Friday, December 04, 2009

FLUMINENSE 3 X 0 LDU (02/12/2009)



Sob os aplausos da América (03/12/2009)

Quando a injusta e nefasta série de penais se encerrou na Libertadores do ano passado, uma nuvem de desgraças tentou impor às Laranjeiras uma tempestade sem fim. Foi difícil, mas ela se desfez aos poucos. E, quando menos se esperava, lá estava o velho e imperial Tricolor de sempre a disputar um título contra a Liga Equatoriana, mal-abraçada pelos flamengos. Nem o mais otimista dos nossos torcedores vislumbrava a possibilidade de decidir qualquer competição nos últimos meses. E aconteceu que perdemos mais um troféu, mas não o campeonato. A goleada a nós imposta na primeira partida da decisão da Copa Sulamericana acabou custando caro, pois devolver o resultado seria muito difícil para qualquer time do mundo, mesmo o que tem uma torcida tão bonita quanto a nossa ou um time tão aguerrido como este que temos visto em campo. Foi por um triz. Foi um detalhe e o troféu nos escapou. Apenas o troféu. E só.

Mais uma vez, a massa Tricolor tomou o Maracanã de assalto com belíssima festa, luzes, um majestoso mosaico e toda a beleza que lhe é peculiar. O que dizer do abraço da enorme torcida no ônibus que trazia nossa delegação para o jogo? O que dizer da festa, das cores, da esperança e dos gritos incessantes dos nossos amigos? Tudo o que for aqui escrito será pouco.

Nenhum de nós estava iludido com bazófias e falácias comumente praticada por torcedores da imprensa; sabíamos a todo instante que seria um jogo duro. Porém, nós o fizemos fácil. Não há dúvidas de que o Fluminense massacrou seu adversário mais uma vez em sua casa. Não houve trégua. Três gols foram fichinha perto do que merecíamos. Com exceção de um ou dois lances, um deles espetacularmente bem defendido por Rafael, a Liga não nos incomodou. O jogo foi do Fluminense e de sua maravilhosa torcida. Tudo começou com o gol de Diguinho: não importa que tenha esbarrado num defensor equatoriano; o que vale é o gol. E o Mário Filho explodiu, porque todos viram que seria possível tentar reverter o quadro. E o passe maravilhoso de Alan para Fred, artilheiro de seleção brasileira, finalizar friamente no canto esquerdo da meta da Liga? Dois a zero foi pouco para se encerrar a primeira etapa. Não venham dizer que fomos favorecidos pela expulsão de um deles: a falta foi gravíssima e não cabia outra coisa. Além do mais, a Liga era useira e vezeira em paralisar o jogo com “cera”, que não foi descontada como devido. Poderíamos ter enfrentado onze, doze ou quinze jogadores que não haveria diferença: o Fluminense jogava com a alma de campeão, com o estigma de campeão, com o vigor e a bravura que só os fortes possuem. Dois gols foi pouco. Bem pouco.

No segundo tempo, naturalmente nosso time - o mais cansado do Brasil pela seguida maratona que vem enfrentando – não acelerou com força total, mas continuou incessante no ataque. Talvez tenhamos chutado menos do que nas outras partidas; afinal, era uma decisão. E fizemos o terceiro gol um pouco tarde, talvez. Isso não tinha o brilho da cabeçada de Gum, o nosso zagueiro-artilheiro que já jogou sangrando, ao bater o goleiro do Equador e tocar no canto direito, quase sendo complementado por Ruy, o Cabeção.

A diferença de um mísero gol nos pesou como não deveria. Pode-se dizer que os quinze minutos finais praticamente foram parados pela eterna catimba da Liga, tolerada com exagerado bom-humor do árbitro. Antes disso, Fred, desesperado com a quantidade de botinadas que recebeu o jogo todo, a maioria sem sequer marcação de falta, exacerbou na reclamação por um lateral claramente nosso e foi expulso. A imprensa tentou culpá-lo pela perda da taça e todos sabemos que isso constitui vertiginosa bobagem: é nosso craque, nosso artilheiro e, se chegamos à última rodada do campeonato brasileiro podendo empatar para matar o descenso, muito devemos a ele.

Poderia ser apenas uma derrota com vitória em campo. Apenas um gosto de perda. Mas não foi. Quem esteve no Maracanã e viu o entrelace entre o time do Fluminense e sua maravilhosa torcida, sabe do que estou dizendo. Nós soubemos reconhecer o empenho e a fulgurante campanha na Sulamericana; nós soubemos reconhecer o esforço hercúleo que os jogadores e a comissão técnica estão fazendo para manter o Fluminense na primeira divisão. E nunca a perda de uma taça foi tão aplaudida, cantada e louvada como ontem: foi um espetáculo fascinante ver os milhares de Tricolores empunhando suas camisas, suas bandeiras e sua voz em nome dessa paixão centenária. Jogadores e torcedores da Liga chegaram a se assustar com o nosso barulho: o amor pelo nosso time, mesmo sem uma taça, é continentalmente maior do que qualquer comemoração de título deles. É um amor oceânico, imenso, incomensurável. A América toda nos aplaudiu. Uma noite inesquecível. A noite em que ser vice-campeão foi de muito orgulho, respeito e esperança.

Certa vez, o colossal jornalista Marcos Caetano escreveu sobre o Fluminense: "Para ser um gigante, não fazem falta títulos mirabolantes, equipes inesquecíveis ou milhões de fanáticos torcedores. O Fluminense tem tudo isso, como de resto quase todos os grandes clubes mundo afora. Não é isso que torna o Tricolor diferente dos demais. Para ser um gigante é preciso mostrar valor diante do inimigo invencível e face ao mais profundo dos abismos. Por duas vezes, ao longo de seu primeiro centenário, o Fluminense esteve à beira da aniquilação - e sobreviveu. Foi com tal fidalguia que o clube das três cores que traduzem tradição se tornou uma lenda. Um clube que, quando menor pareceu, aí mesmo foi que provou ser um gigante.". Mal-começado seu segundo centenário, o Fluminense passou por dificuldades, como em 2006, 2006 e no ano passado. Agora, mais recentemente, era o time condenado da imprensa, para “se fazer justiça no futebol brasileiro”. A galinha-morta. O motivo de galhofa. Ontem, meus amigos das Laranjeiras, nós não levamos mais um troféu para a nossa abarrotada sala, como gostaríamos; entretanto, obrigamos a todos os que tripudiaram de nós nestes últimos meses a engolirem com saliva seca tudo o que disseram. A América nos escapou novamente por um triz, um fiapinho; tenho plena confiança de que a permanência no campeonato brasileiro principal não nos escapará.

A bola bateu na trave outra vez. Mas, aos poucos, o Fluminense começa a se reacostumar com o gosto das decisões internacionais. Para quem estava condenado à morte tanto no ano passado quanto nos dois últimos meses, não deixa de ser uma forte recuperação. A América não perde por esperar.

Ainda temos a última batalha do ano. Será um jogo dificílimo. Mas, depois de tudo o que esse time tem feito, quem seria capaz de duvidar de seus feitos, em sã consciência? O Fluminense de hoje é um time que nos faz bater no peito e gritar sobre o orgulho de ser Tricolor.


Paulo-Roberto Andel, 03/12/2009

1 comment:

Suzy said...

Análise perfeita...parabéns!