Monday, December 06, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 GUARANI (05/12/2010)



Do inferno ao céu (06/12/2010)


Eu queria falar de várias coisas nesta crônica de hoje, mas sei que as palavras sempre serão poucas para definir a monumental vitória de ontem, quando o Fluminense se sagrou tricampeão brasileiro de futebol. Queria falar da lembrança saudosa dos meus amados pais que, certamente, comemoraram este grande triunfo em algum lugar do infinito, assim como meus grandes amigos João Carlos e Xuru – este, vascaíno de sete cidades, mas que volta e meia emprestava torcida ao meu amado Fluminense. Queria também falar da emoção que senti ao ver os milhares de jovens leões das Laranjeiras vibrando e chorando com esta conquista, jovens como eu era no dia em que vencemos o fortíssimo Vasco e ganhamos o bicampeonato em 1984.

Meus queridos amigos Tricolores, esqueçam de jogadas bonitas, passes mirabolantes e efeitos pirotécnicos: o Fluminense não entrou em campo ontem para fazer um show. Entrou para ser tricampeão. A maravilhosa festa coube à nossa imensa e belíssima torcida, que fez uma verdadeira procissão até o Engenhão e não deixou um centímetro de acrílico ou concreto sem as três cores da vitória. No campo, todos sabíamos que seria um jogo tenso. A obrigação de vencer abala até um par-ou-ímpar, quanto mais tendo um título tão importante em jogo. Nunca tivemos uma final fácil a nosso favor, não seria agora que isso iria acontecer. Ninguém definiu o roteiro da partida melhor do que Álvaro Doria: “Será um jogo difícil, com morrinha e o gol virá no segundo tempo – isso se não for depois dos quarenta minutos”. Fizemos antes do que o bruxo previra, mas o sofrimento até o fim foi o mesmo. E antes disso, o Engenhão mostrava seus cânticos de festa, mas também muitos suspiros nervosos, mais do que justificados: chutamos pouco a gol, Diguinho não repetia o brilho de outras jornadas, o craque Conca sentia o calor, Fred ainda pagava o preço da falta de ritmo. O esquema 3-5-2 não funcionou como deveria, porque Mariano acabou inibido e Gum não tinha o mesmo ritmo para puxar jogo pela direita. Num momento, o Guarani ameaçou com perigo e poderia ter feito o gol, mas Ricardo Berna mostrou – com sobras, ressalte-se - porque se tornaria o sucessor de Paulo Victor na galeria dos goleiros campeões brasileiros do Tricolor. Nas cadeiras azuis, apreensão: o Cruzeiro empatava zerado em Minas, o Corinthians empatava em um gol no Serra Dourada. Definitivamente, nada é fácil para nós. Num estalar de dedos, acabou o primeiro tempo e ficou claro que teríamos de melhorar para conseguir vazar o gol bugrino. Um mísero e surrado gol valia o título – meio-gol até, desde que fosse validado. Nas arquibancadas, os jovens leões rugiam com ânimo e também a natural preocupação.

Na volta para o segundo tempo, o time voltou sem alterações, mas por pouco tempo. Logo no começo, Júlio César sentiu e quem veio em seu lugar foi Washington. Ninguém ali sabia que essa substituição, feita por contusão, iria dar ao Fluminense o seu terceiro troféu minutos depois. Houve uma bola na esquerda, Carlinhos tentou cruzar e acertou um adversário em cima; puxou a bola mais para a linha de fundo, contra dois marcadores, e cruzou. O normal seria Washington cabecear para o gol, ou tentar, mas buscou o passe de cabeça para Emerson. Do jeito que veio, o atacante fuzilou de pé esquerdo - junto à canela, cadarço da chuteira e o que mais estivesse à frente, - por entre as pernas do goleiro, causando não somente um grito de gol comum, mas um verdadeiro tiro de canhão em cada voz dos nossos torcedores. Os jovens leões rugiram alto, juntos aos adultos, os idosos, os ressuscitados, os redivivos. Um barulho como eu nunca havia ouvido antes num estádio, a não ser quando havíamos vencido o Centenário de 1995, e então venho a senha: havia um novo Centenário a ser vencido, havia águias a dizimar os gaviões. Fizemos o primeiro gol e parecia escrito que nunca mais perderíamos esses três pontos. Foi o que aconteceu. A meia hora restante da partida foi disputada com o Fluminense tentando ainda o segundo gol em algumas chances, contra o Guarani respeitando o futuro campeão. Confesso que vi pouco dessa meia hora, talvez uns quinze ou vinte minutos, se muito: olhei para o lado, os queridos amigos de todos os jogos, os conhecidos e desconhecidos, as lindas mulheres e os rapazes embasbacados; as faixas, as bandeiras, os dizeres. Cada um deles trazia em si uma lágrima de alegria e um sorriso monumental, catalânico, inquestionável. Dez minutos para olhar para o gramado e rever nossos heróis, nossas conquistas, nossa interminável saga.

Exatamente no centro do campo, Simon deu o último apito e encerrou a partida. Eu pensava em Leo Feldman, eu pensava naquele vinte e cinco de junho de 1995: fiquei do mesmo jeito, sem entender muito bem o que se passava à minha volta, no bairro, na cidade e no país. O que melhor me lembro foi quando, perto do meu setor, vi nosso craque Fred levantando Benedito de Assis, nosso herói de outro tri, nos braços. O artilheiro guerreiro entendeu o que é o Fluminense. Não há dúvidas de que Conca é o craque do campeonato, mas o Fluminense é campeão com um time, um grupo, um jogo inteiro de camisas em vez de uma solitária. Havia Romerito, havia Marcão; eram muitos vitoriosos no estádio para que o Tricolor fosse campeão. E não deu outra.

Voltei a ser jovem: o Fluminense escreveu mais um capítulo típico da sua história. Enfrentou o precoce fechamento do Maracanã e ficou sem estádio; lutou meses contra as contusões de seus principais jogadores; teve para si as galhofinhas da imprensa que, mais uma vez, foram demolidas dentro de campo. Liderou dois terços do campeonato; quando rateou, os adversários não souberam tomar a dianteira e foram novamente ultrapassados. Não há o que contestar: é um campeão de terra, céu e mar. Mais precisamente, do inferno ao céu. Explico: quem diria que o time desacreditado do meio do ano passado conseguiria chegar ao topo do Brasil ontem? A perda da Libertadores nos custou caro: não faltaram críticas, deboches e falácias. Queriam o nosso sangue, queriam nos rebaixar por decreto em 2008 e 2009, mas não conseguiram. Meus amigos, essa conquista de ontem não é o fruto do acaso ou de algo rápido, recente: trata-se de um longo processo, que vem de muitos e muitos anos. Ninguém mereceu mais esse título do que o Fluminense; embora tenham insistido em nos tratar como o time do quase. Lembremos de 1988, 1991, 1995, 2000, 2001, 2002, 2005 e 2007 – em todos estes anos, o campeonato brasileiro poderia ter sido nosso, e ficou bem perto. O de 2010 nunca mais escapará. Somos os grandes campeões: os jovens leões não param de rugir pelas ruas, bares, faculdades, praias e qualquer lugar onde se saiba que hoje o Fluminense voltou ao seu devido lugar. Quem espera sempre alcança.

Aproveito as linhas desta crônica para subsidiar o raciocínio daqueles que insistem na pecha de bicampeão. O Fluminense não é apenas um tricampeão, mas sim um gigante tricampeão. Os homens de imprensa devem mostrar grandeza neste momento e revisar seus textos: como explicar que hexacampeões brasileiros disputem cinco Taças Libertadores por conta dos títulos obtidos, ao passo que bicampeões do mesmo certame tenham disputado três? Não há matemático que consiga justificar tal equação. Não reconhecer o tricampeonato das Laranjeiras soa tão exótico quanto ignorar outros campeões como o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Gerson, a Academia palmeirense de Ademir da Guia e um certo Santos de um certo Pelé. Patético.

A águia do Atlântico Sul voa rasante. Os jovens leões rugem como nunca. Os cavalos paraguaios foram, mais uma vez, recolhidos às cocheiras centenárias. O Brasil tem um novo tricampeão: seu nome é Fluminense, seu nome é felicidade.


Paulo-Roberto Andel

2 comments:

Carlos said...

Alguns da imprensa paulista que davam por certo o campeonato ao Corinthians, dirigiram-se para o terceiro lugar na fila. Além de perderem o campeonato para o FLUMINENSE, perderam o vice para o Cruzeiro. RSSS!
No entanto o incorformismo e o choro dos perdedores se fez presente; ainda ontem após o jogo, fiz questão de ver e ouvir o programa esportivo da TV Gazeta (todos corintianos roxos)e ouvi as seguintes "pérolas": o "Fluminense é um time ruim,há pelo menos cinco times melhores que ele" (sic). "Nâo entendo como a defesa do fluminense tenha sido a menos vazada com aqueles jogadores ruins..."
Coisa assim só podem vir de cabeças ocas (errata: camaronicas). Na verdade estou sendo injusto, pois talvez eles falassam do fluminense de Feira de Santana e o campeonato era outro.Rsss! porque no Brasileirão 2010, o FLUZÂO foi lider na maioria do decorrer do campeonato (23 rodadas das 38), a melhor defesa e o melhor ataque,pois teve o maior saldo de gols. É pouco ou querem mais? Querem? É CAMPEÃO!

Lau Milesi said...

E seu nome, meu querido amigo, é talento,você é o craque da galera.[rs] Show de bola, sua crônica.
É CAMPEÃO ...É CAMPEÃO...

E o "Concampeón", que fofinho,né Paulinho? Viu o Muricy no Bem Amigos rasgando o verbo sobre a
des ...estrutura do clube? Viu o que presidente do Corinthians falou na cerimônia? Ainda bem que tinha sangue meu lá pra fazer coro na vaia que levou.

Beijosss e meus parabéns por sua bela campanha. É a sua mesmo a que me refiro, a que você fez aqui.:)

Neeeeeeenseeeee....

* Eu também homenageei meu pai, vascaíno roxo, que sempre respeitou a nossa opção (minha e de meu filho) de ser tricolor.