Friday, September 03, 2010

FLUMINENSE 1 X 1 PALMEIRAS (01/09/2010)


O castigo (02/09/2010)

Não foram poucas vezes em que o Fluminense conquistou grandes vitórias e títulos com gols marcados no fim das partidas – no circuito carioca, por exemplo, o Tricolor já ganhou campeonatos desse jeito contra as outras três grandes equipes da cidade, como se viu em 1971, 1976 e 1983. E muito dessa história foi escrito na beleza do Maracanã imortal, que mais uma vez cerrará portas para um até-breve. Ontem nos despedimos do estádio, para o qual só voltaremos em 2013. Foi de um gosto amargo: levamos o gol de empate nos últimos segundos do jogo. O Fluminense não foi bem como em outros jogos, principalmente no segundo tempo, mas a punição foi severa demais, ainda que a culpa tenha sido nossa pelo jeito com que o time se posicionou, ainda mais no fim do jogo. Menos mal que ainda somos os primeiros do campeonato – e assim terminaremos, independentemente do que venha a acontecer domingo. Não importa que o Corinthians tenha um jogo a menos; será contra o Vasco, em São Januário e isso quer dizer sonora dificuldade. A nós, cabe fazer a nossa parte, a nossa cartilha. Não foi assim ontem, embora a ótima fase atual do Tricolor nos permita até lamentar quando empatamos contra uma grande equipe. Não fizemos o dever de casa, jogamos mal principalmente no segundo tempo, Muricy não mexeu como se esperava e, ao fim da partida, a cereja envenenada do bolo.

É estranho ver o Maracanã sem as tradicionais cadeiras, quase tão estranho quanto ainda é vê-lo sem a querida e folclórica geral. Passa uma impressão desconfortável, creio. Lugares vazios, dez da noite, ao menos havia a promessa de uma boa partida para se guardar na memória, até que possamos voltar ao velho estádio. Vinte mil Tricolores sonhavam com uma grande jornada na noite de ontem, e não se pode dizer que começamos mal. O Fluminense fez as vezes de mandante do jogo e se lançou ao ataque, ocupando ostensivamente a intermediária palmeirense mas sem ameaçar categoricamente o pentacampeão Marcos. Uma ou outra vez o Palmeiras também atacava, mas a finalização era deficiente e o pouco que foi ao gol teve a participação estrambótica do nosso “camisa 1”. Do nosso lado, a maravilha de se ver mais jogadas plásticas de Deco: um drible, um passe, um giro inesperado de quem tem categoria de sobra. Se cabe uma contraposição ao futebol luso-brasileiro, ela esteve mais do que visível na atuação de Washington: o Coração Valente abusou dos erros e divergências com a bola, item maior do espetáculo, além de insistir em buscar jogo para tabelar – o que tem enorme dificuldade. Até mesmo em nosso gol, o artilheiro mostrou conflito com a pelota: perdeu um gol incrível, a bola foi rebatida, Conca chutou para o gol; então, Emerson amorteceu e fuzilou Marcos, abrindo o placar e proporcionando certa calma para o difícil restante da partida. Sim, todos sabemos que Washington é um jogador brioso, que pode ter utilidade e que faz gols. Não há dúvidas a respeito. Mas também não se questiona que, quando se recuperar de contusão e voltar a campo, Fred será o titular absoluto ao lado do Sheik.

O jogo prosseguiu sem alterações no decorrer do primeiro tempo, exceto pelo fato de que o Fluminense acelerava cada vez menos e cadenciava o jogo muito precocemente; por outro lado, o Palmeiras não saía muito de sua defesa, o que dificultava contra-ataques. Um momento positivo aconteceu por conta de um revés: Diogo se machucou e Belletti entrou em campo, sob alguns apupos; em seguida, o pentacampeão fez duas boas jogadas, com dribles, mostrando que ainda pode ser muito útil ao elenco das Laranjeiras. Ao fim do primeiro tempo, Emerson ainda deu um perigoso chute rente à trave de Marcos. Um a zero foi pouco pelo perigo que esse placar representa, mas justo em relação ao tamanho do jogo. E os erros que tínhamos cometidos ali iriam ser corrigidos por Muricy; ao menos era o que se esperava.

Não deu muito certo.

Na volta, quem tomou as rédeas do ataque foi o time paulista; sem agredir nos contra-ataques, o Fluminense ficou todo recuado e levando a pressão no volume de jogo, embora os lances muito perigosos não tivessem rondado o gol do Perseguido. Valdívia chutou longe. Marcos Assunção chutou perto, mas sem sucesso. Em certo momento, não pela nossa torcida, mas pelo desempenho em campo, um desavisado na televisão poderia imaginar que o Fluminense era o time visitante, não mandante, de tanto que havia se poupado em seu próprio campo, agarrado ao placar mínimo favorável. E, de tanto ficar atrás, nosso time perdeu a vocação do gol; teve chances de fazer o segundo tento, que liquidaria o assunto, mas não conseguiu. E o tropeço de Muricy: demorou a substituir jogadores e, quando o fez, colocou de forma certa o zagueiro André Luis – apenas tirou o errado, Emerson que, mesmo cansado, ainda conseguia impor algum susto na defesa esmeraldina. O Maracanã inteiro apostou que o substituído ia ser Washington, mas não foi assim. Aí, o Fluminense abdicou de vez de alguma técnica no ataque e passou os dez minutos finais encolhido, tentando garantir a vitória. Nos acréscimos do árbitro ainda houve tempo para Leandro Euzébio ser justamente expulso.

E então, meus amigos, o time das vitórias no último minuto se viu castigado por sua própria sina. Quando ninguém mais esperava nada do jogo, o Palmeiras acertou um chute perto, dois chutes perto. Nada aconteceu. A bola derradeira foi um balão de Tinga vindo da intermediária para o lado direito da nossa defesa; alcançou o voltante Edinho que, por pouco, não vestiu nossa camisa e ele cabeceou para a diagonal – estava exatamente no local onde Euzébio cobriria se não tivesse sido expulso. Ewerthon ficou livre, dominou como quis e tocou na não-saída do Perseguido (leia-se por não-saída apenas pular na frente de outro jogador, deixando o gol livríssimo para o tento). A cereja envenenada do bolo.

O momento é de buscar calma e realinhar as coisas. Não há motivo para alarde. Somos os líderes e, aos bravateiros de plantão que nos acusam de três empates em casa, nunca é demais lembrar que foram contra três grandes equipes e, em dois destes jogos, tivemos que correr boa parte do tempo em busca de empatar um marcador – os bravateiros eram os mesmos que diziam ser Deco um enganador e que bom mesmo eram Val Baiano e Crisbó. Mas merecíamos uma despedida melhor do Maracanã. Fred vai voltar e o time melhorará. Emerson vai recuperar a forma. Deco estará mais entrosado. O problema é saber se em determinadas partidas, jogando sem centroavante e sem goleiro, conseguiremos marcar pontos que nos mantenham na posição atual. Muricy vai buscar as respostas. Uma coisa é certa: não é pecado barrar nenhum jogador que esteja em más condições técnicas. Ou que sequer as tenha.


Paulo-Roberto Andel

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