Monday, May 22, 2006

O futebol é coisa séria

O futebol no Brasil é uma coisa muito séria.
Não estou falando do futebol do Brasil, do futebol praticado pela seleção brasileira, apesar de estar esperançoso e otimista com o escrete de craques confirmados pelo nosso controvertido treinador e seu fiel escudeiro tantas vezes vencedor. Tão pouco estou falando do futebol dos campeonatos disputados pelos nossos clubes de coração, das grandes agremiações espalhadas pelas diversas divisões de futebol do nosso país, que já não os acho tão sérios assim, visto os lamentáveis episódios ocorridos no brasileirão de 2005, e a situação atual que se encontram alguns dos principais e tradicionais clubes destas terras de cá.

Quando o digo sério, também não falo do futebol esporte, onde resultados inesperados são esperados, são passíveis de imensa e crédula torcida, pois muitas das vezes são concretizados. E isso só ocorre com este esporte, visto que não temos por aí loterias esportivas de outras modalidades, pois os resultados são previsíveis, até os imprevisíveis, veja só, quando temos partidas de basquete ou de vôlei entre equipes que se equivalem tecnicamente, onde pode vencer tanto este como aquele clube, é isto o que realmente acaba acontecendo, ora vence um, ora vence o outro, no futebol não, você pode ter dois times em igualdades de condições dentro e fora de campo, e ocorrer de apenas um sempre vencer, é aí que começam a nascer as ditas Escritas do Futebol, como se fosse algo já traçado nos destinos destes dois personagens, e que ajuda a envolver ainda mais de misticismo este jogo tão surpreendente.

E quem já não soube de um grupo muito mais fraco, sem nome, sem tradição, até literalmente sem camisa, arrancar das pernas dos seus jogadores e dos corações que vão parar nas pontas das chuteiras um resultado surpreendente, tudo bem que às vezes contam com ajuda dos chamados Deuses do Futebol, mas isso também faz parte da magia que o envolve. Ainda assim, não é este que quero mencionar.

A seriedade que me refiro vem do futebol que é praticado até por quem não tem afinidade ou não tem intimidade com a pelota, que é praticado apenas pela necessidade de inserção do indivíduo em sua comunidade. Falo do futebol que aparece como uma das primeiras formas de manifestação de valores morais dos meninos, onde aparece a organização voluntária em prol de um objetivo, onde aparece o líder que organiza a aparente bagunça com um simples par ou ímpar, onde aparecem os justiceiros, os defensores, os democratas, e os que possivelmente apresentarão problemas de desvio de conduta. Tudo isto pode ser observado neste futebol que classifico como sério. Tão sério, que se, durante a partida, no momento que aflorar este desvio de comportamento, o menino for orientado corretamente por um pai, um educador ou um ente querido qualquer que esteja preocupado com a formação desta criança, “esta alma poderá ser salva”, e deixaríamos certamente de ter tantos escândalos políticos, econômicos e sociais nos noticiários do nosso país.

Falo também do futebol agregador, do futebol que reúne as pessoas, do futebol que desliga os programas medíocres das televisões, que desconecta as salas de bate-papo da Internet, que os meninos maiores organizam pela simples necessidade de se encontrarem uns com os outros, do futebol sagrado, daquele que a esposa permite, que já está marcado como território conquistado, daquele que a agenda é completada em sua função, que não se marcam reuniões nem festas naqueles dias, pois é o dia da pelada semanal, é o dia de falar besteira, de falar coisa séria, tudo com muita cerveja gelada, de fazer um churrasco e um pagode depois do futebol, que pode ser durante ou antes também, do futebol que às vezes pode até nem ter futebol, esse sim, meus amigos, é coisa muito séria.

Nelson Carlos Câmara Borges 22/05/06

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