Monday, May 22, 2006

O novo Rei Zulu


“Mar-cão! Seleção! Mar-cão! Seleção!”

Com este carinhoso grito de guerra, desde 1.999, a grande torcida tricolor presente aos jogos reverencia o jogador Marcão, no momento em que a escalação da equipe das Laranjeiras é anunciada nos alto-falantes dos Estádios em que se apresenta.

Marcão realmente lembra os grandes cabeças-de-área do passado, o xerife do time, aquele que protege os zagueiros, rouba as bolas do adversário, funga no cangote, chega a todas as bolas divididas, comete faltas providenciais, questiona os juízes, encara os jogadores mais assanhados do time oposto, mostrando o “cartão de visitas” logo no início das partidas, corre o jogo todo, vai ao ataque no desespero, joga improvisado se preciso for, até no gol se não tiver goleiro. Bate córner e corre pra cabecear!

Chegou ao tricolor de mansinho, vindo do Bangu e com sua dedicação, raça e muita disposição, além do grande nível de profissionalismo, foi conquistando no clube e principalmente no coração da torcida, o espaço deixado pelo antigo Rei Zulu, o Denílson, nosso cabeça-de-área, também por muitos anos, nas décadas de 60 e início de 70.

Nunca foi protagonista de jogadas mirabolantes, de dribles maravilhosos, mas com suas constantes demonstrações de pura raça, nos momentos de aflição, quando às vezes a situação parece perdida para o tricolor, levanta e leva a galera ao delírio, roubando bolas ou chutando pra onde der. Joga para o time, em qualquer circunstância, faça chuva ou sol; nunca está envolvido em polêmicas fora de campo e outros bochichos, em situações políticas; joga com quem chegar ao clube, é amigo de todos. Enfim, Marcão é unanimidade nas Laranjeiras! Quem já tentou barrar o cara, sentiu a ira da torcida! É o eleito representante da mística e do orgulho encarnados na camisa tricolor!

Com mais de 350 partidas pelo Tricolor das Laranjeiras, é hoje talvez, o jogador de maior longevidade em um clube brasileiro, o que o aproxima ainda mais dos jogadores de décadas passadas. Do tempo em que sabíamos escalar qualquer dos times antes mesmo do Campeonato se iniciar. No Fluminense é Marcão e mais dez!

Muitas vezes não tem o devido reconhecimento da imprensa, pois mesmo quando é o melhor em campo, não passa de nota oito, mas dificilmente ganha menos de seis. Pra torcida, Marcão é sempre nota dez!

Não é o que se pode chamar de artilheiro. Faz poucos gols; porém, vem se notabilizando pela marcação de alguns, de grande importância como o da virada em cima do Volta Redonda na final do Carioca de 2005, quando o Fluminense sagrou-se Campeão Estadual. Marcou também o primeiro contra o Americano na final de 2002, abrindo caminho para a conquista do título daquele ano.

No último clássico contra o Botafogo, marcou um dos mais belos gols que presenciei no Maracanã. Digno dos grandes craques, daqueles gols que valeriam a nota máxima nas avaliações dos noticiários esportivos, se assinalados por Romários e Zicos nos bons tempos. Digno de placa! Bola alçada na área que sobra após disputa pelo alto, no limite da área pequena. A defesa adversária, estática, assiste estupefata, atônita, como que torcendo e esperando a bola entrar, consolidando a jogada de grande beleza plástica. O salto, a pedalada no ar e nosso herói de ébano acerta um chute certeiro e forte que estufa as redes alvinegras e enlouquece a torcida. Golaço! Inapelável! Lindo! Na mesma hora disparei: O ingresso já está pago! Golaço! Bicicleta! Tal como ensinou há tempos atrás o grande Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”.

Craques de nome passaram pelo clube nos últimos anos. Momentos de euforia, de tensão, de grande tristeza, crises, também passaram. Gerações inteiras de jovens jogadores apareceram e alguns já se foram. Outras promessas surgiram e também passaram. Enfim, tudo passa, mas Marcão resiste a tudo e a todos e continua. Herói absoluto e detentor das graças da galera! O novo Rei Zulu!

Mar-cão! Seleção!
Jocemar de Souza Barros

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