Tuesday, December 21, 2010

PONTOS DE VENDA DO LIVRO "DO INFERNO AO CÉU"





















Arlequim Livraria
Praça XV de Novembro 48
Paço Imperial – Centro

Timbre Livraria
Shoppinga da Gávea 2º Piso Loja 221

Só Tricolor – Flamengo
Rua Senador Vergueiro, 44 Loja A
Flamengo

Só Tricolor – Tijuca
Rua Santo Afonso, 153 Loja H

Argumento Livraria
Rua Dias Ferreira, 417
Leblon

Blooks Livraria
Praia de Botafogo, 316 Loja D/E
Galeria do Arteplex Botafogo

Bolívar Livraria
Rua Bolívar, 42 Loja A
Copacabana

Beco das Letras
Rua General Tibúrcio, 83 Loja 14
Urca

Moviola Livraria
Rua das Laranjeiras, 280 Loja C
Laranjeiras

Empório das Letras
Rua do Catete, 311 Sala 202
Largo do Machado

Leonardo da Vinci Livraria
Avenida Rio Branco, 185 Lj. 2, 3, 9
Centro

Só Tricolor Petrópolis
Rua Tereza , 1515 Loja 69
Alto da Serra

Só Tricolor Niterói
Rua Gavião Peixoto, 104 Loja 111
Icaraí

Rede de Livrarias da Travessa

Barra: Barra Shopping, nível américas
Leblon: Shopping Leblon, 2º piso - 3138-9600
Ipanema: R. Visconde de Pirajá, 572 - 3205-9002

Centro:
Travessa do Ouvidor, 17 - 2505-0400
Av. Rio Branco, 44 - 2519-9000
Rua Primeiro de Março, 66 - 3808-2066
Rua 7 de Setembro, 54 - 3231-8015


Ou ainda nos links:

http://www.7letras.com.br/destaques/do-inferno-ao-ceu.html


http://www.travessa.com.br/DO_INFERNO_AO_CEU_A_HISTORIA_DE_UM_TIME_DE_GUERREIROS/artigo/4dcf0445-b80b-43e4-a4e9-f6e5dc2ba2cd

Monday, December 13, 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO


"DO INFERNO AO CÉU: A HISTÓRIA DE UM TIME DE GUERREIROS"

Monday, December 06, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 GUARANI (05/12/2010)



Do inferno ao céu (06/12/2010)


Eu queria falar de várias coisas nesta crônica de hoje, mas sei que as palavras sempre serão poucas para definir a monumental vitória de ontem, quando o Fluminense se sagrou tricampeão brasileiro de futebol. Queria falar da lembrança saudosa dos meus amados pais que, certamente, comemoraram este grande triunfo em algum lugar do infinito, assim como meus grandes amigos João Carlos e Xuru – este, vascaíno de sete cidades, mas que volta e meia emprestava torcida ao meu amado Fluminense. Queria também falar da emoção que senti ao ver os milhares de jovens leões das Laranjeiras vibrando e chorando com esta conquista, jovens como eu era no dia em que vencemos o fortíssimo Vasco e ganhamos o bicampeonato em 1984.

Meus queridos amigos Tricolores, esqueçam de jogadas bonitas, passes mirabolantes e efeitos pirotécnicos: o Fluminense não entrou em campo ontem para fazer um show. Entrou para ser tricampeão. A maravilhosa festa coube à nossa imensa e belíssima torcida, que fez uma verdadeira procissão até o Engenhão e não deixou um centímetro de acrílico ou concreto sem as três cores da vitória. No campo, todos sabíamos que seria um jogo tenso. A obrigação de vencer abala até um par-ou-ímpar, quanto mais tendo um título tão importante em jogo. Nunca tivemos uma final fácil a nosso favor, não seria agora que isso iria acontecer. Ninguém definiu o roteiro da partida melhor do que Álvaro Doria: “Será um jogo difícil, com morrinha e o gol virá no segundo tempo – isso se não for depois dos quarenta minutos”. Fizemos antes do que o bruxo previra, mas o sofrimento até o fim foi o mesmo. E antes disso, o Engenhão mostrava seus cânticos de festa, mas também muitos suspiros nervosos, mais do que justificados: chutamos pouco a gol, Diguinho não repetia o brilho de outras jornadas, o craque Conca sentia o calor, Fred ainda pagava o preço da falta de ritmo. O esquema 3-5-2 não funcionou como deveria, porque Mariano acabou inibido e Gum não tinha o mesmo ritmo para puxar jogo pela direita. Num momento, o Guarani ameaçou com perigo e poderia ter feito o gol, mas Ricardo Berna mostrou – com sobras, ressalte-se - porque se tornaria o sucessor de Paulo Victor na galeria dos goleiros campeões brasileiros do Tricolor. Nas cadeiras azuis, apreensão: o Cruzeiro empatava zerado em Minas, o Corinthians empatava em um gol no Serra Dourada. Definitivamente, nada é fácil para nós. Num estalar de dedos, acabou o primeiro tempo e ficou claro que teríamos de melhorar para conseguir vazar o gol bugrino. Um mísero e surrado gol valia o título – meio-gol até, desde que fosse validado. Nas arquibancadas, os jovens leões rugiam com ânimo e também a natural preocupação.

Na volta para o segundo tempo, o time voltou sem alterações, mas por pouco tempo. Logo no começo, Júlio César sentiu e quem veio em seu lugar foi Washington. Ninguém ali sabia que essa substituição, feita por contusão, iria dar ao Fluminense o seu terceiro troféu minutos depois. Houve uma bola na esquerda, Carlinhos tentou cruzar e acertou um adversário em cima; puxou a bola mais para a linha de fundo, contra dois marcadores, e cruzou. O normal seria Washington cabecear para o gol, ou tentar, mas buscou o passe de cabeça para Emerson. Do jeito que veio, o atacante fuzilou de pé esquerdo - junto à canela, cadarço da chuteira e o que mais estivesse à frente, - por entre as pernas do goleiro, causando não somente um grito de gol comum, mas um verdadeiro tiro de canhão em cada voz dos nossos torcedores. Os jovens leões rugiram alto, juntos aos adultos, os idosos, os ressuscitados, os redivivos. Um barulho como eu nunca havia ouvido antes num estádio, a não ser quando havíamos vencido o Centenário de 1995, e então venho a senha: havia um novo Centenário a ser vencido, havia águias a dizimar os gaviões. Fizemos o primeiro gol e parecia escrito que nunca mais perderíamos esses três pontos. Foi o que aconteceu. A meia hora restante da partida foi disputada com o Fluminense tentando ainda o segundo gol em algumas chances, contra o Guarani respeitando o futuro campeão. Confesso que vi pouco dessa meia hora, talvez uns quinze ou vinte minutos, se muito: olhei para o lado, os queridos amigos de todos os jogos, os conhecidos e desconhecidos, as lindas mulheres e os rapazes embasbacados; as faixas, as bandeiras, os dizeres. Cada um deles trazia em si uma lágrima de alegria e um sorriso monumental, catalânico, inquestionável. Dez minutos para olhar para o gramado e rever nossos heróis, nossas conquistas, nossa interminável saga.

Exatamente no centro do campo, Simon deu o último apito e encerrou a partida. Eu pensava em Leo Feldman, eu pensava naquele vinte e cinco de junho de 1995: fiquei do mesmo jeito, sem entender muito bem o que se passava à minha volta, no bairro, na cidade e no país. O que melhor me lembro foi quando, perto do meu setor, vi nosso craque Fred levantando Benedito de Assis, nosso herói de outro tri, nos braços. O artilheiro guerreiro entendeu o que é o Fluminense. Não há dúvidas de que Conca é o craque do campeonato, mas o Fluminense é campeão com um time, um grupo, um jogo inteiro de camisas em vez de uma solitária. Havia Romerito, havia Marcão; eram muitos vitoriosos no estádio para que o Tricolor fosse campeão. E não deu outra.

Voltei a ser jovem: o Fluminense escreveu mais um capítulo típico da sua história. Enfrentou o precoce fechamento do Maracanã e ficou sem estádio; lutou meses contra as contusões de seus principais jogadores; teve para si as galhofinhas da imprensa que, mais uma vez, foram demolidas dentro de campo. Liderou dois terços do campeonato; quando rateou, os adversários não souberam tomar a dianteira e foram novamente ultrapassados. Não há o que contestar: é um campeão de terra, céu e mar. Mais precisamente, do inferno ao céu. Explico: quem diria que o time desacreditado do meio do ano passado conseguiria chegar ao topo do Brasil ontem? A perda da Libertadores nos custou caro: não faltaram críticas, deboches e falácias. Queriam o nosso sangue, queriam nos rebaixar por decreto em 2008 e 2009, mas não conseguiram. Meus amigos, essa conquista de ontem não é o fruto do acaso ou de algo rápido, recente: trata-se de um longo processo, que vem de muitos e muitos anos. Ninguém mereceu mais esse título do que o Fluminense; embora tenham insistido em nos tratar como o time do quase. Lembremos de 1988, 1991, 1995, 2000, 2001, 2002, 2005 e 2007 – em todos estes anos, o campeonato brasileiro poderia ter sido nosso, e ficou bem perto. O de 2010 nunca mais escapará. Somos os grandes campeões: os jovens leões não param de rugir pelas ruas, bares, faculdades, praias e qualquer lugar onde se saiba que hoje o Fluminense voltou ao seu devido lugar. Quem espera sempre alcança.

Aproveito as linhas desta crônica para subsidiar o raciocínio daqueles que insistem na pecha de bicampeão. O Fluminense não é apenas um tricampeão, mas sim um gigante tricampeão. Os homens de imprensa devem mostrar grandeza neste momento e revisar seus textos: como explicar que hexacampeões brasileiros disputem cinco Taças Libertadores por conta dos títulos obtidos, ao passo que bicampeões do mesmo certame tenham disputado três? Não há matemático que consiga justificar tal equação. Não reconhecer o tricampeonato das Laranjeiras soa tão exótico quanto ignorar outros campeões como o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Gerson, a Academia palmeirense de Ademir da Guia e um certo Santos de um certo Pelé. Patético.

A águia do Atlântico Sul voa rasante. Os jovens leões rugem como nunca. Os cavalos paraguaios foram, mais uma vez, recolhidos às cocheiras centenárias. O Brasil tem um novo tricampeão: seu nome é Fluminense, seu nome é felicidade.


Paulo-Roberto Andel

Thursday, December 02, 2010

TRICAMPEÃO, SIM!


Descontemos as mentiras políticas de O GLOBO.

Abaixo, segue a página principal da edição de 21/12/1970.

Será possível que a imprensa vai insistir com essa MENTIRA de tirar um título nacional do Fluminense?





















Verifique também:

http://www.youtube.com/watch?v=8vIsLrollK4&NR=1

Wednesday, December 01, 2010

PALMEIRAS 1 X 2 FLUMINENSE (28/11/2010)



A linha do céu de Barueri (29/11/2010)

Foram sete dias de luta. Duas batalhas na elegante Arena Barueri. Duas vitórias absolutas, incontestáveis, e o Fluminense está na final do campeonato brasileiro, meus amigos. Final? O campeonato não é por pontos corridos? Sim. Mas o próximo domingo nos reserva uma grande final no Engenhão: precisamos vencer de qualquer maneira o Guarani para conquistar o tão sonhado título brasileiro deste ano. Esqueçam que o Guarani foi rebaixado. Esqueçam que temos um ponto à frente. Esqueçam os jogos dos rivais. Nossa missão é vencer este jogo, por meio a zero, por três milímetros a zero e então sucederá o ansiado tricampeonato.

Vencemos o Palmeiras com autoridade. Não importa a classificação do alviverde no campeonato: é um grande time, jogava em casa e mesmo com a rejeição de sua torcida por uma vitória contra nós – o que favoreceria o arqui-rival Corinthians – não foi um peso-morto. Pelo contrário: o golaço marcado por Dinei no começo do jogo foi uma verdadeira ducha de água quente em nosso ânimo. Água quente? Sim, o calor de Barueri era escaldante. Sentimos o golpe por alguns instantes; nossa linda torcida que invadiu a Arena, nosso bravo time diante de um potente jab no queixo. Leandro Euzébio falhou, concordo; contudo, tem enorme crédito pelo seu conjunto de atuações neste campeonato. O jogo seguiu e logo se repetiu a agonia de outros dias: nosso ataque perdendo gols deliberadamente. Emerson cabeceou no travessão. Fred cabeceou nas mãos de Deola. O goleiro palmeirense ainda faria ao menos duas ótimas defesas, até que Carlinhos empatou o jogo num lindo chute diagonal no ângulo esquerdo, após driblar. Acertou o gol com o pé direito. Os atacantes não faziam, o lateral marcou de pé trocado: eis o Fluminense de 2010, um coração na ponta de cada chuteira. Uma forma de compensar o que viria a seguir até o intervalo: Conca não sendo tão Conca, Fred não sendo tão Fred, Emerson muito longe de Emerson e Deco completamente diferente da partida contra o São Paulo – para pior. Pouco tempo mais tarde o luso-brasileiro, contundido, cederia a vez a Tartá - e isso iria fazer uma enorme diferença entre o que sentíamos ali e sentimos agora.

Depois do empate, restava quase meia hora para terminar o primeiro tempo e, mesmo não fazendo uma partida primorosa, o Fluminense se lançou ostensivamente ao ataque, tornando Deola o destaque dos primeiros quarenta e cinco minutos, com defesas sensacionais e decepcionando profundamente os palmeirenses que foram ao estádio torcer pela derrota do próprio time, fato que prejudicaria o Parque São Jorge. Faz sentido. A lógica do torcedor não é medida pela precisão da matemática. Não me venham com discursos hipócritas: a primeira etapa não foi um jogo fácil. No mais, o Fluminense não é líder do campeonato por cortesia: assumiu a dianteira em dois terços das rodadas. Em vários momentos quando poderia ter sido alijado da disputa final, os adversários tropeçaram nas próprias pernas. É tudo culpa da sina Tricolor, que faz desabar centenários. E enquanto Laranjeiras literalmente suava em bicas na Arena Barueri, o Corinthians contava com a enorme colaboração do goleiro vascaíno Prass – mesmo que tenha sido involuntária. Os deuses e demônios do futebol habitam todos os estádios e camisas, não apenas uma, embora haja privilégios claros quando se trata de certas cores – e, dentre elas, definitivamente não estão as três do Fluminense.

A volta para o gramado no segundo tempo era a exigência de uma virada Tricolor. Nos primeiros minutos a tensão foi evidente, e isso se traduziu em ao menos um inacreditável gol perdido por Fred – logo ele, que tem a vocação e a maestria para fazer os gols. Mais um escanteio, mais outro escanteio, mais um cruzamento e as coisas não aconteciam. Chegou o décimo-terceiro minuto. Deola, gante, reboteou; Tartá ajeitou e colocou a bola no canto direito com excepcional categoria. Aconteceu a virada. Vejam que Tartá é um jogador de poucos gols; neste ano, no entanto, mais do que decisivos: contra o Vasco, no difícil um a zero, e ontem na virada. Gols que fizeram a diferença e trouxeram o Fluminense até o pantheon de hoje. Bendita a hora em que Deco se machucou!

Depois do segundo gol, é verdade que o jogo tomou ares um tanto modorrentos. O Palmeiras não disputava mais nada, o Fluminense conseguiu o que queria, as coisas foram mais lentas, mais dosadas. Não me preocupo com quem queira colocar dúvidas sobre a beleza do futebol que temos jogado, assim como suspeições dos nossos jogos recentes contra os times paulistas. Ninguém escreveu uma vírgula sobre o hiper-frango do Pacaembu. Esqueceram de muitos pênaltis duvidosos marcados na competição a favor doa grandes favoritos. Esqueceram a vergonha de 2005. Hoje, o que importa é o Fluminense conquistar essa taça, tão desejada e que tantas vezes bateu à trave. Quantas não foram as vezes que jogamos bem, com vigor e beleza mas saímos derrotados? O momento é de vitória, o momento é de conquistar. Se puder ser com mais lances bonitos, jogadas plásticas e gols avassaladores, melhor; não sendo assim, meia vírgula a zero é soltar um grito entalado há um quarto de século. Os bebês de colo que nasceram em 1984 hoje são jovens homens feitos. Os garotos daquela época, feito eu, agora são quarentões. As gerações passaram, o Fluminense mereceu ganhar o campeonato várias vezes, mas não conseguiu. Foi uma época de quase: 1988, 1991, 1995, 2000, 2001, 2002, 2005, 2007 e agora. Nove temporadas em vinte e seis anos: a cada três, em média, lá estava o Fluminense suando pelo título sem conseguir. Hoje, é uma realidade: meio a zero contra o Guarani nos basta. Não precisamos pensar nos outros jogos. Não nos importará o que os árbitros possam vir a fazer para beneficiar um ou outro grande favorito da imprensa. Basta fazermos a nossa parte, basta cuidarmos do nosso jardim. Só dependemos de nós mesmos.

A fanática, numerosa e belíssima torcida do Fluminense confia no potencial de seu time, que não terminou a penúltima rodada do campeonato como líder por acaso, destino ou favor. É um time com méritos. Liderou a maior parte da competição com autoridade, soube superar os momentos difíceis, o desfalque de vários titulares, os momentos de oscilação dentro e fora das quatro linhas. É um time que soube caminhar o trilho da competição por pontos corridos, orientado por um treinador especialista na modalidade. Em suma, não é o cavalo paraguaio que só os ingênuos atestaram, mas a águia do Atlântico Sul.

Não há mais o que adiar. Uma semana que vai demorar um século, até que o domingo à tarde chegue. E que ele nos ofereça uma vista tão bonita quanto a linha do céu de Barueri ontem, onde vi estampadas as três cores que traduzem tradição, glória e vitórias inesquecíveis. Certa vez, alguns rubro-negros tentaram zombaram de nós no Maracanã, ridicularizando o verso “quem espera sempre alcança”. Nós sempre soubemos esperar; por isso, estamos aqui. Sinto um agradável aroma de felicidade; acima de tudo, que ele prospere e vigore pelos ares do Engenhão na batalha final.

Wednesday, November 24, 2010

SÃO PAULO 1 X 4 FLUMINENSE (21/11/2010)



A dois passos da vitória (22/11/2010)

Nem profecia, nem bruxaria, nem forças ocultas. Tudo muito claro e plausível, exceto para alguns doutores. Ontem, o Fluminense venceu o São Paulo por quatro a um e deu um passo gigantesco para o título brasileiro deste ano, beneficiado que também foi pelo previsível empate corinthiano em um gol contra o Vitória da Bahia, no Barradão. No encalço dos dois times, o perigoso Cruzeiro, que despachou o desmotivado Vasco por três a um. No fim das contas, hoje só um time depende de si mesmo para ser campeão brasileiro. O nome dele é Fluminense. Tem apenas um ponto à frente de seu adversário mais perto, pode-se dizer. Mas a questão principal é que para nós, um ponto é uma eternidade. Quantos não foram os títulos que ganhamos por conta de um ponto? Muitos, inclusive um outro centenário!

Eu e meus amigos fizemos uma viagem divertida até a simpática e colorida Arena Barueri, local da magnífica vitória sobre o tricampeão mundial. É claro que estávamos preocupados com o jogo, pois um erro seria fatal – e em vários momentos durante a partida, principalmente entre seu começo até o meio do segundo tempo, parecia que poderia acontecer algum desastre, tamanha a quantidade de gols que perdemos. Entre erros e acertos, Rogério Ceni – o paradigma atual do goleiro brasileiro – foi um gigante em campo, com várias grandes defesas. E Ricardo Berna não fez por menos: salvou um gol certo dos paulistas em grande defesa no canto esquerdo baixo. Gum abriu o marcador em bela cabeçada na primeira etapa; antes do tento, Washington teria desencantado se não estivesse impedido como sempre. E foi Gum que, no segundo tempo, fez um gol contra após letra de Lucas Gaúcho. E antes do empate são-paulino, que gerou até contrariedade em grande parte de sua torcida, o personagem tinha sido novamente Washington, ao perder mais um daqueles gols inacreditáveis e que, àquela altura, selaria a vitória do Tricolor. Aqui encerra um jogo: o que durou do apito inicial até o empate adversário. E qual foi outro? O que começou da saída de meio de campo até o apito final, quando um Fluminense guerreiro, vigoroso e demolidor adentrou o gramado, conquistou uma de suas maiores vitórias e mostrou que a sua centenária camisa jamais poderia ser menosprezada num momento de decisão. São centro e oito anos disputando e ganhando títulos, todos com a mesma marca: a dificuldade, o sacrifício, a dedicação. Todo Tricolor nasce órfão do favoritismo; para vencer, precisa jogar e lutar dobrado.

O Fluminense começou seu jogo, perdeu gols, marcou e manteve boa parte do tempo o placar mínimo. Quem disse que o São Paulo iria entregar a partida para prejudicar o Corinthians deve rever a atuação de Carlinhos Paraíba, que não deu um segundo de sossego ao Fluminense. E como explicar o golaço de Lucas Gaúcho, ajudado involuntariamente por Gum? E as defesas espetaculares de Ceni, mesmo tendo falhado no terceiro gol marcado por Fred? E a disposição do ex-zagueiro Tricolor Xandão em derrubar Fred para impedi-lo de marcar o segundo gol, sendo justamente expulso? Os entreguistas do futebol não podem depositar perícia e técnica nos pés de Conca, sem que ele tivesse nascido com tais atributos para o futebol: basta rever o belo segundo gol do Fluminense, o chute que gerou o terceiro gol e o golaço que fechou o placar. É um craque inconstestável.

Repito: foram dois jogos na mesma partida. Desde o empate do São Paulo, a tensão tomou conta da nossa arquibancada e, felizmente, o Fluminense mostrou a seguir porque é a águia do Atlântico Sul e não o cavalo paraguaio dos trôpegos analistas. Muricy foi à loucura com o gol perdido de Washington e imediatamente o sacou para a entrada de Rodriguinho. Mais tarde, foi Tartá quem veio a campo. Desse jeito, o Fluminense ficou mais rápido, leve, ofensivo e, não por sua culpa, facilitado pelas expulsões são-paulinas – Xandão e Richarlysson. Então, quando Conca virou o corpo e acertou o canto esquerdo de Ceni, sabíamos que se tudo desse certo no Barradão, a liderança voltaria às nossas mãos.

Ainda não falei de Deco. Fez sua melhor partida com nossa camisa – e que partida! Não errou um passe, driblou como quis; jogando mais recuado, não embolou com Conca e pôde mostrar seu requintado repertório de jogadas. E Fred? Ainda está fora de forma, mas é craque: logo, quando a bola lhe sorriu, não teve piedade e deixou a sua marca, no momento certo. Poderia ter feito um golaço de voleio em linda jogada no segundo tempo.

Não se ganha um tricampeão do mundo à toa por quatro a um, num momento decisivo e com absoluta autoridade. Certa vez, li que um grande são-paulino escreveu sobre aquela nossa vitória inesquecível na Libertadores, que serviu de réquiem para meu pai, dizendo que ninguém fazia três gols no São Paulo impunemente e que, quando fazia, merecia passar. Um texto de rara grandeza. Para golear um gigante como o São Paulo, é preciso estar à espreita da grande vitória, do título. É preciso ser poderoso na técnica e da força. É preciso estar preparado para conquistar. A dois jogos do fim do campeonato, o Fluminense é assim: um candidato preparado para o título. Nenhuma empáfia, meus amigos, longe disso; tão somente é a constatação de uma longa, centenária história cheia de capítulos como esse. Ninguém aqui dirá que o Fluminense será o grande campeão: não somos os mais-queridos da imprensa. Ficaremos como favoritinhos, lutaremos com todas as nossas forças e, se possível, gritaremos toda a nossa fé.

Esse foi um jogo de dez milhões de torcedores pelo Brasil afora. A alegria que nos toma é incomensurável. Esta partida pode ser resumida por diversos ângulos: a raça e o talento dos nossos craques em campo; o entusiasmo da nossa torcida; o clima que ronda as Laranjeiras. Eu, particularmente, elegeria dois: primeiro, a beleza continental e avassaladora envolta no semblante tranqüilo da atriz Letícia Spiller que, despreocupadamente, ocupava as arquibancadas da Arena Barueri em admirável gravidez. Segundo, a simpatia e a simplicidade do nosso atleta Marquinho que, de braço engessado, estava também tranqüilamente encostado numa parede perto das bilheterias, como se nada estivesse acontecendo na saída do jogo – como se ele não fosse um dos principais colaboradores de tudo o que está acontecendo, desde o golaço no Couto Pereira que selou a maior virada em campo da história do futebol brasileiro, ocorrida ano passado. Há um ano, meus amigos, saímos do inferno com vibração, dignidade e dedicação. Hoje, com calma e elegância, buscamos o topo do futebol brasileiro, ao qual sempre pertencemos, mas os invejosos insistem em tentar nos alijar. O Fluminense é isso: um pouco da beleza de Letícia, um pouco da entrega de Marquinho; um pouco do talento de Berna, Conca, Deco e Fred. Um pouco de três cores que traduzem tradição, fidalguia e vitória. Um pouco da história do grande futebol brasileiro.

Não se comemora título algum a três rodadas do fim de um campeonato, ainda mais quando o Fluminense está a um ponto de distância atrás. É um filme que já vi, é um filme que quero muito rever. Oxalá o carnaval aconteça!

