou se, por conta da enorme dedicação apresentada neste mês e meio recente, nossa força sucumbia pelo cansaço. Não é que tenhamos mostrado um mau futebol, ainda que o gramado do tradicional estádio não pudesse oferecer qualquer qualidade: apenas não parecia haver a enorme gana das últimas – e espetaculares jornadas. Entretanto, a união do elenco do Fluminense é tamanha que isso se vê até na entrada em campo do time, numa cobrança de lateral ou mesmo quando alguém bebe água na lateral do campo. E, por mais que o Sport já estivesse condenado pelo descenso, vencê-lo em casa é sempre tarefa difícil em qualquer circunstância para qualquer time brasileiro. Além de tudo, a enorme pressão que sofremos por não termos mais direito a qualquer erro. Não se pode falhar. Mas o Fluminense de hoje não falha – pode até tardar, mas não falha. Por isso, conseguimos mais uma vitória fantástica - só não saímos do descenso porque General Severiano derrotou brilhantemente o líder São Paulo, mas, com uma simples vitória no próximo domingo, contra o Vitória no Maracanã, quaisquer sejam os outros resultados, estaremos fora do descenso a uma rodada do fim da competição. Para os que se auto-proclamam, era uma tarefa impossível que o Fluminense, o secular e vitorioso Fluminense, vencesse dez jogos ao fim da competição e se mantivesse na primeira divisão. Pois bem: dos dez, oito já foram deflagrados; faltam dois. Dois jogos, muito difíceis, estão à frente. Eu vos pergunto: vencer o poderoso Cruzeiro no Mineirão também não era muito difícil? E o então líder Palmeiras? E o postulante Atlético Mineiro? E o Cerro, pela Sulamericana? Através dos jornais surrados, deram-nos extrema unção e atestado de óbito pré-datado – hoje, tudo isso tende a ser uma enorme “barriga”, termo jornalístico utilizado para definir a publicação de notícias inverídicas.

Quero falar do jogo. O Sport não foi galinha-morta, pelo contrário: apesar das limitações técnicas, corria e buscava o ataque. Do nosso lado, Fred estava muito marcado e Conca também, de modo que as chances eram escassas. O tempo passava e, naturalmente, aumentava nossa preocupação. A questão física nos impedia de uma marcação mais agressiva, avançada, e isso o Sport usou bem para seus contra-ataques. Então, o jogo foi bem parelho em sua primeira etapa e, sem dúvida, podemos dizer: o Sport foi melhor no meio-campo. Bom, mas os pernambucanos quase sempre prevalecem em seu estádio contra qualquer adversário, poderoso ou não. Não custa lembrar, entretanto, que o Fluminense de hoje, ao contrário do que diz a tabela de pontuação, é um time poderoso – e o maior pontuador do Brasil de um mês para cá. Então, se tínhamos que nos cuidar contra eles para evitarmos surpresas desagradáveis, a recíproca era verdadeiríssima. O segundo tempo seria outra história, até porque seria hora de corrermos mais – se conseguíssemos.

Veio a fase final e o jogo continuava equilibrado. Um terço jogado e o zero ainda no marcador. Mas ninguém tem resistido ao Fluminense de hoje e a história se repetiu, contrariando aos fariseus: entrou em campo o nosso pé-quente, Maurício, e alçou bola sobre a área, pela esquerda de ataque. Aconteceu uma cabeçada santa: o bom zagueiro Zé Antônio, que tinha ate então anulado nossos ataques, roçou de cabeça na bola o suficiente para encobrir o goleiro Cleber e marcar gol contra. Era a abertura do placar e, ali, o time recuperou a força de outros jogos. Não me venham dizer que o Sport tinha perdido um jogador expulso e, mais tarde, outro: continuou a ser um time voluntarioso e, além do mais, os cartões vermelhos foram aplicados com absoluta justiça.

Com mais espaço, o Fluminense evoluiu e fez fantástica meia-hora final de partida. Conca passou a voar: em grande arrancada, deixou Fred livre à frente do gol, com o goleiro batido. É desnecessário dizer que o artilheiro não perdoa: mata! Bola rasteira, forte, reta, no canto direito e a consagração da vitória. Conca ainda não estava satisfeito e, em entrada pela diagonal esquerda do ataque, fuzilou o canto esquerdo de Cleber e fez o terceiro gol a cinco minutos do fim. Este é o Fluminense de hoje: quando não joga bem em parte do confronto, vence de três. E quem lembra quantas vezes o Sport perde por três a zero dentro de casa em qualquer campeonato?

Entendo que alguns tenham até sentido certa frustração porque, com os resultados em andamento, teríamos saído do descenso ontem – o que acabou não acontecendo pelo milagroso gol no Engenhão. Eu vejo por outra janela: o Fluminense está prestes a realizar a maior virada de mesa da história dos campeonatos brasileiros – ao contrário das galhofas dos jornais, uma virada limpa, no campo e incontestável. Eram dez vitórias. O Fluminense já estava condenado à morte pelos maliciosos e levianos. Vencemos oito. Faltam dois jogos por um a zero, pelo placar mínimo, aquele de 1951 que precedeu nosso título mundial. Pela primeira vez em meses, dependemos somente de nossas próprias forças para eliminar o descenso. Quem há de duvidar? Os que vaticinaram a morte do Fluminense depois dos pênaltis contra a LDU? Pois bem, que se lembrem de quem será nosso adversário na nova final da América, que começa depois de amanhã. Nada é impossível para a centenária camisa de Álvaro Chaves.

Assim como não se conquistam vitórias e títulos com manchetes pré-fabricadas, o mesmo vale para o descenso. Não se rebaixa nenhum time apenas por vontade pessoal, rancores ou falácias. O fato é que o Fluminense está muito, mas muito vivo. Com duas vitórias simples, rasgará sete meses de campanhas torpes dos jornais. Essa é nossa história: subverter aos que tentam nos diminuir ou humilhar. Domingo que vem, o Maracanã estará abarrotado e, com todo respeito ao baiano Vitória, hoje, mais do que nunca, somos os favoritos. Vencer o vencer. É nossa sina. Antes disso, no meio de semana, a América novamente à frente contra os favoritos da LDU. Favoritos? Só se forem dos que insistem em negar nossa grandeza.

Contra o Fluminense em campo numa final, não existe favorito.

Nunca!


Paulo-Roberto Andel, 23/11/2009

Thursday, November 19, 2009

FLUMINENSE 2 X 1 CERRO PORTEÑO (18/11/2009)



América, outra vez (19/11/2009)


Em alguma vez na vida, há um momento em que uma ação acaba sendo “menor” do que sua feitura. Explico: por exemplo, quando se ganha um presente pequeno e simples, mas de grande valia sentimental. Uma frase bem-dita que nunca é esquecida. A genialidade de uma foto que, num segundo, pode captar todo o esplendor de uma vida. E isso foi o que aconteceu ontem no Maracanã, após a vitória apoteótica sobre o paraguaio Cerro Porteño, numa virada colossal que garantiu nossa ida à final da Copa Sulamericana. Uma vitória que representa perfeitamente o sentimento que hoje assola o Fluminense como um todo: uma obsessão catalânica pelos três pontos, contra tudo e todos, desimportando qualquer revés que surja à frente. Assim foi ontem e, mesmo com uma enorme audiência contra, em grande parte reforçada pelos “melhores do mundo”, o Fluminense mostrou ao Brasil inteiro que as piadinhas de Kfouri, Renatomaurício e Paulocésar perderam a força e a graça por completo. Estamos de novo a um passo do topo da América. O Tricolor voltou. Como dissertarei, não foi fácil e, ao contrário de outras partidas desta recente jornada maravilhosa, não jogamos bem. Contudo, a maneira como ganhamos mostrou toda a dedicação e competência do grupo do Fluminense para extinguir o descenso e conquistar a taça internacional. E, para nossos torcedores mais jovens, que não puderam ver grande viradas do Fluminense em sua história de glórias, ontem foi uma excelente amostra do que a nossa camisa é capaz de fazer. Assim foi quando Delei rapidamente lançou Assis e a Gávea chorou. Assim foi quando Renato venceu o maior Fla-Flu de todos os tempos, arrebatou o centenário e a Gávea chorou. Assim foi ontem, com uma das mais espetaculares viradas da história moderna do Fluminense, quando todos já contavam com a disputa de pênaltis. E, depois de trinta e um anos ininterruptos nas arquibancadas do Mário Filho, eu mesmo não pensei que fosse capaz de me emocionar com tamanha capacidade de reação do time, decano que sou de outras grandes vitórias. Mas divido aqui com vocês, meus amigos: menos pelo jogo em si e mais pelo jeito como foi, ontem vivi um dos maiores momentos com o amor que o Fluminense me desperta. Uma virada digna de Pedro Amorim, de Preguinho, de Benedito de Assis e Washington. Uma virada de Edinho, Ricardo Gomes e Romerito. Uma virada digna de São Paulo Victor ajoelhado na pequena área comemorando. Uma virada que é a própria aquarela da apoteose Tricolor.

Eram quarenta e cinco minutos do segundo tempo, quando nosso artilheiro Fred acertou uma cabeçada fortíssima que passou triscando o ângulo direito do excelente goleiro paraguaio Barreto. E houve um silêncio no ar: tratou-se de uma bola que dificilmente Fred perde, mas aconteceu. E começamos a olhar uns para os outros em silêncio nas arquibancadas do Maracanã: o Cerro havia marcado seu gol no começo do primeiro tempo, em um rompante de pressão por pouquíssimos minutos; nós fomos melhores durante a partida e perdemos vários gols, mas o time parecia claramente cansado, sem a fúria física de outros jogos; não tínhamos força para nos lançarmos totalmente ao ataque e, mesmo que pudéssemos, não poderíamos fazer porque isso seria abrir espaço para os paraguaios. Mas tentamos, e muito. Mariano deu um lindo chute e Barreto defendeu espetacularmente. Conca, se não estava nos melhores dias com a bola rolando, na bola parada era um inferno: quase fez um gol olímpico e cobrou cinco corners seguidos, pelo desespero da zaga do Cerro. Enfim, sem qualquer detrimento da qualidade guarani, a verdade é que tomamos o gol num dos raros rompantes deles, e a desvantagem no placar evidentemente nos preocupou: ainda passamos por um momento difícil, onde não se pode errar e qualquer revés pesa dezesseis toneladas. Entretanto, entre os nossos quarenta mil fiéis que gritaram e incentivaram o time a todo momento, a expectativa era de melhora no segundo tempo. Antes disso, um momento muito ruim: Maicon, sentindo o desgaste das últimas jornadas, sozinho, sentiu fisgada na coxa a saiu imediatamente. Veio Alan, nosso velho conhecido e excelente promessa, talvez o melhor finalizador de todos os jovens valores revelados em Xerém. Quero ainda falar de Rafael, contestado por alguns poucos pelo gol de ontem: primeiro, a meu ver, não houve falha alguma – o gol de Cáceres foi num chute bem colocado e razoavelmente forte. Segundo: Rafael é um dos principais responsáveis pela ressurreição do Fluminense – o com o outro goleiro em campo, o Tricolor estaria definitivamente condenado à segunda divisão há dez rodadas, pelo menos. E quero novamente enaltecer a garra e a entrega de Mariano em campo: mesmo quando não está bem, luta incessantemente. Ele é um dos símbolos da obsessão catalânica do Fluminense pela vitória.

A segunda etapa chegou e precisávamos do empate de qualquer jeito, sem falhar na defesa. A mesma pressão que tem nos cercado a todo tempo, sem nos permitir opções. Não temos saída: vencer o vencer, como ensinou o Presidente Horta. E é claro que ficamos nervosos: ao meu lado, os velhos amigos de sempre, como Leo, Marô e Tiba. Os jovens leões da UERJ, Marcelo e André. Nos arredores, Rita, Doria e o Presidente Sussekind. Os amigos da Fluokut, como William e Leonardo. Quarenta mil pessoas roendo as unhas, fazendo figas, rezando, meditando e esperando pelo melhor. Do lado de fora, dez milhões de torcedores nas televisões, rádios e internet. Mas o gol não saía: era Diguinho que chutava de longe e para longe, era Fred que fuzilava à queima-roupa e Barreto defendia milagrosamente, Era Marquinho que, mesmo lentamente, cruzava, mas a cabeçada não saía. O tempo passava, não podíamos falhar na defesa e não conseguíamos a igualdade. Então, perdemos nosso valoroso Digão na defesa. Parecia que os pênaltis seriam inevitáveis, mas alguém se lembrou que o Fluminense não nasceu para desistir antes do último apito. O Fluminense só perde um jogo ou uma conquista após o árbitro apontar para o centro de campo. Talvez os torcedores paraguaios presentes ao Maracanã não soubessem disso, ao vibrarem com a cabeçada perdida de Fred. Minutos antes, Gum levara cinco pontos na testa e voltara a campo com um protetor na cabeça. O time era um leão e, finalmente, foi premiado. Nos descontos, Gum na marca do pênalti matou uma bola, driblou e, caindo, acertou o canto direito baixo de Barreto para decretar o empate e a nossa classificação à final. O Maracanã explodiu de alegria feito uma impactante bomba. E todos nós nem tínhamos noção do que ainda aconteceria: até então, estávamos apenas classificados para a final da América.

Ainda havia restos de minutos no relógio. O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade, como bem rezou nosso mestre Nelson Rodrigues – e quem tem a eternidade para si faz de um minuto uma vida. O Cerro veio para o ataque, desesperado, buscar o gol que lhe daria a classificação. Era o último minuto. Era a única falha do excelente goleiro Barreto no jogo: saiu da meta e deixou o gol vazio para tentar ajudar o ataque; a bola, cortada em nossa defesa, foi muito bem lançada por Diogo, nosso voluntarioso volante que, às vezes, tem divergências com a pelota, mas uma raça infinita. Caiu nos pés de Alan, na ponta-esquerda, antes da divisória de campo. O menino disparou para a meta, driblou Barreto e tocou para o gol vazio. Foi como um tiro de canhão ao fim de um show do Pink Floyd! O Fluminense venceu o jogo. O Fluminense virou um jogo que só ele é capaz. E, para desespero dos agourentos e parajornalistas, o Fluminense está de volta à disputa da América. Certamente há quem desdenhe da Sulamericana, mas que outro time brasileiro, com exceção do poderoso e favorito São Paulo, conseguiu disputar duas finais de competições continentais em dois anos seguidos na história recente? Meus amigos, do Fluminense não se duvida nem se tripudia. Estávamos com o descenso nas mãos; agora, outros tremem. Éramos um timinho que não disputaria nada, e estamos a um passo a América. Quem vive o amor destas três cores jamais desiste! Não importa se a atuação não foi das melhores, como ontem: o certo é que hoje, dia da bandeira brasileira, também é o dia da bandeira Tricolor, que será hasteada pelos quatro cantos desta cidade.

Temos um time cansado, mas com uma raça incomensurável. Voltamos para a dura empreitada do campeonato brasileiro. Não podemos escolher campo ou adversário: é vencer ou vencer, vencer obsessivamente, conquistar três pontos da maneira mais catalânica possível. Temos à frente Sport e Vitória, dois jogos perigosíssimos. Porém, o time que não dá descanso e não se entrega até depois do último minuto voltou. Mais uma partida revivendo 1951, o ano que vencíamos a todos pelo escore mínimo e que desembocou em nosso título mundial em 1952.

Quem esteve ontem no Maracanã viu uma das grandes vitórias de nossa história. Vencemos este jogo como nunca. Vencemos sem Maicon, sem Digão, sem Dieguinho e, pela primeira vez em onze jogos, sem os maravilhosos gols de Fred. Vencemos, mais uma vez, quando ninguém mais acreditava, exceto a nossa torcida, e com o desdém de outros adversários. Somos teimosos e eles também: insistimos em mostrar-lhes nossa vocação para a vitória, eles insistem em fingir que nos desprezam. Continuamos muito vivos. E, com todo respeito aos demais adversários, quem venceu como ontem, menos pela atuação e mais pelo jeito, pode perfeitamente vencer os cinco jogos restantes da temporada. E quem ainda aposta que somos galinha-morta no campeonato brasileiro, cada vez mais troca a emoção do futebol pelo ridículo da teimosia fracassada. Nós, que não somos fracassados, seguimos nosso caminho. Ninguém nos vence de véspera, nem por falácias encomendadas em jornal.

O Tricolor voltou.

Eles que saiam da frente.


Paulo-Roberto Andel, 19/11/2009

Monday, November 16, 2009

Treze anos depois, a verdadeira virada (16/11/2009)

Meus amigos, não há tempo para respirar. Não há tempo para uma soneca relaxada. Vivemos o auge de uma obsessão catalânica, chamada de “vencer”. E não há tempo para mais nenhuma falha: assim, seguimos impecáveis em nossos dois objetivos, que são assassinar o descenso e reconquistar a América por direito. Depois da atuação impecável de quarta passada, na monumental vitória sobre os paraguaios do Cerro, com o espetacular gol de Fred, veio o Fluminense a campo diante de nossa fanática torcida para o jogo contra o Atlético Paranaense. Não havia outra alternativa que não uma vitória catalânica; meu amigo Tiba, sempre ponderado, dizia em nossa preliminar no Caçador da Tijuca que precisaríamos de muita calma, pois a Sub-Gávea viria fechadíssima e buscando o empate. O conterrâneo de Rick Vallen acertou na mosca, como já fez muitas vezes nesses vinte e poucos anos de nossa amizade. Foi duro e difícil, mas o Fluminense de hoje é um obcecado pelo triunfo. E vencemos mais uma vez. E Fred chegou aos dez gols em dez jogos.

Antes da partida e também da maravilhosa festa de pó-de-arroz feita pelos nossos, tive momentos de alegria e saudade. O primeiro deles, ao rever o casal 20 em campo: Assis e Washington. Quem viu, jamais esquecerá! Títulos, títulos e títulos. Quem é da Gávea sabe muito bem ao que me refiro. A torcida Tricolor não fez por menos e, nos corredores do estádio, abarrotou as urnas com donativos em espécie para o “Negão” que cansou de fazer Laranjeiras tremer com o orgasmo da vitória. Eu vi Assis e Washington há vinte e cinco anos atrás, mas parece que foi outro dia: como disse a meu amigo, o Presidente Sussekind, o tempo do Maracanã não se mede nos ponteiros do relógio, mas nas emoções. Não se esquece o grande título, o grande gol, a vitória implacável. Outra felicidade enorme foi rever meus camaradas Marcelo Vivove, Gustavo Reguffe e André Sérgio Braga in loco, todos jovens leões do Instituto de Matemática e Estatística da UERJ nos anos oitenta e noventa. Todos jovens leões da fanática massa Tricolor. Algo me diz que estaremos todos juntos no topo da América.

Quero falar de treze anos atrás. Abrimos mão do Maracanã. Foi um dia terrível. Uma enorme confusão, a quase morte do goleiro Ricardo Pinto no gramado que tantas vezes lhe acolheu – e que ele tratou com desdém. A derrota naquele jogo nos custou o descenso nas rodadas seguintes, com direito a uma das mais vergonhosas atuações de um time na história do futebol brasileiro: quando o Atlético Paranaense entregou o jogo para o Criciúma visando nossa queda, aos risos de alegria de sua torcida comemorando os gols que seu time sofria. E depois, as falácias dos levianos de imprensa nos tentam impor pechas de “viradas de mesa”, como se perder de propósito não fosse vil e covarde, além de abominável esportivamente falando. De lá para cá, muitas águas já rolaram, eles nos eliminaram de um campeonato brasileiro, nós os eliminamos de uma Copa do Brasil que vencemos com louvor. E, nestes treze anos, jamais o Atlético enfrentou o Fluminense diante de um Maracanã de verdade: lotado com a beleza da torcida Tricolor. Treze anos depois, veio a verdadeira virada de mesa: vencemos a tudo e a todos, lutando com todas as forças contra o descenso. Faltam três jogos. E parece que vamos conseguir. Melhor dizendo, conseguiremos!

Sucedeu um jogo difícil. O Fluminense não podia ser todo ataque devido ao desgaste enorme provocado pelas últimas partidas; por sua vez, o Atlético era todo retranca, ao estilo de Antonio Lopes, buscando o empate com a cadência do jogo. Porém, aos dezessete minutos, após belo passe de Conca e uma arrancada espetacular de Maicon pela ponta-esquerda, feito uma jogada de antigamente, veio o cruzamento para o meio da área. Lá estava Fred, e Fred não perdoa: um carrinho vigoroso e o décimo gol em dez jogos. Para os que dele duvidaram, a saliva engolida toma sabores de supositório. E foi pouco: ainda tivemos chance de marcar ao menos dois gols na primeira etapa, bem-evitados pelo excelente goleiro Galatto.

Na etapa final, chegamos a recebe um susto num chute dos Atléticos, que passou perto da trave direita de Rafael. Eles precisavam atacar e, por conta disso, nos ofereciam espaços generosos. O jogo ainda era nosso e, aos dezoito, após um passe ESPETACULAR de Darío Conca, matando a defesa, Maicon encobriu Galatto e a bola morreu mansa no gol paranaense. Era a vitória à vista, que foi consolidada não com o nosso segundo gol, mas sim a dez minutos do fim, quando eles fizeram o gol de honra. Explico: o placar de dois a zero é sempre temerário, pois o time perdedor pode reagir ao fazer um gol e empatar uma partida perdida, fato comum nessas ocasiões. E, se fosse o Fluminense com os nervos à flor da pele de setembro ou agosto, este gol deles teria sido uma tragédia. Mas hoje o Fluminense é tão frio quanto um agente 007. O gol em nada nos abalou. A posse de bola foi nossa até o fim da partida, sem maiores problemas.

Mariano, com a raça de sempre, quase faz um gol entrando pela meia-esquerda. Antes do segundo gol nosso, Fred perdeu um que não costuma. A defesa, sempre segura; Marquinho entrou no lugar de Dieguinho e deu conta do recado. Seguimos nossa caminhada de luta rumou ao topo. A maior virada de mesa do futebol brasileiro: a imprensa esportiva não dava um níquel pela camisa do Fluminense. Os Kfouris e Renatomaurícios seguiam com suas piadinhas de gosto raso, junto do Paulo César de tal. E agora? Que usem anti-ácidos efervescentes nas bocas mundanas! Kfouri é imperdoável, porque conhece de futebol, mas se meteu a empunhar uma bandeira rasteira de anos atrás contra nós: conhece futebol e sabe muito bem do que reza a história do nosso Tricolor. Os demais, nem creio: em geral, sofrem de recalques típicos de torcedores, desonrando a própria profissão que lhes exige ética e isenção, ao lembrarem de grandes derrotas de seus times para o Tricolor. Eles querem ser os maiores do mundo, mas se esqueceram de combinar com os veteranos de 1902 que fundaram o futebol brasileiro – e, por isso, fracassaram.

O Fluminense desafiou o impossível. Era o último colocado e hoje, depende somente de si: com três vitórias, estará salvo. Está a dois pontos de sair da zona de descenso. Meus amigos, eu vos pergunto: quem terá a coragem de afirmar, hoje, que o Fluminense está rebaixado? Quem será o pascácio que empunhará a bandeira dessa causa praticamente perdida?

O Tricolor voltou. Saiam da frente.

