Tuesday, September 14, 2010

ATLÉTICO GO 2 X 1 FLUMINENSE (11/09/2010)


Onze de setembro (12/09/2010)

É certo que o campeonato brasileiro é muito disputado, principalmente na era dos pontos corridos. Com exceção da primeira edição em 2003, quando o Cruzeiro disparou qualitativamente falando, em todos os outros anos os campeões tiveram oscilações em algum momento. Parece que chegou a vez do Fluminense: depois do mau resultado contra o Guarani, em Campinas, e da vitória oscilante contra o Ceará, eis que o líder voltou a campo contra o Atlético Goianiense no Serra Dourada. E perdeu. Nada que justificasse a euforia da imprensa de rapina, já decretando o Botafogo como grande campeão, além do Cruzeiro: o Fluminense ainda é o líder e terá um jogo dificílimo pela frente contra o Corinthians, quarta-feira que vem, num abarrotado Engenhão. Mas o fato é que perdemos. E, mais uma vez, embora tenhamos feito um bom primeiro tempo, chutado bolas na trave, criando excelentes jogadas, perdemos em função de erros individuais: o primeiro e o segundo gols aconteceram, para variar, em falhas notórias do Perseguido – no primeiro; um gol servindo como ducha de água fria para nosso time, que dominava o jogo e teve que recomeçar do zero; no segundo, crucial por já ser nos acréscimos de tempo, impossibilitando qualquer reação. Ainda há tempo para a recuperação, sem sombra de dúvida, mas uma inevitável pergunta ecoa nos quatro cantos das Laranjeiras: será possível que sejamos campeões brasileiros sem um goleiro?

No jogo de ontem, estava claro que o Atlético não ia ser canja de galinha; luta contra o rebaixamento, tem alguns bons jogadores e um excelente treinador – o nosso René Simões. Contudo, o Fluminense fez uma primeira meia hora muito boa, com jogadas lindas de Deco e Conca, sendo que muito antes dos vinte e dois minutos, quando Washington tocou para o gol após lindo passe do argentino e o início maravilhoso de Deco, já éramos predominantes na partida – uma jogada de placa. O jogo estava a nosso favor e todos esperávamos um resultado expressivo que obrigasse os jornais a não defenestrarem o Tricolor. Éramos ataque e fazíamos blitz na defesa goianiense; porém, na primeira bola que chegou ao ataque dos mandantes, pela esquerda, o jogador William recebeu a bola e chutou sem o menor esforço para empatar, dado que a saída de gol do Perseguido em sua insistente vontade de fechar o ângulo de chute com os pés é, no mínimo, humorística. Repito: quando a defesa falha, é o caso normal do goleiro brilhar. Em nosso time, quando a defesa falha, o gol é certo porque é impossível para qualquer goleiro defender – ou rebater - um chute na diagonal estando praticamente encontrado na trave mais próxima ao chutador. O empate não esfriou o ímpeto do nosso time, mas outras barreiras apareceram à frente; além dos chutes na trave feitos por Washington (em linda cobraça de falta) e Gum, o bom goleiro Márcio fez mais uma grande partida neste campeonato. Os atleticanos podem dizer: “Nós temos um goleiro”. Nós, Tricolores, não. Quero deixar claro que minhas palavras não querem crucificar ninguém, mas somente testemunhar um fato evidente, que já se repetiu em outros anos e surge novamente agora, quando queremos brigar pelo título brasileiro. E temos outros problemas: nosso time é muito experiente, mas, por conta disso, também perde em velocidade, dado o grande número de jogadores em campo com mais de trinta anos – não há nenhum preconceito nisso, desde que jovens peças de reposição ofereçam velocidade ao Fluminense no segundo tempo. E ainda o caso das outras partidas: apesar de Conca e Deco fazerem lindas jogadas, de plástica inquestionável, ambos embolam o espaço outrora ocupado por Mariano – e ali, pela ala direita, foram criadas as principais jogadas que levaram o Fluminense à liderança do campeonato, as mais velozes, as demolidoras. É preciso ainda achar a formação ideal com os craques, os experientes, mas também sem tirar a força velocista da equipe. Com Julio César fazendo a meia, a velocidade era ainda mais escassa.

No segundo tempo, orientado por seu decano treinador, o Atlético percebeu a perda de força física do Fluminense e paulatinamente passou a protagonista do jogo: um susto, outro susto, outro susto. Ficou no lá e cá: precisávamos também dos dois pontos, ainda mais sabendo que era o momento de reconstruir a vantagem na tabela – o vice Corinthians perdia no Pacaembu para o Grêmio. E nosso time sentiu o cansaço cada vez mais, embora sem desistir da vitória. A quinze minutos do fim, um mau presságio: o zagueiro atleticano Gilson foi expulso; como todos sabem, há um estranho – e desconfortável - desencanto nas Laranjeiras que torna difíceis todas as partidas onde nossos adversários têm desvantagem numérica de jogadores. De toda forma, fomos guerreiros como sempre, tentando a vitória. Carlinhos chutou duas vezes, não conseguiu.

Com a derrota do Corinthians, nosso empate era magro, mas não tão desastroso: quatro pontos à frente de um adversário são sempre uma boa pedida. E o jogo já se encaminhava em igualdade para o fim quando, mais uma vez, a miscelânea de erros que é hospedada debaixo das traves do Fluminense deu o ar da sua graça: uma bola vadia lançada para a direita do ataque; o Perseguido finge que vai, mas não vai; o jogador do Atlético em cima da linha de fundo e com dois marcadores no cangote, consegue cruzar; a finalização de Juninho é um pouco fraca, quica, mas é o suficiente para bater o único obstáculo diante dos sete metros de gol: um braço reto, esticado para cima, cujo dono estatelado no chão me lembrou os quadrinhos do Recruta Zero, quando este apanhava do Sargento Tainha e aparecia feito uma massa disforme no chão. O Atlético, que foi valente, soube suportar a pressão e não desistiu do jogo até o fim, mereceu a vitória. Nós, que jogamos bem e perdemos gols, mas tempos nosso gol praticamente vazio, merecemos perder.

O Corinthians perdeu no Pacaembu, mas não soubemos fazer nossa parte. Botafogo e Cruzeiro venceram seus jogos e chegaram perto do topo. Continuamos na ponta, mas nosso time está vacilante. À frente, três meses de decisões a cada três dias, a enorme simpatia da CBF pelo mais-querido de São Paulo, a imprensa galhofeira com seus neocandidatos ao título. Mais do que tudo isso, precisamos recuperar nosso bom futebol, acertar as posições dos craques, dar alforria a Mariano para que voe pela direita e, principalmente, ganhar para as Laranjeiras um título como nunca se viu antes em nossa história: uma taça imponente sem um goleiro que esteja de acordo com a centenária tradição iniciada por Marcos Carneiro de Mendonça – não por acaso o primeiro goleiro da história da seleção brasileira. É um desafio e tanto, como nunca tivemos. Alguém falará da Copa do Brasil de 2007 e eu lembrarei: também ganhamos aquele título sem goleiro; a diferença é que, sem detrimento dos participantes daquela competição, eles tinham bem menos pujança econômioca e técnica do que os atuais times deste campeonato brasileiro.

Um menino comentou na Internet para meu amigo Leo que Félix e Paulo Victor eram os Fernandos Henriques de antigamente. Prometo falar disso na próxima crônica, onde espero estar bem menos infeliz com os erros primários de nosso camisa 1.


Paulo-Roberto Andel

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