Paulo-Roberto Andel

Friday, November 19, 2010

FLUMINENSE 1 X 1 GOIÁS (14/11/2010)



Desesperar, jamais! (15/11/2010)

Não foi o que esperávamos. A torcida do Fluminense queria gols e festa; na prática, um empate sofrido, muita luta e o resultado que nos deixou em segundo lugar na tabela do campeonato brasileiro a três jogos do fim da competição. Os nossos deixaram o Engenhão cabisbaixos, sob a fina chuva que cerrava as portas do domingo. Não brilhamos como era preciso; na prática, jogamos apenas no segundo tempo – o primeiro foi de dar dó. Não era hora da máquina falhar. E, para culminar, o favoritíssimo Corinthians conseguiu três pontos na véspera, graças a um pênalti duvidosíssimo marcado em cima do veterano Ronaldo – isso, sem contar os justos protestos do Cruzeiro contra a desastrada (e talvez planejada) arbitragem do Sr. Ricci, que não trabalhou em jogos corinthianos deste campeonato que não terminassem com vitórias alvinegras.

Foi de amargar? Sim.

E daí?

Ano passado, a três rodadas do fim do campeonato, éramos os rebaixados. Tentávamos reverter uma situação tida como impossível (erradamente) pelos paramatemáticos, jornalistas hexacampeões e similiares. Contra tudo e contra todos, empreendemos um salvamento fantástico que virou paradigma no futebol brasileiro e calou toda uma nação, enquanto a outra, linda e colorida, urrava, chorava e ria debaixo do pó-de-arroz.

Em suma, meus queridos amigos, reverter essa vantagem de um ponto que o Parque São Jorge nos impôs é bem menos impossível, sem aspas, do que a impossibilidade de 2009, devidamente sepultada e hoje lembrada como a grande vitória que foi e é. Nelson Rodrigues nos ensinou: para saber o futuro do Fluminense, é preciso desvelar o seu passado. E ele é cheio de pérolas e jóias conquistadas na última lufada, no último pique, na expiração derradeira. Tem sido assim há mais de um século. Não há o que temer. Deixemos o favoritismo absoluto com o Corinthians e sejamos apenas os favoritinhos. Quem sabe um timinho como aquele que a imprensa tanto caçoava e veio a ser campeão do mundo em 1952?

Não jogamos bem no primeiro tempo, definitivamente. Sentimos o gol de cabeça do ex-Tricolor Rafael Moura. Muitos defendem que Diguinho deveria ter começado jogando e não entrar no intervalo; é meu caso. Porém, discordo dos que sacariam Valencia; para mim, foi dos melhores ohomens contra o Vasco, tem espírito de decisão e foi bem no jogo. Sacar Bob talvez fosse a melhor alternativa. Mais à frente, Deco voltou visivelmente sem forma física ideal. É um craque, mas errou quase tudo o que tentou, inclusive passes de um metro. Sua única jogada certa foi a melhor de toda a primeira etapa, excluindo-se o gol alviverde: driblou três e chutou perto do canto direito de Harlei. Temos que reconhecer: em sua proposta de fugir desesperadamente do descenso, o Goiás nos anulou: Conca, marcadíssimo; Fred, ainda longe do ideal. No mais, temos sorte em Berna ser berna e não Fernando Henrique. Tartá, apagado. Carlinhos, péssimo. No conjunto, foi muito pouco. Melhor esquecer o time do primeiro tempo e se concentrar no do segundo.

O segundo tempo foi de um Fluminense patrulhando incessantemente a área do Goiás que jogava praticamente com nove homens atrás da linha da bola. Era muito difícil ter sucesso assim. Mas não deixamos de martelar; aos poucos, Fred mostrou arranhões de seu futebol, Carlinhos deixou de ser um dos piores em campo, Deco e Tartá saíram, Diguinho e Washington entraram. Com Diguinho, a raça de sempre e a melhora na ligação defesa-ataque. Já Washington...

Num certo momento, sabedor que o tarde não era de técnica ou talento, o Fluminense partiu para a raça e imprensou o Goiás. Houve chances de gol, mas poucas em relação ao nosso volume de jogo. A linda torcida Tricolor por vezes parecia silenciosa, triste: era para ser uma festa e alguns temiam perder o título naquela tarde, como se isso fosse possível. Na raça, tome cruzamentos que passaram por um triz das testas, chutes que foram imprensados ou desviados para escanteio; até mesmo o goleiro Harlei, famoso pela sua irregularidade, resolveu pegar tudo. Parecia maldição. Os minutos passavam, nossas chances escasseavam, o peito parecia apertado. Então, me lembrei daquele grande momento que foi a final da Copa do Brasil de 2007: a quinze minutos do fim, tomamos um golaço e tudo parecia perdido, até que nos últimos suspiros a raça de Magrão empatou o jogo e renovou as esperanças de torcedores como eu – a maioria deixou o Maracanã daquela noite tão cabisbaixa quanto a massa de ontem pós-Engenhão. Naquela vez, só a vitória na batalha final nos servia. Ela veio em Florianópolis e o Fluminense foi o grande campeão. Por que não agora? Por que não empataríamos?

Rodriguinho, última esperança no ataque, entrou em campo, foi chutado por trás, o pênalti justo foi marcado e Darío Conca não perdoou. Não que tenha batido bem, mas com a força que aplicou, a defesa de Harlei era impossível, mesmo tendo ficado muito perto da bola. Os gristos nas arquibancadas não foram de felicidade, mas de alívio. Ao menos um ponto para colar nos corinthianos. Muitas vezes, eu disse que se o Fluminense chegasse a esta rodada como líder, não perderia mais o título. Não aconteceu, mas quem disse que perdemos? Nós somos o time do último minuto – ainda faltam duzentos e setenta.

A discreta saída da nossa calada torcida ontem foi exatamente a de 2007. De tempero diferente, em vez da lua forte havia o céu em gris, o mesmo gris que fundou nossa primeira camisa. Onde muitos vêem azar e desesperança, eu vejo bons presságios. Não creio na derrota; este empate veio dos céus, estava tudo perdido. O Fluminense não vai morrer nem acabar. O Fluminense está vivo, é favorito e vai brigar com tudo em terras paulistas por este título. Já o favoritíssimo Corinthians terá uma carne-de-pescoço pela frente: o Vitória, no Barradão lotado, desesperado na luta contra o descenso. É jogo para empate. Se conseguirmos a proeza de vencer o São Paulo e o Vitória fizer a parte dele, voltamos ao topo. E faltarão dois jogos.

Era muito difícil escapar ano passado. Escapamos. É um pouco difícil virarmos o jogo de agora? Um dos nossos grandes torcedores, Ivan Lins, escreveu com o poeta Vitor Martins uma das nossas grandes canções brasileiras, chamada “Desesperar, jamais”.

Ivan, além de craque da música, pode também ser um profeta. Se puderem, ouçam a canção.


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, November 09, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 VASCO (08/11/2010)


Missão (quase) cumprida, missão a cumprir (08/11/2010)

Dez da noite de ontem, avisto o monumental prédio da Central do Brasil ao saltar do trem. Ao meu lado, os companheiros de mais uma brilhante jornada. Um sentimento de dever cumprido na semana que passou. Meus caros amigos, a batalha continua. Faltam quatro jogos para o desfecho do campeonato brasileiro. Trezentos e sessenta minutos de apreensão, pensamentos ao longe, o inevitável medo que faz parte da natureza humana e, acima de tudo, o coração batendo mais forte porque todos sabemos que, a partir de agora, o Fluminense não é apenas um dos candidatos ao tão esperado título nacional, mas também o principal favorito a levantar a taça. Não falo de facilidades, pelo contrário: nunca as tivemos e não as teremos. Acontece, entretanto, que este é um campeonato completamente diferente dos muitos que o Fluminense já disputou e ganhou em sua monumental história: ele começou a ser disputado, na prática, no ano passado, quando impusemos a maior virada que já seviu no futebol brasileiro – magnânima, dentro de campo e com totais dedicação e merecimento, durante e depois respectivamente. Muitos não perceberam ali a mágica que rondou a centenária camisa das Laranjeiras depois de vencer dez jogos em treze e, dessa feita, garantir a permanência na primeira divisão. Tratou-se de um feito colossal, ainda mais diante das circustâncias: qualquer boçal sabe que o lugar do Fluminense não é lutando contra descenso, mas disputando títulos. É assim desde que tornamos o futebol brasileiro o que ele é – aos que ainda tiverem dúvidas a respeito, pesquisas históricas podem levar ao pleno entendimento da questão. É difícil bater nossas cores num momento decisivo até quando estamos em desvantagem; imaginem quando tempos a supremacia de um fabuloso e empolgante ponto.

O Fluminense passou a ser o favorito ao título deste ano na noite de ontem, quando venceu seu adversário mais difícil, o Vasco, pelo escore mínimo no Engenhão. Foi uma vitória admirável, que poderia ter sido por um placar bem mais elástico. Alguns falam da bola na trave que sofremos ao fim do jogo. Eu retruco com os gols que perdemos, e não foram poucos: se houve alguém que merecia ser vitorioso no clássico, não tenho dúvida de dizer: nós. Sem falsa modéstia, sem arroubos de imponência: nós. Em nossa pior fase no campeonato, não souberam nos ultrapassar e permitiram que retomássemos a ponta. Aos poucos, subimos de produção. Passamos a ter um super-goleiro em campo, para atenuar a perda de meio time e de nosso estádio. E então o Fluminense não perdeu mais, nem para o Botafogo da “alma vitoriosa” de Kfouri, nem para o Atlético do Paraná e o forte Internacional em casa, além de vencer o incensado Grêmio e o jogo de ontem. Não derrotávamos o Vasco há mais de dois anos. O Vasco tem sido nos últimos vinte anos o nosso adversário mais difícil: nos venceu até no ano em que sucumbiu frente ao descenso. Ontem era uma partida vital para quem quer ser campeão; derrotar o grande rival num estádio onde jamais perdera, sem dúvida, foi um marco. Faltam quatro jogos e todos são dignos da maior atenção. Quatro vitórias magras por um a zero asseguram o sonhado título, façam o que fizerem os adversários. E a tabela acabou sendo cruel, principalmente para o centenário Corinthians: além de vencer, precisaria contar com a máxima disposição de São Paulo e Palmeiras a seu favor e, ao que tudo indica, isso não será fácil. Os do Morumbi estão ainda engasgados com o ano passado, quando perderam o campeonato nas rodadas finais e o Corinthians faltou fazer três gols contra para beneficiar a Gávea. Num pênalti, o goleiro Felipe sequer se mexeu para tentar a defesa. A vingança é um prato que se come frio – ou morno, já que 2009 está frequinho nas memórias do futebol. E, se o São Paulo não tem vontade alguma de colaborar com qualquer festa corinthiana, o que dizer do Parque Antarctica? Neste caso, a vontade é dez vezes menor do que a são-paulina.

Antes do início do jogo de ontem, era visível a apreensão de todos nós. Corinthians e Cruzeiro tinham vencido jogos difíceis, contra São Paulo e Vitória, fora de casa. Lembrei ao Presidente Sussekind, ao Tiba e ao Dória que isso pouco iria importar se o Fluminense fizesse a sua parte. Logo de cara, fez: a bola chegou aos pés de Washington pela esquerda, depois do passe de Tartá; o chute saiu forte, Prass rebateu e o mesmo Tartá empurrou para as redes, sem apelação. Três minutos de jogo e oitenta e sete por sofrer, menos pela nossa atuação e mais pela pressão de ter que manter o resultado. Atordoado, o Vasco custou a se recuperar e, embora em desvantagem no marcador, não usava a velocidade como meio de atacar o Fluminense, com ligeira exceção para Éder Luis. As ações de São Januário eram coordenadas por Felipe, o que significa dizer muito talento, mas temperado com lentidão; como nosso time tinha recuado demais, era mais difícil chegar ao gol adversário, ainda mais porque este, com a demora na saída de bola, tinha mais gente em seu setor defensivo. Curiosamente Tartá, que foi o primeiro destaque da partida, embora tenha jogado com muita raça como de costume – além do gol, claro -, não marcou mais presença em boas jogadas ofensivas. Nossa defesa estava firme (exceto em duas falhas individuais de Euzébio e Mariano), o meio com Valencia e Bob também, apesar de alguns poucos erros que nos levaram à loucura na arquibancada oeste superior. O ataque não teve jeito, como se veria a seguir. O primeiro tempo terminou com o placar justo: soubemos aproveitar a chance e administrar o marcador.