Entramos em campo com todo o respeito na quarta, contra o Cerro, mas sinceramente já vendo a chance da grande final. E com toda a atenção contra o Sport em seus domínios, independentemente da posição em que está. A empáfia não nos polui: ainda temos três grandes batalhas. Mas quem conhece de futebol certamente sabe que, hoje, em novembro, somos os favoritos.


Paulo-Roberto Andel, 16/11/2009

CERRO PORTEÑO 0 X 1 FLUMINENSE (11/11/2009)

De volta à América (12/11/2009)

Nem o mais otimista dos nossos torcedores poderia prever a maneira como jogamos ontem, ao vencermos com total autoridade o Cerro Porteño no Paraguai, em seu acanhado estádio. Nem nosso maior positivista seria capaz de prever que, menos de um ano depois do fatídico desfecho daquele jogo contra os equatorianos, o Fluminense estaria novamente próximo do topo da América. Foi uma partida perfeita, como há muito não víamos. Autoridade absoluta; para os desavisados, em muitos momentos parecia que o Fluminense jogava no Maracanã, tamanha a desenvoltura e a pressão no ataque contra um Cerro tímido e absolutamente recuado.

Não é possível analisar este jogo pelo placar mínimo, o placar de 1951 ao qual tantas vezes já me referi. O Fluminense dominou amplamente seu adversário e, desde o primeiro minuto de jogo, já se impunha com vigor absoluto, tantas as chances de gol perdidas e a posse de bola incessante a nosso favor. O fato é que tivemos uma atuação com sobras, não permitimos qualquer predomínio dos mandantes e, quando o jogo já se encaminhava para um final dramático que seria deveras injusto com Laranjeiras, eis o incansável Fred dominou uma bola na intermediária, driblou adversários, ajeitou a bola para o lado direito e, com o mesmo pé direito que usara no lance, fuzilou inapelavelmente o arqueiro paraguaio Barreto. Um gol solitário que valeu por uma goleada e decidiu o jogo, impondo justiça. O nono gol de Fred em nove jogos, que serviu à imprensa esportiva que prima pela parcialidade como um verdadeiro supositório de grande porte. O nono gol de Fred em nove jogos, que coloca um desacreditado Fluminense à beira do topo da América.

Também não é possível descrever este jogo com a exatidão do tamanho de nosso domínio. Se o Fluminense tivesse conseguido, no primeiro turno do campeonato brasileiro, fazer seis ou sete partidas desse jeito, teríamos dezoito ou vinte e um pontos a mais – e nossa luta não seria contra o descenso, mas sim pelo título. Sempre se soube que jogar nos países platinos sempre foi pedreira em qualquer competição, mas o Fluminense não tomou conhecimento da tradição, nem do fato do estádio General Pablo Rojas estar lotado e ser acanhadíssimo, como se pôde comprovar ao final do jogo, quando nossos atletas foram obrigados a se asilarem na proteção policial para escapar de uma chuva de pedras. Acontece que o Fluminense foi tomado por uma obsessão catalânica, a da vitória – por isso, tem passado por cima de todas as intempéries com a força de um Hércules e a elegância de um lorde britânico.

Jogamos sem a velocidade do jovem Dieguinho, mas o time todo está de parabéns. Naturalmente, pelo decisivo golaço, Fred merece muitos louros, mas convém ressaltar que se tratou de uma vitória coletiva, com o conjunto do Fluminense respondendo amplamente ao desafio. Claro que nada está garantido e todo cuidado é pouco, além da natural humildade que deve nos caber; entretanto, o grande triunfo de ontem torna o Fluminense favorito para chegar à final da Copa Sulamericana sim! Passa muito longe de nós a empáfia; o que quero tratar aqui é da matemática, da aritmética que está nos favorecendo neste momento. O Fluminense tomou gosto pela vitória. O Fluminense se tornou um time avassalador, temido como reza a tradição de sua história. O Fluminense passou a ser um time frio, que sabe a hora de atacar, que valoriza a posse de bola e que dá o bote motal na hora certa. Junto a tudo isso, o maravilhoso trabalho realizado na preparação física por Ronaldo Torres: o time voa em campo ao fim das partidas. E então cada jogo tem sido um degrau para aumentar nossa confiança e nosso empenho. Vejam nossos jogadores, como se abraçam, como parecem juntos e determinados! Um incentiva ao outro; ninguém reclama da substituição. Um verdadeiro milagre tornou o nosso time o senhor da recuperação, depois de estar frente às trevas, condenado pelos cronistas e desacreditado internacionalmente. Esqueceram-se apenas de um detalhe: esta centenária camisa Tricolor é dona de façanhas de que até Deus duvida, e não nasceu para ser ridicularizada e desrespeitada com piadinhas torpes. Cabe o silêncio dos Kfouris, dos Renatomaurícios e de outros menos votados, diante da grandeza do pavilhão Tricolor.

Quero ressaltar que, dentro do conjunto do Fluminense, uma figura me parece essencial. Mariano. Não é o jogador que nos enche os olhos com jogadas belas, de alta precisão técnica, pelo contrário: luta muito para acertar até lances simples. Mas sua disposição de leão tem feito honrar a camisa que já foi muito bem-defendida por Marcão e Denílson, nosso Rei Zulu. Ou Edinho, outro símbolo da nossa garra. Mariano corre o campo todo. Mariano tenta cruzar, cabecear, passar, driblar e chutar. Mariano parece que se multiplica por três ou quatro no gramado, feito fosse o Multi-Homem do desenho animado. Temos Conca com muito talento e raça; temos Fred com futebol de seleção brasileira; temos o voluntariado de nossa defesa, invicta há algumas partidas. Mas todos podem ser homenageados na raça, na disposição e na entrega em campo que tem demonstrado Mariano. E a entrega é que fez a história da camisa do Fluminense.

