Monday, May 22, 2006

A volta do Campeonato Carioca


Final da Taça GB, América X Botafogo! Bem que poderia ser o prenúncio da volta do velho, charmoso e empolgante Campeonato Carioca e não o às vezes chato e sem graça Campeonato Fluminense da fórmula atual, com dois turnos pequenos, clubes divididos em grupos, com dois “grandes” (mas nem tanto) de cada lado, curtinho, que nem campeonato de peladas.

Digo “Campeonato Fluminense”, sem qualquer intenção pejorativa em relação ao nosso Estado do Rio de Janeiro, ao pseudônimo “fluminense”, utilizado antes da fusão dos antigos estados da Guanabara e o Estado do RJ. Também nada contra os clubes como Americano, Volta Redonda, Cabofriense e outros tantos; porém, entendo que poderiam ter seu espaço e reconhecimento, mas não em detrimento dos antigos pequenos e cariocas como, Campo Grande, São Cristóvão, o próprio América e o Bangu, considerados grandes nos bons tempos, além de outros.

Por que a total falta de apoio a estes clubes, a ponto de não se ter mais notícias? Clubes que outrora, revelavam grandes jogadores, que na maioria das vezes eram contratados pelos grandes para as próximas temporadas e despontavam pelo Brasil afora.

Quem não se lembra do Olaria com Miguel, Afonsinho e companhia; do Madureira de Roberto Pinto (sobrinho do Jair da Rosa Pinto), Paúra, Osni e Russo (aquele do gol do Corinthians contra o Fluminense no Brasileiro de 76 – o jogo da invasão corinthiana); do Bonsuça de Abel, do Bangu de Aladim, do São CriCri, que chegou a ter o Fio Maravilha e de onde saiu o Ronaldinho Fenômeno.

Consideremos, é claro, a evolução que o tempo nos impõe, às vezes de forma um tanto cruel. Não sejamos tão saudosistas!

Mas alguma coisa está estranha, ou não?

Todo mundo que conheço fala a mesma coisa, até os de menor idade, que só viveram o finalzinho dessa época. Por que os grandes do Rio não chegam a lugar nenhum nas disputas de alcance nacional, nem nos torneios de juniores como a tradicional Taça São Paulo? Bem, isso é papo pra especialista e eu sou apenas torcedor!

Sei que é difícil querer a volta de algumas coisas, que como já disse, a evolução trata de transformar em lembrança, memória, passado. Mas ainda acho que no futebol profissional dos laptops a beira do gramado, da alta tecnologia fora dos campos, que nos permite ver os jogos a cores e ao vivo, as jogadas por vários ângulos, conferir nos tira-teimas os lances polêmicos e duvidosos, ainda cabe um pouco de amadorismo no bom sentido da palavra, no sentido de amor ao esporte e não só ao dinheiro. Dá pra resgatar ou manter alguns valores ainda vivos.

Afinal, como disse um tio meu, torcedor do América, a bola ainda continua redonda, com vinte e dois homens a persegui-la dentro do campo e a torcida ainda apaixonada por seus clubes e pelo futebol.

Será que o menino de hoje não sente a mesma emoção que sentia o menino de trinta anos atrás, ao entrar pelo corredor apertado de acesso à arquibancada e se deparar com o tapete verde do campo do Maracanã e o anel repleto de pessoas a gritar e cantar num tremular frenético de bandeiras? É inesquecível! Trago essa imagem e emoção até hoje guardada na memória, e ainda me emociono quando entro no estádio.

Lembro-me de sair de casa cedo para assistir à preliminar de juniores aos domingos, pegar o trem cheio em Madureira, com a galera já aquecendo e batucando nas portas e no teto do vagão, de buscar no radinho de pilha as notícias fresquinhas do meu time (Fulano joga? Era dúvida até ontem...), descer na maior gritaria na Estação do Derby Club.

E o Campeonato de Aspirantes? E o Torneio Início, disputado em um dia? E as rodadas duplas no meio de semana? E a geral? E aquele cachorro quente da Geneal, e o Mate Leão que o vendedor despejava com pressão no copo de papel e a gente pedia pra completar o espaço deixado pela espuma? E o amendoim torrado, e o biscoito de vento (isso ainda tem...)? E os torcedores símbolos, como o “Careca” na torcida do Fluminense, enrolado o jogo todo na bandeira, a jogar pó de arroz nos “felizardos”? E a página do “Globo” no dia após a rodada do final de semana com o Diploma de Sofredor e o Placar Moral das partidas? E Nelson Rodrigues? E Otelo “O Caçador”? E a violência que não havia; mas isso tem outras explicações mais complexas, que também não cabe aqui discutirmos, embora saibamos que alguns dirigentes tenham uma boa parcela de culpa na questão do acirramento entre algumas torcidas.

E os ingressos nas bilheterias para todos e não pra cambistas, além das contagens de público pagante e presente mais coerentes com o real?

Tudo bem. Sabemos que o tempo passa, as coisas mudam e algumas não podem mais voltar. Nós mesmos não voltamos dos quarenta aos vinte anos de idade, mas nossa paixão continua a mesma, não envelhece.

Em nome dessa paixão de todos nós brasileiros e cariocas em especial, dessa paixão que provoca insônia na noite anterior ao grande jogo, frio na barriga minutos antes da pelota rolar, da paixão que não nos deixava chegar atrasado à seção de cinema, para ver e vibrar com as belas imagens do Canal 100 (aliás, será que não dava pra reeditar ou fazer alguma coisa nova na mesma linha?); por tudo isso é que sonhamos com a volta do Campeonato Carioca; ou com a volta, pelo menos de parte de um tempo mágico do nosso futebol, do tempo em que sabíamos a escalação completa dos principais times, decorando-as por anos seguidos; tempo em que os garotos tinham batizados os nomes dos jogadores em seus times de botões - tempo em que beijar o escudo, a camisa de um clube, não soava tão falso como hoje em dia.

RJ, 16/02/2006. Jocemar de Souza Barros.

No comments: