Hecatombe? (26/11/2009)
A quinze minutos do fim do jogo de ontem, no Equador, parecia repetido o revés hercúleo do ano passado. A LDU nos vencia, com justiça, por três a um e isso nos levaria a lutar contra o placar no jogo de volta. Ficou ainda pior: mais dois gols e uma goleada impiedosa que, todos sabemos, por mais qualidade que tenham os equatorianos, foi construída muito mais por fatores extra-campo do que na bola. E, no meio de uma campanha espetacular nos últimos treze jogos, uma campanha digna de aplausos, o Fluminense mais uma vez sucumbiu na altitude. Mais uma vez, uma barreira que parece instransponível a um passo do topo da América. Então, eu vos pergunto: será mesmo instransponível?
Em primeiro lugar, quero deixar claro aos amigos que descarto qualquer possibilidade de falha do nosso excelente goleiro Rafael em qualquer um dos cinco gols: tirando o de cabeça, todos os outros foram chutes fortes e indefensáveis. Com o outro goleiro, tenho uma certeza: o descenso no campeonato brasileiro e a eliminação na Copa Sulamericana já seriam realidades inquestionáveis. Segundo: a LDU nos venceu com inteira justiça, mesmo que tenha se feito valer de expedientes vis como a sucessão de duas bolas em campo a cada paralisação – e uma delas, talvez nossa única e justa reclamação, do gol de empate deles, feito na mais absoluta irregularidade. Naturalmente, os comentaristas mais-queridos fizeram galhofa do fato. São os mesmos que queriam paralisar o campeonato quando o Barueri venceu a Gávea de forma inconsteste. Terceiro: apesar da promessa inicial, com o grande gol nosso na saída de jogo, mais uma vez criado nos pés de Fred que, percebendo os efeitos da altitude, deu um chute cheio de efeito para o rebote que premiou Marquinho, não fomos o Fluminense demolidor destes últimos treze jogos. Era visível, mesmo com a vantagem no marcador, que o time sucumbiria fisicamente. Nossas principais armas nas partidas anteriores estavam na garra, na pegada, na marcação implacável. Não conseguimos isso: a LDU marcou seus gols em chutes de longe, sem que cercássemos a bola ou os finalizadores. Juntando o enorme esforço recente, mais as viagens continentais e a altitude que afeta até aos narradores das partidas, o somatório resultou numa goleada que, para muitos, é impossível de ser revertida.
E aí é que está a diferença do Fluminense.
Somos acostumados a reverter situações tidas como impossíveis.
No campeonato brasileiro, éramos tidos como galinha-morta. Ressurgimos. Domingo, temos o então jogo mais importante do ano, contra um Vitória que, se não vem com total empolgação pelo fato de praticamente estar de férias, conta com ex-jogadores nossos, que fracassaram com nossa camisa e mostram-se magoados, como se a nossa maravilhosa torcida os vaiasse porque atuavam bem. E, mais do que a nossa definitiva sobrevivência no certame brasileiro – na qual acredito piamente -, o jogo de domingo será um divisor de águas em nosso caminho. Uma boa vitória e partiremos com tudo para a decisão de quarta feira, onde não basta vencer, mas é preciso golear. Corrijo o texto: não acredito na divisão de águas. Os Leandros da Bahia que me perdoem, mas quem manda no Maracanã é o Fluminense. Não somos levianos, nem prepotentes: apenas sabemos que este time é capaz de reverter este quadro. Vejam a força da nossa torcida, que abarrotou o Tom Jobim para dar apoio aos nossos jogadores. Ninguém está promovendo teatro: é possível reagir.
Recordo o ano passado. Ter perdido por dois gols nos custou caro. Logo na saída de jogo, a besteira de Ygor nos pôs em desvantagem no marcador e precisávamos de três gols. Conseguimos antes dos vinte minutos do segundo tempo e somente o Sobrenatural de Almeida pode explicar como não vencemos aquele jogo no campo, sem prorrogação. Foi muito difícil. Mas conseguimos. Este ano, a batalha é mais aguda ainda: quatro gols de vantagem. Claro que é muito difícil. Mas será impossível?
Amigos, vejam nosso passado de glórias. Vejam o que temos feito recentemente, contrariando toda lógica em torno do descenso. Dependemos apenas de nossas forças para nos mantermos na primeira divisão. Duas vitórias pelo um a zero de 1951. Vitórias simples, mesmo que sem viço. Vencer ou vencer, nos ensina o Presidente Horta.
Quando a Gávea sucumbiu aos pés do atacante Anapolina, em 1980, houve uma rara oportunidade em que se colocou o Vasco como absoluto favorito diante de nós, apesar de termos superado-os na disputa da Guanabara. Edinho fez o grande gol, Cartola e Nelson deram seu até-breve e o Fluminense foi o grande campeão. Em 1983, a Gávea comemorava a chegada à final, urrava “campeão!” e Benedito de Assis se tornou o Carrasco. Em 1985, o craque Leandro fuzilou São Paulo Victor e acertou o ângulo esquerdo, num dos maiores gols da história do Maracanã. Eles gritaram “campeão” e, dez dias depois, a taça repousou para sempre em Álvaro Chaves. Antes de tudo isso, em 1971, os botafogos empunhavam lencinhos brancos de choro para nós, a cinco minutos do fim da grande decisão. Lula foi o algoz e a taça é nossa para sempre.
Tudo estava perdido há um mês e meio atrás. Vencer dez jogos em treze parecia assombroso. Já vencemos oito. Faltam dois.
Com uma vitória imponente, meus amigos, podem escrever: o Fluminense poderá até não se tornar o campeão da América, mas, se isso acontecer, terá sido exclusivamente pelo saldo de gols. A estatística é curta, mas jamais perdemos para os equatorianos no Maracanã, estamos invictos em casa há vinte e cinco anos nas competições da América e, se lá, a torcida deles faz grande pressão, aqui nós temos a Young, a Legião, a Flunitor, a Força Flu e mais os nossos milhares de apaixonados que vão invadir o Mário Filho – afora os milhões que farão da tela da televisão seu próprio sentido de vida.
Tudo continua muito difícil, sabemos. Mas não é a hecatombe.
Na história do Fluminense, a palavra “impossível” simplesmente não existe.
Eu acredito. Você também. Todos nós.
Não há Tricolor que duvide que o impossível pode se tornar trivial. E, se duvidar, Tricolor de fato não é.
Paulo-Roberto Andel, 26/11/2009
1 comment:
"NUNCA DUVIDEM DO FLUMINENSE"
Nélson Rodrigues
Vlw
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