Trinta e oito do segundo tempo, um a zero América, que levava o jogo sem maiores problemas para uma vitória bonita e justa.
A torcida cantava: “Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe sangue! Seremos campeões!”
De repente, o juiz marca um pênalti duvidoso, ou pelo menos rigoroso (coisas que acontecem e sempre aconteceram ao longo da vida do América). Quarenta minutos e o adversário empata.
Sufoco! A torcida se entreolha.
Morreremos na praia novamente?
O que estarão tramando os deuses do futebol agora?
Jogo terminado, um a um, começa a dolorosa e interminável disputa de pênaltis.
Por instantes parece que a baliza escolhida para as cobranças é a do lado oposto à torcida rubra. Engano. Parece que os deuses deram uma mãozinha.
A torcida não parece desanimada e acredita, incentiva e seca, grita o tempo todo!
Como não poderia deixar de ser, a disputa é nervosíssima e segue empatada até o final da série. Na última cobrança o adversário erra. Bola na trave!
Na euforia, cheguei mesmo a gritar: É Campeão!
Estava sacramentada a vitória do Mequinha, do Mecão, do América! Saaannngueee!
Os deuses e provavelmente mais um monte de americanos, presentes e ausentes, vivos e mortos, soprando a redonda para fora do gol, ajudaram e desviaram o último chute, que caprichosamente beijou a parte interior da trave e correndo perigosamente entre o goleiro e a linha do gol, decretava a vitória (e haja Isordil).
Como diria o grande cronista tricolor Nelson Rodrigues: “Estava escrito há três milhões de anos” América na final da Taça Guanabara após vinte e três anos de espera.
Taça Guanabara! Ah! Guanabara! Que saudades da Guanabara!
Saudades da Guanabara! Da baía de águas claras... Como diria o poeta na música feita em louvor ao antigo estado.
Que saudade do velho Campeonato Carioca!
Do América de Edu, Alex, Badeco, (quem não lembra?), ou do time: Rogério, Orlando, Alex , Geraldo e Álvaro, Ivo, Bráulio e Edu, Flecha, Luizinho e Gilson Nunes; do Bangu de Aladim e Paulo Borges; do Madureira; do São Cristóvão; do Campo Grande, etc, etc... e sem os Caixas D’Água, sem os empresários gulosos, sem os cartolas inescrupulosos.
Quem não se lembra das rodadas duplas entre grandes e pequenos, da geral, dos troca-trocas?
Torcida vibrando como há muito tempo não vibrava, nem lembrava.
Que emoção! Dia típico da Guanabara. Noite quente e céu estrelado! Lindo!
Maracanã de gramado impecável, majestoso tapete verde para coroar o espetáculo!
Foi de arrepiar qualquer ser humano com um pingo de sensibilidade e principalmente sendo amante do futebol, particularmente do futebol carioca.
Fiquei emocionado e porque não dizer, com inveja do torcedor americano (sou tricolor). Não por vencer uma partida ou chegar a uma final de torneio, mas por manter tão viva e forte essa paixão, esse amor por seu clube, por um clube afastado da mídia, tão combalido, muitas vezes alvo de piadas, de brincadeiras, por um clube que pouco jogou ou sobreviveu nas competições de que participou nos últimos vinte anos, por um clube dura e injustamente castigado e perseguido pelas próprias instituições que deveriam tê-lo ajudado a manter-se vivo, à altura de suas tradições, vitórias, glórias do passado e representatividade indiscutível conquistada dentro do cenário esportivo brasileiro e carioca.
A torcida, por incrível que pareça, ainda se renova. Talvez com menor velocidade e força que em tempos passados, tal o longo período de vitórias escassas.
Que emocionante ouvir o grito que vinha da arquibancada: “Ah! O Maraca é nosso!”
Há quanto tempo essa torcida queria e merecia soltar esse grito!
É, e o Maraca era mesmo do América! Afinal, o Maraca é tanto do América, quanto dos outros, que vivem gritando a cada jogo. Depois sair às ruas em gloriosa caravana de carros a buzinar e sacudir as bandeiras e camisas rubras.
Parar nos bares ao redor do Maraca e bebemorar. Tirar uma onda com os outros torcedores, ultimamente tão acostumados a encarnar no torcedor americano. Saaannngueee!!!
Vi crianças, adolescentes, jovens adultos e logicamente, os idosos, representantes máximos e pilares da legião de americanos, que certamente não cabe em meia dúzia de Kombis, como costumam dizer por aí.
Vença a final ou não, já valeu (mas acho que os deuses vão ajudar).
Fica a certeza de que o América está cada vez mais vivo. (Estou arrepiado escrevendo estas linhas).
Que fique gravada a grande lição de amor e paixão da Torcida do América. Lição de amor e paixão por um clube e pelo futebol!
América vovô! América centenário!
América, primeiro time de muitos e segundo time de todo o resto!
América, que inspirou tantos outros Américas pelo Brasil afora!
América, que é parte importante e confunde-se com a história dessa Cidade Maravilhosa!
América, que traz no hino a introdução do Hino da Cidade (Lalaiá, Lalaiá, Lalaiá, Lalaiá, Lalalaiá, Laiá, Cidade Maravilhosa, Cheia de encantos mil...).
Senti que hoje o Rio acordou mais feliz, a Guanabara mais feliz, o futebol mais feliz com a volta por cima do América!
Torcedores rubros saindo de casa com o peito estufado exibindo a camisa, tanto tempo guardada!
Torcedores de ontem e de hoje, que pouco se manifestavam e que muitas vezes desconhecíamos o verdadeiro clube de coração!
Já ia me esquecendo: O América é grande sim! Sempre foi e sempre será!
Deus abençoe o América!
Monday, May 22, 2006
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment