Friday, May 11, 2007

O grande campeão

Amigos, depois de longa jornada, finalmente o campeão do Rio recebeu os louros. A massa flamenga está de pé pelas ruas, bares, alamedas; pelos telhados e coletivos; na chuva ou no sol. Campeões.

Quando se pensa num melhor futebol jogado pelo Botafogo em boa parte do certa, como tudo em futebol, pensa-se questionar a conquista. Nesse caso, entretanto, fica mais difícil. O próprio Flamengo chegou à final do certame pela conquista da Taça da Guanabara, e entrou meio que de “araque” – goleados pelo Madureira, em tarde impiedosa de Marcelo, os da Gávea tiveram o favorecimento pela derrota do Botafogo para o Boavista. E então? Quem falhou mais?

O Botafogo apresentou um bonito futebol na Taça do Rio. Parecia que ia arrancar para o título. Contudo, a muralha de vermelho e preto brecou caminho.

No domingo passado, um detalhe selou o empate, quando da expulsão do jovem goleiro Júlio César. O Botafogo era muito superior, perdeu as rédeas da partida e não seria injusto se o Flamengo tivesse virado o jogo. Quem falhou mais?

Foi um grande jogo, o de ontem. Mesmo com limitações e sem jogadas de brilho intenso, a disposição dos dois leões era uma enormidade. Um primeiro tempo de idas e vindas, com chances para ambos os times. Ainda assim, o primeiro tempo foi de ôxo. O Botafogo, tenso pela oportunidade que teve de liquidar a competição na primeira partida; o Flamengo, sentindo o peso da derrota de três tentos para o uruguaio Defensor, no meio de semana. Os dois, naturalmente, muito preocupados um com o outro.

Quando veio o intervalo, Alexis Cuca Stival, o coach alvinegro, inovou: ficou com seu plantel no banco de reservas, em vez de tomar direção do túnel. Tinha a intenção de manter o time aceso com a chama da proximidade dos torcedores botafoguenses. O Flamengo desceu sereno.

E veio o segundo tempo. Arrebatador. Empolgante, talvez, como somente duas outras segundas etapas em muitos anos no Rio: a dos históricos confrontos entre Flamengo e Fluminense, 1995, e Vasco contra Flamengo, 2000. Jogo de arrepiar.

Começando tudo, um gol do artilheiro Souza, quase de carrinho, atirando-se à bola feito um kamikaze, após cruzamento de Juan, aos sete minutos. Boa parte do estádio explodiu como um tiro potente de canhão. E o que se esperaria era o recuo da Gávea, coisa que não aconteceu. Ou o abalo alvinegro, coisa que também não aconteceu.

Oito minutos depois, uma das viradas sensacionais que só o estádio de Mário Filho é capaz de abrigar. O Glorioso tomou frente no marcador. Tinha empatado a peleja com um gol de cabeça do zagueiro Juninho, aos doze. Três minutos depois, um golaço de Dodô, tocando suavemente e encobrindo o excelente goleiro Bruno. Mal sabiam que, uma hora depois, teriam trocado lugar nos postos de glória e lágrimas.

O Botafogo ainda acertou o travessão de Bruno, com nova jogada de Dodô, ao passo que o Flamengo, heróico, atacava incessantemente. Aos trinta, veio a apoteose: Renato Augusto, de longe, acertou o canto médio esquerdo de Max, num petardo daqueles que levanta qualquer torcida em qualquer decisão. Um golaço, digno da galeria de um título.

O empate da Gávea não trouxe predominância para os flamengos, e a partida manteve o equilíbrio que trazia desde o primeiro apito. Lutaram e lutaram, sem maior sucesso no gol redentor. Mais quinze minutos e o Botafogo levou nova estocada: era o fim do jogo. O ataque botafoguense entrou pelo meio de área, em condição legal. Dodô tocou para o gol no canto esquerdo, após a marcação errada do auxiliar Moutinho. Imediatamente, tendo já recebido o cartão amarelo, foi expulso. Uma grande confusão se instalou no gramado, o que geraria vários minutos de acréscimo. Contudo, o árbitro Beltrami, que já vinha com certa lesão no decorrer do jogo e trotava com dificuldade, e que acompanhava os lances à distância, preferiu não correr o risco de estar longe novamente num lance polêmico – e terminou a partida um minuto depois do imbróglio.

Exasperação alvinegra, Dodô fora. Pênaltis.

Bruno pulou com maestria e defendeu o primeiro pênalti, cobrado logo por Lúcio Flávio, um dos melhores do campeonato. Voou no canto direito baixo. Em seguida, fez nova grande defesa e contou também com a sorte: desviou o chute de Juninho e a bola foi ao travessão. Foi o que bastava, aliado aos bons cobradores da Gávea, todos com precisão na hora de converter. E o último, Leonardo Moura, deu uma paradinha de longe, antes de deslocar Max e chutar a bola no canto direito, trazendo a vigésima nona taça do Rio para a Gávea.

Flamengo e Botafogo foram iguais nos três empates que tiveram durante a competição. O Flamengo não conseguiu vencer os outros tradicionais rivais durante a disputa, Vasco e Fluminense. O Flamengo nem sempre teve brilho nas partidas. Porém, no detalhe, na pequena nuance, soube ser o vencedor.
O merecido vencedor. O grande campeão.
E, aos derrotados, o ônus da lamúria.

Paulo Roberto Andel, 07/05/2007

O tropeço

Em sua trilha pela Copa do Brasil, o Tricolor encarou ontem o Atlético do Paraná. Vinte mil pessoas na expectativa, o que pode ser considerado um bom público para os dias de hoje: além do horário tardio, a má jornada de Laranjeiras no ano é um revés para o estádio lotado.

Além do caráter decisivo, enfrentar o rubro-negro sulista tem sido uma batalha de vida ou morte para o Tricolor, seja em pingue-pongue, carteado ou futebol de botão. A massa das Laranjeiras não esquece jamais das cenas lamentáveis ocorridas nos jogos de 1996 – tanto a conturbada e violenta derrota em casa quanto a vergonhosa entrega do jogo seguinte, quando os paranaenses favoreceram claramente o Criciúma e nos conduziram ao descenso. Anos depois, cá estamos nós em nova batalha.

Novamente o Tricolor apresentou um velho problema. A síndrome do gol sofrido.

Tudo corria bem, num bom jogo. Com a volta de Renato à liderança do plantel, parecia um time vibrante, guerreiro, e com um espantoso aumento médio de velocidade, até mesmo de jogadores que não têm a explosão como forte, vide o exemplo de Carlos Alberto.

Na correria, logo veio o gol. Passe de Júnior César, um excelente cruzamento do lateral Carlinhos e uma cabeçada certeira daquele que tem sido o melhor Fluminense da temporada: Thiago Silva. Ângulo esquerdo do goleiro Guilherme vazado, havia um clima de alívio: depois de tempos sem atuações convincentes, o Tricolor parecia estabilizar-se. Ainda havia muito jogo pela frente e, quando ele veio, tudo levava a crer numa vitória convincente, gols e gols sendo perdidos. Supremacia completa de Laranjeiras, ainda que o Atlético não fizesse um mau jogo – estava, sim, era completamente perdido pelo poder do adversário. Aos poucos, o match tomou ares de equilíbrio e então veio a derrocada.

Aos trinta minutos, o time paranaense empatou o jogo, num lance quase despretensioso. O lateral-esquerdo paranaense Nei desferiu um chute de longa distância, com força. A Bola ainda resvalou na defesa e tomou a direção do ângulo esquerdo. O goleiro Fernando, que não tem sido muito afeito às bolas defensáveis, nada pôde fazer para desviar o tirambaço do gol. E o mar negro tomou o Maracanã. Um silêncio enorme, oceânico. Parecia a própria eliminação. Muitos exaltaram-se e passaram a xingar Fernando até mesmo na cobrança de um tiro de meta.

O time desmoronou. Passou a errar passes de meio metro. Tudo virou impaciência. O jogo passou a ser atleticano, o que perdurou até o apito final da primeira etapa.

Na volta, o que se viu foi o Tricolor em chamas, machucado, partindo até meio que atabalhoadamente para a vitória, enquanto os paranaenses agüentavam firme na defesa, buscando esparsos contra-ataques. Por volta do primeiro terço, Rafael Man e Carlos Alberto tiveram oportunidades. Em seguida, o Atlético encaixou sua primeira resposta firme, em chute de Pedro Oldoni e defesa esperta do desacreditado Fernando. Impaciente com as más finalizações, Renato sacou o centroavante herói e inseriu Adriano, o Magrão, buscando novos ventos.

A tendência do jogo não se alterou, exceto pelo maior equilíbrio nos volumes de posse da bola: o Fluminense mais voltado para o ataque, o Atlético buscando os golpes mortais. Os ataques não prevaleceram.

Renato, desesperado com o gol sofrido em casa, que conta como desempate em caso de necessidade, e sem a vitória, buscou ofensividade máxima, substituindo Cícero e Fabinho respectivamente por Thiago e Lenny. Nenhum maior efeito.

Os dez minutos finais ficaram por conta de mais dois gols perdidos: o Tricolor, em bom chute de Alex Dias e grande defesa de Guilherme; o Atlético, num chute de Ferreira para o gol vazio, com excelente corte de cabeça de Luiz Alberto.

O fato é que, se o Fluminense fosse durante todo o jogo o mesmo time dos primeiros trinta minutos, dificilmente não venceria. Ainda assim, foi visível o aumento de certa empolgação do time.

Ao final, claramente o Atlético saiu satisfeito. Jogará em casa por um empate em zero a zero ou uma vitória simples. Novamente os de Laranjeiras estão em apuros: vencer o adversário difícil, rancoroso, em seu campo. Esse time já tirou o Bahia na Fonte Nova lotada. Pode repetir o feito. Por que não? Para o Fluminense, o céu não é limite.


Paulo Roberto Andel, 03/05/2007


Mudança de rumos

Depois de meses, finalmente começou a grande final do campeonato carioca – ou fluminense, para os que queiram corrigir. Dois times com momentos distintos na competição. Dois gigantes que, em raríssimas oportunidades, digladiaram-se pelo título estadual, embora tenham quase cinqüenta taças, quando reunidos.

Com o digno público de uma final, o Botafogo disse ao que veio e foi todo ataque, todo velocidade e toque de bola, contra um Flamengo que veio mais fechado, cauteloso. Entretanto, essa mesma cautela não serviu para deter o ímpeto botafoguense: além dos dois gols, o Alvinegro foi absoluto na primeira etapa. Caso tivesse feito quatro ou cinco, ninguém que tivesse visto o match se assustaria, tamanha a superioridade de General Severiano.

A vantagem do Botafogo, contudo, não se cristalizou de primeira mão. Inauguraram o placar apenas depois de meia hora de jogo, quando um cruzamento rasteiro e esperto de Zé Roberto encontrou Dodô livre na pequena área. Ao contrário da tradicional classe nas finalizações, o sete botafoguense não titubeou: com a chance de gol, praticamente deu um carrinho na bola para impedir a chegada do goleiro Bruno. Ressalte-se, porém, que até os carrinhos de Dodô possuem charme, possuem classe. Talvez, ao notar tantos gols perdidos, Dodô viu a necessidade de que aquela bola entrasse – e, como já dito antes, até sujou o calção pelo tento.

O Flamengo, que já vinha impactado pela completa inferioridade técnica em campo, curvou-se. Havia o temor de uma goleada. Os flamengos, apaixonados por todo o estádio, silenciavam. A cinco minutos do fim, então veio o grande golpe numa rápida cobrança de falta, Lúcio Flávio, entrando elegantemente pela intermediária e meio da área rubro-negras, deixou cinco ou seis adversários caídos até deslocar Bruno com um leve toque no canto direito e explodir a massa alvinegra, num verdadeiro golaço.

O primeiro tempo fechou com a superioridade do Botafogo, tanto no placar quanto em termos de atuação. Magnífica. Tivesse alguém que apontar o vencedor ao final, creio que cada nove entre dez fichas seriam em branco e preto. Futebol, porém, é jogo de surpresas, de idas e vindas, mudança de rumos. E os times voltaram muito diferentes para o segundo tempo.

O Botafogo, estranhamente, recuou mais do que tinha feito em jogos anteriores, e talvez mais do que havia feito durante todo o ano. O Flamengo, que tinha sido um indefeso cordeiro, presa fácil para os alvinegros, voltou como um leão ferido, de Biafra, e ganhou a intermediária adversária. O jogo virou, o Flamengo passou a dar as cartas, alguns bons ataques aconteceram.

Tudo mudou de vez aos dezessete minutos do segundo tempo. Numa jogada rápida, Renato entrou livre pela esquerda do ataque; o jovem goleiro Julio César, afoito, trocou o gol real pela chance de defesa de um pênalti, defesa que a ele não caberia: era o último homem e foi justamente expulso. Renato fuzilou o ângulo direito do reserva Max, e a Gávea descontou.

O estádio levantou vôo com o grito da massa rubro-negra, e os botafoguenses é que tomaram lugar de calados, aflitos, ao enfrentarem um adversário recuperado, veloz e atuando com um jogador a menos. O Flamengo é que passou a mandar no jogo e perder gols seguidos. Tudo pelo avesso.

Aos trinta e três, novo golpe rubro-negro, jab de esquerda. Cruzamento de Leo Lima, que tinha acabado de entrar, falha do inseguro Max e soltura de bola nos pés de Souza, que completou para o gol vazio. Decretado o empate em dois tentos.

Em seguida, confusão. Um bate-rebate, falta quase na linha central do campo, Leo Lima e Diguinho, que tinham acabado de entrar, foram devidamente expulsos. O Botafogo, já sem Lúcio Flávio e sem o seu amuleto cão de guarda, esmoreceu. Por outro lado, o Flamengo, que tinha acabado de reforçar seu ataque, para explorar a vantagem de mais um jogador, perdeu opções. Leo Lima, mais uma vez, pareceu predestinado a seguir o autor de uma jogada só: o famoso cruzamento de letra para o gol vascaíno, na final contra o Fluminense, em 2003. E, portanto, perdendo chances de firmar-se de vez no futebol, enquanto o tempo passa.

Três jogadores a menos em campo significaram muito mais espaços; contudo, o cansaço das equipes, particularmente do Flamengo, que tinha um a mais, não contribuiu para novos gols. E o jogo terminou em empate final.

Cada time teve um tempo a seu favor. Pelas circunstâncias finais, meu palpite é de que, se houvesse um vencedor, ele estaria mais próximo de ser o Flamengo. Não foi. Assim são os clássicos.

Domingo, está programada a batalha final. Ambos os times têm compromissos perigosos no meio de semana: o Botafogo encara o Atlético em Minas, pela Copa do Brasil; o Flamengo visita o uruguaio Defensor, pela Libertadores. Depois de quinta, ficam as expectativas para se conhecer o novo campeão do Rio.

Paulo Roberto Andel, 30/04/2007

Friday, April 27, 2007

Heroísmo

Senhores, creio que, com o término da partida entre Fluminense e Bahia, há instantes atrás, a torcida do Tricolor tenha experimentado uma de suas maiores alegrias neste difícil ano de 2007, menos pela habilitação técnica e mais pela garra e busca permanente de uma classificação que, para muitos, já estava perdida - a começar pelo próprio time baiano, que vibrou intensamente com o empate no Maracanã. Meninos ainda, com muito a trilhar, esqueceram-se de que era o Fluminense, o Tricolor das Laranjeiras e não um Paraopeba qualquer.

Pelo regulamento, o Fluminense superou o Bahia pelo número de gols marcados fora de casa – o jogo de ida tinha terminado com o empate em um gol cada, este fechou igualdade com dois tentos.

As coisas começaram mal. O Bahia, animado por sua fanática e numerosa torcida, que estabeleceu o recorde de presença no estádio até este momento, com quase cinqüenta mil pessoas, imprimiu forte velocidade ao jogo, centralizado no jovem e bom Danilo Rios. Seis minutos de jogo e os baianos abriram o marcador: uma bola espirrou na frente da área e Emerson Cris, um meia, pegou meio sem convicção, quase caindo. Foi o suficiente para superar o inseguro goleiro Fernando, com a bola entrando à meia altura no canto esquerdo.

Parecia que tudo então estava perdido: o Bahia com vantagem, o estádio lotado e o Tricolor, após ter demitido o treinador Joel e combalido por força de sua má campanha nestes últimos meses, parecia à míngua. Parecia, mas não era.

Aos poucos, o Fluminense começou a domar a correria baiana, embora ainda cedesse espaços. Também atacava, de modo que gols foram desperdiçados por ambos os times. Das arquibancadas, Renato, o novo patrão, dava instruções ao auxiliar Eutrópio.Deu certo.

Perto dos trinta minutos, aconteceu a jogada que mudaria todo o panorama da partida. Após centro da direita, Luiz Alberto cabeceou para o meio da área. Lá estava Cícero, livre. Acertou uma mistura de puxeta e voleio, linda, que beijou a trave direita de Paulo Musse antes de ganhar as redes. O belíssimo gol deu moral aos cariocas e estabeleceu profundo silêncio na Fonte Nova – torcedores sentira que aquele não tinha sido um gol qualquer, vulgar, mas sim uma obra capaz de despertar gigantes adormecidos. Alguns dos atletas baianos que comemoraram a classificação afoitamente, no Maracanã, olharam assustadamente. E o Tricolor estava de novo no páreo. Não fazia uma partida brilhante, pelo contrário: errava passes e chutes. Porém, a garra que parecia distante há tempos, se fez presente como nunca. O jogo terminou sua primeira fase de forma equilibrada, sem favoritos.

Quando veio o segundo tempo, o Bahia voltou a pressionar. Não merecia exatamente o gol, dado o conjunto da obra, mas ele veio e de forma estúpida: um gravíssimo erro de arbitragem permitiu que Fábio O Saci socasse a bola para o canto esquerdo de Fernando – que, se não falhou como de costume, perdeu a chance de fazer uma defesa magnífica e evitar o desastre. Saci ainda simulou o cabeceio e correu feliz para a linha de fundo, ciente do delito em campo. A arbitragem deixou seguir e os baianos ganharam vantagem.

Porém, ninguém no estádio tinha perdido de vista a beleza do gol de Cícero, jovem jogador que careceu de confiança dos ex-comandantes, que não o deixavam jogar com Soares, seu parceiro desde os tempos de Figueirense. E a sombra do Tricolor ainda encobria a Fonte Nova.

O gol de Saci não abalou o Fluminense que, ainda atabalhoado tecnicamente, começou de toda forma a aumentar a velocidade, a valorizar a posse de bole e buscar alternativas. Cinco minutos depois do soco ilegal, o empate veio de forma justa: limitado, Rafael acertou finalmente um cruzamento para o centro da área, e Soares, que tinha entrado no lugar de Rafael Moura, escorou com categoria, de chapa, no canto direito de Musse. O empate foi novamente decretado, com mais um gol bonito – e, ali, que passava a ter a vantagem do empate era Laranjeiras. Vantagem que foi muitíssimo bem costurada nos trinta minutos que ainda restaram do jogo, mesmo com a expulsão de Rafael – o Bahia, por sua vez, perdeu Rios.

Nos cinco ou seis minutos finais, em muito admirei o Fluminense pela inteligência: marcava no campo do adversário, com relativa pressão, e gastava o tempo prendendo a bola com inteligência, no fundo do campo. O Bahia sentiu o golpe e, advindo de seis gols do Vitória no domingo, pelo certame baiano, não teve forças para buscar um gol salvador.

Não se comemora resultado em futebol antes da hora.

Saci esqueceu que, do outro lado, havia uma camisa com cento e cinco anos de conquistas e acostumada a superar todo tipo de mazelas. O empate com sabor de derrota tirou-lhe a outra perna e a chance de pular para qualquer comemoração. Ao final do jogo, recebeu de volta a gozação, bem lembrada pelo zagueiro Luiz Alberto.

O Tricolor segue em frente. Recebe o Atlético do Paraná.
É um jogo esperado há dez anos pelos de Laranjeiras, como veremos a seguir.

Paulo Roberto Andel, 26/04/2007

Mãos à taça

A fantástica vitória botafoguense na tarde de ontem, dia de Tiradentes, sobre o valoroso Cabofriense, foi muito importante; afinal, o time de General Severiano garantiu vaga para a grande final do campeonato do Rio, contra o Flamengo. De quebra, ainda venceu o segundo turno. Houve uma festa muito bonita, com o colorido das arquibancadas e cadeiras contrastando-se com o preto e branco da estrela solitária. Teria algo mais importante?

Sim.
Para os que acompanharam o jogo, seja pela tevê ou in loco, desconfio que a maior lembrança atrelada à conquista da Taça do Rio seja a do maravilhoso futebol jogado pelo Botafogo, com especial ênfase no primeiro tempo.

Com vinte minutos de jogo, o Botafogo já tinha emplacado três a zero. Acidente? Acaso? Falhas de Cabo Frio? Nada disso. Apenas um futebol belíssimo. E três golaços. De certa forma, tudo o que não havia ocorrido na primeira partida da final, domingo retrasado, aconteceu ontem. E como!

O primeiro deles, onze minutos. Lúcio Flávio levantou da esquerda, invertendo. O volante Túlio acertou um petardo com categoria, de primeira, meia altura do canto direito defendido pelo excelente Gatti. Em seguida, outro golaço que poucos jogadores brasileiros sabem fazer como Dodô: deixou o gigante Marcão, o Rei Zulu, no chão, trocou de pé, ajeitou e fuzilou com a direita, ângulo esquerdo de Gatti. O golpe fatal veio aos vinte: uma jogada maravilhosa, bem ensaiada e simples, com o Botafogo indo e vindo da intermediária de Cabo Frio, virando as jogadas, aprumando, até que Joílson veio pela direita e deu um passe para Zé Roberto livre, que entrou na área e fuzilou Gatti.

Três a zero. Um colosso. Mas o jogo não terminaria assim.

Um susto para os botafoguenses, mais do que plausível, ocorreu com o gol do Cabofriense, marcado de cabeça pelo atacante William. Coisa de vinte segundos. Mesmo com o gol e a valentia do time costeiro, o Botafogo não se intimidou: manteve as rédeas da partida e fechou o primeiro tempo com mão e meia na taça. Poderia cogitar até de pôr as duas; entretanto, como sabemos, a torcida mais supersticiosa do Brasil não faria isso por temer aquelas coisas que só acontecem ao Botafogo. Todavia, o segundo tempo e a vitória final colocariam por terra qualquer temor.

O segundo tempo veio, com o Cabofriense aguerrido e veloz, mas sem a força para enfrentar o verdadeiro aríete que o Botafogo incorporou. Demolidor. Cuca, no decorrer do tempo, fez alterações convencionais, tirando paulatinamente Zé Roberto, Lúcio Flávio e Jorge Henrique, respectivamente por Juca, Diguinho e André Lima. O ritmo da equipe, embora menos acelerado do que na primeira etapa, manteve-se em ótima forma.

E, claro, como não pode deixar de ser, como em toda final, polêmicas aconteceram. Os alvinegros reclamaram com provável razão um possível gol de Zé Roberto, questionando o impedimento marcado. Os cabofrienses, ao final do jogo, assinalaram o segundo tento, através de Alexandro. Entretanto, desde que a bola tinha partido da intermediária de Cabo Frio, o auxiliar Beival já tinha erguido sua bandeira. Houve discussão e confusão. Nada que pudesse manchar o brilho alvinegro, importante registrar.

Agora, depois de tantos lances bonitos, de um belo futebol que consagrou o Botafogo e parabenizou a bravura do Cabofriense, não se pode deixar de comentar um lance engraçadíssimo e, ao que se saiba, inédito: aconteceu uma jogada de falta na intermediária de Cabo Frio, contestada pelo punido, o bom zagueiro Cléberson. Ubiraci Damásio, o árbitro, veio lentamente e com bom-humor, contemporizando. Num momento, árbitro e jogador ficaram frente a frente, proximamente. Cléberson não titubeou e beijou carinhosamente Ubiraci. Constrangido, o árbitro não teve outro caminho a não ser aplicar o cartão amarelo por conta do beijo.

Os botafoguenses estão felizes. O time está bem, arranjado e veloz. Chegou à desejada final. O adversário é o sempre temível Flamengo. Espera-se um confronto épico. Momento por momento, sabe-se que o Botafogo está melhor. Outro fator, com maior ênfase psicológica do que propriamente técnica está no fato de que, desde a inauguração do Maracanã, os dois times decidiram apenas dois títulos estaduais, em 1962 e 1989, com vitórias do Botafogo. Outros podem lembrar que, na última vezes que decidiram um título no estádio, que era o do campeonato brasileiro de 1992, deu Flamengo.

Porém, quando dois gigantes enfrentam-se numa final, nada é simples nem previsível.

Aguardemos o domingo, quando os tambores começarão a rufar.

Paulo Roberto Andel, 22/04/2007

Complicações

Caríssimos, o Maracanã ontem presenciou a dificuldade no futebol quando um momento é essencialmente adverso.

O Tricolor deparou-se contra a equipe de três cores da Bahia de São Salvador. Primeiro jogo de eliminatórias pela Copa do Brasil, torneio que tem a sua importância: primeiro, ela traz ao cenário times que pouco aparecem na mídia durante boa parte da temporada. Segundo, permite a essas mesmas equipes, muitas consideradas de pequeno porte, o sonho de uma boa colocação e até mesmo do título – que o digam Criciúma, Santo André e Paulista. Terceiro, o fato de a competição ser no sistema popularmente conhecido como "mata-mata" tempera todos os jogos, que têm caráter decisivo.

Falarei do jogo. O Tricolor não passa por uma boa fase. Passes simples tomar enorme ar de dificuldade. Uma simples cobrança de lateral para ter a sombra do desespero. Compreende-se. Um clube centenário, criado do paradigma do futebol nacional, acostumado a títulos e com muito pouca coisa a comemorar nos dias vigentes. O escapar da degola no campeonato brasileiro do ano passado trouxe sopros de mudança. Contrataram dezessete jogadores e dispensaram Marcão, o novo Rei Zulu. Não poderia ser impunemente. Veio o fracasso na competição doméstica, não há um time pronto para o brasileiro e o que sobrou foi o sonho da Libertadores, cuja via de acesso com menor tráfego é a Copa do Brasil. Logo, todas as fichas nela estão, e a pressão é grande. Por outro lado, o descrédito gerado pela má campanha traz pouca gente ao estádio, uns dez mil. O Tricolor não é time de estádios vazios. Para ele, cem mil torcedores é uma reles bagatela. Injusto, portanto.

Sim, o jogo. O primeiro tempo não foi de todo mau; aliás, nem mau chegou a ser. O Fluminense, ao contrário de outras partidas, começou com ímpeto e criando jogadas, pressionando, fazendo valer sua condição de mandante, contra um Bahia grande de camisa, mas atualmente muito limitado. Pouco depois dos quinze minutos, Rafael Moura, perito, perdeu gol feito acertando a trave, para desespero da nação. Em seguida, veio um cruzamento da direita, Carlos Alberto matou, ajeitou e chutou bem, com força, no meio do gol, mas sem defesa para o veterano goleiro Paulo Musse. A partir de então, pelo restante do primeiro tempo, veio relativa calmaria para Laranjeiras: atacava, embora sem perícia nas finalizações, e não era incomodado em nenhum momento pelos baianos. Respirava-se com certo alívio. Veio o intervalo. O Fluminense terminou relativamente bem, terminou melhor do que todos os seus jogos recentes.

E então, amigos, aconteceu o que eu me referia no primeiro parágrafo, o pandemônio que é enfrentar a tempestade constante, a má fase. Tivesse um bom momento nas mãos, o Tricolor teria ampla vantagem no marcador durante a primeira etapa, pelo menos mais dois tentos, e tudo estaria num mar de rosas. Porém, o magro escore deu margem para novos temores. E na Copa do Brasil, sofrer gols em casa é perigo de óbito.

O Tricolor vive um mau momento.

O primeiro ataque baiano misturou falhas da zaga com a freqüente ineficácia do goleiro Fernando ao sair do gol. O veloz atacante Fábio Saci não perdoou e completou para as redes. A partir de então, outro Fluminense ocupou o campo, temeroso com o revés. Um Fluminense medíocre, acuado por um adversário naturalmente mais fraco, nervoso, perdido. Passou a errar tudo. E o jogo passou para as mãos do Bahia, que só não virou marcador devido, repito, à limitação de seu time. Torcedores de arquibancada vociferavam permanentemente e a vaia passou a dominar o Maracanã, com apupos reforçados para o ocupante da meta de Laranjeiras.
Não tenho em mente maiores lances de enorme perigo ou emoção no match. Lembro, isso sim, da vaia. A desconcertante e pavorosa vaia. Posso dizer que o jogo acabou na fantasia que tornou-se realidade, com o folclórico Saci. Tornou-se algo horrível de se ver, ainda que necessário para os torcedores de fé. Era quase uma autópsia de mau futebol.

Dez mil pessoas nervosas, irritadas.

O final não poderia ser pior. Houve uma falta desnecessária de Carlos Alberto, ao término do jogo. Tomaria apenas o amarelo. Nervoso como estava, alterou-se e foi expulso. As arquibancadas rejeitavam Joel e louvavam Renato Foi um empate com sabor de derrota.

Nada está perdido, senhores, é o Fluminense. Ao Bahia, serve um empate sem gols. Ou uma vitória simples. E só. Para os Tricolores, repetir o mediano primeiro tempo de ontem já seria um alento para uma vitória, ou mesmo um empate por dois ou mais gols, que traria a vaga para os cariocas.

O time está nervoso. Carlos Alberto não joga. A defesa confunde-se. A meta está vazia.
Reitero, porém, que, quando trata-se de Fluminense, a vitória impossível simplesmente não existe. É muito difícil, e poderá ser mais ainda. Impossível, jamais.
Nem com a má fase pelo caminho.

Paulo Roberto Andel, 19/04/2007

Suspense

O encanto do futebol vem da sua pluralidade, das inúmeras possibilidades que uma peleja permite, interpretações, panoramas. O futebol é um verdadeiro caleidoscópio – cada ângulo traz à mente uma diferente imagem. E é disso que nasce a paixão pelo esporte maior.

Assim foi o jogo de hoje, a grande final da Taça do Rio. O teoricamente favorito Botafogo contra o muito bem armado Cabofriense.

O placar não traduziu a dinâmica do jogo e, em alguns momentos, ele ficou completamente avesso ao que acontecia: quando o Botafogo era muito melhor, os de Cabo Frio igualaram o marcador. No fim do jogo, quando tudo indicava a vitória das três cores, o Alvinegro chegou ao empate. Partindo desse princípio, houve alternância, equilíbrio; contudo, ao verificar a quantidade de jogadas perigosas de ataque, o Botafogo foi avassalador. Somente no primeiro tempo, foram mais de vinte ataques e cinco chances reais de gol, com apenas um aproveitamento. E que aproveitamento! Dez minutos aproximadamente, uma cobrança de falta ensaiada, executada por Lúcio Flávio, chegou a Dodô. Ele raspou na bola, que tocou no travessão. Na sobra, prevaleceu o talento: ajeitou o corpo e desferiu belíssima bicicleta, abrindo o placar.

Os vinte e cinco minutos seguintes foram um verdadeiro show botafoguense, com ataques empolgantes e uma atuação espetacular do jovem goleiro Gatti, que provavelmente trocará de clube em breve, dado o enorme destaque de suas partidas no certame. Quem visse a primeira meia hora da partida seria capaz de apontar o Botafogo campeão da taça e do ano, sem piedade. Mas o futebol tem seus ares de caleidoscópio. Uma falta cobrada no travessão e a bola sobrou livre para a Cabofriense empatar a partida, num momento em que o Botafogo era senhor absoluto das ações em campo. Quem foi o artilheiro? Marcão, ídolo de Laranjeiras e que marcou boa parte de seus poucos gols na carreira contra o Alvinegro. E era uma decisão. Marcão fez gols nas partidas de conquistas do Tricolor em 2002 e 2005. Ratificou a característica de goleador em decisões.

Os minutos finais de jogo mostraram um Botafogo sentindo o golpe, mas sem desespero. E, claro, um Cabofriense mais confiante, que entrara em campo como coadjuvante do espetáculo e tinha revertido o quadro: o Botafogo vinha de um primeiro tempo excelente, afora a grande atuação do meio de semana, quando conquistou a vaga contra o Vasco. Terminou o primeiro tempo.

Retomada a partida, o Botafogo disse a que veio, com uma bola na trave logo de começo, sete minutos. Parecia que o time tinha absorvido bem o golpe do primeiro tempo.

Entretanto, como todos sabemos, há coisas que só acontecem ao Botafogo.
No minuto seguinte, uma falha de marcação na defesa botafoguense, com a linha de impedimento – para alguns, a linha "burra" – equivocada, permitiu que o ex-alvinegro Marcelinho entrasse sozinho pela direita, driblasse Júlio César e tocasse para o gol vazio. Pânico na parte cheia das arquibancadas do Maracanã. Sabia-se que a derrota no primeiro jogo aportaria enorme tensão para a partida final, a ser realizada no domingo que vem.

E o jogo mudou novamente.

O Botafogo não era mais o time bem-articulado da primeira etapa. Mas tinha a força, a vontade. E partiu para cima dos de Cabo Frio. As jogadas já não saíam com a mesma precisão, devido a erros e, claro, o nervosismo que toda equipe considerada de grande porte tem, quando encontra-se em desvantagem perante um adversário mais modesto.

No meio do segundo tempo, veio uma nova bola na trave, no travessão, cabeceada pelo zagueiro Juninho. Murmúrios das arquibancadas revelavam exasperação. E o Cabofriense defendia-se como era possível, utilizando bem os contra-ataques, embora sem ameaçar significativamente a meta de Júlio César.

A dez minutos do fim, um certo alívio inundou o Maracanã, quando Jorge Henrique cruzou da direita e ele, sempre ele, Lúcio Flávio, entrou pela diagonal da esquerda e cabeceou no contrapé de Gatti, dando números finais ao jogo.

Não foi um resultado que possa ser considerado bom para o Botafogo. Dadas as circunstâncias finais da partida, até foi; contudo, pela quantidade de gols perdidos e pelo enorme volume de jogo na primeira etapa, houve um sabor amargo de derrota. Matematicamente, a visão é outra: o empate salvou o Botafogo da enorme dificuldade que teria se, hipoteticamente, fosse enfrentar um time com a vantagem do empate.

A decisão mesmo, a primeira, é no domingo. O Botafogo luta. Até lá, ficamos sob suspense.
Enquanto isso, os outros descansam, pensam no futuro, na Copa do Brasil, no Brasileiro.

E o Flamengo espera, espera.

Paulo Roberto Andel, 16/04/2007

Os clássicos são eternos

O jogo entre Botafogo e Vasco, realizado na noite de ontem no Maracanã, provavelmente foi o mais emocionante do ano até agora. E pode ter sido também o mais emocionante desde muito tempo atrás – o primeiro tempo, com certeza, foi o melhor em mais de uma década. O horário tardio imposto pela transmissora e mais a transmissão aberta trouxeram menos púbico do que a partida pedia. De toda forma, clássico eterno!

Emoção que começou antes do jogo. Romário estava prestes a marcar o milésimo tento, mais uma vez, após fracassadas tentativas e ausência de jogos fora do Maracanã. Alguns botafoguenses desesperados temiam o rol das coisas que só acontecem ao Alvinegro.

E o começo foi de arrasar. Com falhas de goleiro Júlio César e do volante Túlio, em três minutos o Vasco já tinha aberto dois a zero, com gols de Renato e Abedi. Temia-se por uma goleada histórica em General Severiano. E, com esse retrospecto fulminante, seria o esperado.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Um minuto depois da segunda festa vascaína, o Botafogo eletrizou ainda mais o jogo, em súbita cabeçada de Luciano Almeida, após cruzamento de Lúcio Flávio pela direita. Em diante, a partida mais rápida e disputada do campeonato, com ataques e contra-ataques eletrizantes, até que aos vinte e um minutos, em ritmo frenético, o Botafogo chegou ao empate: houve um cruzamento rápido de Luciano Almeida, e Zé Roberto finalizou violentamente, de primeira. O silêncio vascaíno foi reflexo do que então aconteceu: ali, o jogo estava na mão dos alvinegros, e tudo indicaria que a virada seria questão de momento. Impunha-se mesmo diante de um Vasco vigoroso, raçudo e que tinha aberto dois gols em tempo recorde num clássico.

Gols de um lado e de outro, mas sentia-se no ar que a respiração diferente em todo o estádio acontecia quando Romário aproximava-se da bola. Isso aconteceu aos trinta e três minutos: Jorge Luiz, invertido, foi a fundo para o cruzamento pela direita -a bola encobriu Júlio César e entrou no ângulo direito. Romário vinha com tudo e chegou a três centímetros da bola, se muito. O Vasco, que tinha passado a ser dominado, avançou novamente no placar.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo, mesmo que por pouco tempo.

Três minutos. Novamente, depois de mortalmente golpeado, o Botafogo saiu das cinzas aos céus. Mais uma vez, mais uma grande jogada de Lúcio Flávio, cruzando da direita, e Dodô cabeceou inapelavelmente contra as redes de Cássio. Alívio na esquerda das tribunas, mal estar na direita e, de certa forma, uma saudável sensação de justiça. O Botafogo estava muito melhor, muito mais firme e objetivo.

Os vascaínos sabiam disso. Perceberam que a vantagem inicial e o terceiro gol foram frutos da velha camisa, da força, e não de uma atuação soberba, embora com muita raça e velocidade. Não o suficiente para brecar a fúria alvinegra. A um minuto do fim, ele, decisivo, Lúcio Flávio, cobrou falta na frente da área. A bola quicou e entrou no canto esquerdo de Cássio, que falhou no lance. Pela primeira vez no incrível jogo, o Botafogo saltava no marcador e superava os vascaínos. E terminou o primeiro tempo de um jogo incessante, capaz de tirar o fôlego de qualquer um.

Veio o segundo tempo, incendiário com a falta que Guilherme acertou no travessão botafoguense. Depois, um momento de tensão; com a confusão do árbitro Calábria, Túlio foi expulso e o jogo, paralisado. A vantagem de um jogador para o Vasco foi temporária. Em paralelo, as modificações: Cuca, o treinador Alexis Stival, como anuncia o velho placar de lâmpadas, tirou Lúcio Flávio e colocou Diguinho, para aumentar a marcação e compensar Túlio. A famosa lei das compensações tirou André Dias dos cruzmaltinos, que tinha entrado justamente para aumentar a velocidade do time, no lugar de Júlio Santos, aos dezessete minutos. A partir de então, jogo franco, com velocidade forte embora não a mesma do alucinante primeiro tempo. Mais chances para o Botafogo: um pênalti em cima de Dodô não foi marcado,uma excelente jogada de Jorge Henrique para o desarme de Dudar.

Quando a vitória se aproximava e a superioridade alvinegra era inquestionável, a menos de dez minutos do fim, Alan Kardec subiu sozinho para cabecear a bola advinda de cruzamento da esquerda, e fuzilou o ângulo direito de Júlio César. Era o empate em quatro tentos. Seria um gol espírita?

Alan Kardec. Há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Inimaginável um jogo com oito gols e nenhum de Romário. Fato quase inédito em sua carreira.
Jogo encerrado, tudo entregue à magia dos pênaltis. Melhor dizendo, tiros livres diretos cobrados da marca penal. Drama para depois da meia noite.

Em tese, e apenas tese, em geral quem empata o jogo vai para os pênaltis com certa, digamos, força na hora de cobrar. O time que tinha a vitória nas mãos geralmente sofre certo abatimento. Dessa vez, tudo mudou.

Morais e Dudar, bons jogadores vascaínos, realizaram cobranças esdrúxulas. Uma, bem defendida por Júlio César; outra, longe da esquerda do gol. E o Alvinegro fechou a série com quatro gols contra um, conquistando o direito de decidir a Taça do Rio contra o vencedor da partida de hoje, envolvendo o Madureira e o Cabofriense. Uma vitória que varou madrugada.
Em futebol, tudo pode acontecer. Há lenha para ser queimada. Contudo, pelo visto, o Botafogo tem favoritismo para chegar à grande final do certame. Que o vencedor de hoje se cuide.

E o Flamengo também.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo. Algumas, maravilhosas.
Paulo Roberto Andel, 13/04/2007

A derrocada

Amigos, o Tricolor despediu-se do campeonato estadual no dia de ontem, após uma difícil vitória sobre a atlântica equipe do Boavista, pelo placar de quatro tentos a três.

Foi uma tarde tristonha. Inicialmente, pelo reduzidíssimo público presente ao Maracanã. Cerca de duas mil pessoas. Havia um vazio enorme nas arquibancadas, um sentimento de solidão. Compreende-se o desinteresse pelo jogo, tendo em vista que a classificação do Fluminense tinha probabilidades mínimas, devido a uma péssima campanha no certame atual. O simpático Boavista trouxe sua pequena leva de torcedores de Saquarema, apoiados pela prefeitura local, acrescidos de mais uns dois ou três rubro-negros – sim, incrivelmente, rubro-negros porque o jogo de fundo, após o pesadelo de Laranjeiras, viria a ser Flamengo x América, mero amistoso com a consolidação dos resultados das partidas até às seis da tarde.

O Maracanã não nasceu para ficar vazio. Dentro dele, é preciso um turbilhão de pessoas, um mundaréu de gentes. O grito das torcidas, a tensão, as cores e a festa.

Tarde ensolarada, vendedores de picolés e bebidas gritando seus produtos, começa o jogo. Parecia que o Tricolor, em sua batalha final, tomaria ares de vitória: numa jogada confusa, com bola quicando na área, Cícero tocou para as redes e abriu o escore. A minúscula massa vert, blanc & rouge teve segundos de satisfação. Segundos.

Saída de bola, ataque do Boavista pela direita da defesa, falha de Luiz Alberto, e o cruzamento veio na medida para o esperto atacante Anselmo fuzilar a rede. Mal construíra vantagem, o Tricolor sentiu o peso, a consolidação da precoce eliminação, e tudo temperado com vaias e palavrões dos torcedores mais exasperados. Toda a frustração aos berros, e poderia até piorar. Piorou.

O lateral Paulo Rodrigues, aos vinte e três minutos, acertou um chutaço do bico esquerdo da grande área, decretando a virada. Com a vantagem de Saquarema, os arquibaldos dirigiram-se furiosamente para a grade que os separa das tribunas, e xingaram ardorosamente o presidente Horcades. O baixo calão também atingiu em muito a Joel Santana. Em dado momento, foi mais interessante ver o espetáculo bizarro das arquibancadas do que, propriamente, assistir o jogo. Em campo, o Fluminense estava completamente perdido e alguns cogitaram o terceiro gol do Boavista, que não aconteceu. Assim terminou a primeira etapa.

Com a péssima atuação, era difícil imaginar o que poderia ser feito para alterar os ventos do Tricolor. Joel tirou Roger e Soares, para as entradas de Júnior César e Rafael Moura. Se as substituições feitas levassem em conta o histórico dos jogadores, eu diria que a de Roger foi péssima e a de Soares, ruim. Entretanto, por se tratar de questão pontual, deu certo. Ainda que com muitos erros, Júnior deu mais velocidade ao time. E Rafael Moura, bastante desengonçado, entrou raivoso, mito disposto. Aconteceu que o panorama do jogo se alterou: o Fluminense, aos tropeços, tomou as rédeas da partida – ruim, ressalte-se – e ofereceu ao Boavista apenas as opções de contra-ataque. Isso, no campo. A torcida ainda estava, com justiça, muito irritada com a atuação horrorosa.

Veio uma cobrança de falta, aos dezessete minutos. A defesa do Boavista parou, Luiz Alberto raspou de cabeça, sozinho, para decretar o empate. Então, o desgastado Boavista deu sinais de derrota, quase consolidada sete minutos depois do gol de Luiz, quando o limitadíssimo mas esforçado Rafael Moura escorou bem um cruzamento e virou o jogo. No outro lado, o de Boavista, o destaque ficou por conta da entrada do polêmico atacante Alex Alves, fora do peso e metrossexual assumido.

Não se pode negar jamais o espírito crítico dos torcedores do Fluminense. Mesmo com a virada, a torcida em momento nenhum aprovou a atuação do Tricolor, e manteve suas críticas, mesmo com a vantagem no placar. Para se ter uma idéia, a melhora substancial do time do Fluminense fez com que a partida se tornasse apenas, digamos, ruim.

Os momentos finais do jogo foram marcados por mais um gol de Carlos Alberto, sem comemorações, a dez minutos do fim. A cinco, mais um lance patético envolveu o goleiro Fernando: atrasado no tempo de bola, saiu mal do gol na esquerda da grande área e cometeu pênalti em Everton. Por ser o último homem da falta, foi devidamente expulso. O Fluminense já tinha feito as três alterações e, com isso, Cícero foi para o gol. Quase pegou o pênalti, cobrado por Anselmo e provocou a reação de torcedores mais bem-humorados, que pregavam sua efetivação na nova posição.

Os cinco minutos finais serviram para celebrar a péssima partida. Curiosamente, quem vir apenas o placar, terá a impressão de um match emocionante – e não foi absolutamente o caso. O adeus do Fluminense foi vitorioso no placar, mas amargo no que significou.

Torcedores do Flamengo, que chegaram antes para a preliminar, devem ter divagado sobre o que lhes esperava em seguida. Seria uma vitória, como a Tricolor. Seria um jogo fraco, como o anterior. Mas o Flamengo está na final. O Fluminense busca a sorte no futuro.
Paulo Roberto Andel, 08/04/2007

Thursday, April 05, 2007

Quase inesperado

Devido ao não acontecimento do milésimo gol de Romário na partida contra o Botafogo, realizada no domingo passado com absoluta vitória alvinegra, foi criada à última hora uma rodada dupla no Maracanã, abrigando os jogos desta quarta, ambos pela Copa do Brasil. O jogo do Fluminense contra o América de Natal foi antecipado no horário, de modo a comportar o Vasco na partida de fundo contra o brasiliense Gama.

A preliminar foi assustadora para os torcedores do Centenário. O Fluminense, que vinha de uma derrota no clássico contra o Botafogo, mas tinha jogado bem, em seguida despencou. Derrotas inquestionáveis para o desfalcado Madureira e o limitado Americano praticamente alijaram o Tricolor de uma conquista carioca. Atuações péssimas. E não foi diferente ontem. A vantagem de ter marcado dois gols fora de casa, na partida de ida, foi a salvação de Laranjeiras – a de volta foi catastrófica, só não resultando em eliminação por causa das limitações imensas do time potiguar, que perdeu uma arroba de gols por absoluta escassez técnica. Os poucos e corajosos torcedores presentes ao Maracanã assistiram um espetáculo bizarro, um non sense, algo inimaginável para um time que, em tese, treina junto alguns dias da semana. Parece que alguns acabaram de colocar o manto Tricolor e entrar em campo, sem conhecer os companheiros de time, tamanho o desacerto. Outros, estigmatizados pela deficiência em passes simples e dribles, foram exorcizados com impactantes palavrões. Até mesmo o querido Carlos Alberto, jogador de grande potencial, mas que, reconhecidamente, ainda não atingiu o Pantheon, foi vaiado feito chuva em cântaros. Fato grave foi também o Tricolor atuar boa parte do segundo tempo com um jogador a mais e ser amplamente dominado – parecia que o América é que tinha o onze completo em campo. Não há um chute, um passe, um drible a ser destacado. Pavoroso. O Fluminense, beneficiado pelo regulamento, agora enfrenta o Bahia, e certamente terá sérias dificuldades de ir à frente na competição brasileira que, agora, começará a afunilar.

O raso público Tricolor na partida preliminar diminuiu ainda mais com o fim da lamentável partida, classificação com sabor de derrota. De toda forma, alguns ficaram para tentar testemunhar o tão esperado gol de Romário, fazendo galhofa também ao criarem torcida para o simpático Gama.

Ressentida com a derrota de domingo, além do péssimo horário de quase dez da noite para um match, a torcida de São Januário veio em bom número para uma partida comum, não para a festa que poderia acontecer. Mais de trinta mil pessoas. Não o desejado, mas suficiente para um barulho digno dos velhos tempos de Maracanã clássico.

Claro, todas as atenções e holofotes estavam direcionadas para Romário. Todos, absolutamente. Quando definiu-se para que lado o Vasco atacaria, todos correram para o gol à esquerda da tribuna, esperando com fé a finalização mágica do Baixinho, que acabou não acontecendo.

O primeiro tempo começou logo com o gol do Gama, num chute de longa distância dado por Ninja, isso mesmo, com a complacência de Cássio. Não seria o que se chama de um “frango” convencional, mas um gol evitável. E isso enervou os vascaínos, que sofreram bastante com o bom toque de bola e a velocidade do time planaltino, senhor da partida.

Uma jogada e outra, lá, houve um cruzamento e Renato cabeceou sem defesa para o bom goleiro Juninho, por volta dos quinze de jogo. Naquele momento, o Gama era melhor e o Vasco igualara o placar. Esperaria-se uma apoteose com a reação, apoiada pela massa vascaína. A torcida fez seu papel, mas o time não. De alguma forma, pode-se dizer que o jogo ficou mais próximo do equilíbrio do que do, até então, predomínio do Gama. Nos dez minutos finais, não houve grandes emoções e a partida continuou como estava, exceto por um lindo passe de Romário para a conclusão de Morais e defesa de Juninho.

Marcante foi que, a cada ataque do Vasco, havia um suspiro diferente, um “uhhhh”, mesmo que as jogadas não fossem tão ameaçadoras. Todos queriam o gol de Romário. Meu amigo Álvaro Dória alertou-me de que parecia mesmo um Maracanã de antigamente – um Maracanã que ele não identificou na volta dos times: o Vasco esperou vários minutos pela volta do Gama, e apenas o goleiro Cássio aquecia-se; o resto do time, de mãos na cintura, espreitava o círculo central. Ninguém chutando bola, trocando passes. Um mau sinal, que confirmou-se: voltou o panorama da primeira etapa, com a velocidade e o bom toque de bola do Gama, contra esparsos ataques do Vasco – num deles, Guilherme, que acabara de entrar, acertou a trave. Mas era pouco. Romário, vigiadíssimo, não teve chances reais.

O tempo foi passando e o empate garantia São Januário na fase seguinte. A força dos ataques do Gama foi diminuindo, devido ao cansaço e tudo parecia que terminaria como desde o primeiro tempo. Os suspiros da torcida estavam recolhidos. E, quase inesperadamente, no último ataque da partida, já nos acréscimos, uma excelente cobrança de falta de Marcelo Uberaba, no ângulo direito de Cássio, deu números finais ao jogo, eliminou o Vasco e aumentou o amargor pelo ainda não feito milésimo gol.

Esperava-se a festa cruzmaltina. Acabou com abraços efusivos do time alviverde, comemorando o feito histórico. Mais uma vez, adia-se o sonho de Romário.

Um ou outro torcedor do Fluminense mostrava satisfação: se fosse o Gama em vez do América, teria sido muito pior para Laranjeiras.


Paulo Roberto Andel, 05/04/2007

Monday, April 02, 2007

Retrato em branco e preto

Depois de dois meses, finalmente o Maracanã teve o público que merecia para o jogo entre Vasco e Botafogo. Mais meses, talvez. Um clássico, com gritos de torcida, confrontos e a saudável tonalidade de perto e branco que cobre o estádio quando os dois times se enfrentam, uma ligeira impressão de que as coisas voltam aos anos sessenta, quando parecia que tudo daria certo no país do futuro denominado Brasil.

Mais do que a disputa pelo acesso às semifinais da Taça do Rio, que já parecia quase assegurado para ambas as equipes, houve o principal motivo para a lotação do Maracanã: o milésimo gol de Romário. O astro, a atração máxima. Não faltavam motivos: o Baixinho foi o principal algoz botafoguense dos últimos vinte anos, marcando mais de trinta tentos, e brilhou na maior goleada que o Alvinegro tomou em toda a história do Maracanã. Romário está no canto do cisne de sua carreira, impulsionado pela marca história – aos 41 anos, mostra que ainda pode e sabe fazer os gols. Em suma, as estatísticas indicavam que lugar dos vascaínos era ontem, na arquibancada da direita. E eu creio que foi justamente o milésimo gol que decidiu a partida, embora não tenha sido marcado.

Tenho minhas razões.

Primeiramente, embora o Vasco seja um gigante do futebol, um colosso mundial, sua direção tem resistências em jogar no Maracanã porque, como dizem, “o Vasco tem estádio”. E tem mesmo. São Januário, berço de beleza e pioneiro na democracia do futebol brasileiro. Porém, São Januário é de 1927, quando o time vascaíno não tinha cinco anos de primeira divisão. A partir de 1950, como seria para todos os outros gigantes, era natural que o Vasco fizesse do Maracanã o seu palácio – e assim o fez, por quase quarenta anos. Das equipes de imensa torcida do Rio, o Vasco é o único que não faz do Mário Filho a sua prioridade, e nele joga menos do que deveria. Resultado é que ontem, com todo o respeito que o clássico mais do que merece, Maracanã tomou ares de final da Copa do Mundo, dada a possível marca de Romário. Pela atuação cruzmaltina, há uma impressão de que o time sentiu o peso do gol mil, o estádio abarrotado, a pressão – coisas que, se estivesse com justiça mais vezes no Maracanã, provavelmente os jogadores não sentiriam. Pode ter sido um mísero detalhe, mas as grandes vitórias no futebol são conquistadas em detalhes, às vezes. O Vasco merece mais o Maracanã e vice-versa. Quando o Maracanã foi erguido, o grande time do país era justamente o Vasco – e dele, Vasco, generosas sementes floresceram nos anos cinquenta para que o Brasil iniciasse a trajetória para o tope do mundo futebolístico.

Outra questão. É claro que a imprensa incendiou General Severiano, ao presumir que Romário faria o gol de qualquer forma contra o Botafogo. Treinados por Cuca, grande jogador que por muito tempo aliou técnica e raça, os alvinegros alimentaram-se da mídia para dar o máximo de si no campo. E foi o que aconteceu. O Botafogo entrou em campo como um leão ferido, ávido de vingança e rei das selvas. E foi senhor absoluto do jogo, imponente, como não se via há muito tempo, mesmo quando vencia o Vasco. A última vez que me lembro de tamanha autoridade dos botafoguenses foi nos tempos do time de Túlio, mais de dez anos.

Clássico não se vence de véspera, e os vascaínos já deveriam saber disso.

Com quinze minutos de partida, o Botafogo vencia com o gol do excelente Lúcio Flávio, um chute forte, de fora da área, que tocou a trave esquerda de Cássio antes de beijar a rede, mas no lado oposto. E estes quinze minutos foram fulminantes, com cinco chances reais de gol e um Vasco recuado em seu próprio campo. Como reza a tradição, após a desvantagem, os vascaínos arriscaram-se mais no ataque, embora sem nenhuma ameaça causada ao jovem e bom goleiro Júlio César. Romário teve apenas duas aparições na primeira etapa; na primeira, pôs a mão na bola e foi advertido com cartão. Na segunda, encobriu o goleiro botafoguense, que defendeu bem. O primeiro tempo encerrou botafoguense.

A segunda etapa foi aberta por chance clara de Jorge Henrique, para brilhante defesa de Cássio – seria a primeira de muitas. O goleiro vascaíno fez uma série de grandes intervenções e impediu o que seria uma justa e implacável goleada de General Severiano. Em contrapartida, o Vasco melhorou no segundo tempo e passou a atacar mais. Iniciou tudo com uma finalização de Romário, sempre ele, mas a bola tocou o lado direito de fora da rede.

Perto dos vinte minutos, o Maracanã foi tomado por um clamor extraordinário, quando Romário novamente tentou encobrir Júlio César, mas a bola foi para fora, por cima do travessão. Segundos extraordinários e, apesar do maior volume alvinegro, parecia que a tradicional “freguesia” entraria em ação a favor do Vasco. Ledo engano. Em seguida, Dudar foi expulso e isso atrapalhou a reação dos vascaínos.

O Botafogo foi perdendo uma seqüência de gols, todos com grandes defesas de Cássio, o melhor em campo. A cinco minutos do fim, Joílson foi expulso, o que poderia significar o último fôlego vascaíno, mas não aconteceu – houve apenas uma finalização, claro, de Romário.

Ao apagar das luzes, um contra-ataque botafoguense deixou o time à frente do gol vazio, dado que Cássio saiu da meta para impedir o tento. Uma ótima tabela entre Jorge Henrique, Zé Roberto e Juca fez com que a bola chegasse aos pés do volante Túlio, que fuzilou sem piedade para o gol escancarado, e o Alvinegro assegurava a vitória.

Foi um dia em que o Vasco foi pouco Vasco, mas o Botafogo foi extremamente botafoguense. Uma atuação de muita garra, velocidade, técnica e conjunto, irresistível. Qualquer resultado que não apontasse o Botafogo vencedor ontem estaria sob a égide da injustiça.

O campeonato segue. O Botafogo é o favorito para vencer a Taça do Rio, pelo que está apresentando. O Vasco também tem suas chances. O Flamengo fica na espreita, enquanto o Tricolor amarga mais uma despedida precoce, após novo desastre contra o limitado Americano.

O gol mil fica adiado. Talvez não tenha as luzes do Maracanã, talvez aconteça em São Januário, na quarta, contra o Gama, pela Copa do Brasil. Talvez não seja nada disso. Ele acontecerá, em breve. Ao certo, ninguém sabe ainda. Esperemos.

Por enquanto, de certo mesmo, apenas o brilho do Botafogo no sensacional jogo de ontem. A estrela solitária falou mais alto.


Paulo Roberto Andel, 02/04/2007


Friday, March 30, 2007

A chama infinita

O futebol não tem magia e fascínio à toa. Quando menos se espera, surgem guinadas para cima ou para baixo; o favorito pode ser desbancado pelo azarão que corre por fora da raia.

Terminada a rodada de domingo passado, todos imaginariam que o meio de semana teria destaque absoluto pela iminência do milésimo gol de Romário. Viria a partida contra o Americano e o mundo congelaria vistas para enaltecer um dos maiores jogadores da história. Acontece, porém, que o futebol tem sempre uma vertente, uma saída.

Esqueceram-se do Fla-Flu. Deixaram o Fla-Flu à míngua. Compreendo que parte disso adveio da má campanha dos flamengos na Taça do Rio, em contrapartida à trilha da Libertadores, somada ao péssimo trajeto Tricolor em 2007. Como agravante, um clássico no meio de semana, quando o esperado é sempre na tarde dominical.

Domingo encerrado, mantido o jogo do Vasco no estádio de São Januário, Romário não atuou e o gol mil foi adiado. Aos vascaínos, coube um insosso empate sem gols e maiores emoções contra o time do falecido Caixa.

Quinta em riste, os irmãos Karamazov do futebol brasileiro encontraram-se mais uma vez. Tem sido assim desde antes do Big Bang, será depois do fim do mundo. Nelson foi perfeito: o Fla-Flu é eterno, o Fla-Flu não vai morrer jamais.

Não gosto de ver este clássico com vazios nas arquibancadas. Nenhum clássico, aliás. Difícil acostumar com isso. Mesmo assim, bandeiras dos dois lados tremulavam firmes, crentes numa vitória salvadora: tanto um lado como o outro precisava dos três pontos como fosse um balão de oxigênio para a sobrevivência.

O jogo começou com toda a força do Flamengo, dominando as ações, embora a partida estivesse muito mais para a correria do que propriamente a qualidade técnica. O Tricolor levou quinze minutos para ameaçar a meta de Bruno, através de uma cobrança de falta do lateral Carlinhos. Pouco, em se tratando de enfrentar a Gávea.

A supremacia flamenga foi registrada na meia hora de jogo. Aconteceu um bom cruzamento de Roni, raro, e Souza fez seu primeiro gol vermelho e preto utilizando-se dos pés – até ali, somente gols com cabeçadas. Ainda houve tempo para uma chance de gol desperdiçada quase aos quarenta, pelo jovem capixaba Cícero, e o Fluminense parou nisso. O jogo foi movimentado, mas carente de sofisticação técnica.

Veio o intervalo.

Mal começou o match, o Tricolor chegou ao empate. Carlinhos cruzou bem e Cícero chegou complementando dentro da área, sem chances para Bruno. Dali em diante, foi possível ver uma melhora no padrão das equipes, com menos erros de passes, alguns dribles e ainda muita velocidade.

Apesar do empate de Laranjeiras, a Gávea manteve a supremacia no ataque, perdendo vários gols. Dois foram gritantes. O primeiro, com a cabeçada de Ronaldo Angelim e a bola no travessão, após escanteio pela esquerda do ataque – gol que, se acontecesse, aumentaria o rol de falhas do goleiro Fernando, que ficou apenas olhando a jogada. Segundo, chute de Renato Augusto que bateu na trave direita – no rebote, aí sim Fernando fez bela defesa.

Então, havia o clima de que o empate seria uma realidade, e os irmãos Karamazov morreriam juntos, abraçados. A poucos minutos do fim, uma inacreditável furada do zagueiro Irineu deixou o veterano Alex Dias de frente para o crime; entretanto, após invadir a área, chutou para fora.

Poderia ter sido o fim.

Mas um Tricolor sabe que os jogos contra o Flamengo não acabam nem com o apito do juiz. Empatar ali seria o adeus. Alguns devem ter lembrado de Renato, de Assis, das coisas do último minuto do jogo.

Na última jogada da partida, Alex recebeu um passe pela direita da área flamenga. Cruzou esplendidamente, de primeira. A bola chegou na direita da pequena área, onde Cícero arrematou de bate-pronto. Bruno ainda foi na bola, mas foi inevitável. Um golaço Tricolor, com a sina do último minuto, do apagar das luzes. Cícero refez Assis, Renato, os gigantes da última volta do ponteiro.

Tecnicamente, o jogo esteve longe da sua tradição. Entretanto, jamais se pode desprezar um Fla-Flu: mesmo que não valha nada em termos de classificação, sempre nele terá a história de um Brasil em campo. O Fla-Flu é chama infinita.

O Flamengo aguarda seu adversário da grande final. O Fluminense sobreviveu, sem ajuda de aparelhos, respira bem e, se a sorte lhe bafejar, pode arrancar para a Taça do Rio.
Não há outra chance. É agora ou nunca.
Romário fica para depois.

Paulo Roberto Andel, 30/03/2007

Milhões e milhares

Passamos dias de tensão de diversos tipos, com tentativas de assalto, expectativa de milésimo gol, classificação na Libertadores, bola na trave mais comentada que gol, provocações, sustos, entre outras coisas.
Pelo menos o verão terminou, só falta o calor saber disso e ir hibernar até chegar sua temporada na parte de cima do Equador.
Como não pude falar na última semana vou tentar ser breve sobre os assuntos acima listados.
Inicialmente quase fui desta para melhor com minha família, o que me deixou mais assustado com a violência que me afasta a cada dia mais do meu querido balneário, que tem muitos problemas que os eleitos não querem resolver. Com isso não pude acompanhar como gostaria a rodada onde o Rubro-Negro, com seus reservas, perdeu para o Volta Redonda, o Tricolor sucumbiu diante do Glorioso e Romário marcou mais três na sua busca enlouquecida para ser lembrado como Pelé.
Na quarta-feira, o Flamengo conseguiu vencer o Paraná pelo torneio intercontinental e carimbou o passaporte para a segunda fase da competição. Pessoalmente acredito que a equipe chegará até a terceira fase, quando deverá ser eliminada. Espero estar errado. Também Romário mandou uma bola no travessão do Gama e passou em branco na partida contra o time da Capital.
Chegamos ao final de semana do Clássico dos Milhões, onde deveria ser marcado o milésimo gol do artilheiro. Festa no Maraca, local onde se fez a ainda se faz História no Futebol. Estádio relativamente cheio, com pouco mais de 43 mil pagantes, prestes a assistir a repetição do evento de 37 anos atrás. A equipe Cruzmaltina, melhor campanha da competição, contra o Rubro-Negro, campeão da Guanabara, com seu time titular. Maiores rivais em campo, torcidas excitadas, apenas com um senão: o horário. Até o final dos anos 90, as partidas cariocas começavam às 17 horas, horário tradicional. Com a entrada da TV, os jogos passaram a se iniciar uma hora mais cedo, para agradar o publico paulista e os principais jogos sendo iniciados, depois das 18 horas, o que afasta torcedores do estádio e aumenta a quantidade de vendas dos pacotes pay-per-view.
A partida se inicia com o Flamengo melhor, porém não era dia para o Rubro-Negro vencer e o Vasco conseguiu equilibrar a partida e abriu o placar no final da primeira etapa com um belo gol de Leandro Amaral. Veio o intervalo e, logo após o reinício da partida, Abedi ampliou o marcador e criou-se a expectativa do milésimo, que agora viria acompanhado de uma goleada sobre o maior rival e atual grande algoz dos vascaínos. Leonardo ‘Cabelo Inominável’ Moura ainda tentou ajudar sendo expulso e expondo ainda mais a equipe.
Aos 33 minutos, veio o 999º, em jogada pela direita que Romário concluiu com a habilidade que ele nunca perdeu.A festa estava pronta, do mesmo lado em que Pelé – com apenas 29 anos - marcou o seu milésimo gol, Romário – aos 41 – esperava igualar o feito. Os presentes no estádio também aguardavam.Pouco ocorreu até os 43 minutos quando o goleiro Bruno se tornou o Nildo de Romário, salvando o que seria o milésimo tento do atacante, deixando que a marca seja alcançada contra o próximo rival do baixinho, possivelmente o Glorioso.
Para o Flamengo, o alívio por não ficar na história; para Romário, mais tempo para aproveitar o marketing sobre o assunto.
Entre mortos e feridos todos se salvaram.
Abraços.
Alexandre Machado, 26/03/2007

Mais um passo na estrada

Senhores, o que de mais importante aconteceu ontem no Maracanã deveu-se à afirmação rubro-negra. Há mais de vinte e cinco anos, desde a tomada da América pelos flamengos, a Gávea vive toda sorte de expectativas quando surge pelo caminho a cobiçada Libertadores.

Não são mais tempos de Zico, Leandro, Júnior, tantos outros craques. A realidade técnica é outra, assim como o mundo. Entretanto, o gosto da América ainda está nos lábios rubro-negros, tanto quanto um beijo inesquecível da mulher amada.

A priori, sabia-se que o grupo do Flamengo não apresentaria maiores temores de natureza qualitativa. A rigor, apenas a tradição de confrontos contra o Paraná poderia ser motivo para maior atenção, dado que o boliviano Potosí e o venezuelano Maracaibo não são times do quilate da Gáeva. Houve o absurdo na altitude, mas passou. O Flamengo venceu ontem um rival tradicional na competição pela segunda vez no grupo e, se não tem um elenco que ofereça maravilhas, está bem ajambrado especificamente no certame sul-americano (com especial participação mexicana), tendo conquistado a classificação à próxima fase com garbo.

O primeiro tempo foi bastante equilibrado, sem maiores oportunidades de abertura do placar. O Flamengo perdeu alguns poucos gols: um, marcante, no começo, quando Souza entrou livre e chutou cruzado para defesa do veterano goleiro Flávio. No meio do tempo, Renato e Juninho também desperdiçaram. O Paraná, fora de casa, não parecia tão ameaçador, sem imprimir nenhuma forte pressão contra a Gávea.

Ao final do primeiro tempo, o Rubro-Negro safou-se de perder um jogador. Juan, que já tinha sido advertido com cartão amarelo, cometeu uma falta dura e desnecessária na intermediária que, em tese, o tiraria do jogo coma expulsão. O experiente árbitro Simon fez vista grossa, para alívio flamengo.

O segundo tempo, o Maracanã esquentou. O Flamengo imprimiu velocidade no jogo, utilizando bastante Renato Augusto e municiando permanentemente Souza, que esteve em má jornada, com cruzamentos. A massa flamenga, nervosa, entoava coros de saudação ao contundido centroavante Obina.

Chances foram surgindo. Flávio aliviou alguns sustos dos paranistas. Aos doze minutos, Juan cabeceou a bola na trave; na seqüência, Juan novamente não conseguiu marcar, dada intervenção do goleiro paranista. E, talvez em breve reação, foi o Paraná que perdeu um gol, com Josiel acertando a trave do goleiro Bruno. Contrapartida, mais cruzamentos rubro-negros, sem nenhuma maior ameaça ao gol do Paraná.

Em seguida, o treinador Ney tentou modificar o jogo ao colocar o atacante Leonardo no lugar do pouco inspirado Roni. Os paranistas também mexeram, e o emprestado atacante Vinícius Pacheco também adentrou gramado.

O jogo ficou veloz, mais disputado, com ligeira superioridade rubro-negra. Entretanto, o tempo foi passando, nenhuma chance concreta surgia e a torcida deve ter sentido uma das piores sensações de arquibancada: a do zero a zero.

Quando alguns poucos torcedores antecipavam a volta para casa, descendo os degraus aos poucos, o Flamengo insistiu mais uma vez com a tônica de seu jogo ontem: o cruzamento. Leonardo Moura alçou bola da direita, precisa, lancinante. Souza, que tinha tido uma atuação pífia, cabeceou com precisão, venceu Flávio e inaugurou o marcador, a cinco minutos do fim. Gol derradeiro e definitivo, dando números finais ao jogo. O centroavante correu indignado para a torcida, que tem sido sua marca de comemoração, tentando responder aos gritos que a massa dera ao saudar Obina. Nada de mais. A massa estava certa. Souza estava mal. Quando acertou, foi ovacionado. Assim é o futebol.

A jornada não marcou pelo brilhantismo, mas o gol emocionante no final e a importância da classificação antecipada tiveram sabor especial. O Flamengo está de volta às Américas. Não há mais Zico, sabemos. Mas a mística está firme, reforçada.

Na fase final, sabemos ser a Libertadores mais complicada. Ontem, entretanto, desde muito tempo atrás, o Flamengo foi Flamengo com letras maiúsculas. E não me surpreenderá se, com o time esforçado que tem, chegar longe na competição. Ou mesmo ao topo.


Paulo Roberto Andel, 22/03/2007

Tuesday, March 27, 2007

O jogo Centenário

As atuais circunstâncias do campeonato do Rio de Janeiro causam curiosidade, uma vez que qualquer partida no chamado “torneio de tiro curto” é de importância vital para os times na competição. Assim foi ontem.

Returno, primeiro clássico, Tricolor e Alvinegro frente a frente. O jogo centenário.

Botafogo e Fluminense ajudaram a estabelecer os paradigmas do futebol brasileiro em seus primórdios, e já podemos trazer a corda para o lado de Laranjeiras – o Fluminense, já com dois anos de vida quando o Botafogo nasceu. Houve um século, e tudo mudou nesta terra, muitas coisas e muitas gentes passaram, menos aquelas camisas, que têm duelado uma bela esgrima futebolística desde muito antes dos tempos do Onça. Dessa forma, qualquer encontro entre os dois tem algo de centenário, de tradicional e definitivo. Não à toa, apelidam o confronto de “clássico vovô”, o mais antigo do melhor futebol do mundo.

Com os resultados da rodada anterior, poderia haver um favoritismo botafoguense: vinham de uma goleada antológica sobre o Friburguense, ao passo em que os Tricolores andaram rateando contra o time de Cabo Frio. Entretanto, no gramado, o primeiro tempo foi de grande equilíbrio. As oportunidades surgiram para os dois ataques, que mostraram fraqueza nas finalizações. Nisso, o Tricolor foi pior: afinal, aos trinta minutos, teve a seu favor um pênalti, cometido em cima do esforçado atacante Soares. Para cobrar, o craque, Carlos Alberto. Aconteceu o fracasso: embora a cobrança tivesse sido feita com firmeza, o jovem goleiro Júlio César foi preciso e espalmou a bola vinda no canto direito, salvando a meta alvinegra. Carlos Aberto é ótimo jogador, mas não é Assis, Delei, Paulo César. Outras chances, não tão evidentes como um pênalti, aconteceram antes: o próprio Botafogo, no início do jogo, perdeu quase duas jogadas de área seguidas com o brilhante Dodô.

Apesar do baque que qualquer pênalti perdido gera, o Tricolor manteve-se no ataque, sem ameaçar drasticamente o Botafogo. E terminou a primeira etapa.

O segundo tempo foi tomado por ares frenéticos. Cada um dos times perdeu o que se chama de gol feito, e seguidamente. O Botafogo, aos cinco minutos, num chute de Jorge Henrique e defesa do goleiro Fernando; o Fluminense, no minuto seguinte, com Soares chutando por cima do travessão.

A velocidade passou a imperar na partida, com espaços em ambas as defesas. Embora passasse a falsa impressão de certo domínio do Fluminense, o que ocorreu na verdade foi a inteligência alvinegra em perceber que o adversário subia com generosos espaços na retaguarda, e passou a explorar isso, causando temores aos de Laranjeiras.

Aos quinze minutos, novamente Soares perdeu um gol pronto, driblando a defesa botafoguense e, mais uma vez, chutando por cima do travessão. Mau presságio, pensaram os homens da arquibancada colorida. Estavam certos. Agouro a caminho.

Diguinho, jogador querido de General Severiano, mas de escassos recursos, resolveu experimentar um chute da intermediária, longa distância. Acertou o canto esquerdo de Fernando, num lance que para mitos pode ter sido um “frango’, dada a distância. Não havia um Castilho, um Paulo Victor, um herói capaz de evitar o drama debaixo das traves. E aconteceu o gol botafoguense, o gol do martírio Tricolor. As arquibancadas alvinegras tremeram de emoção, embora não cheias de torcedores, conforme seria justo e necessário.

Nos vinte minutos restantes, o Botafogo soube jogar com astúcia, esperando o desesperado Fluminense e mantendo sua política de contra-ataques, cozinhando o jogo e saindo velozmente quando preciso. A rigor, a única ameaça Tricolor aconteceu a poucos minutos do fim, quando Alex Dias, experiente, mas com atuações alternadas desde que chegou a Laranjeiras, chutou rasteiro, para nova defesa de Julio César.

Os botafoguenses vibraram com razão. Os seis pontos nas duas rodadas credenciam a briga para uma vaga nas semifinais e a tão sonhada decisão do campeonato. O Tricolor chora, lamuria. Não teve o que se pode chamar de má atuação, mas pecou no ataque e não reuniu forças para reagir a um gol que, pela natureza do lance, especificamente, foi inesperado na ocasião.

Não cabe buscar culpados pela derrota, e nem é o caso. Contudo, se Fernando e Carlos tivessem buscado inspiração em seus antecessores do manto Tricolor, talvez a situação tivesse sido outra.

A verdade é que o Botafogo segue firme. O Fluminense, com os pés no cadafalso.

Paulo Roberto Andel, 19/03/2007

Saturday, March 17, 2007

Rodada dupla

Maracanã sem águas de março, um calor diabólico e reforçado pelo horário das quatro da tarde. Antigamente, os jogos eram às cinco, mas a transmissão televisiva venceu, e ficamos igualados a São Paulo. Os mais antigos lembram de clássicos aos sábados, e às três da tarde. Eu compreendo, mas tenho bom argumento: no passado, a cidade era bem mais humana – e fresca, no sentido climático da palavra. Milhões de edifícios depois, falta de circulação de ar, efeito estufa e outras tantas mazela, eis o que nos espera por agora.

Tenho simpatia pela rodada dupla. Outrora, tínhamos as velhas e boas preliminares. Inicialmente, os aspirantes; tempos depois, os juniores. Eram as fontes de alimentação dos times. Hoje em dia, ninguém mais sabe dizer o nome do camisa dez do time de baixo – e ele, o dez, talvez nem chegue a vestir a camisa de cima. Então, nos tempos do Caixa, acabaram com as preliminares no Maracanã, mediante alegação de que dois jogos seguidos estragavam a grama. Alguém riu, muitos acreditaram. Ficou valendo. Chegar no Maracanã e sentir o vazio do silêncio tem seu charme, seu encanto, mas o bom mesmo é ter aquele jogo antes, com as provocações, os gritos, a festa. E a rodada dupla traz alguns benefícios. Um, que é o de melhorar um pouco as combalidas rendas, trazendo duas torcidas em vez de uma. Outro, porque mesmo não havendo um clássico, as torcidas se enfrentam – naturalmente, bom, quando não há violência. Ainda há uma pequena contribuição, a de que, paulatinamente, os torcedores belicosos acostumem-se com os tempos, com a convivência dos diferentes, outra torcida, tudo. Sempre é engraçado quando a torcida do primeiro jogo, normalmente mais escassa, aglomera-se para simbolizar uma “organizada” e fazer coro com mais força, “secando” o rival na partida de fundo.

