Dos tempos do veterano Electro Club, idéia da petizada do Largo dos Leões, tempos idos, 1904, até hoje, já se foi um século embora, com velocidade espantosa. E nós, brasileiros, que mal nos acostumamos a ter lembranças de coisas feitas há duas semanas atrás, não temos muita imaginação para pensar coisas de cem anos passados.
Sábia foi Dona Chiquitota, que repreendeu a turba com a tal história de Electro.
“- Meu Deus, que falta de imaginação! Ora, morando onde vocês moram, o clube só pode se chamar Botafogo!”
Pronto! Estava fincado um dos alicerces da história do garboso football por todo o mundo, hoje visto da janelinha pelo astronauta Pontes, embora a garotada nem pudesse imaginar. Eram Carvalho Leite, Oswaldo Baliza, Octávio de Moraes, Zezé Moreira, Heleno de Freitas, Nilton dos Santos, Didi, Zagallo, Amarildo e, claro, Garrincha.
No meio do caminho, Heleno ousou tentar briga com Paulo Amaral, levou uma bolada e viu o céu estrelado mais de perto. Depois também brigou com Nilton, era um homem belicamente movido. Tempos depois, Amarildo também imaginou que seria possível desafiar Paulo Amaral; prudente, desistiu a tempo. João Saldanha também brigou. Nilton, já treinador, certa vez esmurrou o afloradíssimo árbitro Armando Marques, no que foi muito bem sucedido.
Não era para botar fogo? Time de briga, pois.
Ressalte-se que uma briga não houve: a para fazer alguns dos maiores craques desta arte que alguns insistem em limitar como mero esporte, o tal futebol.
Houve um tempo em que o Botafogo insistiu em não ser campeão, coisa dos anos setenta, chegou quase aos noventa. Era época em que eu debutava sozinho no Maracanã, sem a mão do pai, e ia a muitos jogos, uns sozinho, outros com a rapaziada; muitos do meu Flu, outros do Botafogo – me cativava aquela coisa do time dos meus amigos não ser campeão, que o Francis Hime colocou posteriormente numa bela canção. Uma vez testemunhei um 4 x 1 contra o Vasco, 1982: Geraldo fez um gol de placa, Alemão estreava, Abel ainda era o zagueiro e, ao final, fitei vários torcedores ajoelhados, chorando, abraçados. O Botafogo era e é assim: uma vitória, por qualquer que seja, tem a força de impulsionar um foguete para o Sistema Solar, facto admirável de poesia.
Sete anos mais, Mazolinha cruzou, Maurício subiu com astúcia e acabou a greve. Todos, sem exceções, fomos felizes para sempre: não faltaram tricolores e cruzmaltinos em interrupção temporária de suas paixões originais, só para um brinde ao gol de cabeça, contra o inimigo da Gávea. Zico, previdente, deixou o campo antes.
Tentaram, um dia, acabar com o Botafogo, assim como tentaram também contra o Fluminense, o Vasco e até mesmo o beneficiado Flamengo. Ainda tentam. Não há segundas divisões capazes de apequená-los, por mais que isto seja o desejo de boa parte da platéia da Paulicéia.
O futebol carioca iria acabar em 2002, com a conquista do Americano; o Flu não deixou. Acabaria ano passado, com o Volta Redonda, Tricolor brecou de novo. Agora? Madureira seria o símbolo da decadência? Será? Claro que não.
Eis o Botafogo campeão, vigoroso e merecido que não nos deixa mentir.
Faltando no pôster a sensacional meia cinza, que tomem providências futuras.
O grito do nome de time que melhor ecoa no Mário Filho, pela sonoridade, é o de Vaaaaaaacccccô; quando o jogo pega fogo, no estádio cheio, é a torcida do Flamengo que faz incendiar. Beleza de cores e mulheres lindas, grito mais vibrante, é Fluminense. Agora, ninguém canta o hino de forma mais bonita e incessante do que a turba do Electro, aquela dos tempos da Dona Chiquitota.
É uma procissão estática, só de vozes. Um retrato em branco e preto.
No campo, Carlos Roberto, que foi cracão no gramado e agora bisa títulos como treinador. Eu o vi no final da carreira, vestiu o mando tricolor. Cracão? Sim. E porque não foi da seleção? Simples. Outrora, o que não faltava nas pelejas eram cracões, muita gente para apenas vinte vagas.
Garrincha, Didi e Gerson, não há mais. Amarildo? Não. Mendonça deixando Júnior sentado? Perivaldo acertando o cruzamento no ângulo? Paulo César Caju? Nada disso.
Contudo, senhores, o Botafogo aí está vivíssimo.
