Sunday, March 04, 2007

Um quase sufoco

Amigos, a Copa do Brasil é uma competição que goza de enorme simpatia perante torcedores desta terra continental. É a grande chance de promover encontros entre times que, há muito, não se enfrentam em competições nacionais, ou mesmo jogos inéditos na história; anteontem, foi o caso do Tricolor, que enfrentou a acreana Adesg, enquanto o Vasco encontrava o manauara Fast Clube. Ontem, o Botafogo teve o embate com o CSA de Alagoas, sigla do pomposo Centro Sportivo Alagoano - simpática equipe do cenário do futebol brasileiro nos anos oitenta, por um lado positivo; por outro, que não saberei classificar ao certo, mas que não deixa de ser relevante, foi um marco na carreira política de um de seus ex-presidentes: Fernando Collor e Mello, o Collor, que saiu das fileiras do Alagoano para, um dia, chegar à presidência do país brasileiro.
O Tricolor e o Vasco passaram sem o menor resquício de sustos por seus adversários, mas não foi o caso dos de General Severiano. Quem apenas informou-se do placar, poderia supor uma goleada inconteste, mas não foi o caso. O placar de cinco tentos a dois só foi consolidado ao final da partida, sendo que o segundo tempo foi de forte tensão para os cariocas, menos por causa da força alagoana na partida e mais pelo tempor de um goal de empate. Explica-se.
O Alvinegro mostrou sua força logo no primeiro minuto de jogo, já tendo aberto o placar com Alexandre. Aos onze, o artilheiro Dodô teve um gol invalidado. No minuto seguinte, o primeiro sinal de que a partida não seria psicologicamente fácil para os botafoguenses: o bom goleiro Lopes rebateu uma bola chutada de longe, e os azulados empataram com Alexsandro. Lopes tinha entrado no lugar do veterano Max, afastado pela forma técnica e, ao entrar, comprometeu o time.
A posição de goleiro é de uma ingratidão enorme. Vejam vocês, no futebol de hoje: qual goleiro tem remuneração estupenda além do espetacular são-paulino Rogério Ceni, um fora-de-série? Nenhum. Ao goleiro, não é permitido o erro: atacantes perdem gols feitos mas, se o goleiro vacila, o inferno é sua morada. Sempre foi assim, sempre será. Lembremos de Barbosa ou Veludo. Até mesmo o magistral Paulo Victor foi arranhado em sua despedida do Fluminense. Lopes, assim como Max, é bom goleiro; contudo, ontem teve realmente uma noite infeliz. Falhou, e mais de uma vez.
Volto ao jogo. Houve o empate, o baque inicial, mas os quinze minutos seguintes voltaram a ser alvinegros, com algumas chances perdidas. A estrela solitária brilho vigorosa, reagindo ao gol alagoando, com bravura. Assim, o eterno Dodô, num bonito chute cruzado, restabeleceu a vantagem do Botafogo, dois tentos a um. A pressão foi mantida e, por volta dos quarenta, houve um pênalti sobre Zé Roberto. Como sempre, Dodô mostrou sua categoria e, deslocando o goleiro, acertou o canto esquerdo e assinalou o terceiro gol, suficiente para uma descida tranquila ao vestiário, no intervalo, e o acertar completo da equipe. Fecharam-se as cortinas. E aí, veio o engano.
Veio a segunda etapa, e o CSA colocou dois jogadores, Erivaldo e Alex, tentando uma reação. Imediatamente, deu certo, e novamente Lopes falhou: numa confusa saída do gol, cometeu um pênalti, que o veterano ex-botafoguense Clayton (que não é o atual rubro-negro, naturalmente) converteu, deixando margem mínima para os botafoguenses, três a dois. Lopes é um goleiro de qualidades, mas não é esse que esteve ontem em campo, assim como Max não é aquele das últimas partidas, barrado.
E então veio o temor. O possível empate já não daria mais a vaga para os de General Severiano, devido ao critério dos gols fora de casa, marca do regulamento da Copa do Brasil. O pânico tomou a torcida de preto e branco, e o time ficou claramente nervoso com a situação. De qualquer forma, heroicamente, partiu para cima e tantou a todo custo ampliar o placar, para respirar sem ajuda de aparelhos. Uma grane pressão. Aos vinte e nove, Lúcio Flávio, que tinha entrado em campo, chutou uma bola na trave do goleiro alagoano Alexandre. O CSA, valente, não se acomodou e também veio para a frente, para desespero dos sempre exasperados torcedores botafoguenses. Digo e repito: não há torcedor mais exasperado do que o alvinegro. Cada jogada, casa falta ou mesmo um reles lateral cobrado podem ser épicos de muitos volumes. O Botafogo é gigante pela própria natureza, e ganhou uma forte carga dramática nos tempos sem título nas décadas de setenta e oitenta, de modo que nenhum acontecimento é simples para Severiano: tudo é denso, carregado, emocionado. Eu lembro de que, certa vez, Arturzinho iria estrear no Botafogo, contra o Fortaleza, no Maracanã, era 1983. Vinham de duas vitórias modestas. Mais de trinta mil torcedores compareceram. É assim. O Botafogo vive intensamente feito fosse um Heleno de Freitas, não por acaso um de seus símbolos máximos.
Falarei do jogo, do desfecho. Luta corporal entre os times até o final do jogo, quando qualquer gol alagoano colocaria tudo a perder. Veio Zé Roberto, ótimo jogador. Um chute de primeira, o quarto gol, a três minutos do fim, e o alívio enorme para a massa botafoguense, gigantesca em todo o Brasil mas minúscula no estádio, mais uma vez por força da mediocridade dos dirigentes de futebol. Menos de seis mil pessoas. Estamos falando de Botafogo e de Maracanã. Há algo de muito errado neste aspecto, o da rala torcida. É pouco. O Maracanã merece muito mais gente do que tem recebido nas últimas partidas.
Retomo o gol. Como não podia deixar de ser, o quarto tento foi um gancho potente no queixo do CSA.
Aconteceu um chute de longa distância, de Joílson, e o Botafogo marcou o quinto gol no apagar das luzes. Uma santa vitória, que salvou a pele do bom goleiro Lopes. Tudo tranquilizado, mas em cima da hora.
No final, como já disse, o placar, ainda que merecido, não espelhou o que realmente foi o match. Embora melhor, o Botafogo teve sofrimentos.
Mais um carioca segue em frente na competição nacional, e é o que importa - a Guanabara à frente .
O próximo adversário é o também alvinegro Ceará. Até lá, espera-se um Botafogo mais tranquilo e sem falhas individuais que possam comprometer o bom conjunto.
Paulo Roberto Andel, 02/03/2007

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