Na segunda etapa, o Vasco mudou de postura. Passou a jogar mais ofensivamente e com mais velocidade. Nosso time mantinha a postura de administração do jogo, mas as finalizações vascaínas foram aparecendo e aí, mais uma vez, brilhou a estrela de Berna, principalmente numa defesa monumental em chute de fora da área desferido por Jonathan. A velocidade vascaína, entretanto, nos permitiu brechas: numa delas, Marquinho perdeu um gol incrível frente à frente com Prass; na outra, Washington, impedido, marcou um gol virtual. São Januário estava disposto a nos castigar no terço final da partida, ainda mais quando perdemos o mesmo Marquinho por contusão. Atento, Muricy colocou Thiaguinho no lugar de Tartá para reforçar a marcação. Julio César entrou em campo à última hora; o escolhido era Rodriguinho, que substituiria Washington, mas com a saída inesperada de Marquinho, a substituição foi anulada e isso permiritia ao camisa 99 ter a chance de marcar um dos gols mais fáceis de de sua vida. Permitiria... mas não permitiu. No fim do jogo Conca, livre, deu uma arrancada deixou os marcadores para trás, ficou cara a cara com Prass e faltamente faria o gol. Travou a bola, olhou para o lado e a tocou para Washington marcar e deixar a má fase frente a meta vazia e um desesperado zagueiro. Não deu certo: o atacante quase fez pênalti em sim mesmo, tropeçou nas próprias pernas e a defesa do Vasco aliviou a situação. No minuto final dos acréscimos do jogo, até Prass foi para nossa área tentar a cabeçada, em vão. Veio o fim, foi confirmada a vitória Tricolor e também veio a certeza de que estamos preparados de vez para esta conquista, caso ela se confirme. Saímos de alma lavada do estádio. Foi justo e merecido. Não importa que não tenha sido um triunfo de passes portentosos e jogadas cintilantes: foi a vitória da garra, da determinação e da atitude de quem quer ser campeão.

Uma semana de trabalho pela frente, tranqüilidade e a promessa de uma grande atuação contra o Goiás a nos cercar. Quando jogarmos no domingo à tarde, saberemos exatamente o que precisamos fazer. Antes disso, na véspera, Corinthians e Cruzeiro duelam no Pacaembu; no mínimo, um dos dois ficará mais distante da luta pela taça. Se empatarem e conseguimos um triunfo magro contra o Goiás, estaremos a três pontos dos dois, com saldo de vinte e dois gols, faltando três rodadas para o fim. Para quem passou cem anos ganhando títulos com total desvantagem, a possibilidade aqui apresentada é verdadeira fortuna. O fato é que só dependemos de nós mesmos e nada mais. Nenhum oba-oba, nenhuma empáfia. Confiança, força, talento e sorte – eis os nossos guias para estes jogos que faltam. A missão de ontem, uma das mais difíceis de todo o campeonato, foi cumprida.

Falta ainda a grande jornada final – e acreditamos no sucesso dela. Quem duvida?

Quem é capaz de dizer que o Fluminense é um cavalo paraguaio sem parecer um boboca?

Nossa arquibancada não tem bobocas. Humildade e concentração são fundamentais, mas ignorar a história é a mediocridade em contundência. Esta mesma história ensina que, quando o Fluminense está numa decisão, que os outros o respeitem. Nosso hino nos ensinou a esperar e muitas vezes a taça nacional nos escapou por um triz. Ela ainda não é nossa, mas todas as cores desenham a aquarela do nosso triunfo. É acreditar, esperar e torcer muito.

Paulo-Roberto Andel

Thursday, November 04, 2010

INTER 0 X 0 FLUMINENSE (03/11/2010)



Uma noite de Paulo Victor (04/11/2010)

Que ninguém se iluda com o desdém dos jornais, meus caros amigos. Mais uma rodada do campeonato brasileiro se foi. Restam cinco jogos. E, tal como aconteceu em grande parte desta competição, o líder é o Fluminense. Falam de arrancadas gloriosas, de favoritos centenários, mas a verdade é que ninguém foi mais primeiro lugar neste campeonato do que o Fluminense. Um campeonato que não começou agora, mas no ano passado – todos viram o que aconteceu, todos sentiram o que é o peso da secular camisa Tricolor. Falam do empate de ontem como se fosse um mísero resultado, como se o adversário não fosse o campeão da Libertadores, completo, jogando em seu estádio e com sua numerosa torcida. Não bastasse todos estes argumentos, o Internacional ainda jogava suas últimas fichas numa vitória que lhe permitisse disputar o título brasileiro deste ano, com uma gana que nem parecia a de um time já escalado para as finais do título mundial em dezembro próximo. Empatamos. Conseguimos um valioso ponto fora de casa que nos garantiu a liderança; afinal, o favorito Cruzeiro sucumbiu em casa diante do favorito São Paulo. O favorito Corinthians goleou o não-favorito Avaí, mas o favoritismo está atrás da matemática por um ponto. O também favorito Botafogo venceu apertadamente em casa o Atlético Goianiense, mas o favoritismo esbarra na matemática por quatro pontos. Acho graça dos homens de imprensa não terem utilizado neste ano de 2010 a expressão “se o campeonato terminasse hoje...”; sentem um enorme desconforto ao verem as Laranjeiras no topo. Meus amigos, que eles respeitem quem inventou o futebol brasileiro como ele é, fato que só os bobos desconhecem. Só os bobos não sabem da importância para o futebol brasileiro e mundial. Só os bobos ignoram que a primeira conquista da seleção brasileira foi em nossa casa, ou que o primeiro gol brasileiro em copas do mundo foi de um Tricolor. Só os bobos não percebem que o Fluminense é o grande favorito ao título deste ano. Só os bobos acreditariam que o Internacional de Porto Alegre, com toda a sua grandeza, seria uma presa fácil ontem. Vejamos os momentos finais do campeonato: quem consegue sair invicto da Arena da Baixada e do Beira-Rio? Quem conseguiu superar com galhardia o rolo compressor do Grêmio no segundo turno? Quem pressionou o Botafogo em casa? Para todas estas perguntas, apenas uma resposta: Fluminense. Estamos sem quatro ou cinco titulares, dentre eles um artilheiro que disputou copa do mundo. Não é pouco. Aqueles que zombaram do Fluminense, comparando-o a um cavalo paraguaio, precisarão de muita cachaça legítima para esquecer a jornada Tricolor.

O empate teve sabor de nossa vitória. O Internacional, gigante, nos pressionou a todo momento. É um time rápido, com vários jogadores de qualidade, entrosado, acostumado a conquistas e que tem como seu único ponto fraco o opaco treinador Roth. Era evidente que, podendo reduzir a diferença até a ponta da tabela para quatro pontos, os gaúchos foram um aríete contra a fortaleza da nossa defesa. Porém, Gum voltou a ser o velho Gum na noite de ontem: implacável e em tempo real na marcação. Euzébio manteve a trajetória de boas atuações. Mariano era a tradicional raça pura. Curiosamente, destoava o defensor com melhores recursos técnicos: Carlinhos. Por algumas vezes, o maestro Conca nos levava ao semi-ataque; Tartá, que marca sua carreira com alternância de qualidade, não repetiu os ótimos momentos do jogo contra o Atlético na Arena. E Washington, por mais que a nossa piedosa torcida apóie, está cada vez mais difícil de aturar em campo. É o time que temos, é com ele que chegamos até aqui, é com ele que iremos até o fim.

Quando a partida acabou, nossa torcida organizada vibrou. Não somos pascácios: sabemos que um grande triunfo estava realizado no sul. Um ponto miraculoso, que veio do esforço de todo o time, a garra de Diguinho salvando um gol certo. Mesmo os que entraram, Rodriguinho e Valencia (Belletti só entrou a um minuto do fim) fizeram parte desta entrega d’alma à camisa das Laranjeiras. A derrota do Cruzeiro ajudou, sem dúvida, mas se o Fluminense ontem se manteve – MERECIDAMENTE – líder do campeonato brasileiro, deve tudo a um único nome (sem detrimento dos demais): Ricardo Berna. Pouco afeito a vôos acrobáticos e pernósticos, sempre bem posicionado, sóbrio, alternado reposições de bola rápidas e mais lentas conforme a necessidade, dotado de personalidade nas saídas de gol e até mesmo fazendo algo raro em suas passagens anteriores como titular: vibrando nos lances. Berna fez uma partida perfeita. Recuou o braço ao ver Diguinho atrás de si na cabeçada de Alecsandro logo no começo da partida. Estava firma no lance quando a bola bateu na trave esquerda, ao fim do primeiro tempo. Espalmou chutes fortes de Sóbis e Giuliano. Socou com eficiência os cruzamentos na área que enfrentou. Defendeu de primeira outros chutes que muitos goleiros insistem em rebater – alguns, pior ainda, com o pé. Fechou o gol na primeira etapa e foi apenas excelente no segundo tempo: basta lembrar a defesa perfeita na cobrança de falta de Andrezinho, praticamente um pênalti, fechando a partida. O jogo poderia durar mais cinco ou onze horas: estava claro para todos que Berna não iria sofrer gols ontem à noite. Agarrou tudo; o que não pegou simplesmente não foi chutado. O time está de parabéns pela raça, mas é fato que todo time precisa começar por um grande goleiro – e foi o que aconteceu ontem. Quero lembrar que não é a primeira vez que isso acontece. Quando o Fluminense bateu à porta do descenso em 2006, viram que era impossível se salvar com um beque-equipe sem usar as mãos para fazer defesas. Berna entrou num navio à deriva e ajudou a salvá-lo: o Fluminense não caiu. Em 2007, fazia uma jornada regular quando foi barrado por decreto. Manteve sua postura, continuou treinando, teve uma nova chance ano passado, mais uma vez entrando como titular num time em frangalhos. Sofremos duas goleadas merecidas para Santos e Goiás, ele pagou novamente o pato. Agora, devido ao mau momento de Rafael – que foi muito importante na brilhante arrancada do ano passado – voltou ao gol do Fluminense. Pela primeira vez desde que chegou às Laranjeiras, é titular num time de grande qualidade. Percebam que, desde que foi efetivado, o time não perdeu mais.

Cada jogador tem as suas qualidades, as suas características e seria cruel fazer comparações com nosso passado de glórias. Mas a trajetória de Berna, que está no Fluminense há anos, faz pensar na de um jovem goleiro que foi contratado ao Rio Branco de Vitória nos anos oitenta, bem no começo. Era reserva e tinha poucas chances contra o titular Paulo Goulart, campeão de 1980 e pegador de pênaltis – num deles, antevendo o que ia desgraçar a nação em 1986. Um dia, Paulo Goulart saiu e o novo goleiro começou a jogar, sem grande alarde, sem holofotes. Três anos depois, já era um dos maiores arqueiros da monumental galeria de grandes goleiros do Fluminense. Paulo Victor Barbosa de Carvalho. Ricardo Berna é Ricardo Berna, com suas qualidades e defeitos. Já mostrou que, em horas de absoluta gravidade, era capaz de servir bem ao Fluminense. Ontem, meus amigos, Berna me fez pensar em Paulo Goulart pegando pênaltis em 1980, e também em Wellerson defendendo com os pés (mas com talento) o chute de Rodrigo Mendes que poderia ter decidido a maior final de todos os tempos. Em Kleber com grandes defesas em 2005. Mas o que pensei mesmo foi ele ter tido uma noite de Paulo Victor, o que soa como o maior dos elogios: sinônimo de maestria debaixo das três traves. E, com essa grande noite de Berna, o Fluminense continua invicto, líder e a cinco jogos de conseguir mais um feito inigualável no futebol brasileiro.

Só os bobos se esquecem do ano passado; só os bobos não percebem o que está acontecendo agora. A velha camisa sua sangue em seu grená.

O inferno de 2009 sugere um céu de brigadeiro daqui a um mês - e não é com azul celeste de Minas.


Paulo-Roberto Andel

Friday, October 15, 2010

CRUZEIRO 1 X 0 FLUMINENSE (10/10/2010)



Sinal amarelo (11/10/2010)


Não foi por falta de acreditar; a torcida do Fluminense se fez firme e presente no Parque do Sabiá. Se o nosso padrão de jogo tem apresentado evidente queda, por outro lado não nos faltaram chances de gol. O Cruzeiro foi melhor, administrou o jogo, contou também com a sorte e, de uma só vez, nos derrotou e nos tomou a liderança do campeonato. No Pacaembu, o favorecido Corinthians levou quatro gols do Atlético Goianiense, o que não soubemos aproveitar. Definitivamente, não foi uma boa tarde ontem. Sinal amarelo nas Laranjeiras. Atenção. Nove jogos pela frente. A certeza de que precisamos melhorar muito para conquistarmos esse tão sonhado título. A certeza de que, ao contrário das bazófias da imprensa, temos ainda a chance de conquistá-lo, sim. Nossa história fala por nós: somos o time do último minuto, das viradas impossíveis frente à comemoração adversária. É preciso levantar a poeira de Álvaro Chaves, mas que fique claro: o campeonato não acabou e ninguém derrota o Fluminense por decreto. O ano passado aí está para não nos deixar mentir.

Embora jogando muito aquém do brilho de outras jornadas neste mesmo campeonato, o Fluminense suportou bem a pressão do Cruzeiro, não sucumbiu após tomar o gol que viria a ser decisivo e, tanto no primeiro tempo quanto no segundo, teve várias chances de gols. As falhas individuais pesaram bastante. Na defesa, a indecisão de Gum e Rafael levou à cabeçada colocada de Wellington Paulista. No ataque, Rodriguinho e Washington abusaram do direito de perder gols: o primeiro chegou ao cúmulo de chutar uma bola para fora – e alto – quando estava a meio metro da linha de gol num determinado lance. Não bastassem os problemas de contusões já conhecidos, Deco se machucou ainda no primeiro tempo e, com Conca muito marcado, a lucidez nos passes ficou bastante prejudicada. Com a queda da velocidade Tricolor nos últimos jogos, ficou mais tranqüilo para que o time celeste administrasse seus passes e ataques – esse é o ponto mais importante e preocupante do atual momento do Fluminense: sem Emerson e Mariano, com Conca marcado, viramos um time comum e não o postulante ao título. Com Fred, não podemos contar devido ao agravamento de sua contusão. O que fazer? O que pensar?

No segundo tempo, o jogo foi relativamente calmo para o Cruzeiro. Digo relativamente porque embora o mandante tivesse o domínio da partida em alguns momentos, chegando a chutar uma bola no travessão e um gol bem-anulado por conta de impedimento, novamente o Fluminense abusou do direito de errar nas finalizações, principalmente com o ataque que foi uma peça nula em campo. Sabemos que Washington tem utilidade dentro da área, como um brigador; ao sair dela, é muito difícil ganhar qualquer jogada ou acertar qualquer fundamento. E Rodriguinho, que fez uma bela jornada no campeonato paulista deste ano, sendo o vice-artilheiro da competição, parece às vezes sentir a camisa Tricolor: perde gols inacreditáveis. Se fizesse um terço das chances que tem desperdiçado, estaria brigando pela artilharia do campeonato brasileiro.

Meus amigos, o sinal está amarelo.

O Fluminense precisa recobrar a velha força nestes últimos nove jogos. Para mim, seis. Se chegarmos líderes na partida contra o São Paulo e os paulistas estiverem fora da briga pelo campeonato, acho que dificilmente perderemos o cobiçado caneco. É claro que o Tricolor do Morumbi é uma força permanente, assim como o Palmeiras; o que acho difícil é que joguem contra nós com o máximo de empenho, caso o Corinthians ainda esteja disputando o título. Não cabe saudar hipocrisias: nos dias de hoje, é o que mais vemos nos jornais do país por conta das eleições presidenciais. Ano passado, o maioral foi campeão contando com a pouca vontade do Corinthians, ironicamente, e do Grêmio. Não falo de entrega de jogos e nenhum de nós ratificaria tal comportamento, mas a verdade é que nenhum do Morumbi ou do Parque Antarctica quer ver o Parque São Jorge em festa e ter colaborado para isso.

O fato é que o Fluminense de hoje não tem o mesmo brilho de meses atrás, nem mesmo dos momentos esporádicos nas vitórias contra Ceará, Vitória da Bahia e Avaí. Mas também não é o time sonolento e burocrático da partida contra o Santos. É preciso reagir. É preciso retomar a agressividade e a velocidade da saída de bola. Emerson, Mariano e Diguinho, se voltarem contra o Botafogo, num clássico decisivo domingo que vem, podem ser peças decisivas neste processo. Teremos uma semana de folga e tempo para as recuperações físicas. Será uma longa espera: estamos aflitos, não podemos falhar justamente no fim da trilha. E, se a condição técnica não voltar a prevalecer, é preciso raça dentro das quatro linhas e nas arquibancadas. Não ficamos conhecidos como o time de guerreiros? Pois bem, o momento é agora. Retomemos a inesquecível parceria entre time e torcida nos treze jogos finais do ano passado. Naquele momento, era uma luta de vida ou morte; éramos a galhofa do esporte brasileiro. No gramado, realizamos uma virada impossível de ser igualada: dez vitórias. Hoje, restam nove jogos. Quem disse que a camisa centenária, impondo seu carisma e sua garra em campo, não pode conseguir sete vitórias? O suficiente para sermos campeões com um pé nas costas. Porém, acima de tudo é preciso retomar a atitude vencedora, seja com o talento ou com o coração.

Nossos corações batem mais vigorosos nesta semana. Domingo, não podemos falhar. O Cruzeiro tem dois pontos à nossa frente, mas enfrentará o poderoso Grêmio no sul, e perder lá não é nenhuma aberração. Meio a zero contra o Botafogo e poderemos voltar à liderança. Um clássico que, por si somente, é sempre difícil em mais de cem anos de disputa. A questão é que acabamos com todas as nossas reservas de falha. Não podemos mais errar. E, para sermos campeões, só a vitória interessa. Domingo, as arquibancadas azuis serão pequenas para tanta ansiedade.

O sinal está amarelo? Vamos torná-lo verde!


Paulo-Roberto Andel

Friday, October 08, 2010

FLUMINENSE 0 X 3 SANTOS (06/10/2010)



Um drama passado a limpo (08/10/2010)

Na quarta-feira à noite, fiquei atordoado. Quando saí de um dos banheiros do Engenhão, me deparei com a cena de um menino duns oito anos, em completo desespero e muitas lágrimas com o que tinha acabado de ver. Aquele choro me doeu muito mais do que a terrível jornada que o Fluminense cumpriu nos últimos dias: o desagradável – porém justo, como falarei a seguir - empate contra o Prudente, sábado passado, e a acachapante derrota para o Santos anteontem.

Normalmente, escreveria estas linhas na quinta, logo após o jogo. Não o fiz por dois motivos: primeiro, esperar os jogos da noite de ontem para ter melhor visão sobre os acontecimentos; segundo, deixar a raiva pela derrota de quarta se esvair – menos pelo marcador e mais por como ela aconteceu. No fim de tudo, meus nobres amigos, o Fluminense está diante de um drama, o maior de todo este ano: mesmo com golpes de sorte nos tropeços dos adversários diretos na luta pelo título, mesmo ainda conseguindo manter a liderança do campeonato, o fato é que o Fluminense não está em boa fase e um dos adversários mais temíveis, o Cruzeiro, ficou a apenas um ponto de nós. Mais ainda: desfalcados, enfrentaremos o mesmo Cruzeiro em casa, no próximo domingo. Vencer é imperativo.

Mas será possível, tendo em vista nosso atual momento?

Sim, mas se dentro de campo o time não corresponder, tudo ficará por conta da mágica e centenára camisa, além dos milhões de devotos do Tricolor. É o que nos resta. O Fluminense é o líder do campeonato, mas está gravemente ferido. Cabe a nós empurrar a equipe para este título fantástico. Vamos esquecer o que nos aconteceu recentemente e manter todo o pensamento positivo.

Contra o Prudente, é fato que tivemos maior volume de jogo sobre a verdadeira piscina que era o gramado do Prudentão. Uma batalha aquática. Isso não nos impediu de ver um dos gols mais bonitos do campeonato, marcado por Rodriguinho em um chute fantástico no ângulo esquerdo do goleiro do bom goleiro Giovanni, quebrando o tabu de só ter marcado gols em times rubro-negros. Se o mesmo Rodriguinho finalizasse com a mesma competência em outros lances que teve, livre na área, teríamos aplicado uma sonora goleada. E aí é que digo da justiça do resultado final: o Prudente no segundo tempo foi, ainda que de forma tímida, ao ataque. E a velha máxima do futebol é imperdoável: quem não faz, leva. Tivemos todas as chances para vencer o jogo e não as aproveitamos; então, o empate foi justo. Recuar quando se abre o marcador e finalizar sem precisão não são mostras de qualidade, às vezes: pode até ser o contrário. Menos mal que os poderosíssimos e favoritíssimos Cruzeiro e Corinthians empataram em casa contra Atlético Paranaense e Ceará, respectivamente. No Pacaembu, o eterno ídolo Magno Alves fez a sua parte e o Ceará chegou a estar vencendo por dois, mas a fragilidade do time permitiu a reação corinthiana. Uma rodada a menos, tudo no lugar, mas sinais de preocupações.

A quarta-feira tinha a expectativa da volta de Fred aos gramados. Mais uma vez, o exótico horário imposto pela televisão e quatorze mil Tricolores não falharam: estavam nas arquibancadas, driblando engarrafamentos, o caos e tudo mais que viesse pela frente. Acabamos presenciando o que provavelmente foi nossa pior apresentação no campeonato, no ano de 2010 e talvez desde os piores momentos do campeonato brasileiro do ano passado. Tudo deu errado, dentro e fora do campo. O placar não indica a verdade do jogo: quem visse sem saber imaginaria um Santos agressivo e imponente. Tenho dúvidas até se alguns jogadores santistas saíram realmente suados de campo: o time paulista jogou em ritmo de treino e venceu como quis nos quarenta e cinco minutos finais – lembrou até a nossa atuação diante do Atlético Mineiro. O estreante lateral Marquinhos nem foi tão mal, mas evidentemente sentiu o peso da camisa centenária. Conca, marcadíssimo e, com isso, sem as naturais grandes contribuições. O meio de campo perdido entre a ligação direta dos chutões da defesa e o “domínio” no ataque – normalmente não-feito por Washington. E, talvez, o pior desfalque: Mariano. Sem ele, o Fluminense fica isento de arranque e velocidade rumo ao gol adversário. Marquinho sem “s”, mas com cem partidas pelo Tricolor, teve uma atuação de regular para ruim; contudo, eu não otiraria de campo. Ele saiu no intervalo para a entrada de André Luis, visando reforçar a zaga, o que pouco adiantou.

Segundo tempo em cima, o estádio urrou pela volta de Fred. Fiquei preocupado: entrou com lentidão absoluta e parecia até nem ter plenas condições de andar. Em pouquíssimos minutos, voltou a sentir dor e curiosamente permaneceu em campo, mesmo senso possível fazer duas substituições. Nas poucas vezes em que tocou na bola, mostrou o craque que é: um passe sensacional para Conca. Mas foi muito pouco e dificilmente poderemos contar com ele para o restante da jornada.

Chutamos uma bola na trave, com Carlinhos, mas foi um dos poucos bons momentos do lateral e do time. O primeiro gol do Santos revela como foi péssima a nossa noite: dentro da área, recuperam dois rebotes até que Zé Eduardo, o craque da noite com três gols, acertou meia-bicicleta no meio do gol de Rafael. O segundo gol foi um chutaço proveniente de um dos lances mais bizarros que já vi contra a defesa do Fluminense em toda a minha vida: um balão proveniente do meio de campo, Leandro Euzébio espera a bola quicar para se mexer, Rafael hesita justamente porque espera o zagueiro, Zé Eduardo tem presença de espírito – ajeita livre e fuzila o ângulo esquerdo. Derrota consumada depois de tal fato e meu estranhamento com os enlutados do Perseguido, que passaram a vaiar Rafael contundentemente para, em seguida, vibrar com o time – dando a errônea sensação de que o goleiro tinha sido o responsável pela derrota até então. Houve uma confusão de sentimentos. Rafael não tem o brilho do ano passado, sem dúvida, mas meu comentário sobre o jogador Fernando Henrique é simples e direto: ruim sem ele, pior com ele. O terceiro gol foi apenas a cereja do bolo que o Santos tinha preparado sem muito esforço, diante de uma noite trágica, de nosso pior futebol: Zé Eduardo entrando livre pela esquerda da defesa e tocando para o gol vazio. De toda forma, reconheço dignidade naqueles que bradaram pelo título e cantaram como se nada estivesse acontecendo. Não é a minha posição, mas entendo que a hora é de apoiar e não massacrar. Ainda falta falar dos dois gols anulados: mesmo que um tivesse sido justamente validado e o outro não, com um pouquinho de esforço o Santos faria quatro ou cinco. Não perdemos por conta do mau apito. Calcemos as sandálias da humildade.

O que dizer nas linhas restantes? Estamos mal, ainda somos os líderes e teremos um jogo de vida ou morte domingo. Não temos mais Fred, mas esperamos a volta de Emerson. O Presidente Horta é nosso guia: vencer ou vencer! Não temos alternativa. Ou o Fluminense reage de vez e mantém a posição de líder favorito ou despenca. Domingo é dia de maracujá e calmantes.

Sou um obcecado.

Eu acredito.

Thursday, September 30, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 AVAÍ (29/09/2010)



Nove degraus à frente (30/09/2010)

Depois de trinta e dois anos freqüentando nossas arquibancadas, talvez eu pudesse ser até enfadonho ao falar de grandes emoções a respeito de uma partida que não significou ainda a conquista de uma taça. Posso me desmentir. Não é verdade. Há partidas em que um lance, um drible ou uma defesa passam a ser momentos inesquecíveis para crianças, jovens, adultos ou veteranos. Ontem, exatamente ontem, experimentei um momento ímpar de minha vida de torcedor ao testemunhar a colossal vitória do Fluminense sobre o Avaí, no Estádio da Cidadania em Volta Redonda, meio do caminho entre Rio e São Paulo. Ontem, vivi um daqueles jogos em que não se pode faltar – e saboreei os favos do triunfo. O Fluminense venceu, o Fluminense está vivo e, hoje, é o mais expressivo dos candidatos ao título brasileiro de 2010. E, se confirmarmos o tão sonhado título, podem crer: ele terá o cheiro da partida contra o time catarinense.

Aqueles que conhecem o futebol profundamente poderiam me perguntar “como você pode dizer isso de um time que teve dificuldades e penou para vencer outro às vésperas do rebaixamento?”. Meus amigos, quem disse que um grande campeão joga bem todos os jogos de um certame? Quem disse que ser campeão é apenas dar shows de bola, aplicando incontáveis surras nos oponentes? Eu relembro: escrevi noutro dia que, se o segundo tempo do Fla-Flu fosse revivido a cada jogo, seríamos carne-de-pescoço para qualquer adversário. Foi o que aconteceu: de lá para cá, o Fluminense retomou a ponta e ganhou três jogos. Ontem, num dado momento, parecia que tudo seria perdido: o time não conseguia agredir, sofria perigosos contra-ataques, não era fácil vazar a zaga do Avaí. Num rompante, tal como um sujeito irritado e esbaforido que, ao se sentar à mesa, nela aplica um contundente soco, o Fluminense se encheu de brios e conseguiu uma de suas vitórias mais emocionantes nos últimos tempos. O futebol que pareceu escasso foi cristalizado e se fez minério de garra, de luta e dedicação, de modo que o gol salvador de Darío Conca a poucos minutos do fim do jogo não me parece um golpe de sorte. Na verdade, é um aviso. O Fluminense veio para ficar. O Fluminense jogou com a postura que só os campeões têm.

Minha partida começou horas antes em Copacabana, meu reduto da infância e adolescência. A rua Anita Garibaldi, a Galeria Menescal. O nosso carro de excursão – eu e os amigos, ignorando o tráfego intenso e os cento e cinqüenta quilômetros. Um Tricolor pode se esbaldar em casa nos jogos comuns, mas, numa batalha como a de ontem, era preciso ocupar cada centímetro de Volta Redonda – não somente o estádio, mas as ruas, o centro e a cidade inteira. Foi que os nossos fizeram: lotaram as arquibancadas a ponto de fazerem rir qualquer pessoa que tenha lido os numerários do jogo no placar eletrônico. Enfim, sair de Copacabana para ver um jogo foi um dos melhores presságios da juventude – foi o que fiz muitas vezes quando ia ao Maracanã me encontrar com os passes de Delei e a vibração de Benedito de Assis.

Chegamos em cima da hora ao campo lotado. O Cidadania, ou Raulino de Oliveira, tem um quê de São Januário – sem as maravilhosas iguarias para temperar um bom jogo de futebol. E foi um jogo difícil para nós. Definitivamente, o Fluminense não esteve bem em termos de técnica: os passes eram neutralizados, Conca estava estranhamente isolado como um ponta-direita, Deco perdia as divididas, Bob parecia atônico e Washington era por demais Washington. Euzébio se confundia em tempos de bola. Rafael fez boas defesas – reitere-se: com a mão; numa delas, nos salvou em chute baixo. Atacamos pouco e quase não fomos ameaçadores, exceto numa cabeçada de Gum. Eu olhava para o lado e não via o Presidente, nem a Matriarca. Olhava para o campo e procurava por Fred, Diguinho, Emerson, Carlinhos. Nenhuma visada. Não posso esquecer, contudo, da aplicação infinita de Diogo e Mariano, jovens leões das Laranjeiras. Um zero a zero e o intervalo com a impressão que precisaríamos de muito mais em campo para o triunfo. Nas arquibancadas, estava tudo resolvido: a beleza da nossa torcida é unanimidade sem qualquer sinal de burrice.

Resolvemos mudar de lugar: deixamos a arquibancada atrás do gol defendido por Rafael e fomos para o escanteio da nossa direita de ataque, esperando grandes jogadas e a salvação. Mal sentamos, houve a notícia do gol corinthiano e os sussurros indigestos. Ficou claro que o velho lema do Presidente Horta estaria em campo: vencer ou vencer.

Voltamos ao jogo com todos os reveses já relatados, além do exótico árbitro Luis Flavio, permitindo toda a “cera” do mundo aos catarinenses, satisfeitos com o empate. Seria a nossa degola. Lembro que a massa explodiu quando se anunciou El Loco havia empatado o jogo do Pacaembu, deixando o bando de loucos em silêncio sepulcral. Já em Volta Redonda, havia vida, muita vida. O Fluminense não conseguia fazer as jogadas, não conseguia chutar, não conseguia inverter o jogo, mas aquele gol lhe deu a força de um Popeye faminto diante de uma lata de espinafre. E o Tricolor voltou, sem talento de sobra, mas com muita raça. Valencia, que substituíra Bob, não deixava pedra sobre pedra. Marquinho, também em campo no lugar do craque Deco, estava predestinado e nem sabia. Conca tentava, tentava e passava (mesmo sem o melhor de sua forma esplêndida), mas Washington insistia numa inexplicável auto-marcação: desarmava a si mesmo. Em algum lugar que não sei dizer ao certo, estava escrito: todo aquele sofrimento seria recompensado. O imponderável.

O tempo corria e parecia que iríamos amargar um mau resultado na partida. Ledo engano que um Tricolor às vezes comete. Nós somos o time das goleadas por um a zero. Nós somos o time do último minuto. Ninguém nos vence por decreto ou falácia pré-datada. Assim tem sido há cento e oito anos. Enquanto isso, Euzébio perdia dois gols de cabeça. O Fluminense virou um aríete de garra, disposto a derrubar qualquer muro de pedra. Mariano, o Incansável, quase fez um lindo gol após a deixa de Conca: a bola passou a milímetros da trave direita.

Marquinho ajeitou a bola num escanteio maroto que ele mesmo cavou. Leo, sempre bem-humorado, fez gracejo: quis saber quando ele acertaria um bom cruzamento para a área. Sem pestanejar, mas sem total confiança, afirmei que desta vez ele iria cruzar certo. Era só uma piada, talvez pelo nervosismo: era o fim do jogo. A natureza fingiu que era apenas uma cobrança comum, na primeira trave, mas não era; a bola chegou na cabeça de Gum, que tocou forte e parecia que a bola não tinha direção, mas tinha. Conca fingiu que não tinha jogado uma partida brilhante, mas guardou a jogada de mestre para aquele momento. A bola procurou o craque. O argentino, livre na pequena área, ainda ajeitou e fuzilou o goleiro Zé Carlos, que ainda roçou a canela no verdadeiro foguete, mas nada pôde fazer: ela ganhou o alto da rede e Volta Redonda explodiu como nunca. Um grito dos milhares de torcedores do Fluminense que mais parecia um tiro de canhão, uma vibração de quem tem o grito de campeão prestes a explodir. A partir de então, a “cera” do Avaí se converteu em impressionante velocidade, mas inócua. O candidato ao título estava em campo e neutralizou todas as ameaças.

O fim do jogo nos reservou um maravilhoso item: o encontro de time e torcida, numa comemoração que servia de grande abraço. Muricy gritava como nunca: sabia a importância da vitória ali conquistada. Vivi um grande e inesquecível momento, que pode não se confirmar no futuro, mas especial para todos nós que amamos estas três cores: vi de perto a obsessão Tricolor pelo título brasileiro, tatuada nos rostos dos guerreiros, do mesmo jeito que vi muitas vezes no Maracanã a semanas – ou mesmo dias – de um grande troféu feito aqueles que empilham a nossa sala nas Laranjeiras.

Repito, meus amigos, não se trata de comemorar nada antes da hora e muito menos parecer com os mais-queridos que, normalmente, vibram antes para se esconderem depois de um vice-campeonato. O que vos digo é do momento que vivemos hoje, vejam: estamos sem quatro titulares indiscutíveis, tivemos momento muito ruins debaixo de nossas traves, a entidade máxima do futebol brasileiro está comprometida com outra equipe. Nosso atual atacante luta, mas mal consegue dominar a bola. Não temos efetivo mando de campo. E ainda assim somos os primeiros do campeonato. O que se pode imaginar quando os contundidos voltarem? Melhora. Força. Qualidade. O Fluminense ainda vai melhorar e muito.

Um grande campeão se faz com passes e dribles, mas também com divididas e trancos. A técnica deve ser o Olimpo de qualquer jogo de futebol; entretanto, quando as coisas estão difíceis, é a garra que impera. Ontem, o Fluminense teve garra de sobra, em hectares. Ontem, o Fluminense não fez uma partida bonita, mas fez uma partida com a vontade de vencer. Colocou o coração na ponta das chuteiras, seguiu impávido em frente e fez a sua tarefa. Cada novo jogo é uma decisão e não se pode falhar. Temos apenas quatro pontos à frente do Cruzeiro, o favorito de Kfouri. Apenas três do Corinthians, o preferido de muitos. Talvez seja pouco hoje, mas uma coisa é certa: faltam nove jogos, nove degraus rumo à glória. Se mantivermos a liderança na trigésima-quinta rodada, não terei mais dúvidas em afirmar que o Fluminense será, naquele momento, o campeão brasileiro deste ano. Um título há muito sonhado, há muito merecido e que bateu na trave várias vezes, como nos anos de 1995, 2000, 2001, 2005 e 2007.

Quem espera, sempre alcança.

A noite de ontem ainda não acabou. A imagem da vibração de Muricy com a torcida após o jogo não acabará nunca mais. Vencemos com um futebol humilde numa partida muito complicada. E, como nunca, jogamos como campeões. Atitude de campeões.

O tempo dirá.

A noite de ontem ainda não acabou.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, September 29, 2010

VITÓRIA 1 X 2 FLUMINENSE (26/09/2010)


O novo velho topo (27/09/2010)

Magos e adivinhos de antigamente, nunca mais. Falharam os admiradores das bolas de cristal, das cartas e dos presságios, assim como os cientistas-doutores de jornais e revistas. Junte-se a competência, a ascensão, o bom resultado e um punhado de sorte, pronto: lá está novamente o Fluminense de volta ao mesmo lugar por onde esteve na maior parte deste campeonato brasileiro: o topo da tabela. Curiosamente, os três novos campeoníssimos por decreto da imprensa esportiva falharam nesta rodada: o Botafogo obteve um empate sofrível contra o Atlético Paranaense; o Cruzeiro foi goleado pelos Santos e o poderoso Corinthians perdeu o jogo nos últimos minutos para o Internacional. Fizemos a nossa parte, vencemos o Vitória dentro do Barradão por dois a um e voltamos ao nosso topo do pódio. Não foi uma partida fácil, nunca é. Tivemos nossas falhas, mas o saldo foi positivo e, pelas circunstâncias da partida, ficou claro que o Fluminense voltou à ascensão. E não custa lembrar de que o Vitória é um dos adversários mais difíceis de serem batidos em casa – esteve invicto no Barradão durante boa parte deste ano. Para nossa felicidade, o nosso time é o que mais vence fora de casa neste campeonato.

O jogo teve panoramas bem distintos nos dois tempos. No primeiro, a partida teve bastante equilíbrio entre os times, com algumas conclusões em gol e alternância de ataques, mas não se pode dizer que nenhuma das defesas foi sufocada. O Fluminense começou melhor os primeiros minutos, mas logo o rubro-negro equilibrou as ações e fez jogo duro. Um chute perdido de Rodriguinho em cima de Viáfara, outro de Washington – esse, logo no começo após excelente cruzamento de Diogo, o pivô e o chute no canto esquerdo de Viáfara. Para nossa sorte, eles deixaram de marcar o que seria um dos gols mais bonitos de toda a competição, quando Elkeson acertou uma linda bicicleta que se avizinhou do ângulo direito de Rafael, felizmente sem a precisão exata. Um empate justo nos primeiros quarenta e cinco minutos, pouco para quer ser campeão, mas correto sobre a história da partida. Além das instruções de Muricy, era evidente que os outros resultados interessavam muito, principalmente o do Beira-Rio. Um lote de competência nossa e um pouquinho de sorte, tudo estaria a nosso favor. A criticar, apenas a desatenção de Leandro Euzébio num lance em que o veterano Schwenck cabeceou livre, encobriu Rafael, mas a bola saiu à esquerda do gol – que viria a se repetir no segundo tempo em mais de uma vez. Com Mariano em campo, raça não falta. Conca, o de sempre: sofrendo muitas faltas, sendo muito marcado, tentando várias boas jogadas. Já Carlinhos parecia um pouco dispersivo, mais para a atuação de quinta passada contra o Atlético antes de fazer o gol – depois, como bem sabemos, mostrou um show de categoria. Em alguns momentos, o jogo chegou a ser até lento; não é o que esperamos do perigioso Vitória e nem de um Fluminense candidato ao título. Como diria Cartola, numa outra inflexão, o sol nasceria.

Quando os times voltaram para o segundo tempo, não ficou pedra sobre pedra: virou um outro jogo. Os aceleradores foram pisados, as jogadas se sucederam, os goleiros trabalharam bem e mal, os gols aconteceram e foram até poucos diante do que se viu. E os craques, outrora um tanto escondidos, deram o ar da sua graça. Conca, para muitos o melhor em campo com toda justiça – literalmente comeu a bola e levou o Vitória à loucura. Eu escolheria outro jogador, e depois vou explicar a razão.

Com força total, o Fluminense abriu o marcador logo após o Vitória ter perdido um gol feito: Rodriguinho foi derrubado na área quando cortava pela direta e estava até marcado. Os rubro-negros se precipitaram. Tiro penal indicado, ninguém precisou se preocupar com a exacerbação de Washington na cobrança; quem bateu foi Conca, com força e categoria indefensáveis no canto esquerdo baixo do goleiro Lee, que havia substiuído Viáfara. Aliás, uma coisa curiosa é que Lee é fisionomicamente muito parecido com o Perseguido – e a semelhança para por aí.

Nada para o Fluminense é fácil e, depois da suada abertura do marcador, mal deu tempo de sentir alívio. Uma falta na intermediária, de frente para o gol, e a cobrança do bom volante Bida, que quse vestiu nossa camisa ano passado. Ele acertou uma bomba no canto esquerdo e Rafael teria defendido bem se tivesse utilizado as duas mãos ou talvez somente a direita, que tinha a direção do lance. Falhou, tocou somente com a esquerda, ela tomou a direção do canto contrário, o direito, pererecou, tocou na trave direita e Euzébio demorou a isolá-la. Resultado: dividiu a bola com Henrique, perdeu e o gol do Vitória aconteceu. No mesmo instante, vários repórteres de rádio e televisão utilizaram o lance para fazer galhofa de Rafael, juntando-se assim às viúvas do Perseguido; me parece um movimento de expressão muito eloqüente e, se não fosse algo bizarro, eu diria que até parece orquestrado. Não quero minimizar a falha de Rafael e nem teria sentido fazer isso: ele teve responsabilidade no gol. Mas, se pudermos considerar que é um lance de crucificação do goleiro, eu vos pergunto sinceramente: o que deveríamos ter feito no passado próximo, médio e distante com o Perseguido no gol e suas falhas monumentais? Uma coisa é certa: se tivesse sido titular ontem em vez de Rafael, o chute de Bida teria entrado direto, como de costume. O atual goleiro Tricolor tem crédito: salvou o time ano passado num dos piores momentos de sua história e perdeu a titularidade por contusão. Tem tomado gols seguidamente e precisa de muito trabalho para voltar à boa forma de 2009. Mas, assim como um diabético não corta seu refrigerante para comer um quindim, não sou eu quem vai sugerir a solução da meta Tricolor com o Perseguido. Rafael tem deixado a desejar, é fato; a diferença é que ainda se pode ter esperança de que ele se recupere, já que treina as mãos em vez dos pés.

Quando o time está em ascensão, nem um gol de falha é capaz de abalar. Demos a saída, Conca voltou a gastar seu maravilhoso futebol: um passe milimétrico na diagonal para Rodriguinho livre, dentro da área pela direita do ataque. Ele parecia um veterano: também finalizou em diagonal, mas no contrapé de Lee, com a bola morrendo mansa no canto direito. Rodriguinho manteve a sina: com a camisa Tricolor, só marcou gols contra times rubro-negros. Um gol muito comemorado tendo em vista o enorme valou que teve e poderá ter ao término deste ano. Para culminar, ai sim brilho a estrela de um craque, mesmo sem aparecer muito para a torcida: Deco. O luso-brasileiro tomou conta da partida nos vinte minutos finais, valorizando a posse de bola, puxando faltas e enervando o time do Vitória, administrando o jogo tal como outro craque muito fazia nas batalhas finais do ano passado – Fred. Conca foi o gigante do jogo, mas quem deu o suporte final para o resultado foi Deco.

Ao fim da partida, os Tricolores souberam que no Beira-Rio aconteceu um placar que é nossa marca emblemática desde 1912: 3 x 2. O Inter venceu, o Corinthians ficou para trás, a imprensa esportiva chora mais um luto. Os mais cautelosos, como o Presidente Sussekind, ainda aguardam novos resultados. Os falantes feito eu não têm outra idéia: o Tricolor voltou. De vez, assim esperamos todos nós.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 24, 2010

FLUMINENSE 5 X 1 ATLÉTICO MG


O demolidor de centenários (24/09/2010)

“Há um longo caminho à frente, mas, se prevalecer no resto de nossa campanha a garra do segundo tempo de ontem, não temo afirmar: o Fluminense passará como um trem-bala por cima de quem lhe enfrente. Não é um devaneio de um mitômano, mas sim a desconfiança de quem já viu e viveu uma longa história de superações.”

Meus caros amigos, com as linhas acima encerrei a crônica do Fla-Flu de domingo passado. Elas podiam parecer puro otimismo barato num momento em que a má fase já batia à porta de Álvaro Chaves, reforçada pelas manchetes sensacionalistas e falácias flácidas, sem trocadilho. “O Fluminense não é candidato ao título”, “O Fluminense perdeu a força”; amigos, quanta bobagem! O campeonato não se decide agora. De toda forma, no jogo de ontem, mesmo ainda com problemas em nosso time, vencemos com absoluta autoridade o Atlético Mineiro numa goleada de cinco a um que foi até pequena, a julgarmos os fatos, tanto os evidentes quanto os curiosos.

Goleamos e mostramos grande força, principalmente na segunda etapa, que era o momento onde o time vinha caindo de produção nas últimas partidas, com exceção do Fla-Flu. Fizemos cinco gols, um grande resultado, mas nenhum atacante marcou. O time cresceu de produção, mas inegavelmente o destaque ficou nas laterais, com o merecidamente selecionado Mariano e Carlinhos – este teve uma atuação fantástica, mas somente a partir de um ponto crucial na partida: o seu primeiro gol. Antes disso, era um dos jogadores mais apagados em campo. Rafael pulou atrasado em mais uma falta, levamos mais um gol; no mais, não comprometeu. Alguns dos nossos se irritam com a “cera” que ele faz ao repor qualquer bola; eu também. Acho graça quando alguém o chama de “frangueiro” e grita pelo Perseguido: não queriam um goleiro? Washington foi mais Washington do que nunca. Conca foi Conca, mas visivelmente sentindo agruras da contusão. Os zagueiros foram bem, principalmente Gum, que vinha de dias muito irregulares. E tive preocupação quando não vi atacantes para o banco de reservas: pelo visto, Muricy confiava muito no poder ofensivo de nossos beques.

Falemos do que realmente importa: o jogo em si. Foi uma partida que começou fácil para nós, sem desrespeito ao Atlético que, por sinal, no papel tem um time digno de lutar pelo título. Às vezes, no futebol uma equipe não dá liga, mesmo com jogadores de reconhecido talento. É o caso do time mineiro. E então o jogo foi do ataque do Fluminense, não tão fulminante como de habitual, mas marcando presença. E então a quinta-feira regrediu ao domingo: Conca na cobrança de escanteio, Leandro Euzébio fuzilando Fábio Costa na cabeçada e abrindo o marcador. A partir de então, o natural recuo do time esperando que o Atlético oferecesse espaços de contra-ataque ao ter que sair desesperadamente atrás no placar. E mais uma vez um velho problema se repetiu: quando menos se esperava, uma falta na frente da área cometida por Bob e o ótimo Daniel Carvalho no lance, exímio cobrador. Não era tão perto e o chute não foi forte, embora bem colocado; Rafael pulou atrasado e o empate foi decretado, o que poderia ser uma ducha de água fria em nossos planos. Sim, Rafael falhou? Não temos dúvida. Uma pergunta é inevitável: o Perseguido saltaria em uma falta cobrada em seu canto direito? Cartas para esta redação.

Mais quize minutos de nervosismo e recomeçar do zero. De repente, Carlinhos, que era uma figura nula em campo até ali, arriscou um chute na diagonal esquerda do ataque. A bola morreu no canto direito de Fábio Costa e, embora não soubéssemos, o jogo se decidiu ali. Um novo Carlinhos surgiu, como um dos melhores em campo, atacando com técnica e maestria, defendendo com eficiência. E o Fluminense se acertou em campo, com exceção de Washington, que parecia tratar a bola num ringue; no resto, Deco não embolava com Conca, tal como nos últimos jogos (e ambos tocavam a bola com precisão); Mariano voava. Enfim, a descida tranqüila para o vestiário e a esperança de uma boa vitória na etapa final.

No segundo tempo, o confuso Atlético promoveu a entrada de Diego Souza, nosso ex-jogador que beijou o escudo da Gávea. Nada poderia ser pior para os mineiros: lento, sem inspiração, parecendo pesado, não acertou um lance. Voltamos com a força física intacta: apenas Bob foi substituído por Valencia no terço inicial, por conta do cartão amarelo. E logo depois, para espantar a zica e fazer jus ao apelido de guerreiro, Gum marcou de cabeça no canto esquerdo de Costa, após cruzamento do incansável Mariano. Fim das contas. O Astlético beijava a lona e o Fluminense voltava a ser a sombra no retrovisor corinthiano. Poucos perceberam um detalhe expresso por meu grande amigo Raul Carvalho, rubro-negro que tem a fidalguia das Laranjeiras: depois do terceiro gol, o Fluminense reduziu o ritmo discretamente por respeito à camisa alvinegra, pois se mantivesse toda a força poderia ter chegado a uma goleada inigualável no campeonato. Ainda assim, houve tempo para um gol de placa de Carlinhos, driblando feito craque e fuzilando Costa, além do gol derradeiro, já nos descontos, com Marquinho livre encobrindo levemente o arqueiro. Antes disso tudo, Mariano foi exaltado pelos fanáticos das arquibancadas ao ser substituído por Thiaguinho, que incrivelmente fez um bom papel em campo. O fim do jogo marcou a despedida de Wanderlei Luxemburgo do Atlético, o que me fez inevitavelmente pensar em 1995.

Não jogamos no esplendor da nossa forma e ainda temos o time bastante desfalcado. Porém, uma expressiva vitória contra uma grande equipe, independentemente de ela estar em má situação na tabela, é uma vigorosa dose de ânimo. O Fluminense dos últimos cinco dias não é o dos quinze dias anteriores ao período: é um time com força, com disposição e que mostrou no momento certo poder de recuperação. Não me venham dizer que o Galo teve dois expulsos: os cartões vermelhos foram merecidos e até demorados. Nós já vencemos o maior campeonato de todos os tempos com oito em campo. Gum vinha mal, fez um gol que lhe oferece boa recuperação. Carlinhos estava vacilante, fez um belo gol e jogou o resto da partida como um craque soberano. Deco ainda não nos mostrou o que esperamos, mas é lindo ver seus passes, sua precisão, seu toque de bola que remete aos carpetes da sinuca, onde a bola desliza mansa e precisa.

Temos defeitos. Mas o caminho para corrigi-los começa a ser rascunhado.

Hoje é dia de luto na imprensa esportiva: o Tricolor venceu, goleou, tem o ataque mais positivo do campeonato e mostrou ao líder Corinthians que o campeonato não está tão fácil quanto parecia ser. A grande batalha de domingo no baiano Barradão nos permitirá vislumbrar onde está o Fluminense de hoje. Uma coisa é certa: o fim do certame ainda está longe e, debochadamente, quem duvida do poder de recuperação do Tricolor tende a engolir varejeiras.

Quem espera sempre alcança.


Paulo-Roberto Andel

Thursday, September 23, 2010

FLAMENGO 3 X 3 FLUMINENSE - 19/09/2010


Emoções, fantasias e realidades (20/09/2010)

Qualquer cronista escreverá cento e cinqüenta mil vezes que o Fla-Flu é eterno; foi assim que o gênio de Nelson Rodrigues nos ensinou. Ainda que raramente, quando é mal-jogado, o Fla-Flu tem duas camisas centenárias em campo e são elas que verdadeiramente jogam: o perna-de-pau vira craque, o craque bem-marcado pouco produz ou destrói o jogo, o frangueiro defende bem, o artilheiro perde pênalti. De tudo o que vi, ouvi e vivi ontem, poucos foram tão precisos na análise do jogo como Muricy Ramalho: “O jogo foi ótimo, o resultado é que foi péssimo”. Sem dúvida. Perdemos a liderança para o Parque São Jorge e não conseguimos vencer de novo, o que foi a parte ruim. A boa? Mostramos um espírito de luta no segundo tempo digno dos melhores momentos do fim do ano passado, quando nossa campanha de G4 nos salvou de um descenso já protocolado pelos jornais – e empatamos um jogo perdido duas vezes. O Fluminense não se abateu, o Fluminense não se entregou e a expectativa que deixou aos seus milhões de apaixonados torcedores é que, mais dia, menos dia, poderá estar de volta ao primeiro lugar do campeonato - preferencialmente, na hora em que realmente valer a disputa do título. Talvez o empate de ontem tenha sido mais gratificante do que outras vitórias que tivemos durante a competição, e serviu de alento para os próximos – e difíceis – jogos, onde aí temos que vencer de toda maneira. Ao contrário dos que debochavam, o torcedor lúcido sabe que o Fluminense não está morto. E nunca é demais lembrar: ainda falta a volta de Fred, Emerson, a melhor forma de Deco, Diguinho... ainda temos muita lenha para queimar. No cerrar das contas, o Fla-Flu foi digno, emocionante, bem-disputado e até surpreendente tendo em vista as escalações dos dois times. Um jogo brilhante – apesar de falhas dos dois lados - para inaugurar a era do centenário clássico no Engenhão para menos de vinte mil torcedores, o que se espera melhorar futuramente.