A cidade cobre-se com as cores da saudável e moderna nostalgia.
O alvinegro é o que há!
Parabéns devidos, pois.
Sábia foi Dona Chiquitota, que repreendeu a turba com a tal história de Electro.
“- Meu Deus, que falta de imaginação! Ora, morando onde vocês moram, o clube só pode se chamar Botafogo!”
Pronto! Estava fincado um dos alicerces da história do garboso football por todo o mundo, hoje visto da janelinha pelo astronauta Pontes, embora a garotada nem pudesse imaginar. Eram Carvalho Leite, Oswaldo Baliza, Octávio de Moraes, Zezé Moreira, Heleno de Freitas, Nilton dos Santos, Didi, Zagallo, Amarildo e, claro, Garrincha.
No meio do caminho, Heleno ousou tentar briga com Paulo Amaral, levou uma bolada e viu o céu estrelado mais de perto. Depois também brigou com Nilton, era um homem belicamente movido. Tempos depois, Amarildo também imaginou que seria possível desafiar Paulo Amaral; prudente, desistiu a tempo. João Saldanha também brigou. Nilton, já treinador, certa vez esmurrou o afloradíssimo árbitro Armando Marques, no que foi muito bem sucedido.
Não era para botar fogo? Time de briga, pois.
Ressalte-se que uma briga não houve: a para fazer alguns dos maiores craques desta arte que alguns insistem em limitar como mero esporte, o tal futebol.
Houve um tempo em que o Botafogo insistiu em não ser campeão, coisa dos anos setenta, chegou quase aos noventa. Era época em que eu debutava sozinho no Maracanã, sem a mão do pai, e ia a muitos jogos, uns sozinho, outros com a rapaziada; muitos do meu Flu, outros do Botafogo – me cativava aquela coisa do time dos meus amigos não ser campeão, que o Francis Hime colocou posteriormente numa bela canção. Uma vez testemunhei um 4 x 1 contra o Vasco, 1982: Geraldo fez um gol de placa, Alemão estreava, Abel ainda era o zagueiro e, ao final, fitei vários torcedores ajoelhados, chorando, abraçados. O Botafogo era e é assim: uma vitória, por qualquer que seja, tem a força de impulsionar um foguete para o Sistema Solar, facto admirável de poesia.
Sete anos mais, Mazolinha cruzou, Maurício subiu com astúcia e acabou a greve. Todos, sem exceções, fomos felizes para sempre: não faltaram tricolores e cruzmaltinos em interrupção temporária de suas paixões originais, só para um brinde ao gol de cabeça, contra o inimigo da Gávea. Zico, previdente, deixou o campo antes.
Tentaram, um dia, acabar com o Botafogo, assim como tentaram também contra o Fluminense, o Vasco e até mesmo o beneficiado Flamengo. Ainda tentam. Não há segundas divisões capazes de apequená-los, por mais que isto seja o desejo de boa parte da platéia da Paulicéia.
O futebol carioca iria acabar em 2002, com a conquista do Americano; o Flu não deixou. Acabaria ano passado, com o Volta Redonda, Tricolor brecou de novo. Agora? Madureira seria o símbolo da decadência? Será? Claro que não.
Eis o Botafogo campeão, vigoroso e merecido que não nos deixa mentir.
Faltando no pôster a sensacional meia cinza, que tomem providências futuras.
O grito do nome de time que melhor ecoa no Mário Filho, pela sonoridade, é o de Vaaaaaaacccccô; quando o jogo pega fogo, no estádio cheio, é a torcida do Flamengo que faz incendiar. Beleza de cores e mulheres lindas, grito mais vibrante, é Fluminense. Agora, ninguém canta o hino de forma mais bonita e incessante do que a turba do Electro, aquela dos tempos da Dona Chiquitota.
É uma procissão estática, só de vozes. Um retrato em branco e preto.
No campo, Carlos Roberto, que foi cracão no gramado e agora bisa títulos como treinador. Eu o vi no final da carreira, vestiu o mando tricolor. Cracão? Sim. E porque não foi da seleção? Simples. Outrora, o que não faltava nas pelejas eram cracões, muita gente para apenas vinte vagas.
Garrincha, Didi e Gerson, não há mais. Amarildo? Não. Mendonça deixando Júnior sentado? Perivaldo acertando o cruzamento no ângulo? Paulo César Caju? Nada disso.
Contudo, senhores, o Botafogo aí está vivíssimo.
A cidade cobre-se com as cores da saudável e moderna nostalgia.
O alvinegro é o que há!
Parabéns devidos, pois.
Paulo Roberto Andel - 10/04/2006
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