Tuesday, March 06, 2007

Surpresa? Nem tanto.

A Guanabara estava em jogo desde a tarde de hoje, quando Flamengo e Madureira enfrentaram-se para a primeira partida da grande decisão carioca.

De um lado, os da Gávea, animados pela volta à Libertadores e com a chance de ganhar o turno, embora a campanha doméstica tenha sido humilde e com derrota acachapante para o mesmo Madureira. É certo que o jogo foi disputado sob o clima desértico de Bangu no verão, e o Flamengo havia voltado recentemente das agruras bolivianas, mas os quatro gols do esforçado Marcelo deixaram sua marca. A sorte da Gávea para a classificação às finais foi alvinegra, foi o Botafogo que facilitou o samba flamengo, ao perder para o glorioso Barreira e perder a vaga.

Doutro lado, o Madureira de boa campanha há tempos no certame local, mesclando jovens revelações com jogadores que, veteranos ou não, já passaram por grandes agremiações, tais como Odvan, o maestro Djair, Maicon, o próprio Marcelo, o goleiro Everton e o atacante reserva Fábio Júnior.

O time de três cores de Conselheiro Galvão chegou ao momento final da Guanabara com a melhor campanha dentro os participantes. Sabe-se que um Estadual de hoje no Rio é diferente, com sete jogos chega-se a um título de turno. O campeonato é de tiro curto, veloz, o que dá certa emoção para as torcidas mas causa enganos: primeiro, porque o time campeão nem sempre tem o equilíbrio adequado para seguir temporada; segundo, porque os que não disputam o título às vezes ficam de fora por um ou outro momento. De qualquer forma, este é o certame, e assim seguem as coisas.

Faltou gente no estádio. Tem faltado. A classe dirigente parece que piora, ao contrário do que esperaríamos na ocasião da passagem do Dr. Caixa. Fizeram uma confusão enorme, com preços exorbitantes, a torcida afastou-se. Esperava-se um estádio coberto de vermelho e preto, mas não aconteceu. Esse já foi o primeiro problema: o Flamengo jogar sem a força integral de sua camisa doze.

Quando a partida começou, o Flamengo era nitidamente melhor, mas não absoluto, já que a posse de bola e o domínio territorial não garantiam-lhe um grande número de finalizações. O Madureira, sabedor de sua idade média mais alta e sob a batuta de Djair, cadenciava o jogo. Mas o Flamengo, em contrapartida não o incendiava. Algumas faltas violentas e desnecessárias foram assinaladas em sua maioria, mas sem o rigor do árbitro Venito, extremamente inseguro por sinal.

De importante para os flamengos, houve uma boa jogada, vinda de um cruzamento, e a cabeçada de raspão de Irineu quase abriu o placar, mas foi pouco para meia hora de jogo. Antes, apenas um bom chute de Renato. O Madureira, recolhido. Ainda houve um chute de Roni, que André Paulino tirou providencialmente com uma peitada, tendo em vista que o goleiro já estava fora de condições da defesa. E terminou a primeira etapa. Não vi no Flamengo a sua chama centenária, que é a de adentrar Maracanã feito um leão na arena, vendo a taça como um naco de carne. Aceitou a cadência do Madureira sem remorsos aparentes.

Então, amigos, quando o jogo retornou para a segunda etapa, é que aconteceu o giro do caleidoscópio, quando a imagem que se via transformou-se completamente.

Marcelo, o atacante e destaque do Madureira da competição, havia sido advertido com o cartão amarelo numa entrada faltosa, no primeiro tempo. Talvez estivesse exasperado, pois vingou-se de uma falta que tinha acontecido no ataque das três cores, não marcada. No primeiro ataque do segundo tempo, Marcelo invadiu pela direita, chocou-se com Irineu (que, antes tinha tocado na bola). Para muitos, houve o pênalti, com os quais não corroboro. Até aí, seria apenas um penal não marcado, o que acontece a granel em todas das partidas. O problema é que o choque tinha sido firme, Marcelo caiu justamente e, ao levantar-se, tomou o segundo amarelo, sendo imediatamente expulso – com a força do primeiro cartão, mas com a total injustiça do lance com Irineu. Um péssimo gesto do árbitro, que corrompeu a partida. Outros supostos pênaltis, a favor do Flamengo, também foram discutidos e não marcados. O problema, maldito problema, é essa insistência em se expulsar atacantes por terem "jogado a torcida" contra o juiz, ao caírem n’área. O que poderia ser a redenção dos flamengos revelou-se um desastre. O Madureira, tomado pelo ímpeto contra a injustiça sofrida, passou a ganhar cancha, aumentando a velocidade e iniciando um processo de pressão no ataque, embora ainda tênue. O Flamengo tornou-se incrivelmente atabalhoado, com um jogador a mais. O veterano Juninho entrou, mas não conseguiu acertar a equipe, ao passo que Djair deixou o Madureira, um tanto irritado.

Conselheiro Galvão já teria na boa conta o empate, que levaria o jogo em igualdade de condições para a quarta-feira; entretanto, em quase meia hora do segundo tempo, quando o Flamengo continuava desarrumado, Maicon, jogador jovem e de escassas finalizações, embora já tenha sido campeão pelo Tricolor, desferiu forte chute de esquerda, na frente da área, no ângulo direito do bom goleiro Bruno. E o Madureira abriu vantagem.

O que era bagunça virou caos na equipe rubro-negra, o que é natural. É muito difícil reagir a um gancho de direita de um time considerado menor, ainda mais nas circunstâncias de então.

Para compensar a bobagem contra Marcelo, Venito expulsou Moisés em jogada confusa ocorrida na hora de se retirar a bola do gol, visando a saída. Se as coisas não davam certo com onze, pioraram com dez.

Veio o desespero e o Flamengo atirou-se para o ataque, tentando o empate, sem sucesso. A jogada mais perigosa dos quinze minutos finais foi justamente do Madureira: Fábio Júnior disputou uma bola na intermediária, ganhou, entrou sozinho na área e conseguir perder um gol feito, para alívio da Gávea – dois a zero seria um complicador enorme para a batalha final.

Apesar do primeiro tempo claudicante, o Madureira mereceu a vitória. Teve seus méritos e contou com certa apatia dos flamengos. Surpresa? Nem tanto. Mas é claro que nada está decidido. Onde tem o Flamengo adversário numa final, é imponderável imaginar a vitória certa, líquida. A vantagem de Madureira é real, mas entram sem seus atacantes e o escore foi mínimo. Vejo o time de Conselheiro Galvão bem arrumado pelo ótimo treinador, Alfredo Sampaio. Ney Franco também tem qualidades, e certamente buscará um time em condições bem melhores do que este de hoje.

O Flamengo precisa jogar bem mais do que jogou para conseguir o título. Mas o Madureira do primeiro tempo não é suficiente para garantir o empate. Quem é quem? O Madureira é o das boas campanhas? O Flamengo é o heróico da Libertadores e do jogo contra o Vasco? Veremos a seguir.

Seja o que for, emoções estão guardadas para a quarta-feira.


Paulo Roberto Andel, 04/03/2007

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