Wednesday, September 15, 2010

SOBRE HOJE À NOITE (15/09/2010)



O futebol não permite descanso, ainda mais para um líder de campeonato brasileiro que, definitivamente, tem jogado com irregularidade nas últimas partidas, embora tenha perdido jogos recentes muito mais por falhas individuais do que coletivas. No entanto, nunca é demais lembrar que um time não se torna líder de qualquer campeonato por acaso, exceto nas primeiras rodadas – e hoje, o campeonato alcança a vigésima-segunda rodada. Nunca é demais lembrar que este líder é o Fluminense, talvez o time mais acostumado a vencer jogos e conquistar campeonatos sob a descrença dos amantes do futebol brasileiro – com exceção dos milhões de apaixonados torcedores das Laranjeiras, dentre os quais me encontro. E também a descrença dos homens de imprensa: alguns, por conta dos compromissos profissionais; outros, porque misturam a mesma imprensa com a paixão clubística – e aí é um problema, principalmente no Rio de Janeiro. Afinal, todos os grandes times da cidade já perderam títulos históricos para o Tricolor, ainda mais nos últimos minutos das decisões, quando já alisavam os troféus – principalmente o “time oficial da imprensa”.

Para os leigos, os que vivenciam o futebol apenas pelos jornais de cinqüenta centavos ou os que somente lêem os textos dos cronistas fraudulentos, o Fluminense é um não-favorito, um figurante, o time que joga injustamente a primeira divisão, um rebaixado – isso, como se regulamentos mirabolantes não tivessem beneficiado em algum momento todos os grandes clubes brasileiros em horas de martírio. Mas isso é somente para os leigos e os mal-intencionados: quem conhece de futebol brasileiro sabe muito bem o que ele se tornou por causa do Fluminense e o que talvez pudesse ter sido – ou melhor, NÃO ter sido sem ele. A nossa história é recheada de conquistas tidas como impossíveis apenas para os borra-botas, com seus sorrisos pascácios, alheios à realidade que reza o respeito ao fundador do futebol no Brasil – não apenas por data, já que Ponte Preta e Rio Grande nasceram um pouco antes, mas pelo mérito, pelos feitos, pela trajetória. A nossa história foi construída com o descaso de rádios, jornais e, posteriormente, televisões. Contudo, a nosso favor, uma única voz e um texto inigualável: Nelson Rodrigues – assim, tínhamos toda a imprensa nos oferecendo descaso, mas o maior cronista do futebol brasileiro em todos os tempos vestido com as nossas cores. E Nelson nos deixou mais cedo do que o justo: a literatura esportiva do Brasil merecia seus textos sobre os tricampeões dos anos oitenta, o colossal título de 1995, o terrível – mas curto – momento dos rebaixamentos, sim, junto à gloriosa volta por cima: mais uma vez, só os pascácios acreditam que não venceríamos os grupos alternativos na Copa João Havelange de 2000; basta ver a campanha. Dali em diante, o Tricolor centenário e campeão em 2002, as disputas de títulos brasileiros quando chegamos perto em 2001, 2002, 2005, 2007 e agora, mais do que nunca, em 2010. A apoteose e a tristeza na final da Libertadores, que um dia será recompensada. A inesquecível virada do ano passado, calando e humilhando a todos os que malversaram o Tricolor. As letras de Nelson seriam nosso escudo contra a empáfia e a soberba; ele pode não estar aqui fisicamente, mas é certo que seu espírito norteia qualquer Tricolor.

Enquanto Nelson bradava com sua voz rouca e seu texto maravilhoso, boa parte da mídia desdenhava o Fluminense e ganhávamos títulos, conquistávamos vitórias e respeito. Tem sido sempre assim. Procurem nos jornais de 1941: ninguém elegia o Fluminense favorito, exceto Nelson, mas fomos campeões na Gávea. Procurem por 1946: a mesma coisa. O supercampeão foi o Fluminense. Se quiserem mexer nos velhos arquivos dos jornais, o Fluminense não era favorito nos textos nem no primeiro Fla-Flu de 1912, que vencemos pelo emblemático três a dois que tantas vezes se repetiu e nos deu troféus inesquecíveis. Na era moderna, o campeão de 1951 que, no ano seguinte, venceu o Mundial de Clubes e resgatou o futebol brasileiro da tragédia de 1950, era tratado como o “timinho” de Zezé Moreira. Quanta insensatez! A máquina montada por Parreira em 1984 também não teve o menor crédito jornalístico. O que dizer de 1995, quando estávamos a nove pontos do grande campeão da imprensa, chegamos à última partida com apenas um de desvantagem e ganhamos o maior título de todos os tempos? Sempre foi assim, meus amigos, sempre! A cada nova rodada, apontam um novo campeão: primeiro, o Ceará; depois, o Corinthians; agora, Botafogo e Cruzeiro.

A partida do turno, com nosso time ainda não azeitado, foi vencida pelos corinthianos num dois a um apertado, onde pressionamos o tempo todo, perdemos vários gols e ainda fomos vítimas de uma calamitosa arbitragem.

Dezenove rodadas depois, a situação é outra. Antes de entrarmos em campo, o atual favoritíssimo Botafogo – para Juca Kfouri, time dotado de uma alma vitoriosa, naturalmente excetuando-se os vinte e um anos compreendidos entre 1968 e 1989 – poderá não ter vencido o Goiás, que luta contra o rebaixamento e tem dado sinais de melhora. O cogitadíssimo Cruzeiro também terá jogado contra o humilde – mas perigoso – Guarani. E se não vencer?

No horário nobre, mais uma daquelas batalhas que já são rotina na vida do torcedor Tricolor. Além de lutar em campo, é preciso lutar contra a campanha massiva das manchetes, narrações e comentários. É certo que não querem o Fluminense campeão. Sabemos que o Corinthians contra com toda a simpatia da CBF, afora ter um bom time, claro – e também já contar com a vitória antecipada contra o Vasco, em São Januário, na partida que lhe foi docemente adiada pelas comemorações do centenário do escrete paulista, o que me parece no mínimo uma sonora bobagem. E é certo que passamos por um mau momento: alguns sinais de lentidão em campo; o desajuste nas funções de Conca e Deco, sem interseção; Fred do lado de fora e perto de confusões; o manto sagrado de Castilho vazio debaixo das traves. Mas quem disse que o Fluminense nasceu para não lutar contra as intempéries? Já são cem anos e uma centena de títulos dessa maneira. Não há porque mudar agora. Os galhofeiros podem ficar engasgados sim.

Os nossos farão um mar de cores no Engenhão na noite de hoje. E quem tem a nossa torcida nunca é derrotado de véspera. Quem venceu títulos como nós já vencemos nunca pode ser tratado como coadjuvante. Mais uma vez, são todos contra uma centenária camisa que insiste em colocar água no chope dos jornalistas e matemáticos.

Em suma: confio numa esmagadora vitória do Tricolor hoje. E mesmo que ela não venha, nada irá abalar nossa luta por esse título. Aguardem os próximos capítulos.


Paulo-Roberto Andel

2 comments:

Bendito Flu - William Vianna said...

Somos nós contra a massa Corinthiana, a mídia e os invejosos. Mesmo assim venceremos, por que somos mestres quando o assunto é superação. E também, por que somos guerreiros. Essa vitória será nossa, e acontecerá nas 4 linhas. Não precisaremos de mídia, nem de apito. Calaremos a boca de todos.

avmss said...

Vale lembrar, que também insistimos em colocar água no chope dos clubes centenários.

ST