Os primeiros minutos foram animadores. O Fluminense parecia mostrar o futebol vigoroso de antes da má-fase, com absoluta pressão no campo rubro-negro e muita velocidade. O marcador logo foi aberto, após a cabeçada de Leandro Euzébio na jogada ensaiada oriunda da cobrança de escanteio de Conca. Foram dez minutos de grande força, capazes de mostrar que nossa briga pelo título não é uma falácia. Mas o gol nos levou ao erro, paradoxalmente: a partir de então, mesmo tendo dominado o jogo até ali, o Fluminense resolveu recuar para tentar contra-ataques. E, seja com qual time for, seja em que fase for, dar espaço para a Gávea é sucumbir. Mais outros dez minutos com predominância deles e nós é que sofremos o gol de empate. Houve a infelicidade completa de Gum, perdendo uma bola absolutamente sua na linha de fundo e permitindo a Kleberson o cruzamento; Deivid, livre, agradeceu o presente e fuzilou Rafael sem perdão no canto direito, fazendo seu primeiro gol com a camisa deles e nos oferecendo um mal-estar escabroso. O que poderia ser o início de uma vitória alvissareira tomou o gosto do mau presságio. Antes do fim do primeiro tempo, a virada da Gávea, num escanteio de Renato que David, o zagueiro, tocou para o gol vazio depois que a bola passou por Rafael. Aliás, não me furtaria ao tema sobre o novo goleiro Tricolor: alguns da imprensa alegaram “frango” nesta jogada; sinceramente, nada me tira da cabeça que há algum favorecimento explícito do ex-titular da posição aos que vivem do futebol comentado e escrito. Se tomar “frangos” fosse impedimento para se jogar no gol do Fluminense, o Perseguido já teria sido banido há cem séculos. Bendita seja a fratura no dedo.

O intervalo veio e, com ele, a desconfiança. Sabedores da vitória corinthiana na véspera, contra o Prudente, só o triunfo do Fluminense poderia reequilibrar a dianteira da tabela. André Luiz saiu para a entrada de Marquinho, que assim reeditava a boa parceria de revezamento com Carlinhos na ala esquerda. O fato é que o Fluminense foi um time que começou bem o primeiro tempo, fez seu gol e depois caiu de produção a ponto de levar a virada ainda mesmo nos quarenta e cinco minutos; na volta para o segundo tempo, renasceu o time de guerreiros, com uma garra implacável que pode ser bem representada nos semblantes de Mariano, o incansável, e Diogo, que divide qualquer bola em qualquer espaço de tempo. Não são os dois jogadores mais técnicos do time? Evidentemente, não. Mas quem disse que um time campeão só é construído com técnica? A garra estampada dos dois fez renascer o Fluminense de luta, que não se entrega até o último minuto, e esta foi a tônica deste Fla-Flu. Relembrem o golaço de Rodriguinho: o corte seco pela direta, a finalização empolgante no ângulo esquerdo de Lomba, a vibração. Dessa vez, era o nosso dia de ai-jesus, que tão bem adorna o hino deles. Mal nos refizemos da comemoração e do certo alívio, a Gávea marcou outra vez numa bomba de Renato em cobrança de falta no ângulo direito de Rafael. Três a dois, o placar emblemático de nossa história, desta vez contra nós, mas por pouco tempo. Parecia que estava escrito; não seria desta vez que iríamos sucumbir.

Diferente do habitual, Marquinho se posicionou para cobrar um escanteio pela esquerda do ataque. A Gávea vibrava com suas bandeiras e gritos atrás do gol. A cobrança não foi das mais sofisticadas, houve um bate-rebate que, claro, passou pela canela de Washington; contudo, eram cartas marcadas e Rodriguinho fuzilou Lomba outra vez, decretando o que seria o definitivo empate em três tentos e conseguindo um recorde pessoal curioso: desde que chegou ao Fluminense, ele fez também três gols – todos contra o Flamengo. Alguns devem ter lembrado de nossos gols do passado, todos no último grão de areia da ampulheta. Ninguém derrota o Tricolor antes da hora. Tudo bem que houve oportunidades. Eles perderam uma grande chance quando Rafael, que joga regularmente com as mãos, fez uma defesa com o pé e impediu novo tento de Deivid. Mas a derradeira chance de gol foi nossa: o último grão raspou a trave, num chute de Marquinho.

Sem dúvida, o resultado não foi bom porque afastou o Fluminense da liderança. Porém, o mais importante que tínhamos a resgatar foi visto no segundo tempo de ontem: o time de guerreiros com raça, com ímpeto, que não desiste. Há tempos, mesmo boas vitórias que tivemos, contra o Ceará, não contaram com a raça do Tricolor em campo. O Fla-Flu de ontem mostrou essa característica vital e sempre presente em nossos triunfos. Estamos mais distantes do Corinthians, eu sei, mas não tenho como esquecer e sempre repetirei: em 1995, tiramos oito dos nove pontos de diferença que o grande campeão da imprensa tinha sobre nós. Tudo ficou para o ultimo momento. E no último grão da ampulheta o Fluminense ganhou o maior campeonato de todos os tempos. Há um longo caminho à frente, mas, se prevalecer no resto de nossa campanha a garra do segundo tempo de ontem, não temo afirmar: o Fluminense passará como um trem-bala por cima de quem lhe enfrente. Não é um devaneio de um mitômano, mas sim a desconfiança de quem já viu e viveu uma longa história de superações.


Paulo-Roberto Andel

Friday, September 17, 2010

FLUMINENSE 1 X 2 CORINTHIANS (16/09/2010)

Lições de uma derrota (16/09/2010)

A derrota dói. A dor dói, feito “Ferida” de Augusto de Campos. Tanto faz se é injusta ou merecida, se as condições forem duvidosas ou não. A derrota é feita de dor. Assim foi o jogo de ontem, meus amigos. Não que matematicamente o nosso Fluminense tenha sido mortalmente alvejado, longe disso – aos trancos e barrancos, por um mísero gol, ainda somos os líderes do campeonato. Mas perder para o Corinthians doeu bem mais do que três pontos: primeiro, porque em momento algum merecemos vencer o jogo; segundo, porque o fator de nossa maior preocupação é que a derrota nos força a uma rápida recuperação, num campeonato onde todas as partidas são complicadas, sem que possamos ver soluções imediatas à vista. Jogamos mal. Não foi a primeira vez nesta competição; porém, desta vez foi das piores, dos piores momentos. E perdemos para uma equipe de ponta na tabela, mas que esteve longe de fazer uma grande exibição: tratou apenas de marcar com maestria nossas trôpegas jogadas e, no momento certo, matar a partida com gols nas ocasiões em que estávamos completamente vulneráveis. Perder foi o de menos; grave foi como perdemos. De toda forma, o verdadeiro Tricolor não desiste: ele é do último minuto, do último suspiro. E não há tempo para lamentar: há um Fla-Flu na próxima esquina; o tempo não para.

Vinte mil bravos Tricolores enfrentaram o engarrafamento, o horário tardio, o caos do acesso ao Engenhão e o nosso mau momento, ávidos por uma vitória moralizadora. Não foi o que aconteceu. Podemos dizer que o primeiro tempo foi de enorme equilíbrio, porque os alvinegros marcavam com eficiência, mas não demonstravam o menor brilho nas ações ofensivas – nem precisamos ter a tradicional preocupação com os chutes contra o Perseguido. Alguns pequenos brilhos surgiam nas jogadas mais técnicas da nossa equipe, mas foi pouco: Darío Conca estava marcadíssimo, Deco fazia uma partida de muitos erros, Washington mostrava muita luta, mas parecia em total divergência com a bola. Num jogo truncado, amarrado, fechado, a fúria ofensiva de Mariano foi completamente abafada. Valencia tinha raça, mas abusava dos erros no tempo de bola e nas entradas: só não foi expulso junto com Jucilei porque o árbitro era Simon, e vocês sabem muito bem o que isso quer dizer. Na arquibancada leste superior, eu acompanhava tudo do último degrau, tal como era nos meus tempos de adolescente, onde Assis, Deley, Romerito e Paulo Victor ditavam os títulos. Ainda pude ver de longe meu amigo William torcendo fanaticamente desde cedo, além do presidente Sussekind, discretamente sentado na parte baixa do setor. Também pude ver de longe o caos a minutos do início da partida, quando centenas de pessoas adentraram o João Havelange sem que ingressos passassem na catraca ou passaportes na leitora. É necessário que as autoridades tomem providências, ou o primeiro jogo que vier a ser realizado lá com grande público poderá ter resultados catastróficos.

Volto à partida. Era um jogo equilibrado, tenso, onde não se podia perder, mas o empate era ruim para os dois times. O Corinthians era defesa; nós não sabíamos ser ataque. Ainda assim, poderíamo ter descido tranqüilamente com o empate no intervalo de jogo, não fosse o erro crasso da linha de impedimento num sistema defensivo com três zagueiros: a chance de um erro de sincronia é imensa e tudo podia ser posto a perder. Julio César, cujo forte não é a velocidade, deu condição. Jucilei, que não tem nada com isso, dominou a bola livríssimo e tocou no canto direito do Perseguido, que nada podia fazer e, mesmo que pudesse, não faria. O Corinthians aproveitou um erro coletivo e deu a primeira estocada. Terminou o primeiro tempo, de forma absolutamente desagradável para nós.

Um Tricolor sempre tem a esperança da virada, e este era o sentimento comum entre a grande torcida presente – senhores, vinte mil pessoas às dez da noite no Engenhão é um público bastante respeitável. Era o que precisávamos, mas não aconteceu. Rodriguinho entrou e melhorou um pouco a apatia e a lentidão do ataque, mas tropeçou em suas próprias deficiências. Deco, que tem enorme categoria e mostra um brilhante toque de bola, era desarmado de forma até infantil. Um tanto desordenados, buscamos o ataque nos minutos iniciais, mas não soubemos criar ameaças efetivas de gol. Aos poucos, o Corinthians deixou de ser um time acanhado na defesa para buscar contra ataques mortífeiros. Realizou um, dois, três. No quarto, o amaldiçoado Alessandro invadiu livre a direita de ataque, serviu o veterano Iarley também livre e, com raça e astúcia, tocou de carrinho para o gol e fez o segundo, não dando números finais à partida, mas decidindo a vitória. Estavam melhores, senhores do jogo, mesmo sem o domínio completo. Cinco minutos depois, o nosso gol, fruto da raça de Conca, do ímpeto de Rodriguinho e até mesmo de sua má conclusão, que fez de seu chute forte um cruzamento para que Washington tocasse para o gol vazio no canto direito. Foi a nossa única jogada de alta veocidade na partida inteira e isso quer dizer alguma coisa. Ganhamos vários jogos no primeiro turno usando e abusando da raça de Mariano, voando pela direita, assim como Carlinhos na esquerda. Emerson é um gigante no ataque. E Diguinho? E a raça de Diogo? E o talento de Fred? Todos estes faltam ao time de hoje: Mariano joga, mas a entrada de Deco como titular fez com que ele se tornasse menos ofensivo, dado que o lado direito já está congestionado de gente. Ah, e Washington? Fez o gol, é o artilheiro da competição, mas definitivamente não contem com ele para ser o 1 do esquema 3-6-1: não há como. Jogamos mal, muito mal. O Corinthians não foi brilhante, mas mereceu nos vencer com sobras: soube administrar e liquidar o jogo. O Corinthians é um grande time, mas o Fluminense perdeu para o próprio Fluminense: precisamos recobrar nossa velocidade, nem que seja sacando algum dos titulares absolutos para a entrada de jogadores mais jovens e rápidos. É preciso acertar as faixas de jogo de Deco e Conca, pois várias vezes quase se dão encontrões em campo. É preciso resgatar o time de guerreiros, com sua pontuação de campeão no segundo turno do ano passado e no primeiro do atual. São muitas tarefas para se acertar até domingo e não se pode esperar: um Fla-Flu está à espreita.

Temos problemas e problemas. Nosso padrão de jogo caiu. Substituições se fazem necessárias imediatamente. Mas isso pode ser muito bem-resolvido: não somos paracampeões por decreto e não estamos lutando contra a zona de rebaixamento. Este é um campeonato difícil onde os times alternam bons e maus momentos: que o diga o incensado Botafogo - dotado de alma vencedora, segundo Kfouri - derrotado de quatro pelo lanterna Goiás.

Muita coisa precisa ser feita e já. Temos um grande treinador para isso e confiamos nele. Uma coisa é certa: não se iludam aqueles que já tiraram o Fluminense do páreo a dois meses e meio do fim do campeonato, com suas bravatas nos jornais e botequins. Eu pensei que a lição do ano passado tivesse sido suficiente absorvida por aqueles que zombavam de nós. Pelo visto, não.

Estamos mal, mas já tiramos títulos certos e pré-comemorados de times com nove pontos à nossa frente. É apenas uma pequena lembrança, nada além disso.

Ainda é cedo, meus amigos. Bem cedo.


Paulo-Roberto Andel