Debaixo do equatoriano solar, começou Botafogo. E colocou fogo mesmo. Com quase quinze minutos, o Botafogo já vencia por dois tentos. Vencia com autoridade, descendo as águas caudalosas do triunfo. O time de Friburgo só olhava, mal reagia, nem apelava para o expediente das pecaminosas faltas, felizmente. Ao final do primeiro tempo, ainda teve tempo para mais um gol. Foram três: Túlio, o bom Lúcio Flávio, o também bom Zé Roberto. Faltava o artilheiro Dodô em campo, com sua categoria, suas finalizações precisas, encantadoras. Mas o alvinegro seguiu impávido como se completo estivesse. Não tomou conhecimento da Serra. Digo que três foram poucos. Poderiam ter sido mais.

Quem pensou que o Botafogo estava para brincadeira, e que viria para cozinhar o jogo, enganou-se. Adentrou gramado feito um leão indomável de arena, querendo sangue do desafiante. É certo que o jogo estava ganho, mas o placar não era definido. Aumentou muito. E como.
Quinze minutos da etapa final, gols de André Lima e Zé Roberto, novamente. Cinco a zero, impiedosos, indiscutíveis. Depois, mais quinze minutos de calmaria, até que no terço final a goleada aumentou.Mais um gol de André Lima e outro, lindo, de Túlio, numa finalização esplêndida.

É preciso exaltar o time de General Severiano. Dedicaram-se, correram muito, disputaram a bola feito prato de comida, mesmo com o jogo ganho. Surpreendeu-me, por outro lado, a apatia de Friburgo – sempre trazem equipes mais do que dispostas, aguerridas, e o time serrano foi apático. Junte-se a força de um, mais a inércia de outro, a goleada é o resultado.

Jogo encerrado, e alguns botafoguenses apinharam-se num reduzido espaço da arquibancada verde, para malversar o Tricolor.

Foi em vão.

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O Tricolor entrou para encarar a Cabofriense, adversário que, nos últimos anos, tem causado agruras a Laranjeiras.

Antes do jogo, um grande momento. A torcida saudou carinhosamente Marcão, ídolo Tricolor, símbolo de raça e valentia por quase uma década, demitido erroneamente pelo antigo treinador Gusmão. Foi o grito que mais ecoou em todo o estado na tarde esportiva de ontem. Marcão. Marcão.

As coisas se complicaram inicialmente. Dezessete minutos, William ajeitou e bateu cruzado, fora do alcance de Fernando. Cabo Frio saiu na frente. E não se via no Fluminense, até então, a raça, pedida pela torcida nas arquibancadas. O gol serviu de agressão, e viemos para a frente, mesmo que carentes de uma maior organização. Doutro lado, os alvinegros restantes vibravam.

Foram quinze minutos de relativa pressão, até que num cruzamento, Cícero fez excelente pivot e Alex Dias encheu o pé para empatar o match. Jogávamos com raça, mas não exatamente bem, como devido.

Finalmente, veio o gol que já estava escrito, para salvar a tarde do estádio. Quase aos quarenta, Alex acertou um lindo drible no zagueiro dos Lagos e fuzilou o ângulo esquerdo de Gatti, que não é ‘El Loco”, o veterano argentino de La Bombonera. Um chute espetacular, que amansou as coisas e permitiu a descida tranqüila para o intervalo.

Joel testou Lenny no meio, e surgiram algumas boas jogadas, além de uma bola na trave. Ao colocar Carlinhos, reparou a injustiça de tê-lo sacado. No primeiro chute, o lateral acertou um petardo, no meio do gol, sem chance para Gatti, e sacramentou a vitória. Três a um.

Não foi uma grande exibição, e mínima diante da preliminar botafoguense. Foi um resultado para o gasto, para as necessidades. No saldo da tarde, o Botafogo foi continental, e nós, pequena ilha rudimentar.

Entretanto, domingo, enfrentam-se Botafogo e Fluminense.

E então poderemos ver que realmente tem a lenha para queimar, e incendiar o campeonato.
Será um jogo sem rodada dupla. Sem preliminar. Mas a partida de fundo já diz tudo. O clássico centenário do Brasil. O Glorioso e o Tricolor. Quem viver, verá. Quem morrer, também.
Paulo Roberto Andel, 12/03/2007

Futuro incerto

Nada como um dia após o outro! Depois da ressaca pela conquista da Guanabara, neste deserto que virou o Rio de Janeiro d’El Niño, o Flamengo joga em um sábado às 20:30h contra o possante Nova Iguaçu, de quem o Rubro Negro nunca venceu. Realmente não nem ouvi o jogo, apenas soube o placar e li algumas notícias sobre o embate entre o laranjas e o time da nação no Maracanã. Algumas notícias relatam que Leonardo, autor dos dois gols, foi muito bem, o que não deixa de ser uma boa nova nestes tempos sem Obina e com Roni e Souza.

Como está classificado para a final do estadual o Flamengo agora está focado diretamente na Libertadores da América com pretensões de vencê-la, mesmo sabendo que não há mais Zico, Adílio, Tita , Leandro, Junior e outros, mas se o Internacional foi campeão com o time que tem e depois conquistou o Japão, por que não com Souza e Roni?

O grande jogo do sábado aconteceu em Barcelona entre o time catalão e os merengues. 3 a 3. Ataques operantes e defesas horrorosas, tudo o que um torcedor alheio gosta.
Já que pouco posso falar dos embalos de sábado à noite, vamos falar sobre o domingo. Teve rodada dupla com muitos gols no Maracanã, mas isso é assunto para Andel, teve goleadas dos clubes V (Vasco e Volta Redonda) com direito à 3 gols de Romário, e o que realmente me chamou a atenção: o clássico Sansão, disputado na Vila com muito calor no início, uma tempestade no meio e muita emoção no final.

Prestei atenção ao jogo paulista, pois ali estavam dois dos principais potenciais rivais rubro-negros em fases futuras do torneio continental. Fiquei muito feliz pela armação tática dos dois times, contudo ambos têm problemas sérios nos seus ataques: falta um finalizador, tal como foram Messi e Van Nistelroy na Catalunha ou talvez Leonardo no sábado e Romário no domingo. A partida foi excelente, com grandes defesas de Ceni e Costa, gol legal anulado e gol ilegal validado (ah! a lei da compensação).

Quando o Flamengo derrotou o Vasco em julho de 2006 e conseguiu voltar à Libertadores disse para alguns amigos: “torço muito, mas não acredito que este time consiga passar da terceira fase da competição”. E assistindo a essa partida vejo que minhas previsões não estão muito longe do que pode acontecer.

Com a sorte de estar em um grupo com Potosí e Maracaibo, não haverá dificuldades de classificação para a segunda fase. Aí começa o problema. Ao final das duas primeiras rodadas, o Flamengo era o sexto lugar entre os classificados, o que determinava que disputasse a vaga com ninguém menos que o Boca Juniors, que terá ou já tem Riquelme em seu elenco. Imaginem o time com Roni e Souza jogando na Bombonera lotada em uma noite de quarta-feira contra um Boca? É de arrepiar!

Ainda há o Internacional que fez uma preparação mais demorada mas tem grandes problemas no banco, pois Abel Braga inspira tanta confiança quanto fala.

Aparece então outra dúvida: o campeonato nacional começa em 13 de maio e acaba em dezembro e a Libertadores termina em julho. Se a prioridade é o certame internacional como estará a cabeça do time em caso de uma eliminação em junho?

Como em futebol quase nada é impossível, o Flamengo de hoje, embora seja o melhor dos últimos cinco anos, pode até chegar longe na disputa da América, mas não chega nem perto de repetir o feito de Zico e seus black-red caps do início dos anos 80.


Alexandre Machado, 11/03/2007

Abraços.

Dá cá

O verão continua, com mais sol do que deveria, depois de um janeiro inteiro de chuva, fevereiro escaldante e as águas de março que insistem em não dar as caras por aqui temos a ‘finalíssima’ da taça GB. Embate entre David e Golias, com vantagem para o pequeno Madureira que acertou a pedra com o chute de Maicon no domingo.

Alfredo Sampaio com problemas para escalar a equipe, não podendo contar com sua dupla de ataque titular, Papel com o pé fraturado e Marcelo suspenso. Ney Franco insistindo em manter a equipe que foi inútil na primeira partida, mesmo com a pressão da torcida depois da inoperância dominical. Sampaio optou por ser mais cauteloso e colocou Neto no meio campo, deixando apenas Fabio Jr na frente na esperança de se aproveitar da necessidade de atacar do adversário.
Desta vez a torcida decidiu comparecer em plena quarta-feira às 10 horas da noite e apenas um mês depois da morte de João Hélio, mostrando a força que uma partida destas teria se disputada em um sábado no final da tarde, como nos principais países do mundo. Mas como a televisão é quem tem o dinheiro e manda, os clubes obedecem. Quem mandou serem tão mal administrados!

A partida tem seus atrativos: depois da conturbada arbitragem do primeiro jogo criou-se uma grande expectativa sobre o novo árbitro Marcelo ..., que também foi assaltado com sua família enquanto ia para o estádio, mas conseguiu sair ileso; outro ponto seria verificar se o Flamengo se portaria como um grande time e se o Madureira teria maturidade suficiente para conseguir sustentar a vantagem.

O início do jogo foi alucinante, o Flamengo partiu para cima e conseguiu com menos de 2 minutos abrir o marcador. A torcida ainda comemorava quando o time de amarelo empatou a partida no minuto seguinte fazendo a alegria da torcida arco-íris carioca. Mas quando o assunto é Taça GB nunca deve-se subestimar a Nação Rubro-Negra e dez minutos depois a fatura estava liquidada, com 3 a 1 para o Flamengo. Veio o segundo tempo e todos esperavam apenas o apito final do árbitro, porém Odvan, de quem falarei mais adiante, fez dois favores ao Flamengo: um pênalti e contundiu Claiton, principal desejo da torcida neste início de ano.

Odvan foi a figura da decisão. No lance do primeiro gol ele fez um pênalti quando, tal qual o excelente meio de rede Gustavo da seleção de Bernardinho, ‘bloqueou’ o cruzamento de Renato com as mãos e a bola sobrou para Souza encobrir Ewerton. No terceiro gol ele tabelou com Renato Augusto e deixou o atacante rubro-negro sair de pelo menos 5 metros atrás dele e chegar na bola e marcar. E concluiu a sua atuação desastrosa com o lance com Claiton.

O Rubro-Negro lembrou que é um time grande e jogou como tal, teve empenho suficiente para mostrar que não é por acaso que é o maior campeão da Taça GB. Devemos lembrar que uma conjunção de fatores o classificaram para a final: O Botafogo conseguiu perder para o Boavista e ser eliminado e o Vasco disputou a semi-final contra o Flamengo apenas porque empatou com o Fluminense no final da partida. Sorte de Campeão.

O Madureira não foi competente para assegurar a vantagem e o time da Gávea lembrou que é grande e jogou como tal, fazendo a alegria dos 57 mil pagantes daquela noite e dizendo ao time do subúrbio ‘Dá Cá’ meu troféu. Ficou assim mais tranqüilo para poder dedicar-se à Libertadores e jogará o segundo turno com a equipe reserva.
Veremos no que dá.

Abraços.
Alexandre Machado, 08/03/2007

Friday, March 09, 2007

O gigante da Guanabara

Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia. O Flamengo tornou-se uma força da natureza; o Flamengo venta, chove, troveja, relampeja. Assim disse certa vez Nelson Rodrigues, o maior cronista esportivo de todos os tempos.

Assim foi. O Flamengo, mesmo que efemeramente, foi, acima de tudo, Flamengo. Foi uma força da natureza, uma tempestade de raça e bom futebol e, por isso, tornou-se o campeão da Guanabara. O Flamengo que alia garra, técnica e humildade, junção que tem sido mais rara nos últimos anos; entretanto, quando ela acontece, é fogo – e não o de General Severiano. A camisa pode jogar sozinha; se não jogar, tem a paixão da massa incansável a gritar nas arquibancadas e gerais, com ou sem cadeiras. Berrar, berrar, berrar. O gramado acolhia a mistura de seis Rondinellis, dois Zicos, um Evaristo de Macedo e um Domingos da Guia, tudo durante o primeiro - e fabuloso - terço da primeira etapa do match.

Disse aqui em linhas passadas que não chegou a constituir surpresa o Madureira ter vencido a partida de domingo. É um time bem armado, dentro de suas limitações. Tinha até ontem a melhor campanha do certame, e tinha vencido a Gávea com autoridade por duas vezes na temporada. Eis a questão. Como vencer o gigante Flamengo três vezes em três semanas?

Mal o jogo começou, e o Flamengo se fez superior. Veio o gol de Souza, numa confusão na área, a cabeçada para o gol vazio e o zagueiro de Galvão tentando tirar a bola, sem sucesso. O Flamengo foi avassalador. Aconteceu um drama, como bem sabemos, que foi o empate dos amarelos logo em seguida, numa clamorosa falha de Claiton, peitando a bola para o meio d’área, e a conclusão rasteira do excelente zagueiro Léo Fortunato. Por dez segundos, o Maracanã silenciou e foi só. Dali em diante, Madureira chorou de dor.