Mais uma vez repetimos o “timinho” de 1951. Entretanto, nossa atuação foi de goleada retumbante. Se o placar não disse isso ao final, mentiu deliberadamente. E muito, mas muito antes do que qualquer Tricolor pudesse supor, estamos a três passos de reconquistar a América – e mostrar que a decisão nos pênaltis da Libertadores de 2008 foi algo das maiores injustiças que já se viu no futebol. E não tempo para pensar: domingo, mais um Maracanã lotado e a obsessão catalânica que nos assola em todos os segundos – vencer! Não importa o escore; não importam as bazófias dos maus homens de imprensa. Um a zero já nos basta para lutar contra o descenso e repito: duvido que ele nos suceda.

Estamos de volta.

O Tricolor voltou.

Saiam da frente!


Paulo-Roberto Andel, 12/11/2009

Monday, November 09, 2009

UNIVERSIDAD 0 X 1 FLUMINENSE/ FLUMINENSE 1 X 0 PALMEIRAS (09/11/2009)


1951 (09/11/2009)


Meus queridos amigos desta magnânima fraternidade que é o Fluminense, esta crônica será escrita de maneira diferente da habitual, quando normalmente foco numa única partida. Faço isso porque desde a quinta-feira temos jogado uma única partida: a de nossa sobrevivência contra tudo e todos na primeira divisão do campeonato brasileiro, além de galgar um novo passo rumo à conquista da América. É uma partida que não irá parar até sete de dezembro, data derradeira do futebol neste ano. E, até lá, com toda a confiança, eu vos digo: o descenso não nos sucederá! O Fluminense não vai morrer, o Fluminense não vai acabar. Mais do que redivivo, o Fluminense está vivíssimo e, de um mês para cá, é um dos melhores pontuadores do Brasil. Não importa o escore, que seja mínimo; precisamos vencer ou vencer, como bem nos ensinou o vitorioso Presidente Horta.

Na semana passada, sugeri que o Fluminense ressuscitasse o ano de 1951. Ganhávamos com garbo, mas a imprensa esportiva, já tendenciosa e invejosa da nossa condição de berço do futebol brasileiro, tentou nos impingir a pecha de “timinho”. Era o time que vencia seus jogos por um a zero, às vezes dois a um. Era o time que não goleava, não massacrava e, para alguns, passava o engano de não ter força. Engano, prontamente. Um ano depois, nos tornamos o segundo time brasileiro a conquistar o título mundial. O que precisamos é de humildade, e a esta mesma humildade passa pelo escore mínimo. Não queremos ser os campeões da imprensa, os mais-queridos, os mais-temidos: a beleza da nossa torcida, mais uma vez imposta ao mundo pelo maravilhoso mosaico de ontem, já diz tudo. Deixo de lado o comentar sobre o espetáculo de plasticidade dos parapentes com nossa bandeira a pousar no gramado; falar da beleza das milhares de torcedores Tricolores no Mário Filho é redundância. Tudo tem seu tempo.

Quero falar sobre o jogo de quinta-feira. A imprensa dizia que o Fluminense já era favas contadas, porque tinha deixado a classificação contra o Universidad de Chile no Maracanã. De fato, fomos muito superiores na primeira etapa e deixamos que empatassem em falhas individuais. Porém, depois de então, o time veio numa crescente inabalável e, com toda a justiça, venceu a partida com sobras. Desimportaram a pressão da torcida chilena, os objetos arremessados no campo, a tentativa de briga dos chilenos. Nós temos Fred, e Fred é o digno representante de uma linhagem que vem do nosso primeiro grande artilheiro, Henry Welfare. Desde que voltou de grava contusão, fez gols em todos os jogos e comandou vitórias memoráveis. Nós temos a raça de Darío Conca, nós temos um rapaz como Mariano se jogando ao chão, às placas de publicidade, ao concreto e a tudo o que venha pela frente, para defender nossa camisa. E quero aqui dizer de Diguinho, que fez uma partida impecável: se jogasse assim regularmente, já seria o maior ídolo atual de nossa torcida. O Fluminense foi melhor no Chile, jogou como um dos grandes times da América e mereceu a classificação com todo o louvor. Mas a partida não acabou ao apito do juiz: hoje, estamos num ciclo que não cessa – vencer desesperadamente a todo instante. Foi um placar de 1951: o gol solitário do nosso artilheiro mineiro e mais um passo rumo à reconquista da América. Os dados estão a nosso favor: é hora de colocá-los no copo de couro e jogar.

Não houve tempo para descanso. O Brasil é um continente e, mal-saído de uma vitória espetacular, outro leão à frente: a Sociedade Esportiva Palmeiras, lutando pelo título do certamente, mas sem cumprir recentemente bons jogos. Nós, ao contrário, estamos em franca ascensão e seremos carne de pescoço até dezembro, em toda e qualquer partida. Isso ficou claro no Maracanã lotado de ricos e pobres, de mulheres bonitas e lindíssimas, de crianças e velhos: todos, cobrindo o verde-amarelo das arquibancadas e forjando um coro dos mais lindos que o futebol brasileiro conhece. Não me canso de falar do mosaico: foi de um rigor estético fascinante. Obra de arte.

