Monday, November 16, 2009

CERRO PORTEÑO 0 X 1 FLUMINENSE (11/11/2009)

De volta à América (12/11/2009)

Nem o mais otimista dos nossos torcedores poderia prever a maneira como jogamos ontem, ao vencermos com total autoridade o Cerro Porteño no Paraguai, em seu acanhado estádio. Nem nosso maior positivista seria capaz de prever que, menos de um ano depois do fatídico desfecho daquele jogo contra os equatorianos, o Fluminense estaria novamente próximo do topo da América. Foi uma partida perfeita, como há muito não víamos. Autoridade absoluta; para os desavisados, em muitos momentos parecia que o Fluminense jogava no Maracanã, tamanha a desenvoltura e a pressão no ataque contra um Cerro tímido e absolutamente recuado.

Não é possível analisar este jogo pelo placar mínimo, o placar de 1951 ao qual tantas vezes já me referi. O Fluminense dominou amplamente seu adversário e, desde o primeiro minuto de jogo, já se impunha com vigor absoluto, tantas as chances de gol perdidas e a posse de bola incessante a nosso favor. O fato é que tivemos uma atuação com sobras, não permitimos qualquer predomínio dos mandantes e, quando o jogo já se encaminhava para um final dramático que seria deveras injusto com Laranjeiras, eis o incansável Fred dominou uma bola na intermediária, driblou adversários, ajeitou a bola para o lado direito e, com o mesmo pé direito que usara no lance, fuzilou inapelavelmente o arqueiro paraguaio Barreto. Um gol solitário que valeu por uma goleada e decidiu o jogo, impondo justiça. O nono gol de Fred em nove jogos, que serviu à imprensa esportiva que prima pela parcialidade como um verdadeiro supositório de grande porte. O nono gol de Fred em nove jogos, que coloca um desacreditado Fluminense à beira do topo da América.

Também não é possível descrever este jogo com a exatidão do tamanho de nosso domínio. Se o Fluminense tivesse conseguido, no primeiro turno do campeonato brasileiro, fazer seis ou sete partidas desse jeito, teríamos dezoito ou vinte e um pontos a mais – e nossa luta não seria contra o descenso, mas sim pelo título. Sempre se soube que jogar nos países platinos sempre foi pedreira em qualquer competição, mas o Fluminense não tomou conhecimento da tradição, nem do fato do estádio General Pablo Rojas estar lotado e ser acanhadíssimo, como se pôde comprovar ao final do jogo, quando nossos atletas foram obrigados a se asilarem na proteção policial para escapar de uma chuva de pedras. Acontece que o Fluminense foi tomado por uma obsessão catalânica, a da vitória – por isso, tem passado por cima de todas as intempéries com a força de um Hércules e a elegância de um lorde britânico.

Jogamos sem a velocidade do jovem Dieguinho, mas o time todo está de parabéns. Naturalmente, pelo decisivo golaço, Fred merece muitos louros, mas convém ressaltar que se tratou de uma vitória coletiva, com o conjunto do Fluminense respondendo amplamente ao desafio. Claro que nada está garantido e todo cuidado é pouco, além da natural humildade que deve nos caber; entretanto, o grande triunfo de ontem torna o Fluminense favorito para chegar à final da Copa Sulamericana sim! Passa muito longe de nós a empáfia; o que quero tratar aqui é da matemática, da aritmética que está nos favorecendo neste momento. O Fluminense tomou gosto pela vitória. O Fluminense se tornou um time avassalador, temido como reza a tradição de sua história. O Fluminense passou a ser um time frio, que sabe a hora de atacar, que valoriza a posse de bola e que dá o bote motal na hora certa. Junto a tudo isso, o maravilhoso trabalho realizado na preparação física por Ronaldo Torres: o time voa em campo ao fim das partidas. E então cada jogo tem sido um degrau para aumentar nossa confiança e nosso empenho. Vejam nossos jogadores, como se abraçam, como parecem juntos e determinados! Um incentiva ao outro; ninguém reclama da substituição. Um verdadeiro milagre tornou o nosso time o senhor da recuperação, depois de estar frente às trevas, condenado pelos cronistas e desacreditado internacionalmente. Esqueceram-se apenas de um detalhe: esta centenária camisa Tricolor é dona de façanhas de que até Deus duvida, e não nasceu para ser ridicularizada e desrespeitada com piadinhas torpes. Cabe o silêncio dos Kfouris, dos Renatomaurícios e de outros menos votados, diante da grandeza do pavilhão Tricolor.

Quero ressaltar que, dentro do conjunto do Fluminense, uma figura me parece essencial. Mariano. Não é o jogador que nos enche os olhos com jogadas belas, de alta precisão técnica, pelo contrário: luta muito para acertar até lances simples. Mas sua disposição de leão tem feito honrar a camisa que já foi muito bem-defendida por Marcão e Denílson, nosso Rei Zulu. Ou Edinho, outro símbolo da nossa garra. Mariano corre o campo todo. Mariano tenta cruzar, cabecear, passar, driblar e chutar. Mariano parece que se multiplica por três ou quatro no gramado, feito fosse o Multi-Homem do desenho animado. Temos Conca com muito talento e raça; temos Fred com futebol de seleção brasileira; temos o voluntariado de nossa defesa, invicta há algumas partidas. Mas todos podem ser homenageados na raça, na disposição e na entrega em campo que tem demonstrado Mariano. E a entrega é que fez a história da camisa do Fluminense.

Mais uma vez repetimos o “timinho” de 1951. Entretanto, nossa atuação foi de goleada retumbante. Se o placar não disse isso ao final, mentiu deliberadamente. E muito, mas muito antes do que qualquer Tricolor pudesse supor, estamos a três passos de reconquistar a América – e mostrar que a decisão nos pênaltis da Libertadores de 2008 foi algo das maiores injustiças que já se viu no futebol. E não tempo para pensar: domingo, mais um Maracanã lotado e a obsessão catalânica que nos assola em todos os segundos – vencer! Não importa o escore; não importam as bazófias dos maus homens de imprensa. Um a zero já nos basta para lutar contra o descenso e repito: duvido que ele nos suceda.

Estamos de volta.

O Tricolor voltou.

Saiam da frente!


Paulo-Roberto Andel, 12/11/2009

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