A nova cabeçada de Souza, marcando vantagem, e a consolidação com Renato Augusto tocando para as redes, no ângulo, mostraram a força do Flamengo em quinze minutos de jogo. O Madureira, tão bem postado na competição, ficou atônito, feito um boxeur mais do que golpeado. Fortunato tinha sido apenas um bom jab com seu gol, nada mais.

Quero falar da maravilha que foi essa etapa de quinze minutos na partida, a mais eletrizante dentre muitos e muitos jogos, de muitos em muitos anos. O Madureira, mesmo ferido mortalmente, teve coragem e manteve-se de pé, na briga. Mas não havia o que fazer. Tirando a já citada - e infeliz – jogada de Claiton, o Flamengo foi perfeito, absoluto, implacável. Jogasse assim todas as partidas e ratificaria as palavras de Nelson a todo instante.

Quando passou o terremoto de gols e ataques, o Madureira fez substituições para evitar um desastre maior, mas pode-se dizer que a taça já tinha dono, sem petulância. E o jogo seguiu morno, banho-maria, até o fim do primeiro tempo. A Gávea ainda poderia ter feito o quarto gol, mas Renato desperdiçou.
O segundo tempo continuou morno, como os dois terços finais do primeiro. O jogo já estava decidido, a Guanabara já tinha seu campeão. As arquibancadas vemelhas e pretas, todas cobertas, davam o tom da festa, que ainda teve sua cereja de bolo a dez minutos do fim, com o pênalti convertido por Renato - infração registrada justamente sobre Claiton, que tinha sido o autor da pior jogada dos flamengos durante a partida.
A cidade foi tomada por festa, ruas cheias e sorrisos. Existe um campeão. Sabemos estar este time distante dos gigantescos esquadrões da história do Flamengo. Mas os quinze minutos iniciais do jogo de ontem fizeram com que muitos, emocionados, lembrassem-se de times idos, maravilhosos, que construíram as melhores páginas do clube de regatas que, hoje, é sinônimo de futebol.
Ressalto a absoluta galhardia dos de Madureira. Foram dignos, honestos, fizeram uma bela campanha. Que a derrota no jogo final não os faça esmorecer. Madureira chorou de dor? Sim. Mas amanhã há de ser outro dia. O campeonato recomeça. Domingo que vem já é hora da taça do Rio. E veremos quem será o grande oponente do rubro-negro, o gigante de ontem. Gigante da Guanabara.
Paulo Roberto Andel, 08/03/2007

Wednesday, March 07, 2007

Toma Lá

Dia de final com mais sol, que decidiu definitivamente passar o verão 2007 no Rio, e temos mais uma final da Taça GB. Quem é de outro estado não consegue entender a importância desta Taça, visto que ela não decide o campeão estadual sendo apenas um turno ou fase, como queiram. A Taça Guanabara tem toda essa tradição, pois foi criada quando ainda existia o especialíssimo estado da Guanabara e valia como o título estadual. Após a famigerada fusão, ocorrida em 1975, os clubes do interior do novo estado passaram a disputar o torneio a partir de 1979. A partir de 1982, com a criação da Taça Rio, a GB passou a ser o primeiro turno do estadual.

Já que não temos mais dúvidas, vamos para mais uma decisão, a primeira entre um grande e um pequeno, ou seja, uma decisão histórica. E como todas as epopéias futebolescas essa também tem início, meio e fim. A imprensa apressou-se e definiu que o Flamengo era o grande favorito, sem perceber que o Madureira tem a melhor campanha do campeonato, até então, e seu treinador sabe como ajustá-lo, quando necessário. Além de tudo tem Duba por trás.

O Flamengo foi a campo sem Obina, o que deixa seu 12º jogador apreensivo – hoje a torcida não consegue ver o time sem ele – e com a dupla do massacre em campo, Roni e Souza. Junto a eles no meio campo há a figura de Claiton, que só pode ter um bom empresário, pois além de ainda não ter jogado nada é o capitão da equipe. Os Renatos foram muito aquém do que podem e devem jogar, isso acontece com os principais craques, contudo não pode acontecer nos principais jogos, como em finais, por exemplo. Os demais não comprometeram. Já o Madureira veio com seu time principal, disposto a reverter a expectativa e o favoritismo.

E o Madureira conseguiu fazer com que o Flamengo, pouco inspirado, não jogasse rigorosamente nada. Os armadores rubro-negros simplesmente não existiram em campo e o massacre ainda não disse a que veio. Do outro lado, um time muito bem postado e sabendo o que fazer. Ponto para Alfredo Sampaio. Ney Franco não soube armar o time e, pela primeira vez no ano, substituiu muito mal, tirando Juan e passando Renato para a lateral. Renato não vem jogando bem desde a partida em Potosí e devia ele ter saído para a entrada de Juninho.

A escalação do árbitro Marcelo Pacheco foi uma surpresa, era de se esperar que fosse o índio Luiz Antônio ou então Michael Jackson, ou melhor, Edílson Soares. Porém a iniciativa da FFERJ de revitalizar o quadro de árbitros do Rio foi um tiro na água. Pacheco tem potencial para se desenvolver, mas não foi bem na partida, principalmente no aspecto disciplinar. A expulsão de Marcelo foi totalmente injusta e a de Moisés correta, porém Fabio Junior deveria ter saído junto. Odvan fez dois pênaltis em Souza, ignorados pelo juiz. Porém no lance que originou a expulsão de Marcelo não houve a penalidade, Irineu conseguiu tocar a bola e o choque era inevitável.

A partir da expulsão do atacante do Madureira, o Flamengo passou a achar que o gol sairia a qualquer momento e calçou o salto alto. Melhor para o time do subúrbio que em uma única boa jogada de Maicon conseguiu marcar e depois apenas administrou a incompetência rubro-negra, obtendo uma vitória justa e merecida.Como a decisão da taça será em dois jogos, o toma lá já foi feito, basta saber quem vai dizer ‘da cá’, se Flamengo ou Madureira.
Alexandre Machado

Tuesday, March 06, 2007

Surpresa? Nem tanto.

A Guanabara estava em jogo desde a tarde de hoje, quando Flamengo e Madureira enfrentaram-se para a primeira partida da grande decisão carioca.

De um lado, os da Gávea, animados pela volta à Libertadores e com a chance de ganhar o turno, embora a campanha doméstica tenha sido humilde e com derrota acachapante para o mesmo Madureira. É certo que o jogo foi disputado sob o clima desértico de Bangu no verão, e o Flamengo havia voltado recentemente das agruras bolivianas, mas os quatro gols do esforçado Marcelo deixaram sua marca. A sorte da Gávea para a classificação às finais foi alvinegra, foi o Botafogo que facilitou o samba flamengo, ao perder para o glorioso Barreira e perder a vaga.

Doutro lado, o Madureira de boa campanha há tempos no certame local, mesclando jovens revelações com jogadores que, veteranos ou não, já passaram por grandes agremiações, tais como Odvan, o maestro Djair, Maicon, o próprio Marcelo, o goleiro Everton e o atacante reserva Fábio Júnior.

O time de três cores de Conselheiro Galvão chegou ao momento final da Guanabara com a melhor campanha dentro os participantes. Sabe-se que um Estadual de hoje no Rio é diferente, com sete jogos chega-se a um título de turno. O campeonato é de tiro curto, veloz, o que dá certa emoção para as torcidas mas causa enganos: primeiro, porque o time campeão nem sempre tem o equilíbrio adequado para seguir temporada; segundo, porque os que não disputam o título às vezes ficam de fora por um ou outro momento. De qualquer forma, este é o certame, e assim seguem as coisas.

Faltou gente no estádio. Tem faltado. A classe dirigente parece que piora, ao contrário do que esperaríamos na ocasião da passagem do Dr. Caixa. Fizeram uma confusão enorme, com preços exorbitantes, a torcida afastou-se. Esperava-se um estádio coberto de vermelho e preto, mas não aconteceu. Esse já foi o primeiro problema: o Flamengo jogar sem a força integral de sua camisa doze.

Quando a partida começou, o Flamengo era nitidamente melhor, mas não absoluto, já que a posse de bola e o domínio territorial não garantiam-lhe um grande número de finalizações. O Madureira, sabedor de sua idade média mais alta e sob a batuta de Djair, cadenciava o jogo. Mas o Flamengo, em contrapartida não o incendiava. Algumas faltas violentas e desnecessárias foram assinaladas em sua maioria, mas sem o rigor do árbitro Venito, extremamente inseguro por sinal.

De importante para os flamengos, houve uma boa jogada, vinda de um cruzamento, e a cabeçada de raspão de Irineu quase abriu o placar, mas foi pouco para meia hora de jogo. Antes, apenas um bom chute de Renato. O Madureira, recolhido. Ainda houve um chute de Roni, que André Paulino tirou providencialmente com uma peitada, tendo em vista que o goleiro já estava fora de condições da defesa. E terminou a primeira etapa. Não vi no Flamengo a sua chama centenária, que é a de adentrar Maracanã feito um leão na arena, vendo a taça como um naco de carne. Aceitou a cadência do Madureira sem remorsos aparentes.

Então, amigos, quando o jogo retornou para a segunda etapa, é que aconteceu o giro do caleidoscópio, quando a imagem que se via transformou-se completamente.

Marcelo, o atacante e destaque do Madureira da competição, havia sido advertido com o cartão amarelo numa entrada faltosa, no primeiro tempo. Talvez estivesse exasperado, pois vingou-se de uma falta que tinha acontecido no ataque das três cores, não marcada. No primeiro ataque do segundo tempo, Marcelo invadiu pela direita, chocou-se com Irineu (que, antes tinha tocado na bola). Para muitos, houve o pênalti, com os quais não corroboro. Até aí, seria apenas um penal não marcado, o que acontece a granel em todas das partidas. O problema é que o choque tinha sido firme, Marcelo caiu justamente e, ao levantar-se, tomou o segundo amarelo, sendo imediatamente expulso – com a força do primeiro cartão, mas com a total injustiça do lance com Irineu. Um péssimo gesto do árbitro, que corrompeu a partida. Outros supostos pênaltis, a favor do Flamengo, também foram discutidos e não marcados. O problema, maldito problema, é essa insistência em se expulsar atacantes por terem "jogado a torcida" contra o juiz, ao caírem n’área. O que poderia ser a redenção dos flamengos revelou-se um desastre. O Madureira, tomado pelo ímpeto contra a injustiça sofrida, passou a ganhar cancha, aumentando a velocidade e iniciando um processo de pressão no ataque, embora ainda tênue. O Flamengo tornou-se incrivelmente atabalhoado, com um jogador a mais. O veterano Juninho entrou, mas não conseguiu acertar a equipe, ao passo que Djair deixou o Madureira, um tanto irritado.

Conselheiro Galvão já teria na boa conta o empate, que levaria o jogo em igualdade de condições para a quarta-feira; entretanto, em quase meia hora do segundo tempo, quando o Flamengo continuava desarrumado, Maicon, jogador jovem e de escassas finalizações, embora já tenha sido campeão pelo Tricolor, desferiu forte chute de esquerda, na frente da área, no ângulo direito do bom goleiro Bruno. E o Madureira abriu vantagem.

O que era bagunça virou caos na equipe rubro-negra, o que é natural. É muito difícil reagir a um gancho de direita de um time considerado menor, ainda mais nas circunstâncias de então.

Para compensar a bobagem contra Marcelo, Venito expulsou Moisés em jogada confusa ocorrida na hora de se retirar a bola do gol, visando a saída. Se as coisas não davam certo com onze, pioraram com dez.

Veio o desespero e o Flamengo atirou-se para o ataque, tentando o empate, sem sucesso. A jogada mais perigosa dos quinze minutos finais foi justamente do Madureira: Fábio Júnior disputou uma bola na intermediária, ganhou, entrou sozinho na área e conseguir perder um gol feito, para alívio da Gávea – dois a zero seria um complicador enorme para a batalha final.

Apesar do primeiro tempo claudicante, o Madureira mereceu a vitória. Teve seus méritos e contou com certa apatia dos flamengos. Surpresa? Nem tanto. Mas é claro que nada está decidido. Onde tem o Flamengo adversário numa final, é imponderável imaginar a vitória certa, líquida. A vantagem de Madureira é real, mas entram sem seus atacantes e o escore foi mínimo. Vejo o time de Conselheiro Galvão bem arrumado pelo ótimo treinador, Alfredo Sampaio. Ney Franco também tem qualidades, e certamente buscará um time em condições bem melhores do que este de hoje.

O Flamengo precisa jogar bem mais do que jogou para conseguir o título. Mas o Madureira do primeiro tempo não é suficiente para garantir o empate. Quem é quem? O Madureira é o das boas campanhas? O Flamengo é o heróico da Libertadores e do jogo contra o Vasco? Veremos a seguir.

Seja o que for, emoções estão guardadas para a quarta-feira.


Paulo Roberto Andel, 04/03/2007