Havia um calor incessante no começo do jogo; claramente, isso influenciou na partida. Por outro lado, o Fluminense melhorou muito nos últimos tempos e o Palmeiras sentiu as dificuldades. Perdemos vários gols: um que Fred passou em vez de chutar de primeira; outro que Dieguinho estava livre e o goleiro Bruno espalmou com a ponta dos dedos para o córner. Outra que Dieguinho também chutou para fora. E uma cabeçada de Dalton, livre à frente do gol, rente à trave esquerda. Foi meu único momento de saudosismo na jornada: lembrei de Edinho e o que faria numa situação daquelas. O gol era certo. E quero falar também dos pascácios que surgem como moscas varejeiras à procura do primeiro vestígio de carne podre que encontram: querem dizer que o gol de Obina foi legal. Ora, nem o próprio jogador comemorou o tento com veemência. O braço esquerdo do atacante baiano, aberto, tocou no rosto de Digão e o tirou do lance. Para se marcar uma falta, não é necessário que o adversário desabe ao chão. E fala-se deste lance apenas porque há um forte interesse paulista na questão, associado ao que há de mais perverso na imprensa esportiva brasileira, que é a perseguição ao Fluminense. A ânsia ensandecida pelo descenso do Fluminense que, a cada dia, toma ares de desistência. Simon é um péssimo árbitro e errou para os dois lados, se é que errou no suposto lance de gol de Obina. Poderia ter facilmente expulsado Vagner Love, useiro e vezeiro de faltas desleais. Francamente, falemos da verdade: o Fluminense foi muito superior, o Fluminense foi um aríete e só não venceu o primeiro tempo por sorte dos periquitos-porcos. Minha amiga Marô falou de oito gols perdidos, e creio que seja verdade. Apesar da dificuldade, algo dizia que as coisas dariam certo. Meu amigo Álvaro Doria comentava sobre o perigo de se deixar Diego Souza livre; ele foi muito marcado e pouco produziu. O mesmo valeu para o nosso Conca, vigiado em cima permanentemente; dele, numa falta da direita, veio um chute-cruzamento de grande perigo que Bruno espalmou para fora.

Após quinze minutos no mesmo panorama da primeira etapa, que foi o Fluminense atacar e o Palmeiras se conter, com direito a um chute perigosíssimo de Diguinho que passou a centímetros do ângulo esquerdo da meta palmeirense, aconteceu uma jogada de muita raça, numa arrancada fulminante de Maicon, pela esquerda. Cruzou e conseguiu o escanteio pela esquerda do ataque. Darío Conca fez a tradicional cobrança aberta. O Palmeiras queria a liderança, mas esqueceu Fred livre dentro da área, de frente para o gol, a ponto de sequer precisar subir para cabecear. Testou com padrão de craque: forte, diagonal, de cima para baixo, canto direito do goleiro. E o Fluminense marcou o gol de que tanto precisava. Nosso grande artilheiro explodiu: correu para nossa imensa torcida e beijou dignamente o escudo das Laranjeiras. Todos sabemos que Fred é cruzeirense, mas não é possível viver o Fluminense sem se apaixonar por ele. E Fred está apaixonado pelo gol: marcou o oitavo em oito jogos. Se não tivesse ficado de fora três meses, poderia perfeitamente lutar pela artilharia do certame. O gol soou no Maracanã como o estampido de um tiro de canhão. O Fluminense não iria mais morrer: o tiro foi da nossa artilharia.

Ainda houve tempo para mais um gol perdido pelo menino Mariano, que tem mostrado uma raça extraordinária em todos os lances. Incorporou a pele Tricolor. Do meio para o fim do jogo, debaixo do calor arábico, deu uma arrancada espetacular pela esquerda após maravilhoso passe de Fred e só não fez o gol pela falta de cacoete para a finalização. Tem sido um símbolo: sabemos que não é dos jogadores de fartos recursos técnicos, mas sua determinação tem incendiado o time. Tartá também entrou muito bem. E cabe aqui dizer de alguém que pouca gente fala: nosso preparador físico, Ronaldo Torres, que mudou para muito melhor a nossa condição em campo. O Fluminense é outro time: no calor carioca de quarenta graus, suporta os jogos até o fim. Meu amigo Raul Carvalho, rubro-negro de estirpe Tricolor, me alertara semanas atrás: “O Fluminense vai melhorar muito a sua condição física com esse profissional”. Acertou na mosca.

Vencemos. Com o placar mínimo, que era o que nos bastava. Um a zero, um a zero, feito 1951.

Dormem em pranto os humoristas da imprensa esportiva. As lágrimas sujam a maquiagem de Renato Maurício e o sorriso alvar de Juca Kfouri. Suam os matemáticos. Não conseguiram assassinar o Tricolor, em nome da moral e dos bons costumes.

O Fluminense está de volta, mais vivo do que nunca.

Não importa se temos uma diferença de cinco pontos para deixar a região de descenso. Enfrentaremos diretamente dois times que lutam pela permanência na primeira divisão – o primeiro dele, domingo: Atlético Paranaense, num Maracanã abarrotado até o último banco de acrílico.

Quatro vitórias por um a zero no campeonato brasileiro e nem os céus nos tiram a primeira divisão. O Fluminense só depende de si para conseguir isso.

E que os céus nos proporcionem um novo encontro com os equatorianos da LDU, para que retomemos o que sempre nos pertenceu por direito: a América de 2008.


Paulo-Roberto Andel, 09/11/2009

Thursday, November 05, 2009

CRUZEIRO 2 X 3 FLUMINENSE (01/11/2009)


Monumental! (02/11/2009)

Sete e meia da noite de ontem, os milhões de Tricolores espalhados por todo o Brasil sentiam o gosto do féretro no ventre. Parecia tudo perdido: os resultados da rodada no campeonato brasileiro eram amplamente prejudiciais à nossa campanha e, depois da aguerrida partida contra o Atlético Mineiro, a impressão era a de que a casa tinha ido pelos ares. Terminado o primeiro tempo do jogo no Mineirão, contra o Cruzeiro, candidato a uma vaga para a Copa Libertadores e até mesmo ao título do certame nacional, éramos um arremedo de time. Fomos atropelados pelos celestes, e dois a zero para eles foi muito pouco nos quarenta e cinco minutos. Não tínhamos meio de campo, nosso ataque não funcionava e tínhamos entrado em campo sem goleiro – para contemporizar, direi que entramos sem nosso goleiro titular, Rafael, que tem sido um dos principais lutadores contra nosso descenso. Conca não estava bem, Equi González errava tudo o que tentava, Maicon também. O Fluminense, que ameaçara grandes momentos contra Corinthians, Santo André, Goiás e o Galo, era um borrão, um rascunho malfeito de time. Podíamos ter sido goleados. Mas não aconteceu. E, para o desespero dos idiotas da objetividade, a irritação de pascácios como Kfouri e a raiva de boa parte das editorias esportivas dos jornais, que já tinham em mente a manchete com o descenso do Fluminense, o que era uma derrota fragorosa se transformou em uma das maiores vitórias da história das Laranjeiras. Uma vitória para jamais ser esquecida, até mesmo se nossa luta contra o descenso tiver sido em vão – hipótese na qual, sinceramente, não acredito.

Foi uma vitória de garra, de luta, de sangue Tricolor nas veias, capaz de tremer céus e infernos.

Lembro que escutei no rádio depoimentos que levavam a crer no fim do Tricolor. Houve uma exceção: Luiz Mendes, um dos maiores homens de rádio de nossa história. O decano do rádio comentou que, em sua vida, já tinha visto viradas fantásticas e que, por mais que parecesse impossível, o Fluminense poderia mudar sua postura desastrosa de então para segundo tempo, de modo a conseguir o único resultado que lhe servia – a vitória. Nas arquibancadas, cinqüenta mil cruzeirenses a gritar: ali, naquele momento, eles eram a maior torcida do Brasil. Todas as grandes torcidas são maiores do Brasil em algum dia, exceto pelo direcionamento canhestro da imprensa. E também escutei os risos do debochado equatoriano Guerrón, ao ser perguntado sobre ser novamente o carrasco do Fluminense, depois da tragédia na Libertadores de 2008. Riu como uma hiena e riu de sua própria ignorância. Guerrón não conhece bem o ofício de ser um carrasco. Ele não é Benedito de Assis. E, ingenuamente, desceu as escadas do vestiário com o sorriso alvar do bobo alegre, mal imaginando o que lhe sucederia em pouco tempo.

Contudo, o que mais restaria? Esperar por um milagre. Uma mudança de atitude. Um gol no início da segunda etapa talvez arrefecesse os ânimos do Cruzeiro e poderíamos tentar algo. E então Cuca: bronqueou, esperneou e mexeu com os brios da equipe, cheia de jovens promessas; jogadores limitados, mas raçudos, e um craque chamado Fred.

Veio o segundo tempo. Quem espera, sempre alcança.

E o que era um jogo perdido, virou um de nossos grandes triunfos. Em vinte minutos, pode-se dizer que o jogo era nosso. Empatamos um jogo perdido e o torcedor, que não é bobo, percebeu que a virada era inevitável. Primeiro, com Gum, que fez às vezes de atacante, do jeito dele, um tanto atabalhoado, fazendo o primeiro gol em chute na diagonal que morreu no canto direito baixo do goleiro Fábio. Menos de dez minutos, demos as cartas.

Não houve tempo do Cruzeiro respirar. Foi um potente gancho de direita, seguido de outro. Em três minutos, Fred recebeu livre e tocou no canto direito baixo de Fábio. O mesmo canto, um outro gol; a bola ainda bateu no zagueiro cruzeirense Gil antes de repousar nas redes. O silêncio que habitou o Mineirão foi o mesmo que percorreu o Brasil: afinal, o Fluminense não estava morto? Não havia chegado o fim? Não, de forma nenhuma! Estávamos muito vivos. Era o empate, e quem empata nestas circunstâncias merece vencer. Desta vez, se fez justiça no futebol.

Mais cinco minutos de silêncio no gigante de concreto das Gerais. Maicon tem uma dividida na linha de fundo, perto da área. Busca um espaço inesperado, consegue invadir o território. Fred vem na corrida. A bola é tocada para trás. Nem era preciso ver para saber o que aconteceria: canto direito baixo, bola no fundo das redes. Tal como tinha feito no segundo gol, Fred não comemorou contra o seu time de coração; entretanto, era muito fácil saber que estava muito feliz, como jogador e atleta: sabia ser ali o protagonista de uma das maiores vitórias do Tricolor em todos os tempos. Uma vitória como reza a nossa história, conseguida quando menos se espera e quando não apostam um centavo moído em nós. Uma virada com o emblemático placar de três a dois, marcado a ferro na pele da Gávea.

Atônito com o nocaute, o Cruzeiro ainda tentou duas chances a gol, bem-defendidas por nosso goleiro reserva. Mas foi pouco. Os celestes, que tinham rido muito dos rivais atleticanos na quinta-feira passada, sentiram o peso do cajado Tricolor. O debochado Guerrón, que vivera seus quinze minutos de celebridade com muito mau gosto, já tinha sido substituído; assim, viu do banco de reservas uma aula do que é o Fluminense – e, certamente, seu riso de deboche feneceu à míngua. Não somos um timeco de segunda categoria, como se vende nos medíocres textos e falas de homens da imprensa. Não somos sequer o time que, neste campeonato, teve um desempenho claudicante e se tornou o último colocado. O verdadeiro Fluminense é este, com invencibilidade e atuações dignas. Luta, raça e uma camisa secular que merece respeito. Não é a boca torta de Kfouri que derrubará o Fluminense, porque esta mesma boca torpe não foi capaz de salvar seu Corinthians; não são as piadas misóginas de Renato Prado que derrubarão o Fluminense. E que não se iludam: o time que foi capaz destes triunfos recentes é capaz, sim, de vencer o líder Palmeiras, no Maracanã abarrotado de domingo. E de vencer muitos jogos mais. Nossa luta continua dependendo somente de nós mesmos.

Quatro vitórias por um a zero.

Revivamos o time campeão de 1951, tratado ironicamente pela imprensa de “timinho” por que ganhava seus adversários pelo escore mínimo, e que, um ano depois, se tornou campeão mundial. Nossa Copa do Mundo, desta vez, não tem a glória de um título, mas sim a de resgatar a dignidade do Fluminense.

Na quinta-feira, há uma batalha difícil pela Sulamericana, contra o Universidad de Chile. Mas nossos corações estão mais do que empenhados na batalha contra o Palmeiras. Estamos de pé. Escapar ainda é possível e todos nós temos fé.

Paulo-Roberto Andel, 02/11/2009