Friday, March 30, 2007

Mais um passo na estrada

Senhores, o que de mais importante aconteceu ontem no Maracanã deveu-se à afirmação rubro-negra. Há mais de vinte e cinco anos, desde a tomada da América pelos flamengos, a Gávea vive toda sorte de expectativas quando surge pelo caminho a cobiçada Libertadores.

Não são mais tempos de Zico, Leandro, Júnior, tantos outros craques. A realidade técnica é outra, assim como o mundo. Entretanto, o gosto da América ainda está nos lábios rubro-negros, tanto quanto um beijo inesquecível da mulher amada.

A priori, sabia-se que o grupo do Flamengo não apresentaria maiores temores de natureza qualitativa. A rigor, apenas a tradição de confrontos contra o Paraná poderia ser motivo para maior atenção, dado que o boliviano Potosí e o venezuelano Maracaibo não são times do quilate da Gáeva. Houve o absurdo na altitude, mas passou. O Flamengo venceu ontem um rival tradicional na competição pela segunda vez no grupo e, se não tem um elenco que ofereça maravilhas, está bem ajambrado especificamente no certame sul-americano (com especial participação mexicana), tendo conquistado a classificação à próxima fase com garbo.

O primeiro tempo foi bastante equilibrado, sem maiores oportunidades de abertura do placar. O Flamengo perdeu alguns poucos gols: um, marcante, no começo, quando Souza entrou livre e chutou cruzado para defesa do veterano goleiro Flávio. No meio do tempo, Renato e Juninho também desperdiçaram. O Paraná, fora de casa, não parecia tão ameaçador, sem imprimir nenhuma forte pressão contra a Gávea.

Ao final do primeiro tempo, o Rubro-Negro safou-se de perder um jogador. Juan, que já tinha sido advertido com cartão amarelo, cometeu uma falta dura e desnecessária na intermediária que, em tese, o tiraria do jogo coma expulsão. O experiente árbitro Simon fez vista grossa, para alívio flamengo.

O segundo tempo, o Maracanã esquentou. O Flamengo imprimiu velocidade no jogo, utilizando bastante Renato Augusto e municiando permanentemente Souza, que esteve em má jornada, com cruzamentos. A massa flamenga, nervosa, entoava coros de saudação ao contundido centroavante Obina.

Chances foram surgindo. Flávio aliviou alguns sustos dos paranistas. Aos doze minutos, Juan cabeceou a bola na trave; na seqüência, Juan novamente não conseguiu marcar, dada intervenção do goleiro paranista. E, talvez em breve reação, foi o Paraná que perdeu um gol, com Josiel acertando a trave do goleiro Bruno. Contrapartida, mais cruzamentos rubro-negros, sem nenhuma maior ameaça ao gol do Paraná.

Em seguida, o treinador Ney tentou modificar o jogo ao colocar o atacante Leonardo no lugar do pouco inspirado Roni. Os paranistas também mexeram, e o emprestado atacante Vinícius Pacheco também adentrou gramado.

O jogo ficou veloz, mais disputado, com ligeira superioridade rubro-negra. Entretanto, o tempo foi passando, nenhuma chance concreta surgia e a torcida deve ter sentido uma das piores sensações de arquibancada: a do zero a zero.

Quando alguns poucos torcedores antecipavam a volta para casa, descendo os degraus aos poucos, o Flamengo insistiu mais uma vez com a tônica de seu jogo ontem: o cruzamento. Leonardo Moura alçou bola da direita, precisa, lancinante. Souza, que tinha tido uma atuação pífia, cabeceou com precisão, venceu Flávio e inaugurou o marcador, a cinco minutos do fim. Gol derradeiro e definitivo, dando números finais ao jogo. O centroavante correu indignado para a torcida, que tem sido sua marca de comemoração, tentando responder aos gritos que a massa dera ao saudar Obina. Nada de mais. A massa estava certa. Souza estava mal. Quando acertou, foi ovacionado. Assim é o futebol.

A jornada não marcou pelo brilhantismo, mas o gol emocionante no final e a importância da classificação antecipada tiveram sabor especial. O Flamengo está de volta às Américas. Não há mais Zico, sabemos. Mas a mística está firme, reforçada.

Na fase final, sabemos ser a Libertadores mais complicada. Ontem, entretanto, desde muito tempo atrás, o Flamengo foi Flamengo com letras maiúsculas. E não me surpreenderá se, com o time esforçado que tem, chegar longe na competição. Ou mesmo ao topo.


Paulo Roberto Andel, 22/03/2007

No comments: