Tuesday, December 01, 2009

FLUMINENSE 4 X 0 VITÓRIA (29/11/2009)



A dois passos da consagração (30/11/2009)

Futebol tem nuances e aparências. Lembrei de meu velho e inesquecível amigo Xuru, no último jogo em que estivemos juntos no Maracanã: era um Vasco e Botafogo. O time cruzmaltino entrou em campo com tamanha lentidão que levou mais de um minuto entre seu vestiário e o lado direito das arquibancadas de Mário Filho. Xuru, vascaíno oceânico, mostrou preocupação: “Ora, se o time levou esse tempo todo para nos cumprimentar, imagine a moleza que vai ser em campo. Me senti mal.”. Mal saberia o velho amigo e eu que testemunharíamos a maior goleada em clássicos da história do Maracanã: o Vasco, lento para entrar em jogo, venceu por sete a zero, para desespero de General Severiano. Essa lembrança me remeteu a ontem. Não sei explicar o porque, mas eu e vários amigos achamos que, ainda que linda como sempre, a torcida Tricolor estava cantando dois tons abaixo do tradicional. E o time entrou em campo com uma calma, uma vagareza que me fez lembrar justamente daquele dia com o Xuru. Não fizemos sete a zero, mas somente porque desaceleramos a partida: fomos absolutos senhores do jogo, impusemos uma goleada poderosa e, para a tristeza de nossos detratores, não somente ganhamos enorme motivação para a decisão da América, dificílima, depois de amanhã, mas também saímos da zona do descenso depois de vinte e seis rodadas. Quase três meses de tripudiação diária da imprensa esportiva brasileira com o que de pior ela representa. Quase três meses ouvindo que o Fluminense era galinha-morta, que já estava rebaixado, que deveria se preparar para a segunda divisão, e o resultado aí está: precisamos de um ponto somente para concretizar a maior virada em campo da história dos campeonatos brasileiros.

O time entrou em campo com muita lentidão e a nossa linda torcida fazia uma enorme festa, mas não cantava tão alto. Isso me preocupou; pensei que pudesse ser fruto da aberração do meio de semana, quando os cinco gols dos equatorianos constituíram verdadeira agressão à nossa campanha. Futebol tem nuances e aparências, meus amigos. Em cinco minutos, o Fluminense foi um leão de selva em busca da janta e triturou o jogo. Primeiramente, com um lindo gol de Alan, fuzilando o ângulo direito de Gleguer, depois de receber passe espetacular de Equi González. O menino mostrou categoria ao deixar a bola correr em vez de dominá-la; com isso, matou a defesa adversária e ficou livre. Um gol de artilheiro. E, quando mal havíamos sentado nas cadeiras amarelas, Fred recebeu um passe de Darío Conca à frente da área, girou o corpo e marcou um gol de placar, um gol de craque que decide qualquer partida – e ali, naquele gol, Fred mostrou que o Fluminense não somente está vivíssimo como pode reverter a decisão da América. Um giro de corpo fantástico, a bola colocada no ângulo esquerdo de Gleguer.

Dois a zero é sempre o placar preocupante; se o adversário faz um gol, tem forças para reagir a um jogo perdido. No caso, com o placar construído em cinco minutos, somado ao enorme desgaste físico que sofremos pela jornada recente de jogos seguidos, sem direito a erro, o Vitória, aos poucos, buscou ataque e nos ameaçou, chegando a chutar uma bola em nossa trave esquerda, tida como gol certo. A zaga interviu em algumas vezes, nosso goleiro Rafael seguro em outras; Mariano e Diogo com a raça de sempre, Equi com a categoria que dele se espera, Conca em grande performance. Com o tempo, o time baiano viu suas forças esmaecerem e isso tornou a partida mais lenta, até porque precisávamos nos poupar para a próxima batalha. Ficou a impressão de que, se tivéssemos condição de imprimir um ritmo mais forte à partida, o placar seria mais dilatado. Do outro lado, nossos ex-jogadores que, durante a semana, falavam em vingança, engoliam a seco o dois a zero. Para nós, a certeza de que, assegurando a vitória, a saída da zona de rebaixamento era uma realidade inquestionável independente de outros resultados.

A segunda etapa ficou marcada de início pela nossa tentativa de cadenciar o jogo ainda mais, justa e positiva. Mesmo com isso, aos quinze minutos o Maracanã explodiu em mais um golaço: a tabela portenha entre Equi e Conca resultou num chutaço do nosso onze, com a bola estraçalhando o ângulo esquerdo de Gleguer. Três golaços, três a zero e o impossível foi chutado para escanteio. Ainda faltava meia hora para o fim, mas a nossa apaixonada torcida cantava e comemorava finalmente a saída da zona do descenso, depois de longa agonia. A vingança dos ex-Tricolores com a camisa do Vitória tinha virado abóbora muito antes da meia-noite: seis e meia da tarde, quase precisamente. E o jogo passou a ter caráter de quase amistoso, sem que as equipes se expusessem muito. No fim, numa jogada do folclórico Adeilson, que entrara em campo no lugar de Alan, embolado com goleiro e defesa quando estava livre para marcar, o fato que lá estava o argentino, Darío, para tomar a bola e tocar para o gol vazio. A goleada. O quatro a zero. A saída da zona de descenso, contrariando especialistas, matemáticos, estatísticos, palpiteiros e congêneres. Contrariou aos Leandros, que tanto falaram mal de nós e saíram humilhados ontem do Mário Filho. Que descansem em paz.

Olhemos para trás, caros amigos. O Fluminense era a galinha-morta da imprensa galhofeira, marrom como a cor que lhes sugere o medo da nossa centenária camisa. Éramos os rebaixados, os maltrapilhos, a escória do futebol brasileiro. Nosso time se encheu de gana, os craques voltaram a brilhar, o treinador se encheu de ânimo, nosso preparador colocou o time na ponta dos cascos. Eram treze jogos, precisávamos vencer dez. Ontem, vencemos o nono. Diziam que era impossível, mas para a nossa história esta palavra simplesmente não existe. Eu vos pergunto: se pudemos vencer o Palmeiras, o Cruzeiro, o Atlético Mineiro, o Paranaense, o Sport em seus domínios, quem há de dizer que não podemos reverter o jogo contra os equatorianos e vencer o Coritiba na grande batalha de lá, sendo que jogaremos pelo empate?

Dez milhões de pessoas acreditam nesse time.

Um Maracanã lotado incendiará esse time.

Falo com a propriedade da humildade e também com a tradição da camisa: virar esta final não é impossível. Assim sendo, no domingo, quem entrará em campo para ao menos um empate é o campeão da América. Convém respeitar.

Os levianos tentaram nos impingir a pecha de derrotados depois da partida no Equador. Entretanto, eles se esqueceram de que o Tricolor voltou. E, com isso, o Maracanã e o Couto Pereira tremerão como nunca.

Mais do que nunca, confio na reconquista da América e na eliminação do descenso. Estamos todos juntos: é um só coração Tricolor.


Paulo-Roberto Andel, 30/11/2009

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